O rosto do homem era impassível, a voz controlada e os movimentos econômicos. Contudo, um vulcão estava erupcionando dentro dele, desde o momento em que Blair entrou em seu campo de visão. Ele parecia indiferente, mas dormia todas as noites pensando nas curvas da ruiva. A ligação entre eles era palpável, e a fome que sentiam apenas o outro tinha o poder de alimentar.- "Tyler"Blair olhou para ele, depois para a loira ao seu lado. Ela era bonita, um padrão americano. E, por achar que já havia ganhado o homem, a loira estava sorridente, esbanjando seu prêmio de uma noite. Mas a verdade era que, naquele momento, a mulher fora ofuscada por Blair. Ethan demorou para perceber que ela ainda estava ali quando toda sua atenção estava em fios ruivos.- "Eu vim cumprimentar você, porque estou de saída" Angel voltou a olhar para o rosto bonito de Ethan.Seu olhar era um desafio a descartar qualquer mulher no mundo. Se fosse um caso, deveria abandoná-la. Se fosse uma namorada, deveria terminar co
Jean estava alheio e desconfortável. Por mais que aquele apartamento fosse pago por ele, nunca havia ultrapassado os limites da porta de entrada. Estava sempre a um pé de distância, tentando respeitar o espaço que sua filha precisava manter.- "Oi, Blair" o pai levantou-se, torcendo para que aquilo não significasse intimidade demais. A mulher não respondeu; ainda estava pensando sobre a visita do pai.- "Estava tarde e ele me deu uma carona, então pensei que não seria ruim entrar e tomar uma bebida" Drake explicou-se.Blair olhou para a mesa, para os petiscos de frutos do mar e bebida cara, e logo soube que tudo aquilo era apenas uma desculpa para seu pai lhe ver.- "Tudo bem. Aproveitem o vinho" ela sorriu para ambos ao murmurar, depois virou-se rumo ao corredor dos quartos.Blair estava exausta, e ver seu pai sempre piorava seu estado de espírito. Quando estavam em público, a mulher sabia fingir felicidade. Era apenas atuação. Contudo, em sua casa, dentro de sua intimidade, ela não
1 ANO ANTES...POV BLAIR- "Eu preciso sair e procurar um emprego. Estou começando a sentir vergonha de ser sustentado por você" ele sorri de lado, meio sem graça.Eu sei o quanto Drake valoriza a independência. Ele trabalhava em uma agência de modelos falida, mas adorava o local. Não recebia muito, no entanto, era suficiente para pagar nossas contas. Quando ele foi demitido, posso dizer que nossa situação financeira teve um declínio severo.- "Sobre isso..."Olho ao redor de Manhattan, pensando em como a vida seria mais fácil se tivéssemos alguns dígitos a mais em nossas contas bancárias. A vida da qual precisamos é o que Jean vem oferecendo há alguns anos, e eu sempre recusei. Mas, agora, vendo que estamos sobrevivendo e não vivendo, talvez seja hora de aceitar.- "Jean me ligou novamente. Ele continua propondo o mesmo"- "Ele quer que você vá para Las Vegas, certo?"- "Eu acho que podemos pensar melhor na hipótese, não? Jean tem mais dinheiro, e talvez esteja na hora de aceitar que
1 ANO ANTES...POV BLAIR- "Eu trabalhei até tarde no fim de semana. E um cara me chamou para sair. Ele dirige um carro de luxo, então pensou que eu jamais recusaria. Mas, no fim, eu recusei. Ele me chamou de vadia burra, e foi embora"A quantidade de propostas como essa que eu recebo é assustadora. Talvez seja o uniforme vulgar, parecendo mais uma oferta do que uma funcionária. Não posso dizer que me acostumei, mas sei que sempre será assim. Vão me contratar pela aparência e depois usar disso para benefício próprio. É irônico que o fato de estar em um departamento policial nunca me fez sentir segura.- "Jean me ligou no sábado. Ele ainda insiste que eu vá para Las Vegas. E, para ser sincera, estou tentada a aceitar"Faz algum tempo que me cansei de ser apenas a bonequinha bonitinha que as pessoas querem colocar em suas estantes. Ninguém me enxerga para além disso. Eu comecei a acreditar que não tenho personalidade, e que sirvo apenas para decorar o ambiente. E talvez, com Jean, eu po
Blair mantinha o olhar pensativo contemplando a imensidão de Las Vegas. Ela pensava em sua vida; o que fez, o que estava fazendo e o que viria a fazer. Sua mente girava em torno dos problemas que já tinha, e dos outros nos quais estava se metendo.Pela terceira vez na madrugada, Drake fora à porta do quarto da amiga e forçou a fechadura, torcendo para que estivesse aberta. Ele não sabia até que ponto havia a magoado, mas sabia que aquele isolamento era um péssimo sinal.Blair tinha um instinto de proteção; não era capaz de confiar, portanto, dificilmente conseguia amar alguém. Estava sempre do lado seguro da rua. Contudo, havia uma razão para tal comportamento; ela sabia que não suportaria outra decepção. A primeira pessoa a quebrar sua confiança fora seu pai, alguém que deveria lhe preservar, e, desde então, toda sua vida fora baseada em medidas de distanciamento emocional.- "Gata, eu sei que errei com você. Não pensei direito..." Drake fez uma pausa.- "Eu quero seu bem, e apenas.
