Maldito Bruto
Maldito Bruto
Por: I'm Emili
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Lívia

Olhei aflita para o relógio pela décima vez. Já era meio dia e quarenta e três. Meu pai havia me dito que viria me buscar ao meio dia, e eu estava contando os segundos com a ansiedade a ponto de me enlouquecer. Minhas coisinhas, que não eram muitas, estavam arrumadas há algumas horas em uma mala velha que peguei escondido no quarto de Mariana, minha mãe.

Eu estava grata que ela nem o namorado estavam em casa e também muito ansiosa e feliz por finalmente sair daquele lugar, com eles estando presente, eu não poderia ao menos sorrir de alívio, visto que até meu sorriso incomodava a mulher que me deu a luz.

Conforme os minutos se passavam e meu pai não chegava, era inevitável não começar a pensar besteiras, sobre como ele poderia ter desistido de me buscar e essas coisas... Estava a ponto de furar o chão de impaciência, andando de um lado para o outro.

— Será que meu pai se esqueceu de mim? — falei em voz alta na intenção de ouvir minha própria frase e me dar conta do quão ridículo era meu pensamento, porque papai nunca faria isso.

Foi quando finalmente ouvi o barulho de uma buzina lá embaixo, corri e olhei pela janela reconhecendo o carro do meu pai, a alegria me agarrou e meu peito acelerou com tanta força que cheguei a pensar que desmaiaria de alívio. Puxei a pequena mala velha e desci correndo as escadas.

— Papai! — corri para abraça-lo, largando a mala no meio do caminho. 

Ele retribuiu o abraço forte me erguendo do chão e rodando meu corpo no ar. 

— Que saudade. Pensei que não viria mais... — não consegui evitar o nó na garganta e a mágoa na voz.

— Eu esperei tanto por isso, minha princesa... Nunca deixaria de vir, aconteceram alguns imprevistos. Ninguém vai nos separar dessa vez. — o homem com quem me parecia tanto, colocou-me no chão e acariciou meu cabelo — Eu te amo muito e espero que possa me perdoar por não ter estado presente, sua mãe não me deu opções.

— Eu entendo e não te culpo por nada, eu só sentia muita vontade de ter um pai presente, mas agora que eu descobri a verdade, sei que nenhum de nós dois teve culpa, já que você nem sabia da minha existência e nem eu da sua e só ficamos sabendo há alguns meses. Eu também te amo. — falei emocionada e ele me envolveu em outro abraço.

— Minha garotinha já é uma mulher muito bonita, vejo que terei problemas. — coçou a cabeça — Sou um pouco ciumento e agora que tenho você comigo, não sei se suportaria ver algum idiota tocando minha bebê. Você não tem nenhum namoradinho por aqui não, não é? — perguntou sorrindo parecendo um pouco tenso.

— Nunca tive amigos, que dirá namorado. — devolvi um sorriso não muito sincero, porque no fundo sempre existiu um desejo de ter amigos e quem sabe me apaixonar.

Afinal, que sensação deveria ter a de se apaixonar?

— Agora você irá morar comigo e terá o melhor amigo de todos, seu pai. Não quero que sinta tristeza ou se sinta sozinha nunca mais, está bem? — encarei seus lindos olhos e meu queixo tremeu com vontade de chorar, mas me segurei.

— Sim, combinado. Vamos logo? Não vejo a hora de estar bem longe daqui. — pedi e ele assentiu, tirou os braços de mim e caminhou para abrir a porta do carro.

Voltei alguns passos para pegar a mala onde havia soltado-a, entrei no carro e quando papai estava prestes a dar partida, vimos um outro carro se aproximando e segundos depois Mariana e Leonel o namorado, desceram.

— Já vai levar minha garotinha embora? — o imbecil disse sarcasticamente.

Olhei para meu pai e o vi cerrar os punhos, fechar os olhos e descer furioso do carro.

— Cala a boca seu filho da puta! Nunca mais se refira a minha menina como algo seu. Acha que não sei o que tentou fazer com a minha filha? Seu desgraçado! — papai gritou partindo para cima de Leonel desferindo socos em seu rosto.

— Heitor! Solta ele agora! Seu maluco! — Mariana berrou.

Mas meu pai parecia não estar ouvindo nada, movido por sua raiva e rancor, continuou batendo, espancando o vagabundo. Eu deveria fazer alguma coisa, porque por mais que Leonel merecesse apanhar até a morte, eu não queria que meu pai se metesse em problemas por causa daquele monstro.

Desci do carro e corri até eles.

— Ei, pai, por favor vamos embora. Não vale a pena se meter em problemas por causa desse idiota. — tentei puxá-lo pela camisa, até que se acalmou e se afastou, com os punhos sujos de sangue e respiração ofegante.

— Você merece muito mais, só não te mato pra não fazer minha filha sofrer com minha ausência novamente. Desgraçado! — os olhos do meu pai estavam vermelhos de ódio.

A imagem pareceu perturbadora de início, mas Leonel havia mexido com a filha dele, era apenas um pai de verdade defendendo sua criança, porque era assim que ele me via, como sua criança que precisava de proteção depois de tanto tempo longe.

Mariana correu para socorrer o namorado, xingando meu pai de todos os nomes possíveis.

— E você Mariana, ainda vai pagar pelos maus tratos a minha filha. Você se safou porque esse desgraçado é policial e conseguiu de alguma forma corrupta sair ileso das acusações assim como você, mas eu vou dar um jeito em vocês. Aguardem! — papai jurou e me puxou gentilmente para o carro.

Ela não disse mais nada. Quando eu estava sentada dentro do carro eu a olhei pela última vez e encontrei seu olhar em mim também, nos encaramos por vários segundos até que o carro começou a se afastar lentamente.

Sinceramente, eu não sabia o que significava aquele olhar, entretanto, nunca mais queria sentí-lo em mim ou vê-lo novamente.

— Me perdoe por ter feito você ver tamanha violência. — eu deitei a cabeça em seu ombro e beijei sua bochecha.

— Confesso que gostei de ver aquele monstro apanhando e a cara da mamãe olhando aquilo tudo. Obrigada por me defender.

— Foi pouco. — me olhou com ternura e pude sentir o amor de um pai transbordando de seus olhos, isso aqueceu meu coração.

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