Planos

Já era quase onze horas da noite e Clarice finalmente traduziu a carta que Theo recebeu.

- Então... O que fala na carta?

Perguntou ele um pouco confuso, o que alguém da Suíça gostaria de contar sobre sua mãe?

- Então... Eu vou ler a carta para você.

Bom dia ou boa noite senhor Theodoro.

Sou amigo de sua mãe

Talvez você não me conheça e talvez até não conheça sua mãe

O nome dela é Eylin Meyer

Uma mulher encantadora devo dizer, amiga de todos aqui em Zermatt

Porém, tem um problema, ela desapareceu já tem um tempo

Não sabemos onde ela está, a policia já procurou em todos os lugares

Porém sem sucesso para acha-la

Já tem um mês do seu desaparecimento e achei que seria hora para você saber

Peço perdão por ser repentina a carta e estar com uma escrita difícil

Porém temia que as pessoas ao seu redor escondessem ela de você

Amigos dela, como eu, decidimos enviar essa carta para você no intuito

De te convidar para vir para cá, achamos que talvez o filho dela fizesse diferença

Não te conhecemos mas acredito que seja uma pessoa tão maravilhosa como ela é

Vou estar terminando a carta por aqui

Caso aceite o convite de vir para cá me encontre no ponto

Onde a vista se vê todas as estrelas do céu noturno

E todas as estrelas do chão iluminado.

Estarei lá toda oito horas da noite até o fim do mês.

Adeus.

- É só isso? - Perguntou Theo.

- Sim...

- Minha mãe? Eu tenho uma mãe materna? Claudia não era minha mãe biológica?

Theo se senta novamente na cadeira em silêncio. Estava passando mil coisas em sua cabeça, seus pais acabaram de falecer e ele descobre repentinamente que sua mãe na verdade era sua madrasta, um turbilhão de pensamentos correriam dentro dele.

- Parece que sim... Quando nós fomos para a Suíça a alguns anos atrás com meu pai, visitamos Zermatt, o lugar realmente é lindo e as pessoas mega encantadoras.

- É? Bom, eu preciso pensar se vocês me dão licença.

- Claro - As duas responderam.

Theo então se levanta e começa a andar pela loja com a mão em sua cabeça e outra na cintura, matutando. E agora o que ele irá fazer? Sua “ Mãe “ está desaparecida e ele nem tem certeza se tudo isso é verdade, foi tudo tão repentino, porém não demora muito e ele toma sua decisão.

- Eu vou para Zermatt...

As duas então sorriem juntas, uma por que decifrou a carta super importante para a vida de Theo e a outra por que vê que ele está se importando, mesmo nesta situação super atípica. E ele novamente repete sua sentença olhando nos olhos das duas.

- Eu vou para Zermatt, porém não sei nada sobre o local, vocês duas vem juntas.

- Como?! - As duas ficam confusas.

- Sim, vocês duas, eu pago a passagem para vocês, eu pago o aluguel do estabelecimento por um mês ou dois meses e nos vamos para Zermatt. Eu preciso de guias.

- Senhor Thedoro. - Diz Clarice. - Nós só fomos uma vez lá. Nós não podemos abandonar tudo aqui.

- Se vierem comigo eu pago a faculdade de historia da Alice...

- Hã? - Alice abre um grande sorriso disfarçado em seu rosto. - A poxa mãe ele ta pedindo tanto!

Disse ela debochada.

- Alice...

- Senhora Clarice, eu lhe imploro, eu sei que vocês estão com dificuldades e tudo mais, e não estou fazendo menos da capacidade de vocês de se virarem, porém é uma troca, uma negociação, vocês me ajudam em Zermatt e eu pago o que vocês duas quiserem.

Clarice então pede licença de Theo e puxa Alice para o fundo da loja.

- Você realmente está considerando aceitar isso Alice? Não podemos deixar tudo para trás.

- Mas mãe...

- Você nem conhece ele.

- E nem ele a gente, nos podemos ser umas filhas da mãe e você ter mentido para ele tudo isso, nunca vamos saber se não tentarmos algo. Ele disse que pagaria a faculdade!

- Hmm...

- Sem hmm... Mãe, ele é cheio da grana, ele pode isso. Só será uma pequena viagem, a gente descobre onde a mãe dele está e voltamos. O que tem de ruim nisso?

- Ai... Tá bom, se ele realmente for pagar a faculdade...

