Capítulo 6 ✓

Ava Brown √

Faz três dias que Bryan saiu do hospital. O doutor lhe receitou alguns remédios para ajudar na recuperação e uma dieta específica à base de sopas e líquidos. Nestas duas semanas em que estou morando na mansão, tenho evitado quase completamente a companhia indesejada de meu querido sogro. Passei boa parte do tempo no hospital e, nas poucas horas que estive por aqui, acabei fazendo amizade com Helena, uma mulher gentil de uns quarenta e tantos anos. Ela tem me ajudado com a dieta de Bryan nos últimos três dias, mas hoje teve um imprevisto: sua filha mais nova sofreu um acidente na escola.

Depois que a liberei, tive de escutar as baboseiras de Benjamin na minha cabeça. Aquele homem parece gostar de desafiar o perigo. No instante em que se aproximou de mim, meus cães entraram em posição de alerta, considerando-o uma ameaça. Luna e Nébula são treinadas para atacar a qualquer sinal de perigo, e devido ao comportamento hostil de Benjamin, elas agora o veem como uma ameaça. Se eu não tivesse intervido, sem dúvidas teria acontecido um banho de sangue na cozinha.

Sirvo dois pratos com a sopa que acabei de preparar e saio da cozinha, seguida por minhas guarda-costas. Elas já haviam comido e só estão me acompanhando porque detectaram uma ameaça na casa. As trouxe ontem à noite e ainda estão se adaptando. Curiosamente, elas se deram bem com Helena e outros funcionários, como Francisco, o jardineiro, que começou a brincar com elas como se fossem amigos de longa data. Até alguns seguranças se deram bem com elas, mas Benjamin, obviamente, teve de dificultar tudo. Afinal, essa é a casa dele.

Entro no quarto e encontro Bryan com os olhos fixos na tela do celular.

— Planejando nossa lua de mel que não aconteceu, querido? — pergunto com sarcasmo, observando um sorriso surgir em seu rosto.

— Você vai me culpar por sua viagem ter dado errado até que eu a compense por isso, estou certo? — ele pergunta com diversão, deixando o celular de lado e se endireitando enquanto ponho a bandeja sobre a cama.

— Na verdade, eu pretendia fazer isso apenas hoje, mas já que você deu a ideia, acho que posso estender por mais uns dias — digo rindo e me sentando na cama, com as pernas cruzadas, enquanto pego meu prato.

— Como seus cães estão? E qual foi a reação do meu pai ao encontrá-los? — ele pergunta, divertido, me fazendo erguer as sobrancelhas em descrença.

— Como sabe que...

— Benjamin detesta animais. Acho que isso é suficiente para saber que ele surtaria quando os visse.

— Você deveria ter visto. Seu pai é um tremendo idiota, e agora elas o consideram uma ameaça.

— Devo me preocupar com isso?

— Elas não farão nada com ele, se ele mantiver uma certa distância.

— Mas...

— Tive de impedir que ambas o atacassem agora pouco, pois ele ousou se aproximar e me confrontar sobre Helena e o porquê de eu estar na cozinha.

— Sinto muito, você deve estar detestando estar nesse lugar.

— Você sabe que não. Minha missão pessoal se tornou enlouquecer o seu pai.

— Bem, eu espero que seja apenas no sentido de deixá-lo irritado.

— Não vou dormir com seu pai se é isso que está sugerindo, Bryan, eca — faço uma cara de nojo, e sua risada ecoa pelo ambiente.

— Eu não disse nada. Só estou dizendo que você gosta de homens mais velhos e...

— Por favor, não me faça ter pesadelos — digo gargalhando, e ele acaba gargalhando também. — Eu prometo não dormir com seu pai, se prometer não tentar seduzir minha mãe como fez no casamento — digo com seriedade, tentando parecer séria antes de desabar em risos.

— Não sei do que está falando — ele se faz de desentendido, me fazendo erguer as sobrancelhas para ele, que volta a rir. — Tudo bem, admito que possa ter flertado com ela na nossa festa de casamento.

— Ela veio até mim, questionar por que meu noivo estava dando em cima dela — digo rindo da situação.

— Meu sogro deve ter ficado abismado com isso — ele diz, parecendo um pouco receoso.

— Meu pai não é a pessoa mais atenta do mundo. Ele e minha mãe nem estão mais juntos. Ambos moram na mesma casa porque nenhum dos dois quer pedir o divórcio e arriscar perder metade para o outro — digo rindo, e Bryan parece abismado.

— E quanto ao comportamento de sua mãe comigo, já aconteceu com outros namorados seus?

— Alguns... Nunca ninguém em especial. Minha mãe gosta de homens mais novos, então não eram bem namorados, estavam mais para amigos coloridos.

