O som do celular vibrando no bolso do meu paletó quebrou o silêncio do café enquanto eu ainda conversava com Camille. Olhei para a tela e o nome de Vittorio apareceu. Por um instante, hesitei. Estava ainda envolvido no momento que acabara de viver com ela, mas a vibração constante do aparelho me trouxe de volta à realidade: minha outra vida. O lado da minha vida que Camille não conhecia, e que, se eu pudesse evitar, ela jamais conheceria.
— Com sua licença!
Levantei-me do café rapidamente e fui para fora, deixando a brisa suave do final da tarde me envolver. Atendi a chamada, minha voz baixa e controlada, como sempre.
— Vittorio, o que houve? — Perguntei sem rodeios. Vittorio não ligava sem um motivo sério. Ele sabia o que estava em jogo.
Do outro lado da linha, a voz de Vittorio era sombria, o tom de quem já viu o pior do mundo.
— Lorenzo, precisamos de você na sede. Temos um problema — disse ele, sem entrar em muitos detalhes. Mas eu conhecia Vittorio o suficiente para saber que, quando ele usava aquele tom, era algo sério. Muito sério.
Suspirei, passando a mão pelos cabelos. Sabia que não poderia fugir daquilo. A máfia não esperava por ninguém, e as responsabilidades como chefe eram um fardo que eu carregava com uma mistura de orgulho e cansaço.
— Estou indo — respondi, antes de desligar.
Olhei ao redor por um momento, o cenário tranquilo do lago e as poucas pessoas caminhando sem pressa. Esse era o mundo que eu sempre quis ter, um mundo onde o poder e a violência não me arrastassem para a escuridão. Mas a verdade é que minha realidade estava longe dessa tranquilidade. Meu caminho estava traçado há muito tempo, e eu sabia que não havia como fugir da responsabilidade que vinha com ele.
Entrei no carro e dirigi rapidamente até o nosso quartel, uma mansão antiga nas bordas da cidade, disfarçada de um negócio legítimo. Era uma construção imponente, com uma fachada discreta, mas quem entrava sabia o que realmente acontecia ali. Negócios sujos, acordos ilegais e, por trás de tudo, o controle da minha organização.
Ao chegar, estacionei e caminhei rapidamente em direção à entrada. Os homens que guardavam a porta me cumprimentaram com respeito, acenando com a cabeça, e me permitiram entrar sem questionar.
No momento em que atravessei a porta, a atmosfera mudou completamente. Lá dentro, não havia espaço para emoções ou distrações. Eu era Lorenzo, o chefe da organização. Qualquer sinal de fraqueza era uma sentença de morte. Era isso que aprendi desde cedo, e era assim que eu liderava.
Vittorio me esperava no saguão principal, com alguns dos meus homens de confiança. Seus rostos estavam carregados, sérios. Sabia que as coisas estavam prestes a ficarem complicadas.
— O que está acontecendo? — perguntei, com a voz firme.
Vittorio me entregou uma pasta. Dentro havia relatórios e fotos. Analisando rapidamente, vi que se tratava de um de nossos principais parceiros, um homem chamado Ricci, responsável pelo controle de um dos maiores distritos da cidade. Algo estava errado.
— Ricci está desviando dinheiro — disse Vittorio, resumindo o problema. — Ele tem movimentado grandes quantias sem nos informar. E mais do que isso, ele parece estar negociando com um grupo rival.
Meu sangue gelou. Traição era algo que não tolerávamos. Em nosso mundo, lealdade era tudo, e quando alguém quebrava esse código, as consequências eram inevitáveis.
— E por que não foi resolvido ainda, caramba? — perguntei, sabendo que Vittorio normalmente cuidava dessas questões sem me envolver diretamente.
— Precisamos que você tome a decisão — respondeu ele, direto. — Ricci é uma peça importante. Ele controla uma área grande e tem muitos homens sob seu comando. Se o eliminarmos, será um movimento arriscado. Mas se deixarmos isso passar, o grupo rival pode ganhar força. É uma linha tênue. Precisamos de uma decisão sua.
Fechei a pasta, refletindo por um momento. Não havia espaço para hesitação. A traição de Ricci não podia ser perdoada. Ele havia colocado em risco a segurança de todos nós. Mas eliminá-lo poderia desestabilizar nossa operação naquele distrito.
Andei de um lado para o outro, ponderando as opções. Eu sabia que Ricci estava acabando de assinar sua sentença de morte, mas era preciso fazer isso de maneira calculada. A decisão não podia ser impulsiva, e o que viria depois deveria ser bem orquestrado.
— Vittorio, marque um encontro com Ricci — ordenei, finalmente parando em frente a ele. — Vamos conversar com ele. Quero que ele pense que ainda tem uma chance de se redimir.
Mas já deixe tudo pronto. Se ele mostrar qualquer sinal de deslealdade, o fim será rápido.
Vittorio assentiu, compreendendo imediatamente o que eu queria. Ele já sabia que esse encontro não era uma tentativa de redenção. Era uma emboscada. Ricci havia cometido o erro fatal de quebrar a lealdade com a organização, e ninguém escapava desse tipo de erro.
— Certo, Lorenzo — disse Vittorio, já pegando o telefone para organizar o encontro. — Vou preparar tudo.
