Capítulo 3 - Preparação

Eugênia fica encolhida no canto da cela, esperando o nascer do sol. Com a luz da manhã, vê uma mulher de aparência cadavérica, sem roupas e com garras enormes. Inicialmente com medo, ela percebe que a mulher também é prisioneira e seu receio diminui.

— Não tenha medo, mesmo que eu quisesse te fazer mal, não poderia atrás dessas malditas grades. — A mulher disse, tentando tranquilizá-la.

— Você não é como eles, pelo menos não igual fisicamente! — Eugênia respondeu, sentindo-se mais calma com a presença da estranha.

A mulher explicou que foi um monstro no passado, mas decidiu não se alimentar de humanos ao cair da lua cheia. Ela agora estava no "entremeio", nem lobo, nem humano, e por isso foi aprisionada por um motivo diferente.

— Meu nome é Jane, e o seu? — Ela perguntou.

— Sou Eugênia, a filha mais nova de Elizabeth e Anthony. — Eugênia respondeu, percebendo um leve sorriso tímido no rosto de Jane.

As duas começaram a conversar sobre suas origens e sobre a vila de Eugênia, que se protegia dos licantropos. Jane ouviu sobre a forma como viviam e como se apoiavam mutuamente.

— Precisamos de sangue, e se não derem a ele por bem, Alfa e seus seguidores tirarão por mal. — Jane explicou sobre as necessidades dos licantropos.

Eugênia se revoltou com o pacto injusto que sua vila tinha com os lycans, onde eram forçados a entregar vidas em sacrifício. Ela questionou por que não poderiam coexistir em paz no mesmo mundo.

— Essa é a paz, enquanto derem o que ele quer. — Jane respondeu irônica.

Determinada a mudar as coisas, Eugênia se levantou e aproximou-se da grade, prometendo tirar Jane da prisão e lutar por um mundo diferente.

— Vou te tirar daqui assim que puder, e você vai me ajudar a tornar esse mundo diferente do que é hoje. — Eugênia declarou, olhando para Jane com confiança.

Jane sorriu para ela e junto a sua risada, um som não humano ecoou por todas as celas.

— Gosto da sua confiança e coragem, garota. Gostaria de acreditar que você consiga fazer tudo o que pretende. — Jane respondeu.

— Você vai ver que sim! — Eugênia respondeu com determinação, sentindo uma força interior que a impulsionava a lutar contra algo muito maior e mais poderoso que ela.

Alfa se prepara para o banquete observando seus súditos trazendo prisioneiros. Em seguida, ele se adorna com suas joias características, desce as escadas e encontra Radesh, seu fiel servo, esperando com a mesa já posta.

— Preparei sua comida, meu amo! — Radesh fez uma reverência, como de costume.

O jantar de sacrifício estava nos planos, após os jogos da noite. Porém, desta vez, algo estava diferente. Alfa mencionou que dependia de uma conversa que teria com Eugênia, a jovem prisioneira da masmorra. A declaração surpreendeu Radesh, que raramente via seu mestre questionar suas próprias decisões.

Inseguro, Radesh arriscou falar:

— Perdoe-me pelo atrevimento, mas nunca vi o senhor colocar suas decisões nas mãos de outra pessoa.

— Seu papel aqui é me servir e não questionar. — Retrucou Alfa enquanto comia, deixando claro sua autoridade.

No entanto, Alfa decidiu levar um regalo para Eugênia como uma tentativa de barganha por sua vida. Pediu que Radesh preparasse uma bandeja com frutas e um bom vinho.

Radesh ficou intrigado com aquela mudança de comportamento:

“Nunca vi o mestre servir qualquer outro e menos um humano, essa mulher deve ser muito poderosa.” Pensou Radesh, enquanto atendia a ordem do Alfa.

Alfa chegou à masmorra e ordenou:

— Abra a cela!

