A paciência de Vicente estava no fim. Ele encarou Bento com um olhar frio:— Saia da frente!— Vocês já estão divorciados — respondeu Bento com calma, sem se deixar abalar.— Se a Zelda não quer ir com você, como amigo, tenho o direito de ajudá-la a se afastar de você. Não se esqueça, Sr. Vicente, foi você mesmo quem a empurrou para fora da sua vida.Bento sorria com desdém, enquanto seus olhos refletiam algo mais sombrio e complicado. O olhar afiado de Vicente parecia querer atravessá-lo, como se cada palavra de Bento fosse um lembrete doloroso."Empurrei-a para fora da minha vida?Ela ainda é minha esposa!"A voz de Vicente saiu fria:— Está disposto a me enfrentar por ela, Sr. Bento?Bento, no entanto, permaneceu inabalável, com aquele sorriso despreocupado que parecia aumentar a irritação de Vicente.— Ultimamente tenho muito tempo livre. Não me importo em arranjar algo para preencher minha vida — disse Bento, a voz leve, como se realmente estivesse apenas brincando.Vicente aperto
O breve toque dos lábios de Vicente, embora suave, trouxe uma onda de desejo inesperado.Ele a segurou pela cintura, apertando-a mais perto de si. Zelda, atônita, não esperava tal atitude de Vicente. Um tapa forte, cheio de raiva, explodiu no rosto dele, deixando um som claro no ar. A mão de Zelda havia dado tudo de si naquele golpe.Aquele tapa despertou Vicente como se jogassem água fria sobre ele. Toda a sua paixão evaporou, dando lugar a uma frieza intensa que se espalhou por seu rosto. Ele piscou, incrédulo.Zelda... havia ousado bater nele? Isso era algo que a antiga Zelda jamais teria feito.Seu olhar perigoso se estreitou, fixando-se nela. Mas Zelda só sentia uma coisa: raiva.Sem hesitar, ela pegou um lenço da bolsa e começou a limpar os lábios com rapidez, como se estivesse removendo algo imundo. O gesto deliberado só fez o rosto de Vicente escurecer ainda mais. Ela estava o desprezando?Uma aura gelada emanava de Vicente, tornando o ar ao redor pesado. Zelda só parou
— A parceria de vocês não vai dar certo. — Vicente ameaçou.Zelda fechou o semblante, o olhar frio como gelo.— Vicente, lembra da sua decisão anos atrás? Eu quase morri por causa de uma palavra sua. Fiquei meses em uma cama, sem consciência, dependendo de remédios para sobreviver. Vai tentar me matar de novo, como fez daquela vez?Suas palavras eram afiadamente gélidas, carregadas de toda a dor reprimida ao longo dos anos. Tudo que ela tinha sofrido, foi ele quem causou.Vicente ficou paralisado. As palavras de Zelda pareciam lâminas cortando seu peito. Ele se lembrou de vê-la imóvel em uma cama de hospital e de como seu sangue congelou quando ouviu de Jonas que ela estava morta.Ele ficou em silêncio, o olhar perdido em uma sombra de culpa e arrependimento. Zelda percebeu as emoções em seus olhos, mas não acreditou.— Não faça essa cara de quem está sofrendo. Você sabe, meu pai está muito doente. Eu só quero cuidar dele, impedir que Ada o machuque mais. Então... Sr. Vicente, será
Meia hora depois, Ada chegou à mansão Barros. Os seguranças não a impediram, e ela facilmente alcançou o escritório dele. Após cerca de uma hora de espera, Vicente finalmente abriu a porta e entrou.Com um sorriso no rosto, Ada rapidamente se aproximou, prendendo-se ao braço de Vicente de maneira carinhosa.— Hoje foi um dia cheio no trabalho? Demorou tanto... Fiquei te esperando — sua voz suave e sedutora ressoou aos ouvidos de Vicente.Mas, ao invés de ver Ada, o que surgia na mente de Vicente era o rosto de Zelda, marcado por ódio.Ada percebeu o silêncio de Vicente e, ao olhar para ele, notou a expressão distante, como se ele estivesse pensando em outra pessoa. O coração dela apertou. Ele estava pensando em Zelda? Ada sentiu raiva, mas manteve o sorriso doce.— Vicente, você viu a entrevista de hoje? A minha irmã... Ela continua me acusando. Como eu impediria ela de ver o nosso pai? Ela nem voltou pra casa de Montenegro! — Ada falou em tom de lamento, seus olhos grandes mostran
