Capítulo 2 - Nas garras do alfa

Eugênia fechou os olhos, assim como Thor, preparando-se para morrer abraçados diante de seu povo. Porém, ao ouvir a lâmina do monstro sendo guardada e a gargalhada macabra dele e seus seguidores, ela abriu os olhos.

— Certo, fêmea, façamos então uma troca. — O Alfa a olhou nos olhos e percebeu que não havia medo em seu olhar.

— Que tipo de troca? — Perguntou Eugênia, determinada a enfrentar a situação.

— Temos um trato selado há anos para não misturarmos nosso sangue, e seu irmão quebrou o acordo ao se envolver com essa estúpida ao meu lado direito. Troco a vida do seu audacioso irmão pela sua.

— De jeito nenhum, Eugênia não tem culpa do que eu fiz! — Thor segurou-a ainda mais, relutante em deixá-la ir.

— Eu aceito! — Decidiu Eugênia, aceitando o destino que se impunha.

O Alfa estendeu a mão para ela, mas Thor não queria soltá-la, lutando para mantê-la protegida.

— Jure que não virá atrás de mim ou toda a nossa família sofrerá as consequências. — Ela pediu para o irmão, ciente de que ele não cumpriria a promessa.

— Não, por favor! — Implorou Thor.

Todos os monstros ao redor empunhavam adagas, prontos para derramar sangue caso Eugênia não fosse com o Alfa. Entre lágrimas, Thor a soltou e Eugênia o olhou sabendo que aquele poderia ser o último momento em que se veriam.

Eugênia foi capturada pela cintura e levada pelo Alfa em seu cavalo, sentindo a respiração quente do líder Lycan agitar seus cabelos negros. À medida que eram levados, o bosque que antes era vivo e exuberante se tornou seco e mórbido, refletindo a escuridão que os aguardava no castelo.

Chegaram ao castelo, onde tudo era negro como a noite, e um enorme portão se abriu para recebê-los. Eugênia olhava ao redor, buscando forças para resistir a todas as dores que estavam por vir.

— Trouxe uma prisioneira, que honra você lhe deu ao adentrar nossos portões ainda respirando. — Radesh, um dos seguidores do Alfa, estava surpreso ao ver o líder com uma prisioneira.

— Ela é especialmente intrépida e linda. Guarde-a e não a deixe se alimentar até que eu permita. — Ordenou o Alfa, desafiando-se a olhar para o rosto de Eugênia, uma prisioneira diferente das demais.

— Sim, meu amo. — Radesh concordou e levou Eugênia para ser aprisionada no castelo, onde aguardaria seu destino sombrio nas mãos do líder dos Lycans.

O homem, cujos dentes eram de ouro, amarrou as mãos de Eugênia e a conduziu para uma masmorra sob o castelo. Tudo era extremamente escuro e havia prisioneiros em celas ao redor, mas pelos sons que emanavam deles, não parecia ser humano. Ele a empurrou para uma cela que, felizmente, estava vazia. A jovem olhou em todas as direções em busca de uma saída, encolhendo-se em um canto onde a luz ainda incidia, embora em pequena quantidade. O odor no ambiente era de carne em decomposição, desde que chegou naquele lugar, ela não viu nada que tivesse cor ou luz.

O Alfa, enfurecido pela jovem de semblante inocente e belo que o desafiara perante os mortais, decidiu mostrar-lhe todo o seu poder. Dirigiu-se ao seu aposento e Lilith aproximou-se dele. Sem hesitar, ele despiu-se completamente e entrou em sua banheira de bronze para se lavar.

— Por favor, meu mestre, perdoe meus instintos sexuais. Prometo que nunca mais me deitarei com um mortal! — Lilith clamava por perdão, ajoelhada diante dele.

Alfa puxou seus cabelos com força, trazendo seu rosto para junto do dele.

— Está rebaixada a mais uma criada e nunca mais será minha. De agora em diante, o licantropo que te tocar como mulher terá a cabeça decepada e seu corpo entregue aos porcos!

— Não pode me condenar a viver sem luxúria, mestre, ainda mais após ter provado todos os prazeres em seu leito por todos esses anos.

— Fez sua escolha, Lilith. Agora, desapareça da minha frente antes que eu mesmo corte sua cabeça vazia e estúpida.

Lilith saiu correndo. O Alfa foi se banhar e ficou pensando em sua mais ilustre prisioneira. Vestiu suas roupas e desceu até a masmorra, seus olhos eram treinados para enxergar na escuridão. Lá encontrou Eugênia deitada no canto em posição fetal. Ele respirou fundo para farejar seu medo, e aquilo lhe dava prazer.

— Abram a cela! — Ordenou o Alfa aos seus súditos.

Eugênia se sentou ao ouvir a voz do Alfa, ele entrou e se abaixou para olhar em seus olhos.

— Veio ter a certeza de que eu não escapei? — Sempre altiva, ela era, sem dúvidas, a prisioneira mais célebre que ele já teve.

