Ava Brown. ✓ — Benjamin. — Minha voz ecoou suave, mas firme.Ele ergueu o rosto lentamente, e pela primeira vez vi algo que nunca imaginei: vulnerabilidade. Os olhos verdes, geralmente tão imponentes, estavam cansados, quase apagados.— Ava. — Ele suspirou, parecendo dividido entre o alívio e a vergonha.Cruzei os braços e encarei-o, tentando controlar minha irritação.— O que, em nome de tudo que é sagrado, passou pela sua cabeça?— O que passou pela minha cabeça? — Benjamin repetiu com um riso curto e sem humor, enquanto passava a mão pelos cabelos desgrenhados. — Aquele idiota de jaleco se recusou a me dar informações sobre meu filho. Ele teve o que mereceu.Meus olhos estreitaram.— E achou que bater no médico e tentar subornar um policial era a melhor maneira de resolver isso? — Cruzei os braços, mantendo minha voz baixa, mas carregada de reprovação. — Bryan não precisa que você crie mais problemas para ele, Benjamin.Ele suspirou, parecendo derrotado, e balançou a cabeça lentam
Benjamin Cooper ✓ A água quente escorre pelo meu corpo, levando embora parte do cansaço acumulado de um dia que parecia interminável. Arrumar briga com um dos médicos responsáveis pelo tratamento de Bryan não estava nos meus planos, muito menos acabar preso por isso. É difícil admitir, mas quando Ava apareceu naquela delegacia, parada em frente à minha cela, foi como se eu estivesse vendo um anjo.Eu queria desesperadamente saber mais sobre Bryan, sobre o que havia acontecido e se ele estava bem. Mas, por alguma razão, não tive coragem de perguntar nada. Seus olhos cansados encontraram os meus, e o semblante abatido dela já dizia muito. Aquele dia não tinha sido fácil para ela também.Voltamos para a mansão em silêncio, o caminho parecendo mais longo do que realmente era. Quando ela estacionou, saiu do carro sem dizer uma palavra e se espreguiçou antes de entrar, completamente alheia à minha presença. Não a culpei. Eu também estava exausto e entendia o peso que ela carregava.Subi as
Ava Brown ✓ O quão tola fui ao achar que poderia permitir que Benjamin me visse tão vulnerável. Desarmei todas as armadilhas que costumavam estar ao meu redor, retirei a armadura... Deixei que ele enxergasse além dos muros que levei anos para erguer. Eu não estava procurando um romance. Não estou procurando um romance. Mas, por um momento... Droga, por um único momento, pensei que talvez pudesse ter encontrado um amigo.É estranho, eu sei, mas agora vejo que me deixei levar pela carência. Um erro que não pretendo repetir. Vi quando Benjamin entrou no quarto pela segunda vez, após ter me acalmado. Admito, sou uma ótima atriz, e não foi difícil fingir que estava dormindo. Contudo, o que notei em seus olhos enquanto ele me observava da porta fez-me perceber o quão idiota eu havia sido.Pena. Havia pena em seus olhos. E eu não poderia aceitar isso. Eu não aceitaria ser sinônimo da pena de ninguém. Não cheguei até aqui, me tornando um símbolo de força e poder, para que alguém me observass
Ava Brown ✓ A porta atrás de mim se fechou com um baque seco, ecoando no ambiente e selando meu destino. Eu estava sozinha. Sozinha diante de cinco homens, todos imóveis como predadores aguardando o comando de Roman Donovan para decidir meu fim.— Achou que, trazendo seus cães e esse segurança incompetente, estaria segura? — A voz de Donovan cortou o silêncio com um tom ácido, carregado de sarcasmo. Cada palavra parecia pesar uma tonelada. — Você teve a audácia de pisar no meu santuário, senhorita Brown, logo você, que tirou de mim o que eu tinha de mais precioso.Seus olhos negros queimavam de ódio enquanto ele se inclinava levemente para frente, apoiando os antebraços sobre a mesa.— Coincidentemente, no aniversário de cinco anos da morte dele. — Havia desgosto em sua voz, uma dor crua que ele não fazia esforço algum para esconder.Senti um frio na espinha, mas mantive a postura firme, apesar de cada fibra do meu corpo implorar para que eu corresse dali.— E você realmente enlouque
Narradora ✓ Seis anos antesAs nuvens pesadas cobriam o céu no fim de tarde, anunciando uma tempestade iminente. Ava sempre amou tempestades; de alguma forma, elas refletiam a turbulência que sentia por dentro desde que Edward, seu tio, começara a demonstrar comportamentos inquietantes. Ela odiava a nova versão dele. Talvez, se seus pais tivessem sido mais presentes, muitas das coisas que aconteceram nos últimos três anos pudessem ter sido evitadas.As primeiras gotas de chuva começaram a cair, e logo os trovões ecoavam ao longe. A voz da avó de Ava chamou-a do andar de baixo, convidando-a a se juntar aos outros. Era o primeiro Natal longe do hospital psiquiátrico, e Ava sentia uma gratidão genuína pelos avós paternos. Eles haviam lhe dado uma segunda chance de ter uma vida.Do alto da escada, Ava avistou os convidados na sala. Seu olhar pousou em um canto onde os "Philipes" conversavam. Namorar alguém com o mesmo nome de seu irmão era um tanto estranho, mas, às vezes, até engraçado.
