Ava Brown ✓ O dia havia sido muito mais corrido do que eu imaginava. Viajar de carro por quase dez horas tinha me exaurido de uma forma que eu não esperava, mas estar na estrada, deixando minha mente livre para se dispersar entre os cenários e o som da música, sempre me ajudava a organizar os pensamentos. Foram quase cinco horas até a casa de Philipe, e quando finalmente cheguei, fui recebida com uma festa das boas por Luna e Nébula.Minhas cadelas correram em minha direção, abanando os rabos e latindo como se não me vissem há séculos. O entusiasmo delas era contagiante, mas bastou um olhar para o jardim de Ashley, minha cunhada, para entender que a passagem das duas por ali tinha deixado um rastro nada discreto. O gramado estava destruído, e uma das roseiras parecia ter sido desenterrada. Luna, com aquela empolgação inconfundível, correu de volta para o jardim, rolando no chão e quase me fazendo ter um treco ao ver aquela cena, não estava em meus planos ter de ir a um pet shop quand
Ava Brown ✓Eu não precisaria de uma bola de cristal para saber quem havia sido a mente perturbada por trás de tal atrocidade. Cometer tal ato contra um animal indefeso deveria ser um crime imperdoável. E o pior de tudo isso é que, em minha mente, eu tentava achar uma explicação para todo aquele sangue em volta do cadáver do que um dia foi um majestoso pássaro. Não era possível que uma criatura tão pequena sangrasse daquela forma ao ponto de encharcar os lençóis.Sinceramente, esse dia não poderia piorar.A visão do pássaro morto ainda estava fresca em minha mente enquanto eu tentava raciocinar. O cheiro metálico impregnava minhas narinas, e a visão de Luna e Nébula em alerta máximo só reforçava a sensação de que meu apartamento já não era mais tão seguro. Deixo o quarto, ainda sendo seguida por meus cães, e sigo para meu pequeno escritório. Na verdade, não era mais que um segundo quarto, que eu havia transformado em meu espaço pessoal. Abro o cofre que fica na parede atrás de um dos
Ava Brown ✓ Ao chegar ao hospital, dirijo-me à recepção. Após me identificar, sou prontamente guiada para a sala da diretoria. Sigo pelo corredor ao lado de um médico que, mais atento ao celular em suas mãos do que ao caminho, quase esbarra em uma enfermeira. Quando alcançamos a porta, ele bate, murmura algo e logo se afasta, permitindo minha entrada.Ao atravessar a porta, sou recebida pelo olhar atento de Athena Foster, a mesma mulher que nos acompanhou quando Bryan foi internado. Ela está sentada atrás de uma mesa imponente, mas se levanta rapidamente e vem em minha direção com um sorriso acolhedor.— Senhorita Cooper, é um prazer revê-la. — Sua voz é gentil, e o breve abraço que me oferece revela um misto de formalidade e sinceridade.— Igualmente, doutora Foster. — Respondo, devolvendo o gesto.— Por favor, Ava, sem formalidades. Pode me chamar de Athena. — Ela diz, acenando para que eu me sente.— Tudo bem, desde que me chame apenas de Ava também. — Retribuo, acomodando-me na c
Ava Brown. ✓ — Benjamin. — Minha voz ecoou suave, mas firme.Ele ergueu o rosto lentamente, e pela primeira vez vi algo que nunca imaginei: vulnerabilidade. Os olhos verdes, geralmente tão imponentes, estavam cansados, quase apagados.— Ava. — Ele suspirou, parecendo dividido entre o alívio e a vergonha.Cruzei os braços e encarei-o, tentando controlar minha irritação.— O que, em nome de tudo que é sagrado, passou pela sua cabeça?— O que passou pela minha cabeça? — Benjamin repetiu com um riso curto e sem humor, enquanto passava a mão pelos cabelos desgrenhados. — Aquele idiota de jaleco se recusou a me dar informações sobre meu filho. Ele teve o que mereceu.Meus olhos estreitaram.— E achou que bater no médico e tentar subornar um policial era a melhor maneira de resolver isso? — Cruzei os braços, mantendo minha voz baixa, mas carregada de reprovação. — Bryan não precisa que você crie mais problemas para ele, Benjamin.Ele suspirou, parecendo derrotado, e balançou a cabeça lentam
