— A parceria de vocês não vai dar certo. — Vicente ameaçou.Zelda fechou o semblante, o olhar frio como gelo.— Vicente, lembra da sua decisão anos atrás? Eu quase morri por causa de uma palavra sua. Fiquei meses em uma cama, sem consciência, dependendo de remédios para sobreviver. Vai tentar me matar de novo, como fez daquela vez?Suas palavras eram afiadamente gélidas, carregadas de toda a dor reprimida ao longo dos anos. Tudo que ela tinha sofrido, foi ele quem causou.Vicente ficou paralisado. As palavras de Zelda pareciam lâminas cortando seu peito. Ele se lembrou de vê-la imóvel em uma cama de hospital e de como seu sangue congelou quando ouviu de Jonas que ela estava morta.Ele ficou em silêncio, o olhar perdido em uma sombra de culpa e arrependimento. Zelda percebeu as emoções em seus olhos, mas não acreditou.— Não faça essa cara de quem está sofrendo. Você sabe, meu pai está muito doente. Eu só quero cuidar dele, impedir que Ada o machuque mais. Então... Sr. Vicente, será
Meia hora depois, Ada chegou à mansão Barros. Os seguranças não a impediram, e ela facilmente alcançou o escritório dele. Após cerca de uma hora de espera, Vicente finalmente abriu a porta e entrou.Com um sorriso no rosto, Ada rapidamente se aproximou, prendendo-se ao braço de Vicente de maneira carinhosa.— Hoje foi um dia cheio no trabalho? Demorou tanto... Fiquei te esperando — sua voz suave e sedutora ressoou aos ouvidos de Vicente.Mas, ao invés de ver Ada, o que surgia na mente de Vicente era o rosto de Zelda, marcado por ódio.Ada percebeu o silêncio de Vicente e, ao olhar para ele, notou a expressão distante, como se ele estivesse pensando em outra pessoa. O coração dela apertou. Ele estava pensando em Zelda? Ada sentiu raiva, mas manteve o sorriso doce.— Vicente, você viu a entrevista de hoje? A minha irmã... Ela continua me acusando. Como eu impediria ela de ver o nosso pai? Ela nem voltou pra casa de Montenegro! — Ada falou em tom de lamento, seus olhos grandes mostran
No dia seguinte, logo pela manhã, Zelda chegou à mansão da família Montenegro. Parada na entrada, uma mistura de emoções tomou conta dela.— Papai, voltei. Dália, ao notar a melancolia no olhar de Zelda, ficou preocupada. Zelda, com um sorriso suave, balançou a cabeça.— Fique tranquila, Dália. Eu já morri uma vez, não vou ser derrotada facilmente. A firmeza em sua voz tranquilizou Dália. Zelda ajustou seu semblante e entrou na grande mansão dos Montenegro. Um dos seguranças, com expressão hostil, bloqueou sua passagem.— Quem é você? Aqui ninguém entra sem autorização.Zelda imediatamente endureceu o semblante.— Eu sou Zelda, a filha mais velha dos Montenegro.O segurança, no entanto, permaneceu impassível. Para ele, a única "filha" reconhecida era Ada, e esta mulher era uma completa estranha.— Não te conheço, vai embora e para de ficar aqui à toa.Nesse momento, outro segurança apareceu para trocar de turno e, ao reconhecer Zelda, arregalou os olhos surpreso.— Senhorita Zelda
A ironia de Zelda, explícita e velada, deixou Ada tanto constrangida quanto furiosa. Ela olhou para Vicente com olhos cheios de falso pesar. Aproximando-se dele, explicou:— Vicente, não me entenda mal. Os empregados são novos, eles não conhecem minha irmã, então, por segurança, eu ordenei que ninguém pudesse entrar. A culpa é minha.Vicente permaneceu em silêncio, franzindo as sobrancelhas enquanto seus olhos afiados pousavam sobre os empregados.O frio que emanava dele fazia com que eles tremessem de medo.Observando a cena, Zelda esboçou um sorriso irônico. Ele ainda acreditava nela, como sempre.Zelda desviou o olhar, desinteressada, mas não sabia que, no exato momento em que fez isso, Vicente a observava com atenção. Dália, sussurrando no ouvido de Zelda, alertou:— Ele está te olhando.Zelda franziu os lábios e respondeu com uma leve ironia:— O Sr. Vicente já decidiu como vai defender a Ada?Sua voz clara e suave ecoou nos ouvidos de Vicente, que a olhou com olhos ainda mais
