AVA BROWN ✓ Eu não sabia se essa deveria ser minha primeira parada antes de ir para a empresa. A penitenciária estadual feminina se erguia à minha frente, austera e opressora, como um lembrete sombrio de que verdades dolorosas raramente vêm de lugares acolhedores. Engoli em seco. Não queria estar ali, mas minha busca incessante por respostas me empurrou para aquele lugar.Tentei me convencer, mais uma vez, de que isso não era problema meu. Não tinha nada a ver com Kira ou com as mentiras de Nicole. Nada a ver com o passado que ela escondia ou com as consequências de suas escolhas. Repeti isso a mim mesma tantas vezes que quase acreditei. Mas, na verdade, não era bem assim.Kira.Suspirei ao pensar nela, aquele pequeno goblin travesso que, de alguma forma, conquistou um espaço especial na minha vida. Não era como se eu a visse como uma filha — nunca me vi nesse papel. Não tenho jeito para ser mãe, e provavelmente nunca terei. Mas tia... Bem, tia parecia se encaixar. Era assim que ela
Ava Brown ✓Nem se eu quisesse, saberia descrever a sensação que me tomou assim que deixei a penitenciária. Era algo desconfortável, quase sufocante, como se um peso invisível se instalasse no meu peito. Eu sabia que Benjamin estava certo. Não deveria ter ido àquele lugar. Ainda assim, algo em mim insistia em buscar respostas, mesmo que elas viessem carregadas de mais dúvidas do que certezas.A manhã se arrastou de forma quase cruel. Passei quase duas horas naquele lugar, entre silêncios constrangedores e revelações inesperadas. O que posso dizer com certeza é que não me convenci das palavras daquela mulher. Nada parecia suficientemente sólido ou verdadeiro.Houve momentos em que senti um resquício de compaixão surgir dentro de mim, mas foi rapidamente sufocado. As coisas estavam mal explicadas, fragmentadas demais para que eu pudesse simplesmente acreditar. A história contada por Natali — ou Nicolle, ou seja lá qual nome ela quisesse usar — não foi o suficiente para me convencer. Pal
Ava Brown ✓A sensação que tomou conta de mim naquele momento era esmagadora. Meu corpo parecia pesar toneladas, como se cada músculo estivesse enrijecido e meu coração batendo descompassado. O ar se tornava denso, difícil de respirar, e a pressão em meu peito era insuportável. Aquilo não estava nos meus planos. Tornar real o que começara como uma farsa? Não, não era possível que Bryan quisesse isso. Não agora. Não quando eu estava desesperada para encerrar tudo.Os olhos dele me atravessavam com uma intensidade tão dolorosa que sentia como se estivesse nua, exposta à sua vontade. Céus, eu o destruiria por dentro se confessasse a verdade. Mas se eu mentisse... se eu mentisse, estaria destruindo a mim mesma aos poucos. Era como estar presa entre uma escolha impossível, entre a cruz e a espada. Uma decisão que não oferecia vitória.A voz de Athena ecoou em minha mente, como se ela estivesse ali ao meu lado:"Acredite em mim, Ava. É como estar entre a cruz e a espada, e chegará uma hora
Benjamin Cooper ✓ BenjaminO cheiro metálico de sangue impregnava o ar. Era pesado, quase sufocante, mas eu não me deixava abalar. A sala, iluminada por lâmpadas fluorescentes, tinha paredes de concreto cru, marcadas por manchas escuras cujo significado era óbvio. O silêncio era quebrado apenas pelo som do gotejar de um cano no canto da sala e pelo estalar ocasional dos nós dos meus dedos.Donovan estava parado ao meu lado, tranquilo como sempre, o tipo de calma que fazia minha pele arrepiar. Ele era o oposto do caos que esta sala representava, vestindo um terno impecável, como se estivesse em uma reunião de negócios e não em um lugar onde a moralidade era deixada do lado de fora.— Ele vai falar. — Donovan disse, sem olhar para mim, enquanto organizava meticulosamente uma bandeja de ferramentas que pareciam mais apropriadas para um açougue do que para uma sala de interrogatório.Minha mandíbula se contraiu, o peso de tudo isso pressionando contra o meu peito. Eu não era estranho a e