- Eba!

As duas voltam com Alice sorrindo muito e Clarice da seu veredito.

- Nós aceitamos sua proposta.

- Ótimo! Tá, temos oito dias para o fim do mês, estamos em vinte de fevereiro correto?

- Correto. - Diz Clarice.

- Então, façam as malas amanhã e me encontrem no aeroporto Congonhas as dez horas da manhã. Aqui está meu número. - Theo entrega um cartão. - Mais uma vez obrigado gente. Muitissimo obrigado, boa noite.

Theo então sai pela porta da frente que estava aberta e vai embora com seu carro, deixando as duas dentro da loja.

- Alice... Você é louca sabia?

- Ah para né mãe... Vai ser divertido, mesmo nos estando indo para descobrir o paradeiro da mãe materna dele.

- Tomara que seja mesmo... E ae? Vamos pedir um UBER? Ficou tarde.

- Vamos...

Enquanto as duas pediam seu carro, o carro de Theo corria pela cidade e sua mente já estava ficando cansada de tanto pensar sobre o assunto, os seus pensamentos acompanhavam a velocidade do carro.

“ Como assim eu tenho uma mãe que mora na Suíça? “, pensou ele, “ Todos esses anos, Claudia era minha madrasta? “.

Logo chegou em casa, cumprimentou o porteiro que ainda estava acordado e subiu para seu apartamento, onde entrou e correu para seu quarto pegar o laptop e comprar as passagens para a Suíça, estava levemente animado, afinal, ele adorava viajar. Finalizando as compras tirou seu terno e se jogou na cama só de cueca, nem sequer um banho tomou após toda poeira do dia ter deixado ele sujo.

Ainda na cama ele começou a procurar em todos os lugares da internet em seu celular sobre a Suíça, os idiomas certos a se falar, os lugares e cidades, pontos turísticos e tudo que poderia ajudar ele a encontrar Zermatt com mais facilidade. Porém, havia uma coisa que intrigava ele, que na loja ele não questionou a Clarice. No final da carta havia um enigma,

Me encontre no ponto

Onde a vista se vê todas as estrelas do céu noturno

E todas as estrelas do chão iluminado. ”

Por que teria um enigma na carta, se é só um convite para descobrir o paradeiro de sua mãe materna que até o momento ele nem sabia que existia e que talvez isso tudo fosse só uma brincadeira de mau gosto, afinal, com o passar dos anos e com ele crescendo, seu pai, nunca havia falado nada sobre tal coisa e ele nunca pensaria que isso poderia ser possível. Claudia sempre se apresentou como sua mãe todos esses anos, mesmo o tratando mal igual seu pai o fazia. Mesmo com todos esses pensamentos, o sono veio e ele adormeceu, cheio de coisas em sua mente e mesmo coma mente turbulada, roncou feito uma pedra a noite inteira.

A noite estava estrelada, mais que o comum, coisa estranha em São Paulo, por conta da poluição luminosa que a cidade emite em direção ao céu, as estrelas mais fortes brilhavam como nunca e a Lua em sua forma crescente estava mais brilhante do que o próprio sol.

Quando Alice e Clarice chegaram em seu humilde casa, nada comparada com o grande apartamento de Theo, as duas entraram e tomaram um banho, uma por vez e se encontraram na cozinha para dividir a pizza que Theo deixou com elas, que nem um pedaço ele apreciou. Na cozinha;

- Lembrando agora filha... Ele não pagou a gente.

- É... Eu sei... Mas talvez devêssemos confiar um pouco nele. Amanhã vamos para o aeroporto e se ele estiver lá nos esperando, vamos ter certeza da viagem.

- E se ele não estiver lá e for um babaca que mentiu e nos roubou?

- Ele é milionário mãe... Vai roubar da gente por que?

- Ahh... - Clarice bufava enquanto olhava nos olhos de Alice. - Eu já conheci muita gente na minha vida Alice... Muita gente babaca...

- Mas ele pode ser diferente...

- Não sei... Vamos ver o que dá amanhã, estou confiando em você Alice... Não nele, você é a minha preciosidade.

- Eu sei, eu sei...

As duas então ficaram na cozinha conversando enquanto se deleitavam com os pedaços de pizza e logo suas barrigas se encheram. As duas se separaram, indo uma para cada quarto se deitar, afinal amanhã seria um dia turbulento.

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