DILAN
. . Acordei com a minha irmã me chamando. Dadara: Acorda cabeção. Ou você vai pra um quarto, ou se manda pra sua casa, porque já está super tarde. Olhei pro meu relógio de pulso, e vi que já passava das 22:00hrs. — Porquê você não me acordou antes Dandara? Só irei para casa amanhã. Depois de ter ido vender minhas peças na praia, fui pra pousada, deitei na rede e peguei no sono. Eu me lembro que o meu último pensamento, foi a Kyra. Eu não conseguia tirá-la dos meus pensamentos. Eu sempre dormia quando pensava no tipo de vida que teríamos se o destino não tivesse nos separado. Levantei da rede e fui para um dos quartos da pousada. No dia seguinte eu teria que acordar cedo pra comprar material de trabalho, pois eu já estava sem nada para fazer os meus artesanatos. Eu sempre optava por ir bem cedinho, pois eu odiava a correria do centro, e por conta do final de semana, a cidade iria estar repleta de turistas e ônibus chegando por todos os lados. Antes que eu conseguisse pegar no sono de novo, minha irmã bateu na porta. Dandara: Eu trouxe um copo de leite com biscoito pra você cabeção, já que você não jantou. — Obrigado Danda. Esse era o apelido carinhoso que eu a chamava. Dandara: Vamos conversar um pouco enquanto você come? — Sim, senta aí. Falei apontando pra cadeira ao lado da cama. Dandara: Eu quero falar com você sobre a Cris. — De novo com isso Danda? Ela nem olha mais na minha cara. Dandara: Você sabe o motivo Dilan, como você termina um relacionamento de quase dois anos por alguém que você conheceu quando era um moleque? — Não foi eu que terminei, foi ela se você não sabe. Dandara: Ela esperava que você fosse atrás, tentasse consertar as coisas, que falasse pra ela que foi tudo um grande mau entendido, e não que você aceitasse o término com tanta facilidade, como se você já quisesse isso a bastante tempo. — Você que foi abrir essa boca grande pra ela Danda, se o namoro terminou foi porque você é uma tremenda fofoqueira. Dandara: Você queria que eu respondesse o quê pra ela Dilan? Ela perguntou porquê você andava com esse paninho aí pra cima e pra baixo, eu só respondi a verdade. — Então vamos deixar as coisas como estão Danda, eu gosto da Cris, de verdade, mas eu só estaria atrasando a vida dela estando nesse relacionamento sem ter planos para um futuro com ela. Dandara: Você nunca vai se permitir amar alguém Dilan? Você é um cara tão bacana, merece tanto ser feliz, não é justo você se colocar nessa posição, e esperar por alguém que pode muito bem ter seguido a vida sem você. — Eu sinto que não seguiu Danda. Eu sinto que ainda vamos nos reencontrar. Dandara: Se ela quisesse mesmo te reencontrar, ela teria vindo atrás de você. — Eu prefiro pensar que ela teve um motivo muito forte pra não ter vindo ainda. Agora cai fora, que eu preciso dormir. Dandara: Você é um romântico incorrigível Dilan. — Como você falou maninha, eu sou um cara bacana, e coisas boas costumam acontecer com caras bacanas. Dandara: Já aconteceu muitas coisas boas com você, mas você jogou fora todas elas. Ela me beijou na bochecha e saiu do quarto. Fiquei pensando em tudo o que ela me disse, e eu nunca seria o tipo de cara que ficava correndo atrás de mulher nenhuma. Quer dizer, nenhuma que não seja a Kyra. — Será se ela refez mesmo a vida dela? Droga Dandara, sempre plantando dúvidas na minha cabeça. Falei, já fechando os meus olhos pra dormir. Era 06:00hrs quando pulei da cama. Eu precisava trocar as cochas da cama e fui esvaziar o quarto pra chegada dos turistas. Tomei um banho rápido, peguei minha caminhonete e fui pra casa trocar de roupa. Toda vez que entro em casa, consigo ver o resultado de todos os meus esforços. Minha casa é linda, tem um lindo jardim com coqueiros e árvores, tem uma piscina grande, e a casa foi toda planejada pra uma família inteira. Eu não sou rico, eu vivo uma vida simples, porém eu lutei por uma casa bonita e muito bem estruturada. Ela tem uma sala de estar ampla, com sofás que me custaram uma nota, ela possuía sala de jantar e cozinha tão grandes quanto a sala, e todos os meus móveis foram projetados, deixando tudo do jeito que eu queria. Ela também tem três suítes, eu penso em ter filhos, então duas dessas suítes serão deles, e tem uma sala que uso pra montar meus artesanatos, e dois banheiros sociais. Atrás da casa, tem um caminho de pedra que dá acesso a uma casa menor, que é a casa de hóspedes, e conta com sala, cozinha, dois quartos e um banheiro social. A varanda é o meu lugar favorito, pois tem redes e balanços, e o vento a tarde faz qualquer um dormir. Fui me trocar, peguei o lenço que era da Kyra e coloquei no meu bolso, e logo saí pro centro. Comprei tudo o que precisava pra sair o mais rápido