Cinco anos depois….
Cinco anos haviam se passado desde o dia que mudou minha vida para sempre.
Eu nunca acreditei em coincidências. Na verdade, sempre desprezei a ideia de que a vida se desenrolava por mero acaso, como se não houvesse propósito ou controle sobre os acontecimentos que nos cercam. Mas, naquele dia, algo inesperado aconteceu, algo que me fez questionar minha própria convicção.
Era uma tarde de primavera, o tipo de dia que normalmente passaria despercebido em meio ao caos da minha vida. O ar estava fresco, com uma leve brisa que trazia o cheiro das flores recém-abertas do parque ao redor do lago. Aquele café à beira d’água era meu refúgio, um lugar onde eu costumava ir para tentar encontrar algum resquício de paz, ainda que fosse apenas por algumas horas.
Eu me sentava sempre na mesma mesa, no canto, com uma vista perfeita para o lago calmo. O som da água, com o murmúrio das conversas ao redor, costumava me ajudar a organizar os pensamentos, a planejar os próximos passos da minha vida. Mas naquele dia, a tranquilidade que tanto buscava foi quebrada.
Sentei-me com meu café habitual, sem pressa, tentando afastar o cansaço que parecia ter se tornado um companheiro constante. Olhei em volta, e então meus olhos caíram sobre uma figura que eu nunca havia visto antes, sentada a apenas duas mesas de distância da minha.
Ela estava lendo um livro, mas o que me chamou atenção não foi a capa do livro ou o fato de estar imersa na leitura. Era algo na maneira como ela estava ali, quase como se o resto do mundo não existisse para ela. Seus longos cabelos caíam suavemente sobre os ombros, balançando levemente com a brisa. Havia algo em sua postura tranquila, na forma como ela erguia o olhar ocasionalmente para o lago, que me prendeu.
Eu tentei afastar o olhar, me concentrar no café, nas mensagens que chegavam no celular, mas meus olhos sempre voltavam para ela. Havia algo que me atraía, algo que eu não conseguia explicar. E isso era perigoso.
Não era como se eu estivesse procurando por alguém. Desde Isabella, desde a perda… Eu não conseguia me permitir pensar em outra pessoa, em outro relacionamento. Meu mundo era o trabalho, a vingança e o luto. Era nisso que minha vida se resumia. Mas aquela mulher, sentada ali, alheia aparentemente a qualquer dor ou escuridão, me trouxe um lampejo de algo que eu não sentia há anos.
Curiosidade.
O tempo parecia passar devagar enquanto eu a observava discretamente. Ela fechou o livro por um momento e olhou para a paisagem ao redor, absorvendo o ambiente. Seu olhar encontrou o meu por um breve segundo, e em vez de desviar como eu esperava, ela manteve o contato. Eu me preparei para uma reação qualquer – talvez desconforto, surpresa, quem sabe até irritação. Mas, ao invés disso, ela sorriu. Um sorriso suave, tímido, mas presente. E aquilo foi o suficiente para me desarmar.
Eu, que sempre fui mestre em controlar minhas emoções, senti meu coração acelerar. Algo dentro de mim me empurrou a levantar, a me aproximar. Eu sabia que era uma péssima ideia. Afinal, minha vida não tinha espaço para distrações, muito menos para sentimentos. Mas, naquele momento, tudo isso parecia irrelevante.
Levantei-me, sentindo o peso de cada passo enquanto caminhava em direção à mesa dela. Quando me aproximei, ela olhou para mim com uma leve curiosidade, mas sem hesitação. Era como se ela soubesse que eu viria. E talvez soubesse.
— Com licença — comecei, tentando manter a voz casual, o que era uma tarefa difícil considerando o turbilhão interno que eu estava enfrentando. — Espero não estar interrompendo. Só… queria dizer que este é um ótimo lugar para relaxar, não é?
Ela ergueu as sobrancelhas, parecendo ligeiramente surpresa pela abordagem, mas então sorriu novamente. Havia uma naturalidade em seu sorriso que me fez relaxar instantaneamente.
— Sim, é — respondeu ela, ajeitando o livro com cuidado sobre a mesa. — Venho aqui sempre que posso. Gosto da paz que encontro nesse lugar.
Paz
Aquela palavra me atingiu de uma forma estranha. Paz era algo que eu não sabia mais como definir. Minha vida era tudo menos pacífica.
— Também é um dos meus lugares favoritos — comentei, tentando disfarçar o quanto aquela conversa parecia surreal para mim. Eu não fazia isso. Eu não me aproximava de estranhos. Mas, com ela, parecia… fácil.
— Você costuma vir muito aqui? — perguntou ela, agora me observando com um interesse genuíno.
— Sempre que posso — respondi, puxando uma cadeira para me sentar. Ela não pareceu se incomodar com a minha presença. — É um bom lugar para esquecer dos problemas, nem que seja por um momento.
