Blair abriu sua bolsa e retirou alguns papéis, os colocando sobre a mesa de madeira. Os olhos de Spencer acompanharam os movimentos dela, cauteloso, porém muito ansioso.- "Estes são meus últimos relatórios"A mulher abriu o aglomerado de papéis como um leque. O inspetor viu as folhas escritas, e pelo olhar sem humor de Blair, constatou que não eram importantes. Spencer voltou a recostar-se em sua cadeira e soltou um suspiro afadigado.- "O que tinha no cofre?" ele perguntou, pois não dar-se-ia ao trabalho de ler os relatórios se não fossem comprometedores.- "Um contrato da época de piloto"- "Droga!" Spencer maldisse.Pela milésima vez desde a morte de seu irmão, o homem havia chegado a lugar algum. Nem mesmo suas melhores fontes foram capazes de entregar provas incriminadoras, e nem mesmo a pessoa mais próxima a Ethan pôde revelar seus segredos.Embora Blair soubesse que o motivo real pelo qual estava se afastando não era o perigo que corria, ela viu-se dividida; uma parte de si es
- "Eu não recrutei você para investigar Ethan Banks. Eu recrutei você para impedir que ele continuasse"- "Eu... eu não entendo" a ruiva pigarreou.- "A família Banks é investigada pelos órgãos do Governo desde o século passado. Eu ainda trabalhava para a CIA quando o primeiro dossiê de George Banks chegou. Muitas pessoas morreram misteriosamente, algumas na América, outras na Rússia. A questão é que o nome de George sempre estava em pauta"CIA era o serviço de inteligência estadunidense, cujo papel era coletar informações e avaliar se elas ameaçavam a segurança nacional, além de informar os responsáveis para que medidas cabíveis fossem tomadas.- "Você disse que eles eram limpos" Colton acusou.- "Nem todos podem saber de tudo" Spencer defendeu-se.Blair caminhou para mais perto dos homens, não porque estava totalmente interessada no assunto, mas porque percebeu que as mentiras não eram contadas somente por Ethan. No fim, todos eram uma bela farsa.- "Eu pedi transferência para este
No edifício Banks, em Las Vegas, Ethan adentrou seu escritório contragosto. Após o fim de semana mais do que agradável, ele não estava satisfeito em ter que voltar para o trabalho. O homem empurrou as portas duplas de sua sala, e dentro dela encontrou Joseph Carter sentado em frente à mesa.- "Você está atrasado" Carter pontuou enquanto olhava para seu relógio de pulso.- "Talvez seu relógio esteja adiantado"Banks caminhou até a mesa e sentou-se em sua poltrona, lugar responsável pela liderança de uma empresa bilionária. Ele abriu os botões do terno e afundou no estofado, já entediado com as tarefas que sequer começou a fazer.A sala mal conseguia suportar a imponência dos homens. Joseph, com seu estilo ariano, apostava em ternos claros e relógio dourado. Ethan, por sua vez, usava peças escuras e diversos anéis prateados. Ambos tinham os fios de cabelo bem penteados.- "A inauguração do edifício está programada para sexta, às sete. Tudo bem?" Joseph questionou.Ethan, que já havia co
Ethan deslizou as mãos pelo cabelo perfeitamente arrumado. Ele não sabia o que sentir, o que fazer ou o que dizer, mas estava certo de que não poderia ignorar a situação. Por mais enlaçado que estivesse, Banks não era do tipo que aceitava ser enganado. O homem torcia para que fosse uma coincidência, todavia, estava pronto para o caso de não ser.Porque alguém como Ethan não poderia dar-se ao luxo de ser enganado, nem mesmo por anjos de fios ruivos.- "Continue o que estava fazendo. Não descanse até descobrir tudo que ela fez nas últimas semanas".**As luzes de Nova Iorque eram conhecidas pelo mundo todo. A cidade desperta, com pessoas agitadas e onde nunca, nunca paravam. Era um lugar famoso por tudo que mostrava, mas poucas pessoas sabiam o que Nova Iorque escondia. Poucos conheciam as sombras da cidade mais iluminada do mundo.As sombras estavam nos subúrbios, nas zonas isoladas que sequer o sol alcançava. Onde as ruas eram lamacentas, os prédios eram abandonados e as pessoas chora