Os olhos de Vicente, escuros como ônix, fixaram-se em Filippo, enquanto ele tentava processar os sentimentos conflitantes dentro de si. A culpa que carregava por Zelda o afastara da família Montenegro. Tinha medo de enfrentar o olhar de Filippo, cheio de mágoa e desprezo. Por isso, durante todos esses anos, ele evitou pisar naquela casa. Sabia da condição de Filippo, sabia que ele estava acamado. Ada lhe contava isso com frequência. Mas não esperava que a situação fosse tão grave quanto o que via agora: Filippo completamente dependente, incapaz até mesmo de falar.Vicente manteve os lábios finos comprimidos, a expressão sombria.Zelda, com a ajuda de Dália, ajeitou Filippo com cuidado até que ele dormisse. Só então, todos saíram do quarto.— Vicente, explique para minha irmã... Eu sempre cuidei de papai com todo o carinho. Ela é minha salvadora, a última coisa que eu quero é aborrecê-la logo que voltou ao país — Ada suplicou, com a voz doce e olhar piedoso.As palavras "salvadora
A seriedade no aviso de Zelda era inegável.— Ela também é filha da família Montenegro — Vicente respondeu, suas pupilas negras agitadas por emoções contraditórias.A "crueldade" e "frieza" de Zelda o deixavam incrédulo. Essa ainda era a mulher doce, bondosa e ingênua que ele conhecia? Zelda, no entanto, captou claramente a dúvida em seu olhar, e a proteção dele por Ada a feriu profundamente. Ela jamais poderia esquecer que as decisões que a levaram à beira da morte haviam sido causadas pela omissão daquele homem.Os olhos de Zelda estavam desprovidos de qualquer calor.Ada, com lágrimas no rosto, se aproximou.— Irmã, você salvou minha vida. Eu vou te agradecer para sempre. Não me expulse por causa do rim que você me doou, por favor. Eu… eu faço tudo o que você mandar, posso até ser sua empregada para cuidar de você.O tom humilde de Ada gerou compaixão em Vicente.— Empregada? — Zelda riu com ironia. — Você acha que tem esse nível?A resposta foi direta, mas devastadora. A humilh
Depois de colocar Filippo para descansar, Zelda voltou ao seu antigo quarto. Todos os traços de sua presença haviam sido apagados por Ada, o que a irritou, mas ela escolheu não perder tempo com isso.Após uma rápida higiene, deitou-se na cama, mas não conseguiu dormir. A imagem de Vicente protegendo Ada com tanta devoção a fez soltar uma risada amarga. "Um cego e uma víbora venenosa, perfeitos um para o outro". Mesmo no quarto que um dia foi seu refúgio, o sono não veio facilmente. Só perto do amanhecer seus olhos começaram a se fechar.Dormiu por apenas duas horas e já estava de pé. Após se arrumar, foi diretamente ao quarto de Filippo. Ao vê-lo ainda dormindo, um sorriso tranquilo surgiu em seus lábios.Preocupada com o estado do pai, pediu aos empregados para trazerem todos os relatórios médicos que estavam no quarto de Ada.Sem perder tempo, Zelda foi ao hospital, encontrou-se com o médico e entregou os documentos. Ao observar a expressão séria do médico enquanto ele lia os
— Lídia, sou eu, Zelda! — Zelda correu para ela, sem conseguir conter a emoção, e a abraçou com força.— Se... Senhorita? — Lídia demorou alguns segundos para reconhecer, mas, quando teve certeza, seus olhos se encheram de lágrimas. — Senhorita, eu estou suja! Não faça isso, vai acabar sujando sua roupa! — disse, preocupada, tentando afastar Zelda.Mas Zelda não a soltou. Abraçou-a com ainda mais firmeza, como se aquele gesto pudesse apagar o tempo e o sofrimento. Depois de um longo momento, Zelda finalmente ergueu a cabeça, observando como os anos haviam castigado Lídia. A dor em seu peito se intensificou ao ver o quanto ela havia envelhecido.— Vamos entrar e conversar. — Lídia, carinhosa, segurou a mão de Zelda e a conduziu para dentro.A casa, apesar de limpa, estava abarrotada de garrafas e outros itens que Lídia recolhia para sobreviver, o que deixava o ambiente desorganizado.— Lídia, o que aconteceu? Por que você saiu da casa dos Montenegro? — Zelda perguntou, com uma voz mi