"Na busca pelo paraíso nos olhos de um anjo, a condenação de minha alma se tornou um preço justo a pagar."Narradora √O sol já começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, criando uma atmosfera mágica sobre os vastos terrenos da Mansão Cooper. As árvores centenárias balançavam suavemente com a brisa do entardecer, enquanto flores de diversas cores adornavam o caminho que levava ao altar. O som das folhas se misturava ao murmúrio dos convidados, todos em expectativa pelo início da cerimônia.Ava Brown, de pé ao lado de Bryan Cooper, sentia o olhar curioso e avaliador dos presentes. Ela estava deslumbrante em um vestido de renda delicada, que abraçava suas curvas e destacava a tatuagem de fênix em seu ombro. Seus olhos, agora mais escuros graças à mudança de cor do cabelo, estavam fixos no padre, que se preparava para começar o discurso.— Estamos aqui reunidos para celebrar a união de Bryan e Ava — começou o padre, sua voz ecoando suavemente pelo jardim. — Em meio a e
Ava Bronw √ Jogo-me na enorme cama queen, extremamente macia, e sinto meu corpo relaxar em meio aos lençóis caros, mesmo com o tecido pesado e incômodo do vestido. — Até que enfim. — digo, aliviada, por todo aquele teatro ter acabado. Não via a hora de parar de sorrir como uma boba apaixonada. E desde quando tenho tantos parentes? Talvez noventa por cento das pessoas que estavam na festa de casamento, para não dizer todas, eram desconhecidas para mim. Com exceção de meus pais e Catherine, minha prima/irmã, as outras pessoas foram convidadas apenas para fazer volume. Ouço batidas na porta do meu quarto, que logo é aberta, revelando Bryan, que traz consigo duas taças e uma garrafa de espumante. Ele me entrega uma taça, enchendo-a até a borda, e faz o mesmo com a que segurava. — Um brinde, por conseguirmos sustentar essa farsa e aturar tanta gente chata ao mesmo tempo. — diz ele com sarcasmo, deixando a taça de lado e bebendo diretamente do gargalo da garrafa. Se eu pudesse d
Ava Brown ✓ Desço as escadas de malas prontas. Passam das 22h40 da noite, e meu voo sai por volta das 03h30 da manhã. Contudo, Bryan e eu voaremos no jato da minha família até o aeroporto de Buffalo, onde pegaremos voos separados para nossos respectivos destinos.Deixo minhas malas na sala de estar e caminho pelos corredores da mansão, em busca de meu suposto marido, que já deveria estar aqui. Cozinha, sala de estar, quartos, escritório, piscina, jardins... nada. Nenhum sinal de Bryan. Onde aquele imbecil foi?Sigo até a garagem e percebo que um dos carros havia sumido. Ótimo, ele foi para o aeroporto sem mim. Será que pareceria suspeito ficar viúva menos de 24 horas depois de me casar com o herdeiro da maior petrolífera da América?Caminho até a saída principal, onde dois seguranças guardavam o portão. Ambos notam minha presença e assumem rapidamente uma postura mais rígida e formal, me fazendo erguer as sobrancelhas em descrença.— Senhora Cooper, a senhora está precisando de algo?