Narradora ✓ Benjamin percebeu que o sono definitivamente não viria, por mais que tentasse. Decidiu que uma bebida talvez o ajudasse a aquietar a mente. Desceu os degraus silenciosamente, cada passo ecoando pela mansão vazia, e dirigiu-se à adega. Escolheu uma das muitas garrafas de vinho, pegou uma taça e retornou ao quarto. A escuridão o envolvia, interrompida apenas pela luz tênue do abajur. Sentado na poltrona ao lado da cama, ele encheu a taça e tomou um longo gole, tentando afogar o turbilhão de pensamentos que o assombravam.O álcool começava a fazer efeito, um calor reconfortante se espalhava por seu corpo, mas o alívio era apenas momentâneo. Cada gole parecia trazer mais à tona a culpa que ele tentava sufocar. A culpa por tudo que acontecera nos últimos anos, pelo afastamento de Bryan, pelas mentiras que construiu e manteve. Benjamin sabia que havia sido um pai ausente, rígido, e o comportamento autodestrutivo de Bryan parecia apenas uma consequência de seus próprios erros.S
Narradora ✓Enquanto Benjamin se afundava na culpa e na auto-depreciação do outro lado da cidade, no hospital, Ava lutava contra seus demônios internos. Ela se apoiava na parede fria do corredor, sentindo seu peito apertar a cada momento que se passava. Detestava aquele lugar, o cheiro de desinfetante e o som monótono dos aparelhos que piscavam e bips intermitentes. Cada respiração pesava como uma âncora em seu peito, e a pergunta que a atormentava era se todo o sacrifício que estava fazendo por Bryan realmente valia a pena.Finalmente, a porta do quarto se abriu. Enfermeiras e o doutor responsável pelo caso de Bryan saíram, e Ava sentiu a tensão tomar conta de si. A ansiedade a corroía enquanto aguardava as palavras que poderiam mudar sua vida. O doutor, com uma expressão sóbria, se aproximou.— Senhorita Brown — começou ele, a voz grave e controlada, mas Ava podia sentir a gravidade na atmosfera. O olhar preocupado dele fez com que seu coração disparasse.— O que aconteceu? — pergun
Ava Brown ✓Estacionei o carro em frente à 15ª delegacia de polícia em East Village, comandada por Mark. Saí do veículo e entrei no prédio, seguindo direto para a recepção. Identifiquei-me e avisei que precisava falar com o delegado sobre um caso pessoal de família. Não demorou muito para que Mark me recebesse em seu escritório, sempre receptivo e com aquele sorriso caloroso no rosto.— Ava, é bom vê-la de novo — disse ele assim que entrei. — Por favor, sente-se — apontou para a cadeira em frente à mesa. — Café?— Também é bom vê-lo novamente, Mark. Na verdade, não. Acho que eu surtaria se tomasse mais um copo de café. — Sorri, e ele assentiu, sentando-se em sua cadeira e apoiando as mãos sobre a mesa.— Então, o que a trouxe aqui? Não me diga que a Savannah foi presa outra vez? — perguntou com um tom de preocupação que me fez rir.— Graças aos céus, ela tem se mantido na linha no último mês, depois da nossa última conversa e da ameaça de que não veria mais um centavo sequer se contin
Benjamin Cooper ✓Faziam cerca de duas horas que eu havia saído do hospital. Eram por volta das 15h27 quando Ava retornou. Mas, ao contrário do que eu imaginava, seu semblante expressava tudo: tensão, medo, incerteza e uma série de outras emoções — tudo, menos o descanso e o alívio que algumas horas de sono deveriam ter proporcionado.Perguntei o que havia acontecido, se precisava de mais tempo ou se queria que eu estivesse lá com ela. Mas suas respostas foram monossilábicas e evasivas, como se quisesse evitar o assunto. Por fim, me conformei com o breve “Estou bem”. Apesar de todos os acontecimentos que nos cercaram nos últimos meses, não posso dizer que temos intimidade suficiente para que ela me conte o que está passando. Talvez fosse apenas o peso de tudo ao redor.Antes de voltar para a mansão, passei na clínica e peguei o resultado do exame, que agora está aberto sobre a mesa do meu escritório. Fui também à delegacia, onde Nicolle ainda está detida, aguardando julgamento por fal
