Lívia
— Lívia! — ouvi meu pai me chamar.
Percebi que havia ficado muito tempo encarando para onde o homem grosseiro foi. Balancei a cabeça e corri em direção a casa.
Papai segurou minha mão e entrou comigo, me senti animada e ansiosa para conhecer meu novo lar. Enquanto andávamos, ele pegou uma mecha do meu cabelo fazendo cachinhos e me apresentou a todos os empregados da casa.
— Maria e Luísa, essa é a minha filha Lívia, a que eu sempre falava para vocês, finalmente ela está comigo agora. — meu pai me olhou e sorriu dando um beijo na minha testa — Filha, a Luísa cuida da limpeza da cada e a Maria da comida.
As cumprimentei, as duas pareciam ser gentis e legais. Maria parecia jovem, era muito bonita, com seus cabelos pretos até a cintura e olhos verdes, já Luísa era uma senhora de meia idade, muito simpática. Depois, meu pai mostrou-me toda a casa e me explicou tudo, quando chegamos em uma porta específica, ele parou.
— Filha, esse é o seu quarto desde que você me ligou, eu mandei preparar tudo de acordo com o que soube que jovens da sua idade gostam, mas no fim o arquiteto disse que deveria ser neutro e se você quisesse modificar, faria isso ao seu modo. Espero que goste meu amor.
— Eu tenho certeza que vou amar. — respondi emocionada.
Ele abriu a porta do quarto e corri o olhar por todo o cômodo, era realmente lindo. Tudo maravilhoso e perfeito para mim, grande e espaçoso com um closet e um banheiro. Uma cama de casal e uma varanda com vista para toda a fazenda.
— Pai, é lindo, é perfeito. Eu amei, muito, de verdade. — exclamei com lágrimas nos olhos e abracei meu pai. Eu estava tão feliz.
— Que bom minha filha. Agora vou deixar você sozinha um pouco, tenho que ir resolver algumas coisas e se quiser arrumar algo do seu jeito, sinta-se a vontade, é tudo seu. — meu pai me deu um beijo na testa.
— Obrigada por tudo. — o abracei por vários segundos e então ele saiu do quarto, fechando a porta em seguida.
Comecei a explorar um pouquinho o quarto, abri a porta do closet e já havia várias peças de roupas novinhas para mim. Caminhei até a varanda e percebi que dava pra ver quase a fazenda inteira, era lindo, tinha algumas luzes de casinhas dos empregados que juntas ficavam tão bonitas, a vista era perfeita para mim.
Eu fiquei olhando a paisagem, sentindo-me tão feliz pela primeira vez na minha vida. De repente avistei o homem de hoje cedo o dono do cachorrinho machucado, minha curiosidade para saber o estado do bichinho aguçou, eu sempre tive um amor absurdo pelos animais, uma pena que nunca pude ter um em casa.
Descidi ir lá embaixo para saber se o bichinho melhorou. Desci as escadas rapidamente e o encontrei cuidando de um cavalo perto do celeiro, a forma como seus braços musculosos se moviam enquanto escovava o animal, fez algo estranho no meio das minhas coxas.
— Olá. — falei me aproximando.
— Olá. — respondeu em tom seco.
Meu olhar vagou por todo o celeiro e acabei me distraindo olhando os três cavalos lindos que havim lá.
— O que você quer? — ele nem me olhou e continuou cuidando do cavalo.
— Desculpe incomodar, é que...
— Fala logo.
— Que impaciente. — murmurei — O cachorrinho está bem?
— Eu cuidei pra que ele ficasse bem.
— Que bom.
— Mais alguma coisa? Se é só isso já pode ir. — que arrogante.
Franzi o cenho.
— Por acaso eu não posso vir aqui? Passear pela fazenda do meu pai?
Eu podia estar sendo arrogante como ele e até um pouco mimada, mas ele merecia naquele momento.
— Oh, é claro. Quem sou eu, não é mesmo? Me desculpe. — disse cheio de ironia na voz.
Chateada e não disposta a odiar alguém no meu primeiro dia na fazenda, sai sem dizer mais nenhuma palavra. Entrei em casa, jantei com o meu pai, me despedi com um beijo de boa noite e fui para o meu quarto.
Tomei um banho, coloquei uma roupa de dormir e sentei-me um pouco no sofá que tinha na varanda. Fiquei algum tempo olhando as estrelas, estavam lindas. Olhei para o lado e vi algo que parecia uma escada cheia de folhas nos degraus finos.
Fiquei curiosa e subi pra ver onde dava, cheguei lá em cima e me encontrei em um cômodo com apenas uma parede erguida que possuía um telhado, era pequeno e aconchegante e ao ar livre e a vista para as estrelas e para a lua, ficava ainda mais incrível.
Fiquei encantada, sentei em um pedaço de toco que tinha e fiquei observando o céu. De repente ouvi um barulho, meu coração acelerou e olhei para trás e para minha surpresa, vi o dono do cachorrinho.
— O que esta fazendo aqui? — perguntou assim que me viu.
Ele parecia muito bonito, vestia uma camisa preta de mangas compridas, uma calça moletom cinza e os cabelos pretos caíam sobre os ombros.
— Na varanda do meu quarto tem uma escada e eu subi para ver onde dava... Aqui é muito lindo... — respondi olhando o céu.
— Pelo visto não poderei vir mais aqui. Antes de você chegar, era o meu lugar favorito.
— Era? — indaguei.
— Agora não é mais. Tenho certeza que você vai querer vir sempre aqui agora.