Benjamin Cooper ✓ Volto para a sala onde o interrogatório deveria estar acontecendo, mas a cena que encontro é outra. Donovan está sentado em uma cadeira no canto, calmamente limpando a lâmina de sua faca, enquanto o corpo do nosso "convidado" jazia morto na cadeira. O corte profundo na garganta explicava tudo.— Achei que o intuito fosse mantê-lo vivo para obtermos informações. — digo com calma, retirando um charuto do bolso e acendendo. Não costumo fumar, mas talvez o cheiro da fumaça ajudasse a dissipar o odor metálico de sangue que impregnava o ambiente.Donovan levanta os olhos para mim, mas não interrompe sua tarefa meticulosa.— Consegui algumas informações interessantes. — responde, com a mesma tranquilidade. — Um endereço, o nome de quem o contratou, quanto ele recebeu e, por fim, quem deu a ordem.Dou um trago no charuto, observando o corpo sem vida na cadeira.— Muita coisa para alguém que, segundo você, não queria colaborar.Donovan sorri de canto, seus movimentos permane
Ava Brown √ Pego o celular ao lado do travesseiro e observo a tela. São 19h37. Levanto devagar, tomando cuidado para não acordar Kira, que havia pegado no sono alguns minutos atrás. Ela parece tão tranquila. Deposito um beijo suave em sua testa, deixando-a dormindo profundamente sobre minha cama.Com cuidado, pego minha mala e faço um sinal para que Luna e Nébula me sigam. As duas me acompanham silenciosamente enquanto saio do quarto. Meus passos ecoam no silêncio da mansão enquanto desço as escadas. Deixo a mala ao pé da escadaria e sigo em direção à biblioteca. Eu sabia que Bryan estaria lá.Não me surpreendo ao encontrá-lo sentado em uma das poltronas. Ele segura um copo com um líquido âmbar, seus olhos vidrados em um ponto qualquer do ambiente, perdido em pensamentos.— Bryan. — Chamo, talvez mais abruptamente do que pretendia, porque ele se sobressalta.— Ava... — Ele me encara e faz uma pausa. — Vai sair agora?— Sim. Só queria avisar que estou de saída.Ele coloca o copo sobre
Ava Brown ✓ Não foi fácil chegar ao novo apartamento. Mesmo sendo noite e já passando das 19h, o trânsito de Nova York, misturado à chuva inesperada que resolveu cair de última hora, tornou a cidade um verdadeiro inferno. Eu já estava impaciente no trânsito. Não apenas eu. Luna e Nébula, minhas cadelas, estavam atentas a cada som ao nosso redor. Um maldito engarrafamento havia se formado devido a um acidente no começo da via.Enquanto o trânsito parecia uma parede sólida à nossa frente, ouvi meu celular tocar. Aproveitei que estávamos totalmente parados e peguei o aparelho, vendo o número de Benjamin estampado na tela. Me amaldiçoei internamente por deixar escapar um sorriso bobo em meio àquela confusão. Um sorriso que eu sabia ser inevitável toda vez que ouvia a voz dele.— Senhor Cooper, a que devo a honra? — brinquei ao atender o telefone.— Senhorita Brown, estou ligando para avisar que irei me atrasar para nosso compromisso. Infelizmente, acabei de sair da empresa após uma reuni
Benjamin Cooper ✓ Observo Ava deitada em meu peito, dormindo com uma serenidade que me desconcerta. Não há traços de pesadelos, nem sombras de preocupações. Apenas um silêncio tranquilo que a envolve, como se o peso do mundo finalmente tivesse lhe dado uma trégua. Seus cabelos estão espalhados pelo lençol como se fossem pinceladas de uma obra de arte, e seu corpo se molda ao meu de uma maneira tão natural que seria impossível descrever com palavras.Esse jogo que estamos jogando foi longe demais. Longe demais para qualquer retorno, longe demais para tentar colocar um ponto final. E, sinceramente, mesmo que pudesse, eu não colocaria. Nunca esteve nos meus planos abrir mão de quem sou por outra pessoa. Antes dela, minha vida era sólida, segura, calculada. Eu tinha o mundo aos meus pés. Qualquer mulher que eu desejasse poderia ser minha, mas aí está o detalhe: eu não quero nenhuma outra.Ava se infiltrou na minha vida como um furacão, desarrumando tudo, virando meu universo de ponta-cab