1 ANO ANTES...POV BLAIR- "Eu trabalhei até tarde no fim de semana. E um cara me chamou para sair. Ele dirige um carro de luxo, então pensou que eu jamais recusaria. Mas, no fim, eu recusei. Ele me chamou de vadia burra, e foi embora"A quantidade de propostas como essa que eu recebo é assustadora. Talvez seja o uniforme vulgar, parecendo mais uma oferta do que uma funcionária. Não posso dizer que me acostumei, mas sei que sempre será assim. Vão me contratar pela aparência e depois usar disso para benefício próprio. É irônico que o fato de estar em um departamento policial nunca me fez sentir segura.- "Jean me ligou no sábado. Ele ainda insiste que eu vá para Las Vegas. E, para ser sincera, estou tentada a aceitar"Faz algum tempo que me cansei de ser apenas a bonequinha bonitinha que as pessoas querem colocar em suas estantes. Ninguém me enxerga para além disso. Eu comecei a acreditar que não tenho personalidade, e que sirvo apenas para decorar o ambiente. E talvez, com Jean, eu po
Blair mantinha o olhar pensativo contemplando a imensidão de Las Vegas. Ela pensava em sua vida; o que fez, o que estava fazendo e o que viria a fazer. Sua mente girava em torno dos problemas que já tinha, e dos outros nos quais estava se metendo.Pela terceira vez na madrugada, Drake fora à porta do quarto da amiga e forçou a fechadura, torcendo para que estivesse aberta. Ele não sabia até que ponto havia a magoado, mas sabia que aquele isolamento era um péssimo sinal.Blair tinha um instinto de proteção; não era capaz de confiar, portanto, dificilmente conseguia amar alguém. Estava sempre do lado seguro da rua. Contudo, havia uma razão para tal comportamento; ela sabia que não suportaria outra decepção. A primeira pessoa a quebrar sua confiança fora seu pai, alguém que deveria lhe preservar, e, desde então, toda sua vida fora baseada em medidas de distanciamento emocional.- "Gata, eu sei que errei com você. Não pensei direito..." Drake fez uma pausa.- "Eu quero seu bem, e apenas.
Ela deslizou seu dedo pela tela do celular, percorrendo as fotos e notando que eram impessoais demais. Aquilo lhe dava certeza de que a conta era movimentada por terceiros. Apenas as fotos mais antigas tinham um toque pessoal, com legendas criativas e resposta aos comentários. Não era íntimo, mesmo virtualmente tinha o dom de parecer inalcançável.A mulher ficou curiosa. As únicas fotos com um toque de Ethan Banks eram de sua época como piloto. Parecia que ele fazia questão de mostrar-se, de dizer que amava o que fazia. No entanto, a mesma alegria não podia ser notada nas fotos recentes. Com imagens profissionais, imponentes, divulgando os feitos da Banks Enterprise e sempre usando roupas formais, não parecia que Ethan acessava a rede social.Ela notou que ele não seguia outras contas, apesar de ter milhões de seguidores. Aquilo soou estranho. E, quando ela decidiu verificar as pessoas que o seguiam, ficou ainda mais surpresa ao ver que grandes nomes do país eram seguidores de Banks.
