João Paulo
— Ela não é mulher para você, João! — Minha mãe me segue pelas escadas, praticamente chorando por eu ter passado mais uma noite e quase o dia todo na casa de Dorotéia.
O último mês tem sido assim. Quase não apareço mais na casa dos meus pais. Ou quando venho, raramente converso com eles, justamente porque mamãe resolveu fazer o voto de silêncio até agora.
Hoje, enquanto limpamos a bagunça que fizemos na sala durante o fim de semana que ficamos trancados, assistindo e namorando, relutante, tive que dizer a Doti que não poderia passar mais tempo do que gostaria.
Minha vontade é de ficar grudado com aquela mulher e nunca mais sair do seu lado. Embora ainda seja um pouco difícil decifrá-la e romper a redoma que ela pôs ao redor dos seus sentimentos. Tenho certeza
DorotéiaEncaro a porta por onde João saiu nem um pouco animada para conversar com meu pai.Esse mês, mais especificamente esse dia, passou tão rápido que eu ainda não acredito que me declarei para João. Foi tão fácil, saiu que eu nem percebi."Claro que não percebeu. Com um corpo gostoso daquele à sua frente e um pau duro em sua mão, você não ia dar ouvidos ao que sua boca diria" — minha consciência resolve dar as caras depois de algum tempo, adormecida.No entanto, em compensação infelizmente, teve um fim nada amistoso.Sigo a passos lentos para cozinha onde meu pai e Maria estão. Me aproximo sem fazer barulho e os ouço cochichando, tento me manter fora de suas vistas e escuto um pouco da conversa.— O senhor tem que falar a verdade para ela, Seu Alfredo.<
DorotéiaPasso os dedos nas roupas penduradas no closet, tentando escolher uma sóbria o suficiente para uma visita ao hospital. Olho o relógio no pulso e vejo o quão próximo de dez e vinte já é.Fiquei tempo demais em meu momento de autopunição “barra” culpa por algo extremamente insignificante, que nem mesmo vi o tempo passar.Eu sabia que abrir a boca e dizer "estou apaixonada" traria consequências, só o fato de me punir internamente, e o despreparo que sinto em relação a um relacionamento, me deixa sufocada.Uma sensação incomoda me cutuca por dentro enquanto tiro as roupas dos cabides, e isso deve-se ao fato de que, mesmo conhecendo o João tão pouco, sinto sua falta. Além do mais, não ter dito isso a ele me faz ter a impressão de culpa há muito tempo, desco
DorotéiaEu estou de boca aberta, babando no espetáculo de homem à minha frente.João é lindo e eu fico impressionada todas as vezes que meus olhos assentam sobre ele, que não é muito mais alto que eu, que tenho os incríveis 1,69 cm. Mesmo assim, sem salto, eu me sinto pequena fisicamente em relação a sua estatura. E olha que eu acho minha altura incrível para alguém com um peso de... Ahhh! Não vou falar. Só saibam que sou pesada.O seco descaradamente começando pelo torso. A camisa de manga curta — curta demais para meu gosto —, está um pouco colada nos bíceps, e aquele pedaço de pano caro também marca de forma indecente o peitoral, fazendo os pobres botões chorarem.Para completar, minha mente, levemente pervertida, fantasia coisas sensacionais que aquela tora de p
João Paulo— Como você conseguiu reerguer uma empresa como a Arrais em tão pouco tempo? — Pergunto para Dorotéia que mantém sua atenção mais no bolo de cenoura e cobertura de chocolate, do que nos papéis que eu trouxe de São Paulo para terminarmos de analisá-los.— Dinheiro — ela responde simplesmente e leva mais uma garfada à boca.— Isso é uma resposta que eu realmente não esperava. — Dou de ombros batendo a caneta em cima de mais uma planilha onde os valores de venda não batem com os recebidos.— Por que não?— Porque é a resposta mais presunçosa que alguém poderia dar.Ela para com mais um pedaço do bolo a caminho da boca e me encara.— Não é quando se trata da verdade — retruca sér
João PauloOlho de perto e só vejo números e mais números.— Só vejo números — digo e abaixo os ombros, desanimado.— Exatamente. Os números são a resposta para tudo.Continuo a olhá-la com cara de paisagem e ela revira os olhos, logo em seguida, senta-se no tapete ao redor da mesa de centro.— Venha, vou te explicar.— Eu já revirei esses papéis de cima a baixo, Doti, não encontrei nada. Agora só faltam os relatórios das contas que foram rastreadas para saber onde esse dinheiro todo foi parar — informo depois de me sentar ao seu lado e receber uma planilha que ela me entrega,— E que os resultados provavelmente não dirão quem roubou todo esse montante — retruca.— No entanto, é o que temos por enquanto — lembro
DorotéiaSinto meu coração dormente, parece que parte dele foi levado embora assim que João bateu a porta da frente e eu fiquei aqui, estática, no corredor escuro, lembrando dos seus lábios dizendo eu te amo.Agarro os ombros para me esquecer do frio que se apossa do meu corpo. Novamente, o som do vento batendo nas cortinas da sala e do quarto produzem o eco indicando que estou só.— Você sabia, Dorotéia, você sabia que isso aconteceria. Não adianta reclamar agora — falo para mim mesmo enquanto miro minha imagem no espelho da sala. — Mas que merda, hein? Agora, vê se aprende.Acordo cedo, pois daqui a algumas horas, tenho que voltar para minha vida. A real, a que eu esqueci temporariamente por causa desse coração idiota.Só de lembrar de ontem, do dia intenso que foi, eu volto ao estado let&
DorotéiaDepois de sair da Arrais, dirijo para a casa do meu pai, sinto uma necessidade de confrontá-lo, de saber mais sobre ele, sobre sua vida e o que levou a roubar a empresa da própria família. Nada me tira da cabeça que ele é o caminho para desvendar todo esse mistério.Em um cruzamento qualquer, enquanto ouço Lewis Capaldi, pego-me pensando nas palavras do meu amigo. Desde o fato de que eu realmente preciso mudar, até ir atrás do João.Mas acontece que uma coisa não vai funcionar sem a outra. Sem essa tal mudança, eu não vou ter meu homem de volta. E é aí que está o problema. Eu não deveria mudar para agradá-lo, aliás, mulher nenhuma deveria mudar para agradar homem, ou qualquer outra pessoa que só sabe apontar seus defeitos e nada de suas qualidades.Eu tenho certe
Dorotéia— Sente-se! — Manda — para que você possa entender o que eu fiz, você precisa primeiro compreender meus motivos. — Ele fala com a voz calma, muito passivo para quem está sendo vigiado por uma câmera.Por essa eu não esperava, e então, concluo que foi por isso que Maribel ficou tão tranquila quando eu e meu pai estávamos discutindo lá na sala. Indiretamente ela vai saber o que se passa neste escritório, e isso só reforça que, seja lá o que meu pai esconde, Maribel está se aproveitando de alguma forma.— Estou esperando... — profiro, impaciente.— Quando eu conheci sua mãe, éramos jovens, muito jovens, aliás. Ela era a coisa mais linda que meus olhos tinham visto, assim como você, a única diferença que ela era branquinha, e iss