Ava Brown ✓ O riso ainda ecoava pela cozinha enquanto eu tomava um gole do café recém-preparado por Philipe. As expressões confusas de meu irmão e cunhada eram uma verdadeira diversão para mim. Ashley, com sua gargalhada contagiante, ainda comentava sobre o incidente com Nicole, quando o som insistente do meu celular tocando cortou o momento. Ignorei o aparelho nas primeiras vezes, mas quando ele tocou pela terceira, Ashley me lançou um olhar sério. — Ava, pode ser importante — ela disse, ainda com um leve sorriso no rosto. Suspirei, pedindo licença e saí da cozinha. Atravessei o corredor e fui para o outro cômodo, longe dos olhares curiosos. Quando atendi, uma voz firme do outro lado da linha se apresentou. — Aqui é do Hospital Central. A senhora Ava Brown? Meu coração acelerou de imediato. Tentei manter a calma. — Sim, sou eu. — A resposta saiu hesitante. — A senhora está marcada como contato de emergência de Bryan Cooper. Senti meu peito afundar. Bryan. O que ele havia fei
Ava Brown ✓ Depois de muita insistência para convencê-lo de que eu realmente estava bem para ficar sozinha e que não faria nenhuma besteira, Philipe finalmente cedeu e me deixou no meu apartamento. Saímos do hospital direto para a mansão, onde peguei alguns documentos e algumas roupas. Eu precisava ficar longe daquele lugar por alguns dias, pelo bem da minha sanidade mental e para evitar a tentação de afogar Nicole naquela piscina.Como eu imaginei, ela não estava na mansão. Quando perguntei por ela, Helena disse que a viu sair, toda arrumada. Perguntei também por Benjamin, mas Helena respondeu que não o tinha visto. Liguei para ele enquanto ainda estávamos a caminho do meu apartamento, mas acho que teria sido mais eficaz mandar um pombo-correio.Sério, de que adianta ter um celular se, quando você mais precisa, a pessoa simplesmente some do mapa como se tivesse engolido o aparelho? Quando chegamos ao prédio, Philipe me deixou "em segurança" e se foi. Deixei que levasse meu carro, af
Benjamin Cooper ✓Eu não saberia dizer exatamente em que momento o meu dia virou de cabeça para baixo. Em um instante, eu estava no meu escritório, aproveitando uma "reunião" bastante proveitosa com Carla Cortez, uma antiga conhecida. No momento seguinte, me vi no corredor de um hospital, cercado por olhares curiosos, enquanto segurava Ava, impedindo-a de avançar sobre Nicolle, que estava sendo escoltada para fora pela polícia.Sim, a polícia. Pouco tempo antes, quando chegamos aqui, Atena Foster, cirurgiã-geral e também diretora do hospital, já estava nos aguardando. Atena é uma velha amiga, e seu marido, Gregori Foster, renomado pesquisador e dono deste hospital, é alguém por quem tenho um imenso carinho. Tive o cuidado de ligar para ela no caminho, explicando a situação – inclusive a parte em que alguém estava se passando pela verdadeira esposa de Bryan.Eu queria resolver tudo discretamente, com o mínimo de alarde possível. Por isso, me recusei a ir com Ava no mesmo carro, temendo
Ava Brown ✓ O silêncio no quarto era quase insuportável. Apenas o som dos aparelhos preenchia o espaço, um lembrete constante de que Bryan ainda estava ali, respirando com a ajuda de máquinas. Sentei-me ao lado da cama, com os olhos fixos em seu rosto machucado, e uma parte de mim ainda não conseguia aceitar que aquilo estava acontecendo. Era difícil olhar para ele e não ser invadida por uma onda de medo tão profunda que me fazia tremer por dentro.Segurei sua mão, tentando encontrar algum traço de calor, qualquer sinal de vida além do movimento sutil do peito. Mas tudo parecia tão distante, como se ele estivesse em outro mundo, inalcançável para mim. A impotência se agarrava a mim com força, me sufocando. Eu queria acreditar nas palavras de Atena, queria me convencer de que ele era forte o suficiente para vencer isso, mas e se não fosse o bastante? E se ele não voltasse para mim?Uma lágrima quente escapou e deslizou pelo meu rosto. Eu a limpei com pressa, como se pudesse afastar o