Após o término do expediente, Blair sentia-se mais entrosada na grande Las Vegas. Aquele lugar estava começando a parecer um lar. O edifício em vidro preto onde trabalhava, as boates na Strip por onde passava até chegar ao apartamento, as ruas sempre movimentadas por carros e pessoas. Os cheiros mistos de luxúria e urbanismo deixaram de ser novidade. Por fim, ela estava se adaptando ao caos.Ela saiu do táxi em frente ao edifício onde morava. Olhando o prédio, tão alto que parecia chegar ao céu, ela pensou que poderia estar se acostumando com a ideia de viver tão bem, pela primeira vez em muitos, muitos anos.A mulher ficaria encantada com a ideia de ter amigos, sair para beber e dançar, morar em um bom lugar com o amigo e poder desfrutar de uma vida normal. Sem pais negligentes e abusivos, sem chefes assediadores e homens misóginos, sem dificuldades financeiras e, pincipalmente, sem mentiras.Blair estava em transe, olhando para cima e imaginando milhares de chances. Não havia motivo
A proximidade permitia a nitidez no fato de que Ethan era mais alto e robusto do que o homem maltrapilho.- "Eu não..." a cada segundo, e a cada palavra, o homem vestido como um mendigo se afastava mais rápido. Estava com medo, temendo que o perigo gritante de Ethan se tornasse um risco real.- "Foi um erro. Me desculpe"Ethan deu um passo na direção do homem, decidido a cometer um delito no mesmo instante, porém ele disparou em uma corrida conturbada, com braços inquietos e pernas sem firmeza.O ar carregado de raiva contida ainda pairava na noite amena de Vegas. A cidade sempre iluminada estava pesada naquele momento, cheia de perguntas a serem respondidas e de impulsos a serem controlados.Blair, apesar de ter presenciado cada segundo, ainda não tivera tempo para processar tudo em sua mente. Ela se sentia exposta e desprotegida, exatamente como em sua infância. No entanto, pela primeira vez, ela teve ajuda. O anjo que sua versão inocente desejava, para lhe segurar e aplacar seus me
Naquela madrugada, as horas foram longas e pacatas. Drake tentou uma reaproximação com base na única coisa que faziam bem; conversar. Mas Blair estava afastada, sobrecarregada.O passado da mulher era uma vasta sequência de desastres, e tudo havia começado com Jean. Ela não falava sobre ele, ou sobre sua mãe, pois vivia em luta contra os pensamentos depressivos que esse assunto lhe provocava.Apesar das tentativas de conversa com a amiga, Drake decidiu lhe dar espaço. Sempre estava por perto, fazendo as refeições ou deixando uma flor na bancada da cozinha. Ele queria provar que ainda estava ali, por e para ela. Porém, ao tentar concertar o passado que Blair julgava ser um inferno pessoal, ele havia cruzado limites perigosos.Drake viajava para Los Angeles nos fins de semana. Estava começando a se encaminhar como ator, apesar de ter medo do que aquilo significaria. Estar próximo de Jean o levaria ao afastamento de Blair, e, uma hora ou outra, Drake precisaria fazer uma escolha.Ele tam
- "Foi bom para me acostumar com a nova vida"- "Ouvi dizer que não é uma vida ruim"Blair sentou-se em sua cama, analisando o horizonte através das portas de acesso à sacada. De fato, não era uma vida ruim, mas ela não sabia até que ponto poderia dizer que era boa.- "Tem novidades?" a ruiva questionou.- "Estou fazendo algumas análises, conversando com conhecidos e pedindo favores, mas espero que as reais novidades venham de você" diante das palavras de Spencer, Blair pôde o imaginar erguendo as sobrancelhas.- "Michele conversou comigo sobre meu pai, e eu anotei todos os pontos importantes da conversa"Spencer não gostava de compartilhar informações virtualmente. Ele era um homem mais velho, e não confiava na tecnologia. Assim sendo, preferia que Blair escrevesse manualmente todas as informações que julgasse ser importantes.- "Boa garota. Algo mais?"- "Bem... eu fui abordada em frente ao meu prédio" ela disse baixo, com medo de que as lembranças tivessem um impacto forte demais.
- "Acredite, eu estou orgulhoso de você" Drake murmurou, jogando-se contra o sofá da sala como se fosse uma piscina olímpica.- "É apenas um perfil em uma rede social" Blair fez pouco caso, mas sabia que aquilo significava mais do que admitiria. Na terapia, seria chamado de progresso.- "Você sabe que significa bem mais"A mulher caminhou até o sofá, ainda usando seu pijama confortável, e aninhou-se ao lado do amigo. Por mais que tivessem desavenças, e tinham, ela o amava como um irmão.- "Eu cansei de me esconder do mundo" aquilo era parte da verdade, porém uma parte importante.Blair pensou no que Spencer diria. Talvez ele fosse reprovar sua conduta, pois perfis em redes sociais significavam exposição, e uma investigação não precisava de exposição. No entanto, por outro lado, era preferível que ela vivesse uma vida comum, assim estaria acima das suspeitas.A ruiva desejou compartilhar aquele pensamento com seu amigo, mas sabia que seria antiético de sua parte, então apenas o guardou