— Eu não. Pode ficar a vontade, eu já vou e prometo não voltar. Desculpe. — eu estava sendo ridícula, pedindo desculpas por estar no terraço do meu próprio quarto.
Sem olhar para ele, desci as escadas e voltei para meu quarto. Deitei na cama e soltei um longo suspiro... Por que será que ele era tão grosseiro assim?
LíviaPerdida em meus pensamentos sobre aquele homem mas acima de tudo, feliz por estar com meu pai, acabei dormindo. No dia seguinte acordei, escovei os dentes, tomei banho e desci para encontrar meu pai, ele já estava lá embaixo sentado a mesa.— Bom dia. — abriu um largo sorriso ao me ver — Vem filha, junte-se a mim.Fui até ele, o cumprimentei e me sentei para tomarmos café da manhã juntos.— Pai, eu estou tão feliz de estar aqui... — declarei suspirando.— Que bom minha querida. Eu também estou muito feliz por ter você comigo, minha princesa. — ele re
LíviaUma semana se passou desde o dia em que fui morar na fazenda. Estava deitada na minha cama, tarde da noite, vestida com a camisa de um homem arrogante que nunca mais olhou na minha cara, pensando nele, graças a um livro de romance que eu havia lido. Eu não estava apaixonada nem nada, só tinha curiosidade de saber a sensação de estar vestida com a camisa do namorado e era totalmente sem sentido, eu sei.Eu não poderia deixar de me sentir idiota por isso. Eu mal conhecia o cara e já estava assim, e além de tudo, ele era um grosso.Ouvi um barulho lá em cima e rapidamente me sentei, um pouco receosa de que pudesse ser outra pessoa a estar lá, o Demétrio não parecia se
LíviaMe despedi do meu pai com muito custo. Dei-lhe um longo abraço e muitos beijos, eu sabia que ele voltaria logo, mas o amava tanto que tinha certeza de que apenas um dia sem ele se pareceria com um ano.— Oh, acabei de me lembrar de algo. Você pode fazer um favor para mim, filha?— Claro, qualquer coisa pai. — respondi prontamente, feliz em ser útil de alguma forma.— Eu não vi o Demétrio durante todo o dia e acabei me esquecendo de entregar a ele a lista de compras de ração para os animais. Você pode fazer isso para mim?— Claro, pode deixar. — aceitei de i
DemétrioEu estava quieto no meu canto preferido quando aquela garota intrometida chegou e meus olhos por um acaso se encontraram com os dela pela primeira vez desde que chegou a fazenda. Percebi que havia ficado um pouco perdido naquele olhar azul tão intenso e perfeito, eu não havia notado-a ainda desse jeito. Ela era linda.O que mais me chamou atenção foram o quão fortemente azuis eram seus olhos, depois, aquela boquinha rosinha e bem desenhada dela. Me fez começar a imaginar como seriam certas partes sensíveis de seu corpo. Quando dei por mim, estava duro pensando nela.Mas que porra estava havendo comigo? Eu sempre senti uma raiva incomum dentro de mim, mas naquele momento,
LíviaDois dias se passaram...Acordei com mãos macias acariciando meus cabelos, abri os olhos e vi o rosto do meu pai.— Pai. — dei um sorriso preguiçoso, me levantei feliz em vê-lo e o abracei, contemplando o sorriso enorme em seu rosto.—Que saudade, filha — me abraçou de volta.— Parece que faz um ano. — sorri.— Foram só dois dias. — sorriu — Como foi aqui sem mim?— Foi chato, senti sua falta o tempo todo.
LíviaEle estava demorando... Será que não viria mais? Eu estava com os braços nos joelhos sentada quando senti alguém se aproximando, olhei para frente e meus olhos encontraram a pessoa que fazia meu coração acelerar e meu corpo estremecer.— Frederic não vai poder sair com você. Ele tem aula. Não sei para que prometeu que te levaria em algum lugar em horário de aula. — Demétrio informou-me com olhos cheio de raiva.Ele estava montado em um cavalo, a visão de sua camisa de botões entreaberta e seus cabelos caindo nos ombros de forma selvagem, fez meu corpo esquentar.No mesmo instante, vi meu pai se a
DemétrioContinuei olhando para a porta fechada mesmo após ela ter passado por ela e batido-a com força. Suas palavras se repassando em minha mente. Remorso se aponderou de mim como uma mão agarrando meu peito e espremendo-o.Eu sempre deixava que minha raiva falasse por mim e tratava as pessoas de maneira rude, mesmo quando no caso de Lívia, não mereciam.Eu merecia que ela me odiasse por ser um bruto. Mas acontecia que meu coração era de pedra e eu não conseguiria corresponder a ela com a mesma educação e doçura que ela tinha.Talvez eu tenha exagerado, a culpa e o arrependimento me consumia cada vez mais, principalmente no
LíviaDesci as escadas, entrei em meu quarto e fechei a porta da varanda, puxei a cortina e me encostei na parede, tentando acalmar as batidas frenéticas do meu coração.Estava grata por ter tido forças o suficiente para me levantar sem que meus joelhos fraquejassem quando os lábios de Demétrio quase tocaram os meus e as sensações que sua proximidade me fez sentir, como minhas mãos trêmulas e suadas e meu corpo quente.Eu tinha quase certeza que ele me beijaria e eu estava a ponto de fazê-lo também. No entanto, consegui me recompor e me afastar antes que pudéssemos fazer algo que nos arrependeríamos depois, eu não, mas ele sim e eu não iria mais