Narradora ✓ Benjamin percebeu que o sono definitivamente não viria, por mais que tentasse. Decidiu que uma bebida talvez o ajudasse a aquietar a mente. Desceu os degraus silenciosamente, cada passo ecoando pela mansão vazia, e dirigiu-se à adega. Escolheu uma das muitas garrafas de vinho, pegou uma taça e retornou ao quarto. A escuridão o envolvia, interrompida apenas pela luz tênue do abajur. Sentado na poltrona ao lado da cama, ele encheu a taça e tomou um longo gole, tentando afogar o turbilhão de pensamentos que o assombravam.O álcool começava a fazer efeito, um calor reconfortante se espalhava por seu corpo, mas o alívio era apenas momentâneo. Cada gole parecia trazer mais à tona a culpa que ele tentava sufocar. A culpa por tudo que acontecera nos últimos anos, pelo afastamento de Bryan, pelas mentiras que construiu e manteve. Benjamin sabia que havia sido um pai ausente, rígido, e o comportamento autodestrutivo de Bryan parecia apenas uma consequência de seus próprios erros.S
Narradora ✓Enquanto Benjamin se afundava na culpa e na auto-depreciação do outro lado da cidade, no hospital, Ava lutava contra seus demônios internos. Ela se apoiava na parede fria do corredor, sentindo seu peito apertar a cada momento que se passava. Detestava aquele lugar, o cheiro de desinfetante e o som monótono dos aparelhos que piscavam e bips intermitentes. Cada respiração pesava como uma âncora em seu peito, e a pergunta que a atormentava era se todo o sacrifício que estava fazendo por Bryan realmente valia a pena.Finalmente, a porta do quarto se abriu. Enfermeiras e o doutor responsável pelo caso de Bryan saíram, e Ava sentiu a tensão tomar conta de si. A ansiedade a corroía enquanto aguardava as palavras que poderiam mudar sua vida. O doutor, com uma expressão sóbria, se aproximou.— Senhorita Brown — começou ele, a voz grave e controlada, mas Ava podia sentir a gravidade na atmosfera. O olhar preocupado dele fez com que seu coração disparasse.— O que aconteceu? — pergun
Ava Brown ✓Estacionei o carro em frente à 15ª delegacia de polícia em East Village, comandada por Mark. Saí do veículo e entrei no prédio, seguindo direto para a recepção. Identifiquei-me e avisei que precisava falar com o delegado sobre um caso pessoal de família. Não demorou muito para que Mark me recebesse em seu escritório, sempre receptivo e com aquele sorriso caloroso no rosto.— Ava, é bom vê-la de novo — disse ele assim que entrei. — Por favor, sente-se — apontou para a cadeira em frente à mesa. — Café?— Também é bom vê-lo novamente, Mark. Na verdade, não. Acho que eu surtaria se tomasse mais um copo de café. — Sorri, e ele assentiu, sentando-se em sua cadeira e apoiando as mãos sobre a mesa.— Então, o que a trouxe aqui? Não me diga que a Savannah foi presa outra vez? — perguntou com um tom de preocupação que me fez rir.— Graças aos céus, ela tem se mantido na linha no último mês, depois da nossa última conversa e da ameaça de que não veria mais um centavo sequer se contin
Benjamin Cooper ✓Faziam cerca de duas horas que eu havia saído do hospital. Eram por volta das 15h27 quando Ava retornou. Mas, ao contrário do que eu imaginava, seu semblante expressava tudo: tensão, medo, incerteza e uma série de outras emoções — tudo, menos o descanso e o alívio que algumas horas de sono deveriam ter proporcionado.Perguntei o que havia acontecido, se precisava de mais tempo ou se queria que eu estivesse lá com ela. Mas suas respostas foram monossilábicas e evasivas, como se quisesse evitar o assunto. Por fim, me conformei com o breve “Estou bem”. Apesar de todos os acontecimentos que nos cercaram nos últimos meses, não posso dizer que temos intimidade suficiente para que ela me conte o que está passando. Talvez fosse apenas o peso de tudo ao redor.Antes de voltar para a mansão, passei na clínica e peguei o resultado do exame, que agora está aberto sobre a mesa do meu escritório. Fui também à delegacia, onde Nicolle ainda está detida, aguardando julgamento por fal