Ava Brown ✓ Algumas horas haviam se passado, e a estrada cumpriu seu papel. Dirigir sempre me acalma, e desta vez não foi diferente. Agora, quase 03h30 da madrugada, estou debruçada sobre a sacada do quarto de hóspedes, observando as montanhas ao longe. Não costumo vir aqui. Na verdade, não tenho o hábito de visitar meu irmão. Sim, eu tenho um irmão. Philipe é alguns anos mais velho do que eu. Ele é meu irmão por parte de pai, criado pelos nossos avós paternos. Quando Sebastian soube da gravidez da mãe de Philipe, que na época era sua ex-namorada da faculdade, ele se recusou a assumir a responsabilidade. Meus avós, no entanto, fizeram um ótimo trabalho. Philipe é um homem incrível, e é impossível não notar a semelhança física entre ele e nosso pai — pelo menos na aparência. Diferente de mim, Philipe escolheu a tranquilidade. Mora em uma propriedade privada, isolada da cidade grande, com vista para as montanhas e bem distante de todos. Mesmo sem ter sido criado por Sebastian, cresc
Benjamin Cooper. Acendo um charuto, dou um trago profundo e solto a fumaça lentamente, observando-a se dissipar no ar. Velhos hábitos nunca morrem. E, embora fumar não seja o método mais saudável para me acalmar, é uma das poucas coisas que realmente funcionam. Dada a natureza da conversa que estou prestes a ter com Bryan, não me surpreenderia se fosse mais difícil do que o necessário.Ouço leves batidas na porta, que se abre lentamente logo em seguida. Bryan aparece, hesitante ao entrar em meu escritório. Desde pequeno, este nunca foi um lugar em que ele se sentisse confortável, e não apenas quando era criança. A verdade é que este ambiente foi decorado por sua mãe, Louise. Há memórias dela em cada canto, o que sempre tornou mais difícil para Bryan estar aqui.— Sente-se, Bryan. — Digo assim que ele se aproxima, apontando para a cadeira à sua frente.— É como entrar em um túnel do tempo. — Ele comenta, parecendo distante em suas lembranças. — Eu já sei, eu sei... Você vai me mandar
Benjamin Cooper ✓ As palavras dele ficaram pairando no ar, como uma maldição. Bryan saiu, deixando-me sozinho no escritório, preso em uma onda de arrependimento e raiva que eu não sabia como controlar.Por mais que eu quisesse gritar, o silêncio era ensurdecedor. Passei as mãos pelos cabelos, frustrado, buscando uma saída para aquela pressão crescente. Quando não aguentei mais, peguei as chaves do carro e saí do escritório. Aquela sensação de frustração ainda martelava em minha cabeça. As malditas acusações de Bryan continuavam ecoando em minha mente, me puxando para um lugar sombrio. Eu precisava esfriar a cabeça, sair por aí, dirigir até que a raiva passasse. Mas, assim que cheguei na garagem, meus planos desmoronaram.Ava estava lá, ocupada demais com suas cadelas para perceber minha presença de imediato. Vi as coleiras sendo presas no banco traseiro, e a pequena mala ao lado. Ela estava indo embora. Eu sabia que, naquele estado, ela poderia fazer uma loucura. Lembranças do últi
Ava Brown ✓ O riso ainda ecoava pela cozinha enquanto eu tomava um gole do café recém-preparado por Philipe. As expressões confusas de meu irmão e cunhada eram uma verdadeira diversão para mim. Ashley, com sua gargalhada contagiante, ainda comentava sobre o incidente com Nicole, quando o som insistente do meu celular tocando cortou o momento. Ignorei o aparelho nas primeiras vezes, mas quando ele tocou pela terceira, Ashley me lançou um olhar sério. — Ava, pode ser importante — ela disse, ainda com um leve sorriso no rosto. Suspirei, pedindo licença e saí da cozinha. Atravessei o corredor e fui para o outro cômodo, longe dos olhares curiosos. Quando atendi, uma voz firme do outro lado da linha se apresentou. — Aqui é do Hospital Central. A senhora Ava Brown? Meu coração acelerou de imediato. Tentei manter a calma. — Sim, sou eu. — A resposta saiu hesitante. — A senhora está marcada como contato de emergência de Bryan Cooper. Senti meu peito afundar. Bryan. O que ele havia fei
