Quando chego em casa, largo minha bolsa no sofá e solto um suspiro longo. O dia foi cansativo, mas minha mente não está exatamente no trabalho. Desde o momento em que deixei o escritório, só consigo pensar no homem do elevador. O mistério em torno dele me atormenta como um enigma que preciso desesperadamente resolver.
Sacudo a cabeça, tentando afastar a lembrança de seu toque, e pego meu laptop. Antes que Matt e Lisa cheguem, quero interagir com meus seguidores. Hoje, "Pequenas Delícias da Kat" recebeu centenas de visitas. Sempre fico animada em ver tanta gente interessada nas minhas receitas. Desde que publiquei a resenha do "bolo de aniversário perfeito", minha pequena comunidade culinária só cresceu, e faço questão de responder a cada comentário. Maduh09: "Esse prato é um verdadeiro afrodisíaco! Você precisa me contar de onde tirou essa inspiração!" Meu dedo paira sobre o teclado, e um som de arranhar me distrai. Olho para o lado e vejo Candy, minha hamster, escalando a grade da gaiola com suas patinhas fofas. Seus olhos pretos e brilhantes me encaram com curiosidade, como se soubesse que há algo diferente em mim. — Você também está querendo respostas, né? — murmuro, pegando-a com cuidado. — Mas, infelizmente, sua dona não conseguiu descobrir nada sobre o estranho misterioso. Candy inclina a cabeça, como se realmente estivesse tentando me entender. Respiro fundo e fecho os olhos por um momento. O elevador, a luz intensa, o perfume dele... A sensação do toque de seus lábios ainda parece real demais. A lembrança me faz arrepiar dos pés à cabeça. Mas antes que eu possa me perder nesse devaneio, uma batida forte na porta me traz de volta. Abro os olhos num sobressalto. Meus degustadores. Em um reflexo, fecho o laptop. Ainda não estou pronta para que ninguém descubra meu site. É um pedaço de mim que mantenho separado da minha vida real. Tomo fôlego e vou até a porta. Assim que abro, Matt entra primeiro, esfregando as mãos como se estivesse prestes a enfrentar um banquete. — Eu não como nada desde o almoço. Mal posso esperar para encher o estômago! — ele anuncia, passando direto para a sala. — E então, chef, o que tem no cardápio hoje? Doce ou salgado? — Lisa pergunta, levantando uma sobrancelha com curiosidade. Cruzo os braços, um sorriso travesso surgindo nos meus lábios. — Hoje vamos de coq au vin harmonizado com um Saint-Émilion. — Wow. — Matt pisca, impressionado. — Isso não é aquele prato francês chique e difícil de fazer? — Exatamente. Mas nada que eu não possa dar conta. — Você sempre consegue! — Lisa sorri, animada. — Eu já estou com água na boca! Entro na cozinha e começo a organizar os ingredientes. O cheiro de vinho reduzindo na panela se espalha pelo ambiente, criando uma atmosfera acolhedora. O jantar promete ser incrível. Ꮚ Chego ao escritório e caminho pelo espaço aberto da Carter Corp, tentando ignorar o peso do cansaço que se arrasta comigo. Assim que me aproximo da minha mesa, ainda desempacotando minhas coisas, Matt me lança um olhar cheio de insinuações. Seu sorriso malicioso só confirma o que eu já suspeitava: minhas olheiras estão me denunciando. — Sim, eu sei. — resmungo antes que ele possa dizer qualquer coisa. — Você me avisou. Eu deveria ter ido para a cama mais cedo. Agora me sinto como um zumbi. O moreno se recosta na cadeira, cruzando os braços com um ar satisfeito. — Oh, longe de mim dizer eu avisei... — ele provoca, arqueando uma sobrancelha. — Mas estou realmente apreciando esse seu visual abatido. Enquanto isso, eu me sinto tão fresco quanto uma margarida. Mal posso esperar para continuar o nosso projeto! Reviro os olhos e estou prestes a rebater quando uma voz firme soa atrás de mim. — Ei! A que horas você chama isso, Katerina? Congelo no lugar. Gabriel Simons, nosso gerente, aparece do nada, como se tivesse se materializado no escritório. Embora seja um cara