Eugênia fechou os olhos, assim como Thor, preparando-se para morrer abraçados diante de seu povo. Porém, ao ouvir a lâmina do monstro sendo guardada e a gargalhada macabra dele e seus seguidores, ela abriu os olhos.
— Certo, fêmea, façamos então uma troca. — O Alfa a olhou nos olhos e percebeu que não havia medo em seu olhar.
— Que tipo de troca? — Perguntou Eugênia, determinada a enfrentar a situação.
— Temos um trato selado há anos para não misturarmos nosso sangue, e seu irmão quebrou o acordo ao se envolver com essa estúpida ao meu lado direito. Troco a vida do seu audacioso irmão pela sua.
— De jeito nenhum, Eugênia não tem culpa do que eu fiz! — Thor segurou-a ainda mais, relutante em deixá-la ir.
— Eu aceito! — Decidiu Eugênia, aceitando o destino que se impunha.
O Alfa estendeu a mão para ela, mas Thor não queria soltá-la, lutando para mantê-la protegida.
— Jure que não virá atrás de mim ou toda a nossa família sofrerá as consequências. — Ela pediu para o irmão, ciente de que ele não cumpriria a promessa.
— Não, por favor! — Implorou Thor.
Todos os monstros ao redor empunhavam adagas, prontos para derramar sangue caso Eugênia não fosse com o Alfa. Entre lágrimas, Thor a soltou e Eugênia o olhou sabendo que aquele poderia ser o último momento em que se veriam.
Eugênia foi capturada pela cintura e levada pelo Alfa em seu cavalo, sentindo a respiração quente do líder Lycan agitar seus cabelos negros. À medida que eram levados, o bosque que antes era vivo e exuberante se tornou seco e mórbido, refletindo a escuridão que os aguardava no castelo.
Chegaram ao castelo, onde tudo era negro como a noite, e um enorme portão se abriu para recebê-los. Eugênia olhava ao redor, buscando forças para resistir a todas as dores que estavam por vir.
— Trouxe uma prisioneira, que honra você lhe deu ao adentrar nossos portões ainda respirando. — Radesh, um dos seguidores do Alfa, estava surpreso ao ver o líder com uma prisioneira.
— Ela é especialmente intrépida e linda. Guarde-a e não a deixe se alimentar até que eu permita. — Ordenou o Alfa, desafiando-se a olhar para o rosto de Eugênia, uma prisioneira diferente das demais.
— Sim, meu amo. — Radesh concordou e levou Eugênia para ser aprisionada no castelo, onde aguardaria seu destino sombrio nas mãos do líder dos Lycans.
O homem, cujos dentes eram de ouro, amarrou as mãos de Eugênia e a conduziu para uma masmorra sob o castelo. Tudo era extremamente escuro e havia prisioneiros em celas ao redor, mas pelos sons que emanavam deles, não parecia ser humano. Ele a empurrou para uma cela que, felizmente, estava vazia. A jovem olhou em todas as direções em busca de uma saída, encolhendo-se em um canto onde a luz ainda incidia, embora em pequena quantidade. O odor no ambiente era de carne em decomposição, desde que chegou naquele lugar, ela não viu nada que tivesse cor ou luz.
O Alfa, enfurecido pela jovem de semblante inocente e belo que o desafiara perante os mortais, decidiu mostrar-lhe todo o seu poder. Dirigiu-se ao seu aposento e Lilith aproximou-se dele. Sem hesitar, ele despiu-se completamente e entrou em sua banheira de bronze para se lavar.
— Por favor, meu mestre, perdoe meus instintos sexuais. Prometo que nunca mais me deitarei com um mortal! — Lilith clamava por perdão, ajoelhada diante dele.
Alfa puxou seus cabelos com força, trazendo seu rosto para junto do dele.
— Está rebaixada a mais uma criada e nunca mais será minha. De agora em diante, o licantropo que te tocar como mulher terá a cabeça decepada e seu corpo entregue aos porcos!
— Não pode me condenar a viver sem luxúria, mestre, ainda mais após ter provado todos os prazeres em seu leito por todos esses anos.
— Fez sua escolha, Lilith. Agora, desapareça da minha frente antes que eu mesmo corte sua cabeça vazia e estúpida.
Lilith saiu correndo. O Alfa foi se banhar e ficou pensando em sua mais ilustre prisioneira. Vestiu suas roupas e desceu até a masmorra, seus olhos eram treinados para enxergar na escuridão. Lá encontrou Eugênia deitada no canto em posição fetal. Ele respirou fundo para farejar seu medo, e aquilo lhe dava prazer.
— Abram a cela! — Ordenou o Alfa aos seus súditos.
