Nos últimos quatorze dias, a vida de Cássia se transformou em um verdadeiro espetáculo. Antes, era apenas mais um nome entre os milionários da alta sociedade. Agora, era um ícone, a mulher que enganou a morte, desmascarou um criminoso poderoso e saiu vitoriosa. Todos queriam um pedaço de sua história. Os telefones não paravam de tocar. Convites para entrevistas, festas luxuosas e eventos beneficentes lotavam sua agenda. Ela estava nos jornais, nas revistas, nos programas de TV. Seu rosto estampava capas com manchetes dramáticas: "A mulher que voltou dos mortos!", "A socialite que destruiu um império corrupto!", "Cássia Moscovisk: vingança ou justiça?". No começo, tudo aquilo parecia emocionante. As luzes, os aplausos, os elogios constantes… Mas, com o passar dos dias, o brilho começou a perder a intensidade. Ela sorria para as câmeras, mas, quando as luzes se apagavam e os jornalistas iam embora, o vazio tomava conta. Era Charles. Ela podia estar cercada de pessoas, mas nenhuma del
Estacionada do outro lado da rua, Cássia encarava a fachada do restaurante com a testa franzida. O letreiro em tons vibrantes piscava inocentemente: "PIZZA DELIZIOSA". Uma pizzaria italiana comum para qualquer um que passasse por ali. Mas ela sabia melhor. — Ah, claro. Só falta o slogan: "Aqui só vendemos pizza. Nenhum agente secreto foi visto nos fundos". Respirou fundo, ajeitou o cabelo no espelho retrovisor e saiu do carro com determinação. Ela não voaria até aquele lugar só para desistir na porta. Assim que entrou, o cheiro de massa recém-assada e molho de tomate envolveu seus sentidos, e por um breve segundo, esqueceu sua missão. Seu estômago roncou. — Foco, Cássia. Você não veio atrás de carboidratos — murmurou para si. O ambiente era acolhedor, típico de uma cantina italiana: toalhas xadrez, velas derretidas em garrafas de vinho e um garçom que limpava o balcão como se esperasse que algo explodisse a qualquer momento. Ela caminhou até uma mesa vazia e se acomodou, lembran
Quase um mês havia se passado, mas Charles ainda assombrava os pensamentos de Cássia como um fantasma teimoso que se recusava a partir. Não importava o que fizesse—trabalho, festas, entrevistas, compras—ele continuava ali, presente em cada canto da sua mente. Então, numa tentativa desesperada de se livrar daquele sentimento sufocante, ela tomou uma decisão impulsiva: viajar. — Se eu não consigo tirar esse homem da cabeça, talvez consiga afogá-lo no mar do Caribe — murmurou para si mesma enquanto reservava as passagens. E assim, partiu para o paraíso tropical, disposta a aproveitar uma semana de puro relaxamento. Desde o momento em que pousou, foi como se tivesse entrado em um cartão-postal. O mar azul-turquesa brilhava sob o sol escaldante, as areias brancas pareciam açúcar e a brisa carregava um aroma salgado misturado com coco. — Agora sim, uma terapia eficiente. Ela se hospedou em um resort de luxo, onde sua única preocupação era escolher entre um coquetel de frutas ou uma ma
Os dias passavam como um borrão, entre festas, viagens e tentativas frustradas de seguir em frente. Mas, ultimamente, algo a incomodava. Suas roupas estavam mais apertadas, e não era só a sensação de desconforto — era real. Os vestidos elegantes que antes deslizavam perfeitamente pelo seu corpo agora teimavam em prender nos quadris. Os zíperes lutavam para subir, e suas pernas pareciam ter ganhado um volume extra do nada. — Meu Deus, Cássia! O que você está comendo? — exclamou Molie certa noite, enquanto a amiga tentava entrar em um vestido justo. — Ou sou eu ou você está mais... cheia? Cássia bufou, tentando puxar o zíper que insistia em não fechar. — Muito obrigada, Molie! Era exatamente esse tipo de comentário que eu precisava hoje. A verdade é que ela não estava comendo muito, muito menos se entupindo de doces ou algo assim. O apetite andava irregular, e se tinha algo que ela não estava fazendo era viver uma vida regrada e saudável. O que estava acontecendo com seu corpo? N
Seis meses se passaram, e Cássia ainda não conseguia acreditar totalmente no que estava acontecendo. Ela estava grávida. Seis meses. Mas… onde estava a barriga? Era uma pergunta que a atormentava todas as manhãs diante do espelho. Ela esperava ver aquela curva crescente, a prova definitiva da vida que carregava dentro de si. Mas, ao invés disso, nada. Quer dizer, seu peso estava aumentando. Suas pernas estavam mais grossas, seus quadris mais largos, seus seios mais pesados. Mas nenhuma barriga de grávida. — Que diabos está acontecendo comigo? — murmurou para si, girando para o lado e para o outro no espelho, tentando encontrar qualquer sinal de uma protuberância. Ela já tinha ouvido falar de mulheres que demoravam a exibir a barriga, mas seis meses? Seis?! Molie, sua melhor amiga, não ajudava muito na situação. — Tem certeza que não é um problema hormonal, Cássia? — perguntou ela, franzindo a testa enquanto a observava de cima a baixo. — Os exames confirmam a gravidez, Molie.
