Capítulo IV

Quando chego em casa, largo minha bolsa no sofá e solto um suspiro longo. O dia foi cansativo, mas minha mente não está exatamente no trabalho. Desde o momento em que deixei o escritório, só consigo pensar no homem do elevador. O mistério em torno dele me atormenta como um enigma que preciso desesperadamente resolver.

Sacudo a cabeça, tentando afastar a lembrança de seu toque, e pego meu laptop. Antes que Matt e Lisa cheguem, quero interagir com meus seguidores.

Hoje, "Pequenas Delícias da Kat" recebeu centenas de visitas. Sempre fico animada em ver tanta gente interessada nas minhas receitas. Desde que publiquei a resenha do "bolo de aniversário perfeito", minha pequena comunidade culinária só cresceu, e faço questão de responder a cada comentário.

Maduh09: "Esse prato é um verdadeiro afrodisíaco! Você precisa me contar de onde tirou essa inspiração!"

Meu dedo paira sobre o teclado, e um som de arranhar me distrai. Olho para o lado e vejo Candy, minha hamster, escalando a grade da gaiola com suas patinhas fofas. Seus olhos pretos e brilhantes me encaram com curiosidade, como se soubesse que há algo diferente em mim.

— Você também está querendo respostas, né? — murmuro, pegando-a com cuidado. — Mas, infelizmente, sua dona não conseguiu descobrir nada sobre o estranho misterioso.

Candy inclina a cabeça, como se realmente estivesse tentando me entender.

Respiro fundo e fecho os olhos por um momento. O elevador, a luz intensa, o perfume dele... A sensação do toque de seus lábios ainda parece real demais. A lembrança me faz arrepiar dos pés à cabeça.

Mas antes que eu possa me perder nesse devaneio, uma batida forte na porta me traz de volta.

Abro os olhos num sobressalto. Meus degustadores.

Em um reflexo, fecho o laptop. Ainda não estou pronta para que ninguém descubra meu site. É um pedaço de mim que mantenho separado da minha vida real.

Tomo fôlego e vou até a porta.

Assim que abro, Matt entra primeiro, esfregando as mãos como se estivesse prestes a enfrentar um banquete.

— Eu não como nada desde o almoço. Mal posso esperar para encher o estômago! — ele anuncia, passando direto para a sala.

— E então, chef, o que tem no cardápio hoje? Doce ou salgado? — Lisa pergunta, levantando uma sobrancelha com curiosidade.

Cruzo os braços, um sorriso travesso surgindo nos meus lábios.

— Hoje vamos de coq au vin harmonizado com um Saint-Émilion.

— Wow. — Matt pisca, impressionado. — Isso não é aquele prato francês chique e difícil de fazer?

— Exatamente. Mas nada que eu não possa dar conta.

— Você sempre consegue! — Lisa sorri, animada. — Eu já estou com água na boca!

Entro na cozinha e começo a organizar os ingredientes. O cheiro de vinho reduzindo na panela se espalha pelo ambiente, criando uma atmosfera acolhedora. O jantar promete ser incrível.

Chego ao escritório e caminho pelo espaço aberto da Carter Corp, tentando ignorar o peso do cansaço que se arrasta comigo.

Assim que me aproximo da minha mesa, ainda desempacotando minhas coisas, Matt me lança um olhar cheio de insinuações. Seu sorriso malicioso só confirma o que eu já suspeitava: minhas olheiras estão me denunciando.

— Sim, eu sei. — resmungo antes que ele possa dizer qualquer coisa. — Você me avisou. Eu deveria ter ido para a cama mais cedo. Agora me sinto como um zumbi.

O moreno se recosta na cadeira, cruzando os braços com um ar satisfeito.

— Oh, longe de mim dizer eu avisei... — ele provoca, arqueando uma sobrancelha. — Mas estou realmente apreciando esse seu visual abatido. Enquanto isso, eu me sinto tão fresco quanto uma margarida. Mal posso esperar para continuar o nosso projeto!

Reviro os olhos e estou prestes a rebater quando uma voz firme soa atrás de mim.

— Ei! A que horas você chama isso, Katerina?