- "Eu não costumo voltar atrás"Ethan, vendo que aquela conversa havia chegado ao fim, deu as costas para o inspetor. Ele chegou a olhar de relance para Colton, decidindo que, deveras, não gostava do homem. Banks fez um sinal sutil com o dedo indicador e os seguranças voltaram para o carro.- "Mas, de qualquer forma, esconda melhor os rastros das suas agentes quando decidir colocar uma no meu encalço" ele murmurou antes de adentrar a porta que seu motorista mantinha aberta.O primeiro carro fez uma manobra sutil dentro do galpão e deslizou para fora, seguido pelo segundo. E então, só então, Colton se aproximou de Spencer. Os agentes observaram os carros se afastarem naquele dia mal humorado, sabendo que tinham feito algo grande. Fosse bom ou ruim, era algo grande.- "Você acha que ele ficou feliz com esta conversa?" Colton questionou.Spencer tomou uma longa respiração. Dentre todas as conversas com Banks, aquela era a única em que ele desejou que Banks não saísse insatisfeito.- "Eu
- "Drake parece estar gostando de Daliah" de repente, Jean comentou.- "Ele está apaixonado por ela. E você precisa conhecê-la. Daliah é maravilhosa" Blair murmurou, e ficou contente com a quantidade de palavras que conseguiu trocar com seu pai sem sentir repulsa.Aquele momento era atípico para Blair. Drake estava feliz ao lado de uma nova namorada, mesmo que o relacionamento ainda não fosse oficial. Blair estava começando a entender-se com seu pai. Tudo parecia estar encaminhado, exceto um pequeno detalhe; a farsa. Enquanto certo inspetor estivesse caçando a cabeça do homem com quem Blair dormia, seus dias não teriam paz.- "Eu adoraria conhecê-la" Jean sorriu amplamente para a bela mulher que era sua filha. Ele sabia a profundidade da ferida que existia em seu coração, mas estava disposto a correr pela cura, e a dedicar o resto de sua vida à felicidade de Blair.Pai e filha estavam trocando amenidades quando Joseph Carter, advogado e amigo pessoal de Ethan, se aproximou. Ele sorriu
- "Obrigado pela presença de todos. E, se não for pedir muito, sejam leais. Não me amem, mas sejam leais"Ethan se afastou do púlpito e desceu as escadas como havia subido; ignorando todos os olhares voltados para si. Por sua vez, o mestre de cerimônia voltou para dizer algumas palavras.- "Eu estou lisonjeado pela oportunidade de ouvi-lo, Sr. Banks. Agora, para entretenimento do nosso público, eu gostaria de chamar ao palco o Sr. Landwy, o violinista da noite"Blair esperou até que os primeiros acordes do violino soassem antes de murmurar algo para seu pai e se levantar. As pessoas não notaram quando ela caminhou em passos largos até o toalete, pois neste momento as entradas começaram a ser servidas pelo salão.Blair pensou que poderia se refugiar pelo resto da vida naquele ambiente luxuoso, mas esta não era a verdade. Ela encarou seu reflexo no espelho; as faces rosadas pelo nervosismo, a respiração irregular, os olhos cansados e os lábios pálidos.A mulher retirou as luvas de seda,
No fundo, Blair sabia o que havia acontecido. Fosse como fosse, Ethan sabia a verdade. As chamas que sempre brilhavam em seus olhos estavam opacas, como se um incêndio tivesse sido apagado e apenas as sobras esturricadas restassem.Blair arrastou a caixa para perto de si, sem pressa alguma, e manteve os olhos no homem fisicamente próximo, emocionalmente distante. Ela vestia um vestido de seda e o aquecedor do carro estava ligado, todavia, naquele instante, o frio que dominou seu corpo a fez pensar que estava nua.E pela primeira vez na semana, Ethan olhou para Blair. Ele a encarou com impassibilidade, revelando pouco dos sentimentos que fervilhavam em seu peito. Blair, calmamente, abriu a caixa aveludada. Seu coração pulsava com força e seu corpo estava arrepiado com a tensão. Dentro da caixa, ela encontrou um microchip perfeitamente posicionado sobre o veludo.Ethan, por sua vez, observou com cautela a reação da mulher, e então pediu:- "Me pergunte" quando ele falou, sua voz soou ex