Ela assentiu, e por alguns segundos, ficamos em silêncio, ambos observando o lago. O clima era calmo, a brisa suave. Aquele momento parecia ter sido tirado de uma realidade diferente da minha, onde não havia dor ou vingança, apenas duas pessoas desconhecidas se conectando de forma inexplicável.
— A propósito, meu nome é Camille — disse ela, estendendo a mão. Seu toque era quente, e eu quase recuei ao sentir o choque dessa conexão. Mas sorri, algo raro, e apertei sua mão.
Lorenzo — respondi, quase automaticamente.
Eu nunca falei meu nome com tanta facilidade para um estranho. Mas, naquele momento, isso parecia certo. Camille. A mulher que, em questão de minutos, me fez esquecer tudo o que havia me destruído nos últimos anos. Eu não sabia o que viria depois, não sabia se aquele encontro significava algo, mas pela primeira vez em muito tempo, senti que algo havia mudado dentro de mim.
Conversamos mais um pouco sobre trivialidades. Nada profundo, nada que revelasse muito sobre quem éramos de verdade. Mas o suficiente para que eu soubesse que queria vê-la de novo. E pelo jeito que ela olhou para mim, ela também queria o mesmo.
Eu sabia que estava entrando em um território perigoso, algo que meu instinto me dizia para evitar. Mas, por algum motivo, eu não consegui resistir. Camille já havia se tornado uma parte de mim, sem que eu percebesse.
Lorenzo Santini,O som do celular vibrando no bolso do meu paletó quebrou o silêncio do café enquanto eu ainda conversava com Camille. Olhei para a tela e o nome de Vittorio apareceu. Por um instante, hesitei. Estava ainda envolvido no momento que acabara de viver com ela, mas a vibração constante do aparelho me trouxe de volta à realidade: minha outra vida. O lado da minha vida que Camille não conhecia, e que, se eu pudesse evitar, ela jamais conheceria.— Com sua licença!Levantei-me do café rapidamente e fui para fora, deixando a brisa suave do final da tarde me envolver. Atendi a chamada, minha voz baixa e controlada, como sempre.— Vittorio, o que houve? — Perguntei sem rodeios. Vittorio não ligava sem um motivo sério. Ele sabia o que estava em jogo.Do outro lado da linha, a voz de Vittorio era sombria, o tom de quem já viu o pior do mundo.— Lorenzo, precisamos de você na sede. Temos um problema — disse ele, sem entrar em muitos detalhes. Mas eu conhecia Vittorio o suficiente p
Camille,Esperei por ele. Não sei por quanto tempo, mas esperei. Lorenzo saiu do café apressado, o semblante de repente tenso, como se algo importante tivesse ocorrido. Tentei não me sentir mal por isso. Afinal, eu não o conhecia bem. Era apenas um encontro casual, uma conversa leve que, para mim, significava muito mais do que gostaria de admitir. Mas a maneira como ele simplesmente se levantou e foi embora, sem dar nenhuma explicação, me deixou com uma sensação incômoda.Fiquei ali, sentada, olhando para a xícara de café vazia e para o livro que eu havia deixado de lado. O que aconteceu com ele? Por que essa súbita necessidade de ir embora? Ele parecia tão intrigante, tão seguro de si.Depois de alguns minutos de silêncio, decidi que era hora de voltar. A tarde estava avançando, e eu ainda tinha muito a fazer. Estava na Itália para organizar um casamento importante, e o trabalho não esperava. Estava hospedada em um apartamento que havia alugado por algumas semanas, um lugar pequeno,
Camille,A manhã estava ensolarada, o céu azul e sem nuvens, um cenário perfeito para o casamento que eu estava organizando. Passei as últimas semanas me dedicando a cada detalhe desse evento, garantindo que nada desse errado. Esse era o meu maior projeto na Itália até agora, e eu sabia que tudo tinha que ser impecável. O casal que estava se casando era influente, e seu casamento seria o evento do ano. Cada flor, cada peça de decoração, e cada segundo da cerimônia precisava ser perfeito.Enquanto eu percorria o local do casamento, um belo jardim histórico no coração de Roma, conferindo as disposições finais, não conseguia deixar de pensar em Lorenzo. Eu ainda estava perplexa com nosso encontro no café naquele dia. A maneira como ele havia saído tão abruptamente, sem explicação, me deixava inquieta. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não poderia me distrair com esses pensamentos. Havia muito o que fazer.A cliente, Cláudia — a noiva — estava ansiosa. Ela caminhava de um lado para o outr