Alfa observou Eugênia sentar-se no velho banco que servia como cama na masmorra, colocando a bandeja de comida à sua frente. Ela hesitou por um momento, mas, faminta, começou a comer devagar. Alfa se aproximou, desejando provar a doçura dos lábios dela e mostrando seu poder sobre a jovem.

— Viu como é muito mais doce fazer o que eu mando? — Ironizou, tentando exercer seu domínio sobre ela.

— Só quero que deixe meu povo viver em paz. — Ela implorou tentando não me olhar nos olhos mais uma vez.

— Apenas te trouxe comida, não sabia que tinha trazido como prisioneira uma conselheira.

— Assim como você, eu só quero proteger os meus.

— Você pode ser nobre em meio aos humanos, uma verdadeira princesa. Não é assim que seu povo te chama lá fora? — Alfa sorriu.

Mas Eugênia não se abalava facilmente e continuava a enfrentá-lo com coragem.

— Não sou princesa de lugar algum, senhor, por favor deixe nosso povo em paz. Juro que minha família e eu partiremos desse lugar antes da próxima lua cheia! — Implorou ela.

Alfa, por sua vez, deixou claro que permitiria sua família partir, mas o resto da vila permaneceria, e o sacrifício aconteceria como de costume. Ainda que tentasse intimidá-la, Eugênia permaneceu firme em suas convicções, valorizando o amor e a proteção de seu povo.

— Você é corajosa, Eugênia, muito mesmo. Mas não está agindo com inteligência ao me enfrentar. — Disse Alfa, tentando persuadi-la.

Eugênia, em um ato de rebeldia, se levantou irritada e proclamou seu amor pelas pessoas que protegia. Alfa, com seu poder sobrenatural, imobilizou Eugênia, deixando-a consciente, mas sem controle sobre seu próprio corpo.

A tensão entre os dois era palpável, e Alfa estava diante de uma escolha: usar seu poder para manipulá-la ou respeitar sua vontade e decisões.

Eugênia permanecia parada, incapaz de controlar seus movimentos diante do poder avassalador do homem à sua frente. Mesmo que desejasse escapar, era como se estivesse presa em correntes invisíveis, totalmente à mercê dele. Sentiu um arrepio quando o homem forte a abraçou, erguendo seus cabelos e lambendo seus lábios de forma quase predatória, deixando-a vulnerável e indefesa.

Por mais que quisesse pedir que ele parasse, nenhuma palavra saía de sua boca e ela se viu obrigada a aceitar suas ações. Uma lágrima escapou de seu olho esquerdo, demonstrando sua angústia e impotência perante aquela situação.

— Você é minha, só minha, e posso fazer o que eu quiser com você. — A voz dele ecoou em seus ouvidos, reafirmando seu domínio sobre ela. Mesmo que suas palavras soassem como uma declaração de posse, Eugênia sentia um ar sombrio de romantismo envolvendo-as.

Logo em seguida, ele a libertou do transe, permitindo que retomasse o controle de seu próprio corpo. Eugênia afastou-se rapidamente, ainda em choque com terrível experiência vivida.

— Nunca mais faça isso comigo! — Exclamou, afastando-se ainda mais e tocando-se para se certificar de que estava intacta.

O Alfa mostrou-se seguro de si, afirmando que conseguiria dominá-la sem precisar recorrer ao seu poder sobrenatural. Eugênia não se intimidou, desafiando-o diretamente.

— Então, liberte Jane! — Pediu a ele, sem demonstrar medo em suas palavras.

Ele virou-se em direção à cela de Jane, expressando certo desdém pela prisioneira.

— Já está presa há tantos anos que quase me esqueci de sua existência. Por que deseja a liberdade de alguém que pode destroçar sua garganta facilmente? — Questionou, ainda fixando o olhar na cela onde Jane estava aprisionada.

Mas Eugênia era diferente, conseguia ver além das aparências e enxergar a alma das pessoas. Mesmo diante de toda a maldade do homem à sua frente, ela conseguia vislumbrar um resquício de bondade em Jane.