possível de lá, pois os ônibus com os turistas já estavam começando a chegar, muitos deles eram comerciantes de outras cidades, que vinham só pra fazer compras. Coloquei tudo dentro da minha caminhonete, quando passei por um ônibus, e vi uma mulher na janela, os cabelos dela me fizeram lembrar da Kyra, eu não consegui ver o rosto dela, e não dava pra voltar. — É claro que não é ela, eu estou tão obcecado em encontrá-la, que acabo vendo ela em todo canto que vou. Tirei isso da minha cabeça e voltei pra casa, pois eu tinha muito trabalho a fazer. Quando começo a trabalhar, eu costumo pensar bastante. E comecei a pensar em tudo o que minha irmã falou. Eu sei que no fundo ela tinha razão. É muita presunção minha, achar que a Kyra vive uma vida baseada em uma promessa. Eu sabia que a Cris estava sofrendo com o término, e mesmo assim não me sentia culpado. Eu nunca enganei ela sobre não querer construir uma família agora. Nunca dei esperanças pra ela de que eu queria casar, ela sabia que eu queria ser pai, mas eu não tinha esses planos com ela, e isso foi o que mais a magoou. Se eu pelo menos tivesse uma resposta, algo que fizesse eu ter certeza que a Kyra seguiu em frente, e está feliz. Porque na verdade, é isso que importa, que ela esteja feliz. Peguei o lenço dela do bolso e mais uma vez me perdi nas lembranças daquele dia. Do dia em que eu a abracei pela última vez. E não importa quantas vezes eu refaça na minha mente aquele abraço, a sensação sempre será a mesma, e a saudade nunca vai ter fim.KYRA..Me despedir da minha vó, foi uma das coisas mais dolorosas que tive que fazer, não que eu já não tenha passado por coisas piores, mas a minha vida é repleta de dores incuráveis. Eu quero que algo de bom aconteça, quero sentir o sabor que é ser feliz por completo. Entrei no ônibus em direção a São Sebastião e ainda terei que pegar a balsa pra chegar em Ilhabela, e eu não tinha como pagar a passagem de avião, pois tinha que economizar, por isso optei por ir de ônibus, eu não sabia nem onde eu ficaria hospedada, pois a casa passou muitos anos sem ninguém cuidando dela e com certeza vai precisar de reparos, então vou precisar achar um lugar barato pra me hospedar. Fechei os meus olhos na intenção de dormir, eu teria longas horas de viagem, e eu dormindo não veria o tempo passar. Passei a viagem toda dormindo, e aproveitava as paradas que o ônibus fazia pra me alimentar, e molhar o rosto.Eu precisava muito de uma cama, minhas costas já estavam bastante doloridas. Depois de m
DILAN..Estava muito claro que eu precisava de pessoas pra trabalhar comigo, eu trabalhando sozinho não rendia muito, só conseguia algumas peças de artesanatos por dia, quando eu deveria ter um grande volume de peças. Eu sempre me virei sozinho, mas estava mais do que na hora de dar o braço a torcer e proucurar ajuda, mas primeiro eu teria que calcular bem os meus gastos e ver quantas pessoas daria pra pagar.Era sempre a mesma coisa, um dia eu fazia a minha produção, e no outro dia saia pra vender e voltava sem nada.Não que isso seja uma coisa ruim, na verdade isso é muito bom, mas dava pra aumentar a produção das peças e lucrar mais.Desde que voltei do centro, eu não coloquei nada no estômago, eu sempre almoçava com o meu pai e a Danda, mas eu estava tão atolado com o trabalho que preferi fazer um lanche com as coisas que achei na geladeira. Depois de comer, peguei o meu celular e vi que tinham 8 ligações da Danda.Eu não retornei, mas peguei as chaves da caminhonete imediatam
KYRA..Eu estava tão cansada, que peguei no sono muito rápido, era sempre a mesma coisa, eu dormia e acordava pensando no Dilan. Eu ainda precisava fazer tantas coisas, dar uma volta na cidade, depois ir olhar a casa da minha mãe, ou o que restou dela. Eu não sabia se estava preparada pra entrar lá. Olhei no relógio e já eram 16:00hrs. Eu precisava sair pra merendar. Assim que cheguei na recepção, eu não encontrei mais a Cris, apenas a Dandara. Eu senti uma enorme vontade de perguntar se ela conhecia o Dilan, eu precisava buscar informações sobre ele. Afinal, eu estava na mesma cidade que o conheci, alguém ali poderia saber onde ele estava. — Boa tarde Dandara, onde está sendo servido a merenda da tarde? Dandara: Boa tarde Kyra, deixa que eu te levo lá. Fomos caminhando em silêncio até a parte de trás da pousada, onde tinha um espaço lindo, com mesas e cadeiras, rodeado de plantas e flores. Tudo na pousada era perfeitamente organizado. Eu vi um senhor, colocando as ba