Lorenzo,Eu sabia que o assunto com Ricci precisava ser resolvido rapidamente. Traição não era algo que eu podia ignorar, especialmente quando vinha de alguém em uma posição tão importante na organização. Se eu deixasse isso passar, estaria enviando a mensagem de que a lealdade não era mais uma prioridade, e que cada um podia fazer o que bem entendesse. No nosso mundo, lealdade é tudo, e a falta dela se paga com sangue.Cheguei ao local onde o encontro havia sido marcado. Um pequeno armazém afastado, nas bordas da cidade. O tipo de lugar onde discussões como essa aconteciam longe dos olhos curiosos. Ricci estava esperando, com alguns dos meus homens já posicionados ao redor, prontos para agir se as coisas desandassem.Assim que entrei, Vittorio me cumprimentou com um leve aceno. Ele sempre sabia como conduzir essas situações com discrição e controle, e era por isso que eu confiava tanto nele. Vittorio era meu braço direito, sempre mantendo as coisas em ordem enquanto eu cuidava de out
Camille,Eu me olhava no espelho, ajustando os últimos detalhes do meu cabelo. Era a noite do casamento de Cláudia e Giovane, e eu precisava estar à altura da importância do evento. Estar impecável faz parte do trabalho, especialmente quando se tratava de uma cerimônia tão grandiosa quanto essa.Penteei meu cabelo uma última vez, deixando os fios soltos em ondas suaves que caíam sobre meus ombros. O brilho sutil que eu havia aplicado dava ao meu cabelo um toque de elegância sem exagero. Para a maquiagem, optei por algo mais clássico. Sombras em tons de marrom realçavam meus olhos, enquanto o delineado preto criava uma moldura delicada e precisa. O batom vermelho matte dava um toque de sofisticação, combinando perfeitamente com o vestido que escolhi para a ocasião.O vestido era um modelo longo e de seda, com um corte elegante e minimalista. O tom de verde-esmeralda realçava a cor dos meus olhos e se ajustava perfeitamente ao meu corpo, destacando as curvas sutilmente. As alças finas d
Lorenzo,O salão estava cheio de vozes abafadas, o som de risadas ecoando pelas paredes decoradas luxuosamente. Casamentos como esse eram sempre grandiosos, especialmente quando envolviam figuras como Giovane e Claudia. O casal, ambos pertencentes a famílias importantes dentro do nosso círculo, estava cercado por amigos e aliados da máfia. Uma ocasião perfeita para celebrar e reforçar alianças, e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para manter os negócios em ordem.Eu estava no meio de uma conversa com alguns amigos da máfia, todos homens de confiança, aqueles que eu podia contar para manter a ordem nas regiões que controlávamos. Salvatore e Alessandro estavam ao meu lado, rindo e comentando sobre o evento. Eles eram como irmãos para mim, homens com quem eu compartilhava muito mais do que apenas negócios. Sabiam dos sacrifícios que fizemos para manter nossas famílias no poder.— Então, Lorenzo — disse Alessandro, com um sorriso maroto. — Eu ouvi que aquele problema com Ricci foi resolvi
Lorenzo,O som abafado da festa continuava ao nosso redor, mas a atenção que eu dava a tudo aquilo estava diminuindo. Camille estava à minha frente, com os olhos brilhando sob a luz suave do salão. Ela continuava tirando algumas fotos dos noivos, enquanto eles dançavam.Depois de alguns minutos de conversa mais leve, eu percebi que o ambiente do salão não era o mais adequado para continuar aquela conversa que parecia ganhar mais intensidade a cada minuto. Havia algo mais no ar entre nós, algo que eu sentia que precisava ser explorado longe dos olhares curiosos dos outros convidados, para evitar especulações. E além de tudo, um calor me percorreu naquele momento, então, seria viável se eu saísse para fora um pouco.— O jardim parece um bom lugar para conversarmos mais tranquilamente — sugeri, mantendo o olhar fixo nos olhos dela. — Está calor aqui.Camille hesitou por um instante, mas logo assentiu com um leve sorriso.— Provavelmente — respondeu ela.Nós nos dirigimos calmamente para
Lorenzo,O beijo que compartilhei com Camille momentos atrás incendiou algo em mim que eu mal conseguia controlar. Ela me consumia de uma maneira que nenhuma outra mulher jamais conseguiu. Eu me arriscaria a dizer que nem mesmo Isabella havia conseguido isso.— Lorenzo… — a voz dela soava entrecortada, o rosto ainda corado pela intensidade do que acabamos de viver.Eu mal podia responder. Minha mente girava, o gosto dos lábios dela ainda fresco em minha boca, enquanto meu corpo clamava por mais. Passei a língua pelos lábios, tentando prolongar aquele gosto que não queria perder.— Camille… — sussurrei, incapaz de disfarçar o desejo que me consumia.Ela me olhou por um momento, e eu vi a mesma fome nos olhos dela. Nenhum de nós estava pronto para parar. Então, sem hesitar, ela correu para os meus braços, e eu a puxei para perto, meus lábios encontrando os dela com uma urgência que não conseguia mais esconder.Ela saltou, enroscando as pernas ao redor da minha cintura, e eu a segurei fi