— Posso enxergar a alma dela, e ainda existe algo de bom. — Revelou, mantendo-se firme.

O homem deu alguns passos em sua direção, olhando para ela de forma intensa.

— E na minha, o que vê? — Indagou, desviando o olhar para os lábios dela.

Sem hesitar, Eugênia respondeu com coragem.

— Você não tem alma!

Enquanto isso, na vila, Elizabeth lamentava não ter saído de casa e permitido que aquele animal levasse sua filha. Thor desejava profundamente entrar naquele castelo e resgatá-la, mas estava impedido de romper a promessa que fizera a Eugênia de não ir até lá.

— Eugênia está nas mãos daquele crápula! — Thor andava de um lado para o outro, o medo crescendo à medida que o tempo passava.

— E isso se ela ainda estiver viva, tudo por sua culpa. — Anthony respondeu em tom de acusação.

Ele agarrou o enteado pela gola da camisa, ameaçando agredi-lo, mas foi contido por Elizabeth.

— Por favor, pare! Ele é seu filho e já tivemos sofrimento demais por uma noite!

— Papai sempre fez diferença entre nós, não sei por que, mas sempre amou muito mais minha irmã do que eu. — Desabafou Thor.

— Está enganado, Thor. Eu te amo e daria a vida por vocês dois. — Respondeu Anthony com lágrimas nos olhos.

— Minha pequena não pode estar morta, não pode! — Elizabeth chorou, sendo amparada pelos braços do marido.

— Ele não vai matá-la, vi o modo como a olhava. Minha irmã despertou o desejo naquele monstro, e temo pelo que possa estar passando em suas mãos. — Thor fechou o punho, decidido a arriscar sua própria vida. Precisava fazer algo por ela, mesmo que soubesse que estava colocando sua própria vida em risco.

Em Sangria, Alfa e Eugênia continuavam a medir forças...

— Ainda não me respondeu, vai libertar Jane? — Eugênia questionou com determinação.

— O que ganho se eu concretizar isso, Eugênia? — Alfa retrucou.

— Peça algo, desde que não perca o respeito e seja um cavalheiro. — Ela temia o que ele poderia pedir.

Ele sorriu debochando do pedido, mas Eugênia sabia que ele gostava de se divertir com seu medo.

— Quero que jante comigo esta noite e depois... — Alfa começou a dizer.

— Depois voltarei para cá! — Ela respondeu altiva e claramente.

— Não, princesa, te darei um quarto lá em cima. Mas não se sinta tão honrada, não será o meu quarto. — Ele sorriu irônico e devasso.

— Então temos um acordo, Alfa. Dê a ordem para soltarem Jane. — Eugênia firmou sua posição.

— Radesh! — Ele gritou para o cruel e horripilante monstro que o servia.

— Sim, amo.

— Solte Jane.

— Mas, senhor, ela foi condenada a passar toda a vida presa nessa cela e...

— Não discuta, apenas faça o que mandei. — Alfa olhava para Eugênia ao dar aquela ordem, parecia ainda estudá-la com interesse.

Eugênia libertou Jane da masmorra, mesmo sabendo que a jovem seria usada como alimento pelo monstro Alfa. Ao saírem juntos, ela se sentia como um estranho no meio dos seguidores de Alfa, um cordeiro entre leões.

— Não fique com medo, minha linda. Você está imune enquanto eu quiser. — Ele sorria, afastando os monstros de sua prisioneira; tão poderoso que, se ordenasse a eles que tirassem a própria vida, eles fariam isso.

Chegaram até o saguão do castelo, tudo era de ótimo gosto apesar da escuridão. Uma mulher se aproximou e beijou os lábios dele, perguntando:

— Então ela é nosso jantar?

— Não, hoje Dana, Eugênia virá para jantar como minha convidada de honra. — Respondeu o Alfa, e ela olhou Eugênia com ira; a jovem não compreendia por que, mesmo sendo inferior a eles, segundo suas próprias crenças, ainda a viam como rival.