Do outro lado da cidade, Ava se encontrava mais uma vez sentada ao lado da cama de Bryan, os olhos fixos em seu rosto pálido e quieto. O quarto de hospital era um cenário que ela já conhecia bem demais, mas que jamais aprendera a suportar. Ali, sentinela silenciosa, cada batida de seus dedos nervosos contra a poltrona desgastada era um lembrete da espera exaustiva que se estendia noite após noite. A cada olhar lançado para ele, renovava a promessa de estar ali quando ele despertasse, por mais difícil que fosse.Mais cedo, tentara voltar ao seu apartamento, em busca de um pouco de paz. As poucas horas que conseguiu passar lá foram quase um alívio – quase, pois a sensação de estar em casa trouxe um conforto distante, logo sufocado por lembranças que jamais deixariam de atormentá-la. Submersa na banheira, fechara os olhos e, por um instante, acreditou poder abandonar as tensões que o dia trouxera. Mas então, uma ligação inesperada quebrou essa frágil paz. A voz do outro lado da linha fez
Ava Brown ✓Faz uma semana que Bryan está internado, e nesses últimos dias é como se Benjamin e eu tivéssemos estabelecido uma trégua silenciosa, sem insultos, discussões ou qualquer coisa que possa tornar as coisas piores do que já estão.Nesse meio-tempo, tenho tentado conciliar todos os acontecimentos: o acidente de Bryan, o retorno de Edward, minha empresa e, agora, como se não bastasse, um maldito processo que Savannah está movendo contra mim. Como eu sempre digo, não há nada que esteja ruim o suficiente que não possa piorar.Para resumir o caso com Savannah, posso apenas dizer que, meses antes de meu casamento com Bryan, Savannah veio até meu apartamento. Como sempre, com aquele ar de superioridade que ela exala aos quatro ventos.Seus pais faleceram há quase um ano e, bem, ela herdou boa parte da fortuna da família, que foi dividida entre ela e seus irmãos, com exceção de Edward, obviamente. Isso inclui uma porcentagem da empresa da família Alencar, na qual ela nunca quis se en
Ava Brown ✓ Benjamin se afasta, seguindo para o corredor que leva ao seu escritório, batendo a porta com um estrondo que ecoa pelo andar térreo. Respiro fundo e, sem pensar muito, decido segui-lo. Algo dentro de mim diz que é hora de conversarmos sobre o que aconteceu com Bryan, mas a incerteza me corrói. Será o momento certo para revelar a verdade? E se esse momento nunca chegar?Empurro a porta sem cerimônia, adentrando o cômodo iluminado com uma intensidade diferente de meses atrás. Benjamin está sentado, os pés apoiados na mesa, uma garrafa de rum pela metade e um envelope aberto repousando ao lado. Seus olhos, que antes estavam fechados, se abrem devagar e se fixam em mim, intensos e observadores.Não me intimido. Pelo contrário, sinto-me atraída para ele, como um ímã puxado ao metal. Sento-me na cadeira diante de sua mesa, sustentando seu olhar em silêncio, esperando que ele diga algo. Mas as palavras não vêm. Ele apenas observa, e o silêncio é quebrado apenas pela melodia suav
Ava Brown ✓ Ao sair do escritório de Benjamin, respiro fundo e me permito um momento para organizar os pensamentos. Preciso colocar minha vida de volta nos trilhos antes que tudo se torne um caos irreversível. É fácil sentir o peso de tudo o que está acontecendo, mas não posso me dar ao luxo de perder o controle agora.Subo as escadas até o meu quarto, onde ainda há uma parte da minha vida - roupas, documentos, objetos - que deixei na mansão, apesar de ter passado os últimos dias no meu apartamento por causa da proximidade com o hospital onde Bryan está internado. Ao entrar, jogo os papéis do processo sobre a escrivaninha no canto e sigo direto para o closet, onde está o cofre embutido.Abro o cofre com uma sequência rápida e segura de números, revelando uma cópia do contrato que Savannah e eu assinamos. Guardei-o aqui, na mansão, onde ninguém além de mim poderia ter acesso - especialmente Savannah, que não faz ideia de que estou com esses documentos. Seguro as folhas, folheando cada