Eugênia se sentou ao ouvir a voz do Alfa, ele entrou e se abaixou para olhar em seus olhos.
— Veio ter a certeza de que eu não escapei? — Sempre altiva, ela era, sem dúvidas, a prisioneira mais célebre que ele já teve.
— Disso eu não tenho dúvida, bela. Você é apenas uma humana, poeira debaixo dos meus sapatos. — Nem com as duras palavras dele, ela se abalava.
— Se acha superior a nós, eu tenho pena do que você é e de todos os humanos que transformou em monstros como você! — O Alfa observou o nome que havia gravado em seu colar, Eugênia!
Alfa se levantou, agarrando Eugênia com força e pressionando seu corpo contra a parede fria daquela prisão. Suas presas surgiram e seus olhos se tornaram amarelos. Ele farejou o medo dela aumentar e seu coração acelerar em questão de segundos, tão frágil, tão linda. Seu cheiro era suave como o das flores-do-campo.
Ele constatou que o pulso dela sangrava, havia ferido sua pele frágil, ainda que aquela não tivesse sido sua intenção. Rasgou uma tira de tecido da túnica que usava e amarrou sobre o ferimento. Eugênia o olhava com uma expressão que mesclava medo e dúvida por aquele ato de ajuda.
— Ajoelhe-se e implore pelo lugar de Lilith, e eu te tornarei uma de minhas fêmeas.
— Prefiro morrer do que ser mais uma de suas escravas! — Eugênia gritou em revolta.
Alfa sorriu.
— Se nega ao privilégio que estou te dando? Seria a única humana em minha cama, desde muitos e muitos anos.
— Ser sua amante não é um privilégio e sim uma condenação a qualquer mulher, seja ela viva ou uma criatura.
— Já que prefere o meu lado sombrio ao invés do prazer, você o terá! — Ele saiu da cela e mandou que a trancassem novamente. — Mantenham-na sem comida até que deixe de ser tão orgulhosa!
Voltou para o seu quarto, haviam inúmeras fêmeas com as quais ele poderia aliviar todo o seu ódio em forma de prazer. Mas nenhuma delas o excitava como aquela jovem morena, de pele tão alva quanto a neve e olhos mais verdes que as videiras mais belas da floresta.
Por que ela se negava a estar com ele? Sua vida estava nas mãos dele, assim como a de toda aquela vila de mortais, para ele estúpidos. Bastava que o Alfa desse uma pequena ordem para que Eugênia deixasse de existir. Ainda assim, ela o desafiava e se negava a ser dele. Isso alimentava seus instintos, fazendo com que ele a desejasse mais e mais.
Eugênia pensava em como estariam seus pais, temia pelo destino de Thor e sua tentativa de resgatá-la daquele lugar. Ela esperava que todos os seus sacrifícios pudessem garantir a segurança de seu povo. Apesar do medo que sentia, estava determinada a ser forte. As palavras de sua mãe ecoavam em sua mente, lembrando-a de que cada ser humano carrega dentro de si a capacidade de vencer. Eugênia precisava resistir por todos eles.
Ela se levantou na cela e ouviu um sussurro vindo da cela ao lado.
— Quem está aí? — Perguntou, sentindo o coração acelerar.
— Alguém com quem é inútil falar. — Respondeu a voz misteriosa.
— Me sinto tão sozinha, há quanto tempo você está aqui? — Eugênia insistiu, buscando algum tipo de companhia.
— Há tantos anos que sequer posso me lembrar. — A voz respondeu, carregada de tristeza.
— E o que fizeram para te prender? — Eugênia indagou, imaginando se ela também havia se recusado a deitar com o Alfa.
— Não quero falar sobre isso, é uma história triste. — A voz soou evasiva.
— Você é humana como eu? — Eugênia perguntou, curiosa sobre a identidade da pessoa.
— Não, isso muda alguma coisa para você? — Respondeu com uma pitada de amargura.
— Não importa, podemos pelo menos conversar e assim não ficaremos tão sozinhas. — Eugênia propôs, desejando estabelecer uma conexão mesmo naquelas circunstâncias sombrias.
— Eu ouvi tudo o que ele disse a você. Não tente medir forças com ele, o mestre jamais perde e, se ele te escolheu, fará tudo para ser dele. Até mesmo dizimar as pessoas que você ama! — A voz alertou, como se tentasse protegê-la do destino cruel que a aguardava.
Eugênia se abaixou, sentando-se no chão da cela, e pôde vislumbrar a silhueta da misteriosa pessoa através do escuro das grades.
— Estou com frio. — Eugênia murmurou, sentindo o ar gélido daquela noite.
