Ava Brown ✓ A brutalidade era quase poética, uma dança sombria entre justiça e vingança. Eu observava atentamente enquanto aquilo que um dia já foi meu querido tio se contorcia no chão, o sangue empoçando ao redor de seu corpo mutilado. A poça vermelha refletia o brilho das lâmpadas acima, transformando o cenário em algo que mais parecia saído de um pesadelo. Sua arrogância, outrora tão inflada, agora era apenas uma memória distante. E em seus olhos, o pavor havia tomado completamente o lugar da raiva e da altivez. Ele sabia. Edward sabia que o fim havia chegado, e que ele mesmo havia assinado a sentença anos atrás.Ninguém era responsável pelo que estava acontecendo a ele, ninguém além dele mesmo.Horas haviam se passado desde que começamos o que eu chamaria de “julgamento”. Edward estava exaurido, seu corpo praticamente destruído, mas ainda respirava. Isso, para mim, era motivo de celebração. Quanto mais ele resistia, mais tempo tínhamos para saborear cada momento. Cada grito. Cada
Ava Brown ✓ Paz.Essa era a sensação que me dominou ao cruzar a porta do meu apartamento. Era quase surreal, como se uma névoa densa que me acompanhava há anos finalmente tivesse se dissipado. Respirei fundo, permitindo que o aroma suave do meu lar inundasse meus sentidos.Com um movimento lento e deliberado, comecei a me livrar das roupas. Estavam manchadas de sangue, vestígios de uma batalha que finalmente havia chegado ao seu desfecho. Deixei-as no chão, próximas à porta, junto com os saltos altos que agora pareciam pesados demais. Amanhã, tudo seria incinerado. Hoje, o que eu precisava era de algo mais essencial: purificação.O banho seria meu ritual de renascimento.Benjamin me deixou em frente ao edifício antes de seguir para o pet shop com Luna e Nébula. Ele insistiu em levá-las, poupando-me do trabalho. Não reclamei. Na verdade, fiquei grata. O cheiro de fumaça e sangue impregnado nelas era insuportável, mesmo que elas não tivessem se aproximado de Robertson ou Edward. Jamais
Ava Brown ✓ Os raios de sol invadiram o quarto de uma forma teimosa, quase provocadora. O detalhe é que eu tinha certeza de que havia fechado as cortinas antes de dormir, então, como isso era possível? Era como se o universo estivesse conspirando para me tirar da cama. Não me julguem, mas a última coisa que eu queria fazer naquele momento era levantar. A sensação do colchão macio e do cobertor aconchegante era quase um abraço, e eu não estava disposta a quebrar esse encanto.Fazia muito tempo que eu não dormia tão bem. A noite anterior havia sido uma mistura de caos e diversão. Entre os acontecimentos mais marcantes estavam Luna e Nébula destruindo a sala e roubando nosso jantar, Benjamin e eu rindo tanto que mal conseguíamos respirar, e, claro, as horas extras gastas para restaurar a ordem. Isso incluiu dar banho nas duas terroristas de quatro patas, porque o cloro da piscina poderia fazer mal para a pele delas. Ah, e arrumar o banheiro depois disso foi uma missão à parte, já que el
Ava Brown ✓ De tantas idas e vindas na minha vida, aprendi uma coisa: não confio mais em nada nem em ninguém. Para mim, o destino é um palhaço amargurado que adora tirar sarro da humanidade, e quando o diabo não aparece pessoalmente, ele manda o secretário. Talvez hoje o chefe estivesse ocupado, porque, sinceramente, Savannah parada na minha porta tinha a assinatura do inferno por todos os lados.Meu dia já estava um caos — cortesia de Luna e Nébula —, mas, paradoxalmente, até aquele momento, era o mais pacífico que tive em semanas. Claro que isso não duraria. Paz na minha vida é como Wi-Fi em hotel barato: instável e raramente confiável.Agora, lá estava minha adorável genitora no centro da minha sala, com sua pose teatral e olhar atônito. Mas o que realmente roubava a cena era Benjamin, sem camisa, segurando uma vassoura como se fosse um microfone, congelado no meio de uma performance de Bon Jovi. Ele parecia um adolescente pego em flagrante por uma mãe severa.Seja lá o que Savann