Ava Brown ✓ Depois de muita insistência para convencê-lo de que eu realmente estava bem para ficar sozinha e que não faria nenhuma besteira, Philipe finalmente cedeu e me deixou no meu apartamento. Saímos do hospital direto para a mansão, onde peguei alguns documentos e algumas roupas. Eu precisava ficar longe daquele lugar por alguns dias, pelo bem da minha sanidade mental e para evitar a tentação de afogar Nicole naquela piscina.Como eu imaginei, ela não estava na mansão. Quando perguntei por ela, Helena disse que a viu sair, toda arrumada. Perguntei também por Benjamin, mas Helena respondeu que não o tinha visto. Liguei para ele enquanto ainda estávamos a caminho do meu apartamento, mas acho que teria sido mais eficaz mandar um pombo-correio.Sério, de que adianta ter um celular se, quando você mais precisa, a pessoa simplesmente some do mapa como se tivesse engolido o aparelho? Quando chegamos ao prédio, Philipe me deixou "em segurança" e se foi. Deixei que levasse meu carro, af
Benjamin Cooper ✓Eu não saberia dizer exatamente em que momento o meu dia virou de cabeça para baixo. Em um instante, eu estava no meu escritório, aproveitando uma "reunião" bastante proveitosa com Carla Cortez, uma antiga conhecida. No momento seguinte, me vi no corredor de um hospital, cercado por olhares curiosos, enquanto segurava Ava, impedindo-a de avançar sobre Nicolle, que estava sendo escoltada para fora pela polícia.Sim, a polícia. Pouco tempo antes, quando chegamos aqui, Atena Foster, cirurgiã-geral e também diretora do hospital, já estava nos aguardando. Atena é uma velha amiga, e seu marido, Gregori Foster, renomado pesquisador e dono deste hospital, é alguém por quem tenho um imenso carinho. Tive o cuidado de ligar para ela no caminho, explicando a situação – inclusive a parte em que alguém estava se passando pela verdadeira esposa de Bryan.Eu queria resolver tudo discretamente, com o mínimo de alarde possível. Por isso, me recusei a ir com Ava no mesmo carro, temendo
Ava Brown ✓ O silêncio no quarto era quase insuportável. Apenas o som dos aparelhos preenchia o espaço, um lembrete constante de que Bryan ainda estava ali, respirando com a ajuda de máquinas. Sentei-me ao lado da cama, com os olhos fixos em seu rosto machucado, e uma parte de mim ainda não conseguia aceitar que aquilo estava acontecendo. Era difícil olhar para ele e não ser invadida por uma onda de medo tão profunda que me fazia tremer por dentro.Segurei sua mão, tentando encontrar algum traço de calor, qualquer sinal de vida além do movimento sutil do peito. Mas tudo parecia tão distante, como se ele estivesse em outro mundo, inalcançável para mim. A impotência se agarrava a mim com força, me sufocando. Eu queria acreditar nas palavras de Atena, queria me convencer de que ele era forte o suficiente para vencer isso, mas e se não fosse o bastante? E se ele não voltasse para mim?Uma lágrima quente escapou e deslizou pelo meu rosto. Eu a limpei com pressa, como se pudesse afastar o
Narradora ✓ Benjamin percebeu que o sono definitivamente não viria, por mais que tentasse. Decidiu que uma bebida talvez o ajudasse a aquietar a mente. Desceu os degraus silenciosamente, cada passo ecoando pela mansão vazia, e dirigiu-se à adega. Escolheu uma das muitas garrafas de vinho, pegou uma taça e retornou ao quarto. A escuridão o envolvia, interrompida apenas pela luz tênue do abajur. Sentado na poltrona ao lado da cama, ele encheu a taça e tomou um longo gole, tentando afogar o turbilhão de pensamentos que o assombravam.O álcool começava a fazer efeito, um calor reconfortante se espalhava por seu corpo, mas o alívio era apenas momentâneo. Cada gole parecia trazer mais à tona a culpa que ele tentava sufocar. A culpa por tudo que acontecera nos últimos anos, pelo afastamento de Bryan, pelas mentiras que construiu e manteve. Benjamin sabia que havia sido um pai ausente, rígido, e o comportamento autodestrutivo de Bryan parecia apenas uma consequência de seus próprios erros.S