— O bom de não ser humano é não sentir tais sensações. — Respondeu a prisioneira, com uma voz desprovida de emoções.
Eugênia ouviu um rato sendo destroçado e perguntou:
— O que você fez?
— Apenas garanti o jantar de todos os dias. Se você quer vencer o seu algoz, deve fazer o mesmo que eu! — A prisioneira respondeu, demonstrando certa indiferença.
Eugênia se viu questionando se ela também se tornaria alguém como aquela prisioneira. Será que seu destino seria decidido em breve? O medo e a impotência a envolviam enquanto enfrentava as sombrias possibilidades à sua frente.
Eugênia fica encolhida no canto da cela, esperando o nascer do sol. Com a luz da manhã, vê uma mulher de aparência cadavérica, sem roupas e com garras enormes. Inicialmente com medo, ela percebe que a mulher também é prisioneira e seu receio diminui.— Não tenha medo, mesmo que eu quisesse te fazer mal, não poderia atrás dessas malditas grades. — A mulher disse, tentando tranquilizá-la.— Você não é como eles, pelo menos não igual fisicamente! — Eugênia respondeu, sentindo-se mais calma com a presença da estranha.A mulher explicou que foi um monstro no passado, mas decidiu não se alimentar de humanos ao cair da lua cheia. Ela agora estava no "entremeio", nem lobo, nem humano, e por isso foi aprisionada por um motivo diferente.— Meu nome é Jane, e o seu? — Ela perguntou.— Sou Eugênia, a filha mais nova de Elizabeth e Anthony. — Eugênia respondeu, percebendo um leve sorriso tímido no rosto de Jane.As duas começaram a conversar sobre suas origens e sobre a vila de Eugênia, que se pro
Eugênia desceu as escadas junto com as outras fêmeas do Alfa, mas ela se recusava a fazer parte de sua alcateia, mesmo que isso pudesse significar a salvação de muitas vidas. Enquanto todas as outras mulheres pareciam fascinadas por ele, Eugênia mantinha-se firme em sua determinação. O Alfa as observava com um olhar incisivo, parecendo um homem comum em sua forma semi-humana, mas ela sabia que por trás daquela fachada havia uma alma devassa, se é que ainda existia alguma alma em seu interior.Dana tomou a frente, e o Alfa a ajudou a descer o último degrau, repetindo o gesto com Sue e Hellen. Quando chegou a vez de Eugênia, ela optou por descer sozinha, sem tocar em sua mão, deixando claro mais uma vez sua recusa em flertar com ele. Isso pareceu enfurecê-lo, mas ela não se importava em despertar sua ira, apenas desejava proteger seu povo e resistir aos seus avanços cruéis.— Hoje, minhas fêmeas estão ainda mais reluzentes que qualquer lua cheia que eu já tenha contemplado. — Eugênia pr
O Alfa havia transmitido a mensagem e sabia que Eugênia não arriscaria a vida de sua família. Era apenas uma questão de tempo até que ela viesse até ele. Ele permaneceu no salão de festas, ordenando que a celebração continuasse, mesmo que o banquete tivesse sido um grande fracasso. Radesh entrou no salão com aquela expressão característica de derrota que lhe era própria.— Ainda não conseguimos encontrá-la, mestre.— Eugênia está a caminho. Já posso sentir o medo dela se aproximando. — Ele se aproximou da imensa janela, observando do lado de fora. O vestido vermelho brilhante dela anunciava sua volta enquanto subia as escadas do castelo.Voltar para dentro do castelo era a única opção que restava para Eugênia naquele momento. Uma preocupação a intrigou em relação ao encontro com Gustave: ele sabia que Alfa podia ler seus pensamentos e descobrir que se conheciam, além do plano de Jane e ele para derrotá-lo. Era essencial evitar pensar nisso, para não dar motivos a Alfa para invadir seu
Eugênia não podia acreditar que havia se tornado mulher nos braços de Alfa e sentido prazer ao estar com ele, questionando onde havia deixado sua honra e sua essência humana. Conforme ele se transformava totalmente em uma fera, ele se afastou de seu corpo, e ela se cobriu com o lençol, ainda envergonhada pela completa nudez. Alfa olhou nos olhos dela e saiu abruptamente do quarto.— O que eu fiz? — Eugênia perguntou a si mesma, aguardando por uma resposta que sabia que não viria. Ela se levantou, caminhou até o banheiro e se lavou. Ela não sabia se aquele tinha sido o momento mais belo ou o mais terrível de sua vida.Longe de Eugênia o Alfa recobrou os sentidos e voltou a sua forma humana. O que sentiu o deixou pela primeira vez em sua existência, assustado e pensando: como uma humana pode exercer tal poder sobre mim?— Não posso demonstrar fraqueza, estou no topo da cadeia alimentar e vou permanecer nele.Alfa voltou para o quarto, farejou o sangue que estava no lençol. Eugênia estav