No dia seguinte, logo pela manhã, Zelda chegou à mansão da família Montenegro. Parada na entrada, uma mistura de emoções tomou conta dela.— Papai, voltei. Dália, ao notar a melancolia no olhar de Zelda, ficou preocupada. Zelda, com um sorriso suave, balançou a cabeça.— Fique tranquila, Dália. Eu já morri uma vez, não vou ser derrotada facilmente. A firmeza em sua voz tranquilizou Dália. Zelda ajustou seu semblante e entrou na grande mansão dos Montenegro. Um dos seguranças, com expressão hostil, bloqueou sua passagem.— Quem é você? Aqui ninguém entra sem autorização.Zelda imediatamente endureceu o semblante.— Eu sou Zelda, a filha mais velha dos Montenegro.O segurança, no entanto, permaneceu impassível. Para ele, a única "filha" reconhecida era Ada, e esta mulher era uma completa estranha.— Não te conheço, vai embora e para de ficar aqui à toa.Nesse momento, outro segurança apareceu para trocar de turno e, ao reconhecer Zelda, arregalou os olhos surpreso.— Senhorita Zelda
A ironia de Zelda, explícita e velada, deixou Ada tanto constrangida quanto furiosa. Ela olhou para Vicente com olhos cheios de falso pesar. Aproximando-se dele, explicou:— Vicente, não me entenda mal. Os empregados são novos, eles não conhecem minha irmã, então, por segurança, eu ordenei que ninguém pudesse entrar. A culpa é minha.Vicente permaneceu em silêncio, franzindo as sobrancelhas enquanto seus olhos afiados pousavam sobre os empregados.O frio que emanava dele fazia com que eles tremessem de medo.Observando a cena, Zelda esboçou um sorriso irônico. Ele ainda acreditava nela, como sempre.Zelda desviou o olhar, desinteressada, mas não sabia que, no exato momento em que fez isso, Vicente a observava com atenção. Dália, sussurrando no ouvido de Zelda, alertou:— Ele está te olhando.Zelda franziu os lábios e respondeu com uma leve ironia:— O Sr. Vicente já decidiu como vai defender a Ada?Sua voz clara e suave ecoou nos ouvidos de Vicente, que a olhou com olhos ainda mais
Os olhos de Vicente, escuros como ônix, fixaram-se em Filippo, enquanto ele tentava processar os sentimentos conflitantes dentro de si. A culpa que carregava por Zelda o afastara da família Montenegro. Tinha medo de enfrentar o olhar de Filippo, cheio de mágoa e desprezo. Por isso, durante todos esses anos, ele evitou pisar naquela casa. Sabia da condição de Filippo, sabia que ele estava acamado. Ada lhe contava isso com frequência. Mas não esperava que a situação fosse tão grave quanto o que via agora: Filippo completamente dependente, incapaz até mesmo de falar.Vicente manteve os lábios finos comprimidos, a expressão sombria.Zelda, com a ajuda de Dália, ajeitou Filippo com cuidado até que ele dormisse. Só então, todos saíram do quarto.— Vicente, explique para minha irmã... Eu sempre cuidei de papai com todo o carinho. Ela é minha salvadora, a última coisa que eu quero é aborrecê-la logo que voltou ao país — Ada suplicou, com a voz doce e olhar piedoso.As palavras "salvadora
A seriedade no aviso de Zelda era inegável.— Ela também é filha da família Montenegro — Vicente respondeu, suas pupilas negras agitadas por emoções contraditórias.A "crueldade" e "frieza" de Zelda o deixavam incrédulo. Essa ainda era a mulher doce, bondosa e ingênua que ele conhecia? Zelda, no entanto, captou claramente a dúvida em seu olhar, e a proteção dele por Ada a feriu profundamente. Ela jamais poderia esquecer que as decisões que a levaram à beira da morte haviam sido causadas pela omissão daquele homem.Os olhos de Zelda estavam desprovidos de qualquer calor.Ada, com lágrimas no rosto, se aproximou.— Irmã, você salvou minha vida. Eu vou te agradecer para sempre. Não me expulse por causa do rim que você me doou, por favor. Eu… eu faço tudo o que você mandar, posso até ser sua empregada para cuidar de você.O tom humilde de Ada gerou compaixão em Vicente.— Empregada? — Zelda riu com ironia. — Você acha que tem esse nível?A resposta foi direta, mas devastadora. A humilh