Dorotéia
Eu estou de boca aberta, babando no espetáculo de homem à minha frente.
João é lindo e eu fico impressionada todas as vezes que meus olhos assentam sobre ele, que não é muito mais alto que eu, que tenho os incríveis 1,69 cm. Mesmo assim, sem salto, eu me sinto pequena fisicamente em relação a sua estatura. E olha que eu acho minha altura incrível para alguém com um peso de... Ahhh! Não vou falar. Só saibam que sou pesada.
O seco descaradamente começando pelo torso. A camisa de manga curta — curta demais para meu gosto —, está um pouco colada nos bíceps, e aquele pedaço de pano caro também marca de forma indecente o peitoral, fazendo os pobres botões chorarem.
Para completar, minha mente, levemente pervertida, fantasia coisas sensacionais que aquela tora de p
João Paulo— Como você conseguiu reerguer uma empresa como a Arrais em tão pouco tempo? — Pergunto para Dorotéia que mantém sua atenção mais no bolo de cenoura e cobertura de chocolate, do que nos papéis que eu trouxe de São Paulo para terminarmos de analisá-los.— Dinheiro — ela responde simplesmente e leva mais uma garfada à boca.— Isso é uma resposta que eu realmente não esperava. — Dou de ombros batendo a caneta em cima de mais uma planilha onde os valores de venda não batem com os recebidos.— Por que não?— Porque é a resposta mais presunçosa que alguém poderia dar.Ela para com mais um pedaço do bolo a caminho da boca e me encara.— Não é quando se trata da verdade — retruca sér
João PauloOlho de perto e só vejo números e mais números.— Só vejo números — digo e abaixo os ombros, desanimado.— Exatamente. Os números são a resposta para tudo.Continuo a olhá-la com cara de paisagem e ela revira os olhos, logo em seguida, senta-se no tapete ao redor da mesa de centro.— Venha, vou te explicar.— Eu já revirei esses papéis de cima a baixo, Doti, não encontrei nada. Agora só faltam os relatórios das contas que foram rastreadas para saber onde esse dinheiro todo foi parar — informo depois de me sentar ao seu lado e receber uma planilha que ela me entrega,— E que os resultados provavelmente não dirão quem roubou todo esse montante — retruca.— No entanto, é o que temos por enquanto — lembro
DorotéiaSinto meu coração dormente, parece que parte dele foi levado embora assim que João bateu a porta da frente e eu fiquei aqui, estática, no corredor escuro, lembrando dos seus lábios dizendo eu te amo.Agarro os ombros para me esquecer do frio que se apossa do meu corpo. Novamente, o som do vento batendo nas cortinas da sala e do quarto produzem o eco indicando que estou só.— Você sabia, Dorotéia, você sabia que isso aconteceria. Não adianta reclamar agora — falo para mim mesmo enquanto miro minha imagem no espelho da sala. — Mas que merda, hein? Agora, vê se aprende.Acordo cedo, pois daqui a algumas horas, tenho que voltar para minha vida. A real, a que eu esqueci temporariamente por causa desse coração idiota.Só de lembrar de ontem, do dia intenso que foi, eu volto ao estado let&
DorotéiaDepois de sair da Arrais, dirijo para a casa do meu pai, sinto uma necessidade de confrontá-lo, de saber mais sobre ele, sobre sua vida e o que levou a roubar a empresa da própria família. Nada me tira da cabeça que ele é o caminho para desvendar todo esse mistério.Em um cruzamento qualquer, enquanto ouço Lewis Capaldi, pego-me pensando nas palavras do meu amigo. Desde o fato de que eu realmente preciso mudar, até ir atrás do João.Mas acontece que uma coisa não vai funcionar sem a outra. Sem essa tal mudança, eu não vou ter meu homem de volta. E é aí que está o problema. Eu não deveria mudar para agradá-lo, aliás, mulher nenhuma deveria mudar para agradar homem, ou qualquer outra pessoa que só sabe apontar seus defeitos e nada de suas qualidades.Eu tenho certe
Dorotéia— Sente-se! — Manda — para que você possa entender o que eu fiz, você precisa primeiro compreender meus motivos. — Ele fala com a voz calma, muito passivo para quem está sendo vigiado por uma câmera.Por essa eu não esperava, e então, concluo que foi por isso que Maribel ficou tão tranquila quando eu e meu pai estávamos discutindo lá na sala. Indiretamente ela vai saber o que se passa neste escritório, e isso só reforça que, seja lá o que meu pai esconde, Maribel está se aproveitando de alguma forma.— Estou esperando... — profiro, impaciente.— Quando eu conheci sua mãe, éramos jovens, muito jovens, aliás. Ela era a coisa mais linda que meus olhos tinham visto, assim como você, a única diferença que ela era branquinha, e iss
João PauloEu e Henrique estávamos a caminho da casa de seu pai quando a madrasta dele ligou, avisando que Doti havia acabado de se trancar no escritório e que ambos estavam exaltados. A primeira coisa que pensei foi que ela tinha perdido a paciência com o pai e foi confrontá-lo diretamente.Depois de um tempo, Dorotéia saiu do escritório e quase vi ela se desfazendo em lágrimas. Para que ninguém a visse em seu momento frágil, num impulso, agarrei seu corpo e o trouxe para juntá-lo ao meu depois de tanto tempo. O contato foi suficiente para em vez de sossegar a saudade, aumentar, chegando a me deixar sufocado.Agora que chegamos da casa do pai de Dorotéia, ando de um lado para o outro no apartamento. Medo e ciúmes me corroem por dentro, especialmente depois de ver o olhar frio que Dorotéia destinou a mim quando saiu da casa do
DorotéiaMais uma vez, desligo o celular no intuito de ter um pouco de paz e sossego. Sei que eu deveria falar com o João, mas eu ainda me sinto oca por dentro desde o dia da conversa com meu pai. Desde o dia que confirmei minhas suspeitas as quais ele não deu o mínimo crédito.No fundo, eu não sei como reagiria quando ele se declarasse ou qualquer coisa do tipo, porque no nível de sofrimento interno que eu estou, tenho quase certeza que eu desabarei só em mirar nos seus olhos.Maria já encheu minha paciência, incontáveis vezes para eu atendê-lo, para deixá-lo subir, no entanto, não é o momento. Também não é infantilidade nem drama. Acontece que eu preciso de muita calma, pulso firme e frieza para seguir em frente com o plano de pegar a pessoa responsável pelos roubos na empresa. Embora eu aind
DorotéiaJoão levanta-se da cama e eu aproveito para secar a lágrima que escorreu pelo canto do olho. Ele gira o corpo, me fita por um segundo ou dois e pergunta:— Nós podemos tomar um café?— Sim. Claro. — Respondo rindo e ele sorri de volta.— Ótimo! Te espero lá fora. — João passa pela porta antes de eu contestá-lo e sugerir outro momento para sairmos.Me jogo de volta na cama mais confusa do que nunca. Eu que sempre fui uma mulher segura, audaciosa e que não me deixava levar pelas coisas do coração. Hoje, a cada minuto destinado a refletir sobre meus problemas, metade dele, me imagino com João novamente.Há alguns meses, eu não me permitia sentir, chego até me lembrar com exatidão as palavras que eu disse para Fabi e André quando estávam