O escritório da Agência Escondida sob a "Pizza Deliziosa" virou um verdadeiro caos assim que a mensagem em código morse de Lamartine chegou. Alguns agentes corriam para se preparar para a missão de resgate.Com a tensão evidente em seu rosto, o chefe da operação, um homem de terno impecável e uma expressão de quem não dormia há três dias, pegou seu telefone e discou um número. Seus olhos brilhavam com a urgência da situação. — Boris, lembra daquele favor que você me deve? — Sua voz soou séria, quase ameaçadora. Do outro lado da linha, uma voz carregada de um forte sotaque russo respondeu: — Se for para esconder um corpo, eu cobro extra. — Se fosse para esconder um corpo, eu ligaria para sua mãe. Preciso de informações. O russo riu. Uma risada curta, desconfiada. — Quem você está tentando salvar desta vez? — Charles Lamartine. O silêncio do outro lado foi quase ensurdecedor. — Se ele está pedindo ajuda, a coisa está feia. Vou ver o que consigo. O chefe desligou sem se despedi
Charles sempre teve um profundo respeito por seu chefe, Frederick Cavanov. O homem não era apenas seu superior na agência, mas também um mentor, um amigo da família, alguém que conhecia seu pai desde os tempos do colegial. Foi Cavanov quem lhe ensinou as habilidades essenciais antes mesmo de Charles entrar no exército. Ele confiava nele… ou pelo menos confiava antes de quase morrer na Rússia. Agora, ferido e desconfiado, Charles via tudo com outros olhos. Ele sabia que alguém dentro da agência tinha traído a operação. O ataque que sofreu na Rússia não foi um golpe do acaso. Os russos sabiam exatamente onde encontrá-lo, os pontos fracos de sua missão e até mesmo detalhes que apenas um agente de dentro poderia ter fornecido. Alguém estava vendendo informações. E Charles precisava descobrir quem. Deitado no hospital, mesmo debilitado, sua mente trabalhava sem parar. Dimitri estava morto, Gabriela também. Mas isso não significava que a ameaça tinha acabado. Se havia um traidor, esse
Charles nunca foi de confiar cegamente em ninguém. E depois do que aconteceu na Rússia, sua desconfiança aumentou para níveis absurdos. Antes de sair por aí acusando seu chefe Frederick Cavanov, ele fez o que sabia fazer de melhor: investigou. Ele se infiltrou nos arquivos confidenciais da agência, hackeou bancos de dados governamentais, subornou contatos e, em alguns casos, até invadiu escritórios no meio da madrugada. Seus métodos não eram exatamente legais, mas eram eficientes.E o que ele descobriu o deixou furioso. Seu pai, que ele sempre considerou um homem íntegro, estava envolvido em um projeto nojento chamado Áurea Branca — um plano secreto do governo para exterminar uma parte da população de um país pobre, dono de uma riqueza mineral absurda. Mas o projeto foi um fracasso. E como era de se esperar, todos os envolvidos foram eliminados. Incluindo o próprio pai de Charles. — Então o governo matou o meu pai? — Ele perguntou, encarando Frederick, sua voz perigosamente calma