geralmente paciente, sua expressão séria me diz que ele não está nada feliz com meu atraso. — Vou começar a trabalhar imediatamente! — digo, tentando disfarçar o nervosismo. — Meu alarme não tocou... Gabriel suspira, mas seu tom continua profissional. — Essas coisas acontecem. Mas quero ver sua proposta final para o projeto da Nova Escola o quanto antes. Assinto rapidamente, mantendo a postura firme. — Na verdade, estarei fora o dia todo. — ele continua. — Se precisarem de algo, entrem em contato com Mark Leviels, o Diretor da área. Ele está no 50° andar. Assim que ele se afasta, ouço uma risada abafada ao meu lado. — Nem uma bronca te tira esse charme todo, hein? — Matt brinca, tentando conter o riso. Solto um suspiro exasperado e passo a mão pelo rosto. — Pode rir à vontade, Matt. Você estava certo. Ele sorri, satisfeito. Eu não deveria ter ficado acordada até tão tarde, toda decisão tem suas consequências. [...] No início da tarde, meus dedos deslizam pelo teclado enquanto tento encontrar as informações de que preciso para finalizar o projeto da Nova Escola. O problema? Estou procurando um contato essencial, mas não encontro os detalhes em lugar nenhum. Solto um suspiro frustrado e me viro para Matt, que está concentrado na maquete final. — Matt, por acaso você tem o número do tesoureiro da Universidade de Nova York? Aquele que cuida do orçamento, receita e todas essas coisas? Ele levanta a cabeça, pensativo, e depois balança negativamente. — Não, desculpe. Também não consegui encontrá-lo. E estou com muita pressa para terminar isso. A quem mais você pode perguntar? Mordo o lábio, analisando minhas opções. — Vou ter que falar com Mark Leviels no último andar. — Ah, sim. O Gabriel está em uma reunião externa hoje, então vai ter que ir direto ao covil dos Manda-Chuvas. — Ele solta um assobio baixo. — Eu fico aqui terminando o modelo e você vai ver o temido diretor? — Exato. Mas é melhor você finalizar esse modelo. Meu amigo se recosta na cadeira com um sorriso maroto. — Trabalho em equipe, princesa. Se dividirmos nossa energia e tempo, seremos mais eficientes. Arqueio uma sobrancelha. — O ditado é dividir para conquistar, não dividir e ser mais eficiente. Ele dá de ombros. — Depende do ponto de vista. Se formos mais eficientes, eventualmente vamos governar este lugar! Reviro os olhos, mas ele continua, animado. — Além disso, anime-se, Katerina. Talvez você tenha a sorte de esbarrar no chefão, o próprio Ryan Carter. Isso não acontece todo dia! Se o vir, não esqueça de dizer a ele como somos ótimos. Quem sabe conseguimos uma promoção? — Ah, claro, Matt. Vou simplesmente interromper o CEO para vender nosso peixe. — Vai que cola! — Ele pisca. — Ouvi dizer que ele vai dar uma viagem às Maldivas para os melhores funcionários! Solto uma risada, prestes a me virar para sair, quando noto a pasta do projeto sobre minha mesa. — É melhor você levar isso com você. — Ele sugere, apontando para o documento. — Além de útil, vai fazer você parecer uma super profissional. Balanço a cabeça, pegando a pasta. — Não preciso parecer mais profissional do que já sou. Com ou sem pasta, tenho tudo sob controle. Ele sorri divertido. — Se você diz... Mas se não voltar, posso ficar com a Candy? Rio e faço um aceno dramático. — Se eu nunca mais for vista, cuide bem dela. — Claro, princesa. Mas, a propósito, preciso confessar algo. Ontem eu menti. Se você fosse embora, eu choraria por muito mais do que uma semana... — Ele faz uma pausa teatral. — Talvez uma semana e um dia. No máximo. Dou uma risada enquanto me afasto, sacudindo a cabeça. Mas, no fundo, Matt conseguiu me deixar curiosa. Esta é a primeira vez que subo até o famoso 50° andar.Assim que chego ao último andar, sou recebida por um saguão espaçoso, iluminado por janelas imensas que oferecem uma vista deslumbrante da cidade. Uma fileira de portas se estende à minha frente, cada uma provavelmente levando a um escritório onde decisões importantes são tomadas.E então, o pior acontece.Esbarro, sem querer, na diretora de Recursos Humanos.