João Paulo
Saio feito um louco daquele lugar, respirando melhor à medida que me distancio do apartamento de Dorotéia.
Nunca pensei que algo desse tipo me aconteceria, afinal geralmente, eu que era o destruidor de corações e expectativas. Iludido, pensei que essa noite terminaria com Dorotéia em meus braços, fodendo, fazendo amor ou qualquer coisa que me permitisse ficar mais um pouco em sua companhia.
Esse pensamento me assusta e conforta ao mesmo tempo, e pior que isso, é saber que estou lascado, apaixonado por aquela diaba de saias.
O que pensar de uma mulher que, visivelmente, e sem muito esforço, tem quem ela quiser aos seus pés?
Foi loucura minha acreditar cegamente que depois de nosso beijo, haveria mais do que simples tesão entre nós dois? A visão de outro homem que não fosse eu junto a ela, deixa-me devastado.
Me faz crer que esse sentimento é unilateral.
Entro no carro e fico pe
Dorotéia Pela janela da cozinha do meu apartamento, encaro a imensidão cinza e azul-escuro acima da cidade de São Paulo, indicando que a chuva está por vir. Acordei cedo — como sempre —, embora os acontecimentos da noite passada tenham me incomodado, consegui não por muito tempo, me entregar aos braços do sono e acordar sem cansaço. Parece que há um elefante branco embaixo do meu teto. Ter João tão próximo e, ao mesmo tempo, distante se tornou um grande exercício de autocontrole. Cada vez que minhas pálpebras pesavam, eu despertava com o som da sua voz me chamando de bonita. Em certo momento da noite, não me contive e fui vê-lo, eu queria ter só mais um pouquinho dele. Saí de fininho pelo corredor à meia-luz até chegar ao quarto de hóspedes. Girei a maçaneta, devagar, para minha insatisfação a porta do quarto estava trancada e voltei frustrada para o meu quarto por não poder vê-lo em seu sono. — Você se
João Paulo— Hum, para Doti, não quero beijo agora. — Tranco a boca fugindo do seu beijo molhado.Mais uma vez ela tenta me beijar, sorrindo, mas não fala nada.— Para, Dorotéia. — A empurro e ela rosna.Um latido me acorda de supetão.Ahh, porra! Passo a mão na boca para limpar a baba da cadelinha que entrou em meu quarto na madrugada.— Se você queria um beijo, era só pedir. — Ela me olha com a cabeça levemente pendida para direita e eu sigo o movimento, depois disso, ela salta alegre, dá três voltas ao redor de si mesma e se deita ao pé da cama.Foi quase impossível pegar no sono tendo em vista que eu estava tão perto e tão longe da Dorotéia. Em determinado momento da madrugada, acordei com um barulho na porta, como se alguém tentasse abri-la
João Paulo— Ela não é mulher para você, João! — Minha mãe me segue pelas escadas, praticamente chorando por eu ter passado mais uma noite e quase o dia todo na casa de Dorotéia.O último mês tem sido assim. Quase não apareço mais na casa dos meus pais. Ou quando venho, raramente converso com eles, justamente porque mamãe resolveu fazer o voto de silêncio até agora.Hoje, enquanto limpamos a bagunça que fizemos na sala durante o fim de semana que ficamos trancados, assistindo e namorando, relutante, tive que dizer a Doti que não poderia passar mais tempo do que gostaria.Minha vontade é de ficar grudado com aquela mulher e nunca mais sair do seu lado. Embora ainda seja um pouco difícil decifrá-la e romper a redoma que ela pôs ao redor dos seus sentimentos. Tenho certeza
DorotéiaEncaro a porta por onde João saiu nem um pouco animada para conversar com meu pai.Esse mês, mais especificamente esse dia, passou tão rápido que eu ainda não acredito que me declarei para João. Foi tão fácil, saiu que eu nem percebi."Claro que não percebeu. Com um corpo gostoso daquele à sua frente e um pau duro em sua mão, você não ia dar ouvidos ao que sua boca diria" — minha consciência resolve dar as caras depois de algum tempo, adormecida.No entanto, em compensação infelizmente, teve um fim nada amistoso.Sigo a passos lentos para cozinha onde meu pai e Maria estão. Me aproximo sem fazer barulho e os ouço cochichando, tento me manter fora de suas vistas e escuto um pouco da conversa.— O senhor tem que falar a verdade para ela, Seu Alfredo.<
DorotéiaPasso os dedos nas roupas penduradas no closet, tentando escolher uma sóbria o suficiente para uma visita ao hospital. Olho o relógio no pulso e vejo o quão próximo de dez e vinte já é.Fiquei tempo demais em meu momento de autopunição “barra” culpa por algo extremamente insignificante, que nem mesmo vi o tempo passar.Eu sabia que abrir a boca e dizer "estou apaixonada" traria consequências, só o fato de me punir internamente, e o despreparo que sinto em relação a um relacionamento, me deixa sufocada.Uma sensação incomoda me cutuca por dentro enquanto tiro as roupas dos cabides, e isso deve-se ao fato de que, mesmo conhecendo o João tão pouco, sinto sua falta. Além do mais, não ter dito isso a ele me faz ter a impressão de culpa há muito tempo, desco
DorotéiaEu estou de boca aberta, babando no espetáculo de homem à minha frente.João é lindo e eu fico impressionada todas as vezes que meus olhos assentam sobre ele, que não é muito mais alto que eu, que tenho os incríveis 1,69 cm. Mesmo assim, sem salto, eu me sinto pequena fisicamente em relação a sua estatura. E olha que eu acho minha altura incrível para alguém com um peso de... Ahhh! Não vou falar. Só saibam que sou pesada.O seco descaradamente começando pelo torso. A camisa de manga curta — curta demais para meu gosto —, está um pouco colada nos bíceps, e aquele pedaço de pano caro também marca de forma indecente o peitoral, fazendo os pobres botões chorarem.Para completar, minha mente, levemente pervertida, fantasia coisas sensacionais que aquela tora de p
João Paulo— Como você conseguiu reerguer uma empresa como a Arrais em tão pouco tempo? — Pergunto para Dorotéia que mantém sua atenção mais no bolo de cenoura e cobertura de chocolate, do que nos papéis que eu trouxe de São Paulo para terminarmos de analisá-los.— Dinheiro — ela responde simplesmente e leva mais uma garfada à boca.— Isso é uma resposta que eu realmente não esperava. — Dou de ombros batendo a caneta em cima de mais uma planilha onde os valores de venda não batem com os recebidos.— Por que não?— Porque é a resposta mais presunçosa que alguém poderia dar.Ela para com mais um pedaço do bolo a caminho da boca e me encara.— Não é quando se trata da verdade — retruca sér
João PauloOlho de perto e só vejo números e mais números.— Só vejo números — digo e abaixo os ombros, desanimado.— Exatamente. Os números são a resposta para tudo.Continuo a olhá-la com cara de paisagem e ela revira os olhos, logo em seguida, senta-se no tapete ao redor da mesa de centro.— Venha, vou te explicar.— Eu já revirei esses papéis de cima a baixo, Doti, não encontrei nada. Agora só faltam os relatórios das contas que foram rastreadas para saber onde esse dinheiro todo foi parar — informo depois de me sentar ao seu lado e receber uma planilha que ela me entrega,— E que os resultados provavelmente não dirão quem roubou todo esse montante — retruca.— No entanto, é o que temos por enquanto — lembro