Ela deslizou seu dedo pela tela do celular, percorrendo as fotos e notando que eram impessoais demais. Aquilo lhe dava certeza de que a conta era movimentada por terceiros. Apenas as fotos mais antigas tinham um toque pessoal, com legendas criativas e resposta aos comentários. Não era íntimo, mesmo virtualmente tinha o dom de parecer inalcançável.A mulher ficou curiosa. As únicas fotos com um toque de Ethan Banks eram de sua época como piloto. Parecia que ele fazia questão de mostrar-se, de dizer que amava o que fazia. No entanto, a mesma alegria não podia ser notada nas fotos recentes. Com imagens profissionais, imponentes, divulgando os feitos da Banks Enterprise e sempre usando roupas formais, não parecia que Ethan acessava a rede social.Ela notou que ele não seguia outras contas, apesar de ter milhões de seguidores. Aquilo soou estranho. E, quando ela decidiu verificar as pessoas que o seguiam, ficou ainda mais surpresa ao ver que grandes nomes do país eram seguidores de Banks.
Após o término do expediente, Blair sentia-se mais entrosada na grande Las Vegas. Aquele lugar estava começando a parecer um lar. O edifício em vidro preto onde trabalhava, as boates na Strip por onde passava até chegar ao apartamento, as ruas sempre movimentadas por carros e pessoas. Os cheiros mistos de luxúria e urbanismo deixaram de ser novidade. Por fim, ela estava se adaptando ao caos.Ela saiu do táxi em frente ao edifício onde morava. Olhando o prédio, tão alto que parecia chegar ao céu, ela pensou que poderia estar se acostumando com a ideia de viver tão bem, pela primeira vez em muitos, muitos anos.A mulher ficaria encantada com a ideia de ter amigos, sair para beber e dançar, morar em um bom lugar com o amigo e poder desfrutar de uma vida normal. Sem pais negligentes e abusivos, sem chefes assediadores e homens misóginos, sem dificuldades financeiras e, pincipalmente, sem mentiras.Blair estava em transe, olhando para cima e imaginando milhares de chances. Não havia motivo
A proximidade permitia a nitidez no fato de que Ethan era mais alto e robusto do que o homem maltrapilho.- "Eu não..." a cada segundo, e a cada palavra, o homem vestido como um mendigo se afastava mais rápido. Estava com medo, temendo que o perigo gritante de Ethan se tornasse um risco real.- "Foi um erro. Me desculpe"Ethan deu um passo na direção do homem, decidido a cometer um delito no mesmo instante, porém ele disparou em uma corrida conturbada, com braços inquietos e pernas sem firmeza.O ar carregado de raiva contida ainda pairava na noite amena de Vegas. A cidade sempre iluminada estava pesada naquele momento, cheia de perguntas a serem respondidas e de impulsos a serem controlados.Blair, apesar de ter presenciado cada segundo, ainda não tivera tempo para processar tudo em sua mente. Ela se sentia exposta e desprotegida, exatamente como em sua infância. No entanto, pela primeira vez, ela teve ajuda. O anjo que sua versão inocente desejava, para lhe segurar e aplacar seus me