— Bom dia, Srta. Sparke — digo, tentando soar profissional.Cassidy Sparke me avalia com um olhar impassível, seus olhos percorrendo meu corpo de cima a baixo como se estivesse analisando um inseto em sua mesa de trabalho. Então, sem nem um aceno de cabeça, ela simplesmente segue em frente, me ignorando como se eu fosse invisível.Que vagabunda!Respiro fundo e volto minha atenção para o que realmente importa. O problema agora é encontrar Mark. Diante das inúmeras portas à minha frente, a ideia de ter que bater em cada uma delas é frustrante. Mas então, algo chama minha atenção.Vozes. Baixas, mas distintas.Uma delas é a de Mark
Eu não posso acreditar que, por um segundo, achei que ele era o meu estranho do elevador!— Pelo contrário. Ela expressou uma opinião que estou ansioso para ouvir mais. Srta. Martin, por favor, sente-se conosco. — A voz de Carter é baixa e carregada de algo indecifrável, quase um convite velado.A maneira como ele pronuncia meu nome... é quase um crime. Há uma sensualidade natural em sua entonação que faz minha pele arrepiar. Meu corpo reage antes mesmo que minha mente processe.Eu realmente acabei de criticar o trabalho de Mark Leviels... e, de quebra, flertar indiretamente com o chefão?Engulo em seco e me sento, mantendo o arquivo do projeto Nova Escola firme no colo, como se fosse um escudo. Tento focar na tela à minha frente, mas não posso ignorar a presença intensa do Sr. Carter ao meu lado. Ele me observa, intrigado. Sua fragrância amadeirada invade meus sentidos novamente, e eu me pergunto que tipo de feitiço esse homem carrega consigo.Preciso me recompor. Se quero manter meu
Chego à minha mesa com o coração acelerado, ainda processando tudo o que acabou de acontecer. A adrenalina pulsa em minhas veias, e a única coisa que consigo pensar é: eu preciso contar isso para alguém!Sento-me apressadamente e abro o bate-papo em grupo com Lisa e Matt. Meus dedos voam pelo teclado."Eu tenho uma coisa louca para contar!!!"A resposta vem quase instantaneamente.Lisa♡: "ME CONTA TUDO! QUERO SABER!""Aqui não! Quero contar pessoalmente!"Lisa♡: "Ok! Conselho de guerra no refeitório! Matt está com você?""Não sei onde ele está..., mas não importa! Eu PRECISO te contar isso agora!"Lisa♡: "Ok, vejo você em um minuto!"Levanto-me de um salto, pego minha pasta e sigo para o elevador. Meu corpo ainda está em alerta, como se tentasse se recuperar da tensão daquele encontro. Quando a porta do elevador se abre, dou de cara com Mark.Ele me olha surpreso, mas logo seu rosto assume uma expressão mais neutra.— Você de novo? Na verdade, eu queria falar com você. — Ele diz, incl
— Intenso como? — Minha amiga estreita os olhos, com um sorriso sugestivo.— Sei lá, foi… eletrizante. Tipo… quando você encosta em algo e sente um choque leve, mas que percorre seu corpo inteiro. — Tento explicar, mas a verdade é que nem eu mesma consigo entender completamente.Matt estala a língua e sacode a cabeça.— Ah, entendi. Então o cara é um eletricista agora.Reviro os olhos, jogando um guardanapo nele.— Eu duvido que ele faria alguma coisa por você, Matt.— Mas um eletricista desses pode vir me ligar a qualquer hora. — A loira pisca, segurando o riso.Caímos na gargalhada, e Matt faz uma careta exagerada.— Eu tenho tantas imagens na minha cabeça agora… e nenhuma delas é apropriada.Lisa ainda ri, mas então sua expressão muda repentinamente.— Peraí! Você tem noção do que aconteceu? Você conheceu Ryan Carter! Ele é o solteiro bilionário mais cobiçado de Nova York! Eu quase nunca vejo ele na recepção.Ela bate palmas animada, claramente empolgada.— Ah! E falando no Carter…
