Lívia
Olhei aflita para o relógio pela décima vez. Já era meio dia e quarenta e três. Meu pai havia me dito que viria me buscar ao meio dia, e eu estava contando os segundos com a ansiedade a ponto de me enlouquecer. Minhas coisinhas, que não eram muitas, estavam arrumadas há algumas horas em uma mala velha que peguei escondido no quarto de Mariana, minha mãe.
Eu estava grata que ela nem o namorado estavam em casa e também muito ansiosa e feliz por finalmente sair daquele lugar, com eles estando presente, eu não poderia ao menos sorrir de alívio, visto que até meu sorriso incomodava a mulher que me deu a luz.
Conforme os minutos se passavam e meu pai não chegava, era inevitável não começar a pensar besteiras, sobre como ele poderia ter desistido de me buscar e essas coisas... Estava a ponto de furar o chão de impaciência, andando de um lado para o outro.
— Será que meu pai se esqueceu de mim? — falei em voz alta na intenção de ouvir minha própria frase e me dar conta do quão ridículo era meu pensamento, porque papai nunca faria isso.
Foi quando finalmente ouvi o barulho de uma buzina lá embaixo, corri e olhei pela janela reconhecendo o carro do meu pai, a alegria me agarrou e meu peito acelerou com tanta força que cheguei a pensar que desmaiaria de alívio. Puxei a pequena mala velha e desci correndo as escadas.
— Papai! — corri para abraça-lo, largando a mala no meio do caminho.
Ele retribuiu o abraço forte me erguendo do chão e rodando meu corpo no ar.
— Que saudade. Pensei que não viria mais... — não consegui evitar o nó na garganta e a mágoa na voz.
— Eu esperei tanto por isso, minha princesa... Nunca deixaria de vir, aconteceram alguns imprevistos. Ninguém vai nos separar dessa vez. — o homem com quem me parecia tanto, colocou-me no chão e acariciou meu cabelo — Eu te amo muito e espero que possa me perdoar por não ter estado presente, sua mãe não me deu opções.
— Eu entendo e não te culpo por nada, eu só sentia muita vontade de ter um pai presente, mas agora que eu descobri a verdade, sei que nenhum de nós dois teve culpa, já que você nem sabia da minha existência e nem eu da sua e só ficamos sabendo há alguns meses. Eu também te amo. — falei emocionada e ele me envolveu em outro abraço.
— Minha garotinha já é uma mulher muito bonita, vejo que terei problemas. — coçou a cabeça — Sou um pouco ciumento e agora que tenho você comigo, não sei se suportaria ver algum idiota tocando minha bebê. Você não tem nenhum namoradinho por aqui não, não é? — perguntou sorrindo parecendo um pouco tenso.
— Nunca tive amigos, que dirá namorado. — devolvi um sorriso não muito sincero, porque no fundo sempre existiu um desejo de ter amigos e quem sabe me apaixonar.
Afinal, que sensação deveria ter a de se apaixonar?
— Agora você irá morar comigo e terá o melhor amigo de todos, seu pai. Não quero que sinta tristeza ou se sinta sozinha nunca mais, está bem? — encarei seus lindos olhos e meu queixo tremeu com vontade de chorar, mas me segurei.
— Sim, combinado. Vamos logo? Não vejo a hora de estar bem longe daqui. — pedi e ele assentiu, tirou os braços de mim e caminhou para abrir a porta do carro.
Voltei alguns passos para pegar a mala onde havia soltado-a, entrei no carro e quando papai estava prestes a dar partida, vimos um outro carro se aproximando e segundos depois Mariana e Leonel o namorado, desceram.
— Já vai levar minha garotinha embora? — o imbecil disse sarcasticamente.
Olhei para meu pai e o vi cerrar os punhos, fechar os olhos e descer furioso do carro.
— Cala a boca seu filho da puta! Nunca mais se refira a minha menina como algo seu. Acha que não sei o que tentou fazer com a minha filha? Seu desgraçado! — papai gritou partindo para cima de Leonel desferindo socos em seu rosto.
— Heitor! Solta ele agora! Seu maluco! — Mariana berrou.
Mas meu pai parecia não estar ouvindo nada, movido por sua raiva e rancor, continuou batendo, espancando o vagabundo. Eu deveria fazer alguma coisa, porque por mais que Leonel merecesse apanhar até a morte, eu não queria que meu pai se metesse em problemas por causa daquele monstro.
Desci do carro e corri até eles.
— Ei, pai, por favor vamos embora. Não vale a pena se meter em problemas por causa desse idiota. — tentei puxá-lo pela camisa, até que se acalmou e se afastou, com os punhos sujos de sangue e respiração ofegante.
— Você merece muito mais, só não te mato pra não fazer minha filha sofrer com minha ausência novamente. Desgraçado! — os olhos do meu pai estavam vermelhos de ódio.
A imagem pareceu perturbadora de início, mas Leonel havia mexido com a filha dele, era apenas um pai de verdade defendendo sua criança, porque era assim que ele me via, como sua criança que precisava de proteção depois de tanto tempo longe.
Mariana correu para socorrer o namorado, xingando meu pai de todos os nomes possíveis.
— E você Mariana, ainda vai pagar pelos maus tratos a minha filha. Você se safou porque esse desgraçado é policial e conseguiu de alguma forma corrupta sair ileso das acusações assim como você, mas eu vou dar um jeito em vocês. Aguardem! — papai jurou e me puxou gentilmente para o carro.
Ela não disse mais nada. Quando eu estava sentada dentro do carro eu a olhei pela última vez e encontrei seu olhar em mim também, nos encaramos por vários segundos até que o carro começou a se afastar lentamente.
Sinceramente, eu não sabia o que significava aquele olhar, entretanto, nunca mais queria sentí-lo em mim ou vê-lo novamente.