— Quero que deem a ela o melhor vestido, sabem como gosto que se vistam. Cubram-na de joias e assegurem-se de que seja tratada como uma rainha!

— Pode deixar, meu amo, cuidarei bem dela.

Alfa soltou a mão de Eugênia e agarrou o pescoço de Dana com as duas mãos; ela mostrou as presas para ele em defesa própria.

— Sabe o que acontece quando desacatam minhas ordens, não é Dana?

— Por favor, deixe-a em paz! — Eugênia implorou com medo de ver a morte de Dana, mas os dois pareciam estar em uma briga comum.

Ele a soltou, as marcas de suas mãos ficaram na pele dela.

— Venha comigo. — Dana levou Eugênia para cima. Alfa ficou a olhá-la subir as escadas. Entraram em um dos quartos, lá encontraram mais duas garotas belas como elas. Dana era como Eugênia, morena, com a pele clara, porém cabelos cacheados; as outras tinham biotipos distintos, uma oriental e uma negra.

— Já nos trouxe o jantar?

— Se encostar as garras nela Sue, Alfa devora suas vísceras. — Dana sorriu para a outra.

— Ela é só uma reles humana e fede a sua raça. — Mais uma das suas amantes do Alfa ali estava, eram três.

— Não sei o que essa aqui tem de especial, mas ele a quer viva e bela para o jantar de hoje.

— Lilith foi estúpida ao trair o mestre, agora sequer poderá fazer amor novamente.

— Melhor para nós!

Elas se sentiam honradas em se deitar com ele, ser mais uma em sua cama desde que tivessem as regalias de viver em meio ao luxo. Eugênia jamais aceitaria se sujeitar a tal situação, ainda que sua vida dependa disso.

Tiraram as roupas dela e a puseram em uma banheira com ervas aromáticas, e ali havia incenso de mirra.

— O mestre adora esse cheiro, disse que faz recordar coisas do passado. — Disse Dana, jogando a infusão de ervas na água do banho.

— Não vai dizer nada? — A outra perguntava a Eugênia.

— Quais serão suas últimas palavras? — Hellen sorria.

— Qual de vocês escolheu estar com ele? — Ao questionar as três mulheres, a prisioneira Eugênia notou que elas perderam o sorriso e ficaram surpresas. Continuaram a banhá-la sem demonstrar afeto, pois nenhuma delas havia escolhido aquele destino. Depois, a vestiram com um elegante vestido vermelho de cetim, adornando-a com brincos dourados e anéis em sua mão direita.

Gotas de um perfume ótimo foram aplicadas, e os cabelos de Eugênia foram mantidos soltos.

— Ele gosta de cabelos assim ao natural, o seu é como o meu, negro feito a noite. Porém, liso como o tecido do vestido que está usando. — Diz Dana, olhando para a jovem rival.

Ao ver Eugênia tão bela, todas sentiram ciúmes. Ela parou na frente do grande espelho, que era a única peça de prata que existia naquele lugar. Em seu aposento, Alfa preparava a túnica mais elegante e se arrumava para o banquete.

A proximidade da jovem inquietava Alfa, que se recusava a sentir qualquer emoção por alguém tão insignificante. O banquete iminente era uma oportunidade para reafirmar seu domínio sobre ela e mantê-la como sua presa. Determinado a não ceder a sentimentos humanos, Alfa se via como o líder supremo e impiedoso, um monstro sem fraquezas.

— O senhor já está pronto? — Perguntou Radesh, ao ver Alfa arrumar os punhos da túnica.

— Sim, peça que minhas fêmeas desçam, elas já sabem que não tolero atrasos sob nenhuma hipótese. — Desceu as escadas, ele sempre gostava de esperar por elas ali no final dela. Na noite após os banquetes, Alfa copulava com uma ou até mesmo duas delas e isso as deixava ansiosas. Naquela noite, ele já tinha a escolhida antes mesmo de começar a celebração de sacrifício.

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