Por um instante, sinto meu corpo congelar. A vergonha ameaça me engolir inteira.Se vou ser pega procurando informações sobre meu CEO gostoso, pelo menos não vou negar.Levanto o olhar, endireito os ombros e dou de ombros.— Eu te disse. Estou investindo no meu trabalho.Silêncio.E então…O sorrisinho discreto de Ryan Carter se expande um pouco mais, como se ele estivesse se divertindo com isso.Meu Deus.— Espero que tenha gostado do que viu. Mas eu tomaria cuidado com essas revistas de fofocas. — Carter comenta sua voz carregada de ironia e um leve sorriso no canto dos lábios.O tom descontraído dele me pega de surpresa. Ele realmente não parece incomodado com o fato de que eu estava, tecnicamente, lendo fofocas sobre ele.Cruzo os braços e levanto o queixo, tentando parecer inabalável.— Depois de conhecê-lo, achei que seria interessante saber mais sobre você. — Digo, mantendo meu tom profissional. — É importante conhecer quem está acima de nós na hierarquia. Quem está no topo.Ma
Caminho direto para a sala de Gabriel, sentindo a tensão aumentar a cada passo. Assim que entro, encontro meu gerente esperando por mim, impaciente. Ele se levanta no instante em que me vê, como se estivesse prestes a vir atrás de mim caso eu demorasse mais alguns segundos.Ótimo. Isso definitivamente não parece bom.— Katerina, obrigado por vir tão rápido. — Gabriel me cumprimenta com um aceno de cabeça. — Tenho algumas informações importantes para compartilhar com você.Ele aponta para a cadeira à sua frente.— Sente-se. O Mark deve estar chegando a qualquer momento.Obedeço, cruzando as pernas e tentando parecer mais calma do que realmente estou.— Certo… por onde começamos? — pergunto.Gabriel respira fundo, como se estivesse organizando os pensamentos antes de falar.— Primeiro, eu revisei sua apresentação e sua análise final sobre o projeto da Nova Escola. Também dei uma olhada no evento de caridade que você propôs. E tenho boas e más notícias.Cruzo os braços, tentando decifrar
No elevador, meu coração bate como se eu estivesse indo para um interrogatório do FBI. Isso é loucura. Absolutamente insano. Com certeza alguém cometeu um erro grave, e eu estou prestes a ser a mensageira azarada que terá que corrigir isso.Assim que as portas se abrem no andar do Sr. Carter, eu saio decidida. Melhor resolver esse mal-entendido o quanto antes, antes que percebam que confiaram na pessoa errada para esse cargo.Meus olhos encontram uma secretária sentada atrás de uma mesa impecável. Não é a mesma sirigaita que vi outro dia, mas a energia de "não estou aqui para ser simpática" é praticamente a mesma. Ela digita furiosamente no teclado, com a postura de quem está resolvendo algo muito mais importante do que qualquer coisa que eu tenha a dizer.Pelo jeito, no setor executivo, até as recepcionistas precisam exalar superioridade.— Bom dia… com licença… eu gostaria de falar com o Sr. Carter. — digo, tentando soar profissional, mas provavelmente parecendo uma estagiária perdi
Eu fico alucinada com a confiança dele. Ele fala como se estivesse me oferecendo um bilhete dourado para um mundo exclusivo e inalcançável.— Faça um teste de um dia. — Ele continua. — Te dou até esta noite para decidir.O encaro por um momento, avaliando minhas opções. Eu adoraria olhá-lo de cima, mas ele tem, no mínimo, uma cabeça a mais que eu. Péssimo para minha tentativa de superioridade.— Certo. Um dia. — digo, tentando soar indiferente.— Ótimo. Vou te enviar as primeiras tarefas por e-mail.— Por que agora? — arqueio uma sobrancelha. — Depois de tudo, eu só tenho algumas horas para decidir.Ele sorri de lado, e eu sei que deveria virar as costas e jogar esse "teste de um dia" bem na cara dele. Mas é mais forte do que eu.Eu amo desafios. E, se me lançam um, sou incapaz de recuar… mesmo que todas as probabilidades estejam contra mim.— Ligue para o escritório do Henri e agende o encontro de quinta-feira. — Ele dispara, sem nem piscar. — Reenvie o contrato da Parkson para revis