— Me perdoe por ter feito você ver tamanha violência. — eu deitei a cabeça em seu ombro e beijei sua bochecha.
— Confesso que gostei de ver aquele monstro apanhando e a cara da mamãe olhando aquilo tudo. Obrigada por me defender.
— Foi pouco. — me olhou com ternura e pude sentir o amor de um pai transbordando de seus olhos, isso aqueceu meu coração.
LíviaDurante o caminho conversamos sobre muitas coisas, inclusive mais uma vez tocamos no assunto do tempo em que ficamos separados por culpa de Mariana que escondeu de ambos nossa existência.Foi o dia de mais euforia da minha vida quando eu estava limpando em cima do guarda roupas da minha mãe que havia ordenado que eu faxinasse toda a casa naquele dia, e encontrei uma caixa velha e empoeirada, não resistindo a curiosidade, olhei dentro. Acabei encontrando fotos dela com um homem que imediatamente lembrou-me de mim mesma, por tamanha semelhança.Eles pareciam jovens, acho que tinham minha idade, dezessete anos. Também havia um número de telefone rabiscado atrás da foto. Imediatamente soube que era meu p
DemétrioAbri os olhos num susto, como se meu corpo estivesse me acordando automaticamente por causa da rotina criada por mim há anos. Busquei meu aparelho celular e verifiquei que horas eram.— Porra, estou atrasado. — exclamei, levantando-me da cama, com raiva —Essa porcaria de despertador não está funcionando! — levei a mão ao pequeno aparelho e o joguei na parede.Passei as mãos pelo rosto, exasperado, sentindo minha cabeça latejar. Ainda meio zonzo da quantidade de álcool que bebi na noite anterior, fui para o banheiro. Tomei um banho rápido, escovei os dentes e me vesti. Peguei meu chapéu e fui em direção ao quarto do meu irmão.
Lívia— Lívia! — ouvi meu pai me chamar.Percebi que havia ficado muito tempo encarando para onde o homem grosseiro foi. Balancei a cabeça e corri em direção a casa.Papai segurou minha mão e entrou comigo, me senti animada e ansiosa para conhecer meu novo lar. Enquanto andávamos, ele pegou uma mecha do meu cabelo fazendo cachinhos e me apresentou a todos os empregados da casa.— Maria e Luísa, essa é a minha filha Lívia, a que eu sempre falava para vocês, finalmente ela está comigo agora. — meu pai me olhou e sorriu dando um beijo na minha testa — Filha, a Luísa cuida da limpeza da cada e a
LíviaPerdida em meus pensamentos sobre aquele homem mas acima de tudo, feliz por estar com meu pai, acabei dormindo. No dia seguinte acordei, escovei os dentes, tomei banho e desci para encontrar meu pai, ele já estava lá embaixo sentado a mesa.— Bom dia. — abriu um largo sorriso ao me ver — Vem filha, junte-se a mim.Fui até ele, o cumprimentei e me sentei para tomarmos café da manhã juntos.— Pai, eu estou tão feliz de estar aqui... — declarei suspirando.— Que bom minha querida. Eu também estou muito feliz por ter você comigo, minha princesa. — ele re
LíviaUma semana se passou desde o dia em que fui morar na fazenda. Estava deitada na minha cama, tarde da noite, vestida com a camisa de um homem arrogante que nunca mais olhou na minha cara, pensando nele, graças a um livro de romance que eu havia lido. Eu não estava apaixonada nem nada, só tinha curiosidade de saber a sensação de estar vestida com a camisa do namorado e era totalmente sem sentido, eu sei.Eu não poderia deixar de me sentir idiota por isso. Eu mal conhecia o cara e já estava assim, e além de tudo, ele era um grosso.Ouvi um barulho lá em cima e rapidamente me sentei, um pouco receosa de que pudesse ser outra pessoa a estar lá, o Demétrio não parecia se
LíviaMe despedi do meu pai com muito custo. Dei-lhe um longo abraço e muitos beijos, eu sabia que ele voltaria logo, mas o amava tanto que tinha certeza de que apenas um dia sem ele se pareceria com um ano.— Oh, acabei de me lembrar de algo. Você pode fazer um favor para mim, filha?— Claro, qualquer coisa pai. — respondi prontamente, feliz em ser útil de alguma forma.— Eu não vi o Demétrio durante todo o dia e acabei me esquecendo de entregar a ele a lista de compras de ração para os animais. Você pode fazer isso para mim?— Claro, pode deixar. — aceitei de i
DemétrioEu estava quieto no meu canto preferido quando aquela garota intrometida chegou e meus olhos por um acaso se encontraram com os dela pela primeira vez desde que chegou a fazenda. Percebi que havia ficado um pouco perdido naquele olhar azul tão intenso e perfeito, eu não havia notado-a ainda desse jeito. Ela era linda.O que mais me chamou atenção foram o quão fortemente azuis eram seus olhos, depois, aquela boquinha rosinha e bem desenhada dela. Me fez começar a imaginar como seriam certas partes sensíveis de seu corpo. Quando dei por mim, estava duro pensando nela.Mas que porra estava havendo comigo? Eu sempre senti uma raiva incomum dentro de mim, mas naquele momento,
LíviaDois dias se passaram...Acordei com mãos macias acariciando meus cabelos, abri os olhos e vi o rosto do meu pai.— Pai. — dei um sorriso preguiçoso, me levantei feliz em vê-lo e o abracei, contemplando o sorriso enorme em seu rosto.—Que saudade, filha — me abraçou de volta.— Parece que faz um ano. — sorri.— Foram só dois dias. — sorriu — Como foi aqui sem mim?— Foi chato, senti sua falta o tempo todo.
Último capítulo