Ava Brown ✓ Permaneço deitada em minha cama, com os olhos fixos no teto escuro. Lá fora, a noite já havia caído, e o silêncio do apartamento parecia amplificar a tempestade dentro de mim. Tudo estava quieto, mas meus pensamentos? Esses não paravam de se mover, se entrelaçando, me consumindo em uma espiral interminável de reflexões. A visita de Savannah ainda martelava em minha cabeça. Não, eu não gostei nem um pouco de ter ela invadido meu espaço. A pergunta que mais me martelava era como diabos ela conseguiu meu novo endereço. E, pior ainda, quem foi o idiota que a deixou subir?Mas, se eu for honesta – o que raramente sou – devo admitir que, apesar de tudo, a visita de Savannah teve algum propósito. Para o futuro. O meu futuro. O futuro do meu relacionamento com Benjamin, se é que posso chamá-lo assim. Quando me casei com Bryan, já sabia que seu pai era um dos viúvos mais cobiçados do país, mas eu realmente não fazia ideia do que isso significaria para mim. Eu mal sabia quem Benja
Ava Brown ✓ Eu ouvi tudo.A ligação veio do nada. Estranhei quando vi o nome de Bryan piscando na tela, e mais ainda quando atendi e fui recebida por um silêncio opressor. Por alguns segundos, achei que era um engano. Mas, então, vozes começaram a surgir do outro lado da linha.Era ele e Benjamin. Uma conversa acalorada, repleta de mágoa e frustrações.Meu coração acelerou quando ouvi Benjamin dizer, sem hesitação, que me amava. As palavras aqueceram meu peito, mesmo que não fossem para mim, mesmo que tivessem sido ditas apenas para defender o que temos. Mas a intensidade do momento foi cortada por algo mais frio, mais cruel: Bryan deu um ultimato ao próprio pai.Fazer Benjamin escolher entre mim e ele... Era um golpe baixo, desleal. Um peso enorme caiu sobre mim.As vozes silenciaram, mas a ligação continuou ativa. Permaneci ali, imóvel no meio do quarto, o celular colado ao ouvido, a respiração presa no peito. Então, ouvi Bryan chamar meu nome.— Ava... — Sua voz estava carregada d
Ava Brown ✓ — Olivia? — As palavras saem de mim sem querer, quase como um sussurro, mas com toda a incredulidade que sinto.Ela sorri, aquele sorriso materno que um dia foi um conforto e agora, bem, agora parece tão falso. Louise. Ou Olivia. Não importa mais, porque o que importa é o que ela faz a seguir. Ela vem até mim e me abraça como se nada estivesse errado, como se o meu mundo não estivesse prestes a virar de ponta cabeça novamente. — Ava, querida, como você está? — Ela diz com uma suavidade quase estranha, apertando-me contra seu corpo. — Como você está linda, veja quão pequeno é esse mundo. Quem imaginaria que você se casaria com meu filho? — Ela se afasta um pouco, mas ainda segura meus ombros com aquela familiaridade perturbadora. — Fico tão feliz que tenha superado tudo, que tenha se curado e se transformado nessa mulher maravilhosa.Meu corpo reage involuntariamente a cada palavra, mas não permito que o turbilhão que se passa dentro de mim transborde. Em vez disso, me so
Narradora ✓ Estudos indicam que, desde os tempos mais primitivos, as mulheres exercem um certo poder sobre os homens. Talvez fosse algo instintivo, talvez algo genético, mas o fato é que, em qualquer época, mulheres parecem ter um talento natural para desestabilizar aqueles que tentam entendê-las.Claro, nem todas foram agraciadas com o privilégio de serem cortejadas como as heroínas de romances clássicos. Ainda assim, bastava um olhar ou um gesto para mudar o rumo de muitas batalhas – e vidas. Séculos se passaram, e a essência permaneceu a mesma. Cada mulher, com suas características únicas, tinha o dom de encantar, conquistar ou enlouquecer um homem.E Ava Brown era a prova viva disso.Ela tinha Benjamin Cooper nas mãos. Ele sabia disso, ela sabia disso, e, ao que tudo indicava, todos ao redor também. Ava, sem dúvida, era uma especialista em usar o silêncio como arma. E essa última semana tinha sido o inferno particular de Benjamin, que sentia sua vida virando de cabeça para baixo.