— E isso não te incomodava?

— Não, sempre foi tranquilo. Até transávamos em grupo, era divertido — digo segurando o riso ao ver Bryan começar a tossir, possivelmente engasgado.

— Vocês o quê? — ele pergunta em meio às tosses, me fazendo rir ainda mais.

— Você acredita em tudo, Bryan — digo em meio a um riso histérico enquanto ele tenta se recompor.

— Você é terrível, garota — ele diz após se recuperar, tomando outro gole de água para recuperar a voz.

Continuamos a almoçar entre risos e brincadeiras. Bryan é mais como um irmão do que um esposo, e a cada dia percebo que não preciso me preocupar com o surgimento de uma possível paixão. Isso me acalma de certa forma.

~~°~~

Reviro-me na cama, de um lado para o outro, sem conseguir encontrar uma posição confortável para dormir. Meu dia foi uma sucessão de eventos exaustivos: estive na empresa, almocei com Bryan e levei Luna ao veterinário, pois ela havia comido metade de um dos sapatos de Benjamin. E não, eu não faço ideia de onde ela escondeu o outro pé. À noite, tive um jantar com meus pais, algo que, diga-se de passagem, não foi dos mais agradáveis.

Meus pais receberam os papéis da transação de bens há alguns dias e estão furiosos, exigindo que eu devolva a empresa para eles, algo que, certamente, não vai acontecer. Após tanto estresse, eu só queria chegar em casa e dormir, mas parece que o sono não será meu aliado nesta noite. Pego meu celular e olho a hora na tela: 02h00 da manhã.

Retiro as cobertas, saio da cama e sinto arrepios quando meus pés tocam o chão frio. O quarto estava escuro, e eu pretendia que continuasse assim, iluminado apenas pela luz da lua que entrava pelas grandes janelas. Meus guarda-costas estavam no último sono. Saio do quarto e sigo pelo imenso corredor em direção às escadas. Um copo de leite, um copo de suco, um pouco de vodka ou uma taça de vinho, qualquer coisa que me ajude a dormir.

Desço as escadas, sentindo o piso frio de mármore contra meus pés. O andar de baixo estava tão escuro quanto o segundo andar, iluminado apenas pelas luzes dos jardins que entravam pelas janelas. Caminho até a cozinha, entro no cômodo e acendo as luzes.

— QUE DIABOS... — grito, com a mão no coração, ao observar a figura sentada em uma das cadeiras.

Cabelos desgrenhados, gravata desamarrada e a camisa social com as mangas dobradas até os cotovelos. Olhando assim, Benjamin Cooper poderia até parecer atraente. Eu disse poderia, não que ele era atraente.

— O que faz aqui? — pergunto, desta vez de maneira normal, sem toda aquela hostilidade de costume.

— Não conseguia dormir... — digo com certo receio. — Vim apenas buscar um copo de leite, mas estou de saída. Não quero lhe atrapalhar... — dou as costas, prestes a sair do cômodo, quando sua voz ecoa.

— Sabe o que mais me intriga? — ele diz. Posso jurar que sinto um tom de curiosidade em sua voz, fazendo-me parar e virar para encará-lo. — O que alguém com duas formações, cinco idiomas, dona de uma empresa multimilionária e considerada um prodígio durante o colegial faz com alguém como meu filho? — ele diz, pondo-se de pé e caminhando em minha direção. Respiro profundamente, assumindo minha melhor postura para encará-lo. — Você realmente cuidou do meu filho nos últimos dias, eu tenho de reconhecer isso. Mas vocês não dormem no mesmo quarto, não passam tanto tempo juntos e tenho certeza de que sequer transam. — ele para em minha frente, seus olhos verdes focados nos meus. O cheiro de seu perfume, misturado com o odor de conhaque que vinha de seus lábios, chega até minhas narinas. Respiro fundo, dando alguns passos para trás.

— Você anda nos observando por acaso? Não sabia que sua vida estava tão monótona a ponto de ter que cuidar da nossa, sogrinho. — digo com sarcasmo. Infelizmente, minha voz fraqueja, saindo mais baixa do que o normal.

Ele se aproxima, parando a alguns centímetros de mim, seus olhos fixos nos meus. Uma de suas mãos pousa na parede ao meu lado e, pela primeira vez, me vejo encurralada por esse homem.

— Entediado o suficiente para notar que vocês não fazem as coisas como um casal normal faz. Então, diga-me, senhorita Brown, o que você realmente está buscando aqui? — sua voz sai mais baixa que o normal. A intensidade de seu olhar não me permite desviar o meu. Minha respiração falha por um minuto. Droga, isso não era para acontecer. Por algum motivo, ele lambe os lábios, e um breve riso cruza seus lábios. — Oque você realmente quer Ava?

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