Elizabeth ouviu as pessoas gritando do lado de fora e saiu correndo para ver o que estava acontecendo. Thor estava puxando uma criatura grotesca pelos braços, todos estavam sujos e cheiravam a carne podre. Anthony e os outros caçadores vinham logo atrás deles.— Por que trouxeram essa coisa? — Perguntou ela, afastando-se.— Você está ótima, Elizabeth!— Como ela sabe o meu nome?— Porque ela é Jane. — Anthony respondeu, e tudo fez sentido. Tantos anos ela tinha sido levada, e Elizabeth pensou que já estivesse morta e devorada.Lembrou-se do sofrimento do pobre Gustave que quase enlouqueceu quando a levaram e partiu pelo mundo, nunca souberam o que aconteceu com ele.— Mas ela é um monstro, não podem deixá-la entre nós! — Avisou Elizabeth.— Precisamos dela. Jane andou em Sangria por muitos anos. Ela domina a magia, e ela vai ficar! — Anthony a defendia, mesmo tendo se transformado em algo que eu não se atreviam a entender. Ele se importava com ela, como fazia no passado e Elizabeth fi
Alfa abriu os olhos, tateando a cama em busca do corpo de Eugênia. Porém, ela já não estava ao seu lado. Farejou o ar e percebeu que seu aroma estava próximo, indicando que ela ainda não havia deixado o castelo. Decidiu tomar um banho e se vestir. Ao descer as escadas, encontrou Radesh esperando por ele.— E Eugênia? — questionou.— Ela e suas outras companheiras estão te esperando na mesa de jantar para o desjejum — respondeu Radesh.Ele seguiu até lá, e ao vê-lo, as três mulheres se levantaram em sinal de respeito.Eugênia decidiu se levantar também, reconhecendo a importância de demonstrar um mínimo de lealdade. Alfa se sentou ao lado de Dana e Hellen, e ela esperava que, dessa vez, Radesh tivesse algo mais substancial para servir à mesa do que os restos de um sacerdote.Surpreendentemente, eles estavam comendo frutas, assim como ela. Isso a fez considerar que talvez houvesse mais opções alimentares do que simplesmente dilacerar pessoas.— Teve uma boa noite, Eugênia? — Hellen perg
Anthony mostrou aquele livro para Jane, esperando que ela pudesse fornecer todas as respostas necessárias. — Reconhece este livro? — Perguntou Jane. — Sim, eu estava com ele nas mãos, antes que me levassem. Mas eu não queria que eles o vissem Anthony — respondeu ela. — O que há nele? — Indagou Anthony. — Magia e poder. — Disse ela. Ele entregou o livro a ela, e Jane agarrou o livro empoeirado como se estivesse recebendo sua vida de volta. — Agora, preciso que diga. Como podemos entrar naquela cidade e trazer minha filha de volta? — Existe um feitiço de encobrimento, mas eu o fiz há muitos anos e ele está contido em um colar. Que perdi há muitos anos! — Explicou Jane. — Você não poderia fazer isso de novo? Jane, preciso trazer Eugênia! — Implorou ele. — Tiraram meu filho de mim também, eu preciso da magia tanto quanto você. Mas temos que agir com inteligência, eles podem nos farejar, sentir o seu medo humano. Receio que Eugênia é nossa maior chance! — Explicou Jane. — Minha f
Zayon imaginava o quão pouco a lealdade de Lilith valia, a achava uma vadia que abrira as pernas para um humano, mas ela o serviria para o que pretendia em breve. Adentraram uma passagem secreta e ele a levou para um local em Sangria onde jamais saberiam que estiveram juntos.Lilith sabia que Zayon era a chave para sua vingança. Era a ele que deveria seguir de agora em diante. Nada a faria mais feliz do que ver o Alfa perder o comando dos lycans para ele. Queria matá-lo com suas próprias mãos. Adentraram os corredores subterrâneos do castelo, e Zayon deu a ela comida. Como forma de gratidão, Lilith se entregou a ele a noite inteira. Pensava: “Alfa não pode e não vai me condenar a uma vida sem luxúria e prazer. Eu nasci para realizar as fantasias dos meus machos. Sinto falta de Thor. Não sei o que há comigo desde o dia em que ele poupou minha vida e copulamos no meio da floresta. Desde então, eu sempre ia lá em busca de mais e mais, até que fomos pegos e condenados.”Ela rejeitava senti