DILAN..Os traços do rosto da Kyra permaneciam os mesmos. Meu mundo parou quando ela me abraçou. Eu a envolvi em meus braços, e cheirei os cabelos dela, e fechei os meus olhos, com medo de tudo ser um sonho. Eu podia sentir as batidas do coração dela, e então percebi que era real. Ela estava bem ali, acolhida no meu abraço, demonstrando sentir a mesma saudade que eu sentia. Passamos um tempo assim, apenas sentindo, se permitindo e vivendo o momento. Quando nos soltamos um do outro, prestei atenção num pequeno detalhe. Ela carregava o anel que eu havia dado a ela no pescoço. Eu peguei o anel, e depois a encarei. - Pensei que você tivesse esquecido de mim. Ela me olhou com carinho, e eu vi os olhos dela brilharem. Kyra: Eu não esqueci de você nem por um segundo Dilan. - Então porquê você demorou a vir Kyra? Kyra: Eu não queria ter que deixar a minha vó, e também não tinha grana o suficiente pra vim pra cá, até que ela disse que a casa que a minha mãe morava era minha
KYRA..Eu aproveitei cada minuto do meu abraço com o Dilan, depois que nos soltamos, ele viu o anel que eu carrego no pescoço que ele me deu quando nos separamos. Quando ele falou que achava que eu o tinha esquecido, me deu um frio na barriga, pois eu me lembrei das várias noites que eu passei sem dormir, só imaginando como ele estaria, com quem ele estaria, e se ele ainda pensava em mim. Assim como eu, ele também tinha vários questionamentos, como o fato de eu não ter o procurado antes. Eu não podia deixar a minha vó, e também não podia voltar sem dinheiro. Não que eu tenha dinheiro agora, mas pelo menos não vou precisar gastar dinheiro com aluguel por muito tempo. Por mais que a intenção do Dilan seja boa, em me chamar pra ficar na casa dele, não acho que seja adequado, afinal, ele mudou, eu não o conheço mais. Eu estou presa no que ele foi pra mim quando criança, mas muito tempo havia passado e a gente precisava tirar algumas coisas a limpo, e a moça da recepção seria um
Eu queria que o Dilan tivesse sido feliz, não que ele tivesse se fechado para o mundo.Quando o seu Dário foi descansar, eu achei melhor me despedir e ir pro meu quarto também, mas a Dandara me chamou pra jantar.Eu não queria receber tratamento diferenciado, os outros hóspedes poderiam estranhar e não gostar, mas daí ela me chamou de "Família", e eu realmente sentia que fazia parte dela, então eu fui, carregada pela Dandara, e ainda escutei as piadinhas do Dilan, dizendo que iria me perder pra irmã dele.Sentamos na mesa, e ficamos conversando sobre vários assuntos, enquanto o Dilan me olhava a cada meio segundo. Era nítido a vontade que ele tinha de ficar a sós comigo, e me enxer de perguntas.Uma das coisas que o Dilan não consegue esconder, é a ansiedade dele.Dandara: Kyra, você é solteira?Dilan: Dandara, deixa de ser entrona , fica quieta.Dandara: O que é Dilan? Você mesmo está se segurando pra não perguntar isso a ela.Fiquei rindo dos dois, que pareciam dois adolescentes.—
DILAN..Será que toda irmã é assim? intrometida?A minha vem batendo recordes dia após dia.Mas é claro que eu queria saber se a Kyra estava solteira, mas a pergunta da Dandara veio cedo demais, poderia assustar a Kyra.Nós não prometemos no casar, ou construir uma família, apenas prometemos não nos separar mais, mas acho que isso foi levado pra outro lado ao longo dos anos.Muitas expectativas foram criadas, pelo menos da minha parte, mas era preciso ter calma e paciência pra entender melhor os anos que passamos separados. Mas de uma coisa eu tenho certeza, a Kyra é uma mulher espetacular. Eu não pude deixar de olhá-la durante o jantar, ela é incrivelmente linda.Depois de tantas inconveniências vindo da Danda, ela finalmente nos deixou a sós, mas fiquei frustrado quando a Kyra disse que estava na hora de ir pro quarto, o que era compreensível, já que ela precisava fazer contato com a vó dela.Quando fomos caminhando até o quarto, fiquei muito incomodado. Eu não gosto da ideia de
Depois de alguns minutos, fui caminhando até a saída, e quando passei pela recepção, a cara da Cris já estava vermelha. Foi impossível não parar. Dandara: Agora não é o momento Dilan.— Cris, você sabe que a gente precisa conversar não sabe?Ela continuou me ignorando. Dandara: Dilan, já falei que agora não.Balancei a cabeça em negativa e fui pra fora da pousada, onde a Kyra já me aguardava. Kyra: Eu acho que não vai ser legal eu continuar na pousada da sua irmã, Dilan.— Então vem pra minha casa, Kyra.Kyra: Não, eu já falei. Vamos ver a situação da casa, dependendo de como ela está, eu vejo o que faço.Entramos na minha caminhonete e fomos.A casa é bem perto da praia, mas ficava pro lado da mata, e um pequeno percurso era preciso ser feito a pé.Paramos a caminhonete, e pegamos uma pequena trilha, que já estava toda fechada por plantas e galhos.— Cuidado aí Kyra.Avisei, mas foi impossível evitar que ela se cortasse. Um galho feriu a pele dela, mas não foi profundo. — Deixa