— Disso eu não tenho dúvida, bela. Você é apenas uma humana, poeira debaixo dos meus sapatos. — Nem com as duras palavras dele, ela se abalava.

— Se acha superior a nós, eu tenho pena do que você é e de todos os humanos que transformou em monstros como você! — O Alfa observou o nome que havia gravado em seu colar, Eugênia!

Alfa se levantou, agarrando Eugênia com força e pressionando seu corpo contra a parede fria daquela prisão. Suas presas surgiram e seus olhos se tornaram amarelos. Ele farejou o medo dela aumentar e seu coração acelerar em questão de segundos, tão frágil, tão linda. Seu cheiro era suave como o das flores-do-campo.

Ele constatou que o pulso dela sangrava, havia ferido sua pele frágil, ainda que aquela não tivesse sido sua intenção. Rasgou uma tira de tecido da túnica que usava e amarrou sobre o ferimento. Eugênia o olhava com uma expressão que mesclava medo e dúvida por aquele ato de ajuda.

— Ajoelhe-se e implore pelo lugar de Lilith, e eu te tornarei uma de minhas fêmeas.

— Prefiro morrer do que ser mais uma de suas escravas! — Eugênia gritou em revolta.

Alfa sorriu.

— Se nega ao privilégio que estou te dando? Seria a única humana em minha cama, desde muitos e muitos anos.

— Ser sua amante não é um privilégio e sim uma condenação a qualquer mulher, seja ela viva ou uma criatura.

— Já que prefere o meu lado sombrio ao invés do prazer, você o terá! — Ele saiu da cela e mandou que a trancassem novamente. — Mantenham-na sem comida até que deixe de ser tão orgulhosa!

Voltou para o seu quarto, haviam inúmeras fêmeas com as quais ele poderia aliviar todo o seu ódio em forma de prazer. Mas nenhuma delas o excitava como aquela jovem morena, de pele tão alva quanto a neve e olhos mais verdes que as videiras mais belas da floresta.

Por que ela se negava a estar com ele? Sua vida estava nas mãos dele, assim como a de toda aquela vila de mortais, para ele estúpidos. Bastava que o Alfa desse uma pequena ordem para que Eugênia deixasse de existir. Ainda assim, ela o desafiava e se negava a ser dele. Isso alimentava seus instintos, fazendo com que ele a desejasse mais e mais.

Eugênia pensava em como estariam seus pais, temia pelo destino de Thor e sua tentativa de resgatá-la daquele lugar. Ela esperava que todos os seus sacrifícios pudessem garantir a segurança de seu povo. Apesar do medo que sentia, estava determinada a ser forte. As palavras de sua mãe ecoavam em sua mente, lembrando-a de que cada ser humano carrega dentro de si a capacidade de vencer. Eugênia precisava resistir por todos eles.

Ela se levantou na cela e ouviu um sussurro vindo da cela ao lado.

— Quem está aí? — Perguntou, sentindo o coração acelerar.

— Alguém com quem é inútil falar. — Respondeu a voz misteriosa.

— Me sinto tão sozinha, há quanto tempo você está aqui? — Eugênia insistiu, buscando algum tipo de companhia.

— Há tantos anos que sequer posso me lembrar. — A voz respondeu, carregada de tristeza.

— E o que fizeram para te prender? — Eugênia indagou, imaginando se ela também havia se recusado a deitar com o Alfa.

— Não quero falar sobre isso, é uma história triste. — A voz soou evasiva.

— Você é humana como eu? — Eugênia perguntou, curiosa sobre a identidade da pessoa.

— Não, isso muda alguma coisa para você? — Respondeu com uma pitada de amargura.

— Não importa, podemos pelo menos conversar e assim não ficaremos tão sozinhas. — Eugênia propôs, desejando estabelecer uma conexão mesmo naquelas circunstâncias sombrias.

— Eu ouvi tudo o que ele disse a você. Não tente medir forças com ele, o mestre jamais perde e, se ele te escolheu, fará tudo para ser dele. Até mesmo dizimar as pessoas que você ama! — A voz alertou, como se tentasse protegê-la do destino cruel que a aguardava.

Eugênia se abaixou, sentando-se no chão da cela, e pôde vislumbrar a silhueta da misteriosa pessoa através do escuro das grades.

— Estou com frio. — Eugênia murmurou, sentindo o ar gélido daquela noite.

— O bom de não ser humano é não sentir tais sensações. — Respondeu a prisioneira, com uma voz desprovida de emoções.

Eugênia ouviu um rato sendo destroçado e perguntou:

— O que você fez?

— Apenas garanti o jantar de todos os dias. Se você quer vencer o seu algoz, deve fazer o mesmo que eu! — A prisioneira respondeu, demonstrando certa indiferença.

Eugênia se viu questionando se ela também se tornaria alguém como aquela prisioneira. Será que seu destino seria decidido em breve? O medo e a impotência a envolviam enquanto enfrentava as sombrias possibilidades à sua frente.

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