Congelo no lugar. Gabriel Simons, nosso gerente, aparece do nada, como se tivesse se materializado no escritório. Embora seja um cara geralmente paciente, sua expressão séria me diz que ele não está nada feliz com meu atraso.

— Vou começar a trabalhar imediatamente! — digo, tentando disfarçar o nervosismo. — Meu alarme não tocou...

Gabriel suspira, mas seu tom continua profissional.

— Essas coisas acontecem. Mas quero ver sua proposta final para o projeto da Nova Escola o quanto antes.

Assinto rapidamente, mantendo a postura firme.

— Na verdade, estarei fora o dia todo. — ele continua. — Se precisarem de algo, entrem em contato com Mark Leviels, o Diretor da área. Ele está no 50° andar.

Assim que ele se afasta, ouço uma risada abafada ao meu lado.

— Nem uma bronca te tira esse charme todo, hein? — Matt brinca, tentando conter o riso.

Solto um suspiro exasperado e passo a mão pelo rosto.

— Pode rir à vontade, Matt. Você estava certo.

Ele sorri, satisfeito.

Eu não deveria ter ficado acordada até tão tarde, toda decisão tem suas consequências.

[...]

No início da tarde, meus dedos deslizam pelo teclado enquanto tento encontrar as informações de que preciso para finalizar o projeto da Nova Escola. O problema? Estou procurando um contato essencial, mas não encontro os detalhes em lugar nenhum.

Solto um suspiro frustrado e me viro para Matt, que está concentrado na maquete final.

— Matt, por acaso você tem o número do tesoureiro da Universidade de Nova York? Aquele que cuida do orçamento, receita e todas essas coisas?

Ele levanta a cabeça, pensativo, e depois balança negativamente.

— Não, desculpe. Também não consegui encontrá-lo. E estou com muita pressa para terminar isso. A quem mais você pode perguntar?

Mordo o lábio, analisando minhas opções.

— Vou ter que falar com Mark Leviels no último andar.

— Ah, sim. O Gabriel está em uma reunião externa hoje, então vai ter que ir direto ao covil dos Manda-Chuvas. — Ele solta um assobio baixo. — Eu fico aqui terminando o modelo e você vai ver o temido diretor?

— Exato. Mas é melhor você finalizar esse modelo.

Meu amigo se recosta na cadeira com um sorriso maroto.

— Trabalho em equipe, princesa. Se dividirmos nossa energia e tempo, seremos mais eficientes.

Arqueio uma sobrancelha.

— O ditado é dividir para conquistar, não dividir e ser mais eficiente.

Ele dá de ombros.

— Depende do ponto de vista. Se formos mais eficientes, eventualmente vamos governar este lugar!

Reviro os olhos, mas ele continua, animado.

— Além disso, anime-se, Katerina. Talvez você tenha a sorte de esbarrar no chefão, o próprio Ryan Carter. Isso não acontece todo dia! Se o vir, não esqueça de dizer a ele como somos ótimos. Quem sabe conseguimos uma promoção?

— Ah, claro, Matt. Vou simplesmente interromper o CEO para vender nosso peixe.

— Vai que cola! — Ele pisca. — Ouvi dizer que ele vai dar uma viagem às Maldivas para os melhores funcionários!

Solto uma risada, prestes a me virar para sair, quando noto a pasta do projeto sobre minha mesa.

— É melhor você levar isso com você. — Ele sugere, apontando para o documento. — Além de útil, vai fazer você parecer uma super profissional.

Balanço a cabeça, pegando a pasta.

— Não preciso parecer mais profissional do que já sou. Com ou sem pasta, tenho tudo sob controle.

Ele sorri divertido.

— Se você diz... Mas se não voltar, posso ficar com a Candy?

Rio e faço um aceno dramático.

— Se eu nunca mais for vista, cuide bem dela.

— Claro, princesa. Mas, a propósito, preciso confessar algo. Ontem eu menti. Se você fosse embora, eu choraria por muito mais do que uma semana... — Ele faz uma pausa teatral. — Talvez uma semana e um dia. No máximo.

Dou uma risada enquanto me afasto, sacudindo a cabeça. Mas, no fundo, Matt conseguiu me deixar curiosa. Esta é a primeira vez que subo até o famoso 50° andar.

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