Benjamin Cooper ✓ A água quente escorre pelo meu corpo, levando embora parte do cansaço acumulado de um dia que parecia interminável. Arrumar briga com um dos médicos responsáveis pelo tratamento de Bryan não estava nos meus planos, muito menos acabar preso por isso. É difícil admitir, mas quando Ava apareceu naquela delegacia, parada em frente à minha cela, foi como se eu estivesse vendo um anjo.Eu queria desesperadamente saber mais sobre Bryan, sobre o que havia acontecido e se ele estava bem. Mas, por alguma razão, não tive coragem de perguntar nada. Seus olhos cansados encontraram os meus, e o semblante abatido dela já dizia muito. Aquele dia não tinha sido fácil para ela também.Voltamos para a mansão em silêncio, o caminho parecendo mais longo do que realmente era. Quando ela estacionou, saiu do carro sem dizer uma palavra e se espreguiçou antes de entrar, completamente alheia à minha presença. Não a culpei. Eu também estava exausto e entendia o peso que ela carregava.Subi as
Ava Brown ✓ O quão tola fui ao achar que poderia permitir que Benjamin me visse tão vulnerável. Desarmei todas as armadilhas que costumavam estar ao meu redor, retirei a armadura... Deixei que ele enxergasse além dos muros que levei anos para erguer. Eu não estava procurando um romance. Não estou procurando um romance. Mas, por um momento... Droga, por um único momento, pensei que talvez pudesse ter encontrado um amigo.É estranho, eu sei, mas agora vejo que me deixei levar pela carência. Um erro que não pretendo repetir. Vi quando Benjamin entrou no quarto pela segunda vez, após ter me acalmado. Admito, sou uma ótima atriz, e não foi difícil fingir que estava dormindo. Contudo, o que notei em seus olhos enquanto ele me observava da porta fez-me perceber o quão idiota eu havia sido.Pena. Havia pena em seus olhos. E eu não poderia aceitar isso. Eu não aceitaria ser sinônimo da pena de ninguém. Não cheguei até aqui, me tornando um símbolo de força e poder, para que alguém me observass
Ava Brown ✓ A porta atrás de mim se fechou com um baque seco, ecoando no ambiente e selando meu destino. Eu estava sozinha. Sozinha diante de cinco homens, todos imóveis como predadores aguardando o comando de Roman Donovan para decidir meu fim.— Achou que, trazendo seus cães e esse segurança incompetente, estaria segura? — A voz de Donovan cortou o silêncio com um tom ácido, carregado de sarcasmo. Cada palavra parecia pesar uma tonelada. — Você teve a audácia de pisar no meu santuário, senhorita Brown, logo você, que tirou de mim o que eu tinha de mais precioso.Seus olhos negros queimavam de ódio enquanto ele se inclinava levemente para frente, apoiando os antebraços sobre a mesa.— Coincidentemente, no aniversário de cinco anos da morte dele. — Havia desgosto em sua voz, uma dor crua que ele não fazia esforço algum para esconder.Senti um frio na espinha, mas mantive a postura firme, apesar de cada fibra do meu corpo implorar para que eu corresse dali.— E você realmente enlouque
Narradora ✓ Seis anos antesAs nuvens pesadas cobriam o céu no fim de tarde, anunciando uma tempestade iminente. Ava sempre amou tempestades; de alguma forma, elas refletiam a turbulência que sentia por dentro desde que Edward, seu tio, começara a demonstrar comportamentos inquietantes. Ela odiava a nova versão dele. Talvez, se seus pais tivessem sido mais presentes, muitas das coisas que aconteceram nos últimos três anos pudessem ter sido evitadas.As primeiras gotas de chuva começaram a cair, e logo os trovões ecoavam ao longe. A voz da avó de Ava chamou-a do andar de baixo, convidando-a a se juntar aos outros. Era o primeiro Natal longe do hospital psiquiátrico, e Ava sentia uma gratidão genuína pelos avós paternos. Eles haviam lhe dado uma segunda chance de ter uma vida.Do alto da escada, Ava avistou os convidados na sala. Seu olhar pousou em um canto onde os "Philipes" conversavam. Namorar alguém com o mesmo nome de seu irmão era um tanto estranho, mas, às vezes, até engraçado.