Fiquei observando por alguns momentos enquanto ele trabalhava, meus pensamentos ainda pesados. Essa era a minha vida. Eu era o chefe de uma organização que não perdoava falhas, onde qualquer sinal de fraqueza poderia levar à destruição. Às vezes, me perguntava se algum dia haveria uma saída para tudo isso. Mas toda vez que a dúvida surgia, eu a afogava nas responsabilidades.
Antes que eu pudesse sair do quartel, Vittorio voltou a me chamar.
— Ah, Lorenzo, tem mais uma coisa — ele disse, com um tom de cautela. — Recebemos uma informação de que Nico Benedetti está movimentando grandes somas de dinheiro através de alguns contatos na Europa. Pode ser que algo grande esteja vindo por aí.
Benedetti
O nome dele sempre me deixava em alerta. Havia algo em Benedetti que sempre me incomodava. Ele era discreto, inteligente, sempre operando nas sombras. Nós nunca tivemos um confronto direto, mas sabia que ele era perigoso. Ele está formando algo, é de se esperar.
— Fique de olho nele — respondi, já sentindo a tensão crescente. Qualquer movimentação de Benedetti tinha que ser monitorada de perto. — Em algum momento ele vai falhar, e eu vou pegar ele.
Saí da sede da máfia com a mente cheia. Havia muitos problemas à espreita, mas uma coisa era certa: no meu mundo, qualquer fraqueza era fatal.
Camille,Esperei por ele. Não sei por quanto tempo, mas esperei. Lorenzo saiu do café apressado, o semblante de repente tenso, como se algo importante tivesse ocorrido. Tentei não me sentir mal por isso. Afinal, eu não o conhecia bem. Era apenas um encontro casual, uma conversa leve que, para mim, significava muito mais do que gostaria de admitir. Mas a maneira como ele simplesmente se levantou e foi embora, sem dar nenhuma explicação, me deixou com uma sensação incômoda.Fiquei ali, sentada, olhando para a xícara de café vazia e para o livro que eu havia deixado de lado. O que aconteceu com ele? Por que essa súbita necessidade de ir embora? Ele parecia tão intrigante, tão seguro de si.Depois de alguns minutos de silêncio, decidi que era hora de voltar. A tarde estava avançando, e eu ainda tinha muito a fazer. Estava na Itália para organizar um casamento importante, e o trabalho não esperava. Estava hospedada em um apartamento que havia alugado por algumas semanas, um lugar pequeno,
Camille,A manhã estava ensolarada, o céu azul e sem nuvens, um cenário perfeito para o casamento que eu estava organizando. Passei as últimas semanas me dedicando a cada detalhe desse evento, garantindo que nada desse errado. Esse era o meu maior projeto na Itália até agora, e eu sabia que tudo tinha que ser impecável. O casal que estava se casando era influente, e seu casamento seria o evento do ano. Cada flor, cada peça de decoração, e cada segundo da cerimônia precisava ser perfeito.Enquanto eu percorria o local do casamento, um belo jardim histórico no coração de Roma, conferindo as disposições finais, não conseguia deixar de pensar em Lorenzo. Eu ainda estava perplexa com nosso encontro no café naquele dia. A maneira como ele havia saído tão abruptamente, sem explicação, me deixava inquieta. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não poderia me distrair com esses pensamentos. Havia muito o que fazer.A cliente, Cláudia — a noiva — estava ansiosa. Ela caminhava de um lado para o outr
Lorenzo,Eu sabia que o assunto com Ricci precisava ser resolvido rapidamente. Traição não era algo que eu podia ignorar, especialmente quando vinha de alguém em uma posição tão importante na organização. Se eu deixasse isso passar, estaria enviando a mensagem de que a lealdade não era mais uma prioridade, e que cada um podia fazer o que bem entendesse. No nosso mundo, lealdade é tudo, e a falta dela se paga com sangue.Cheguei ao local onde o encontro havia sido marcado. Um pequeno armazém afastado, nas bordas da cidade. O tipo de lugar onde discussões como essa aconteciam longe dos olhos curiosos. Ricci estava esperando, com alguns dos meus homens já posicionados ao redor, prontos para agir se as coisas desandassem.Assim que entrei, Vittorio me cumprimentou com um leve aceno. Ele sempre sabia como conduzir essas situações com discrição e controle, e era por isso que eu confiava tanto nele. Vittorio era meu braço direito, sempre mantendo as coisas em ordem enquanto eu cuidava de out
Camille,Eu me olhava no espelho, ajustando os últimos detalhes do meu cabelo. Era a noite do casamento de Cláudia e Giovane, e eu precisava estar à altura da importância do evento. Estar impecável faz parte do trabalho, especialmente quando se tratava de uma cerimônia tão grandiosa quanto essa.Penteei meu cabelo uma última vez, deixando os fios soltos em ondas suaves que caíam sobre meus ombros. O brilho sutil que eu havia aplicado dava ao meu cabelo um toque de elegância sem exagero. Para a maquiagem, optei por algo mais clássico. Sombras em tons de marrom realçavam meus olhos, enquanto o delineado preto criava uma moldura delicada e precisa. O batom vermelho matte dava um toque de sofisticação, combinando perfeitamente com o vestido que escolhi para a ocasião.O vestido era um modelo longo e de seda, com um corte elegante e minimalista. O tom de verde-esmeralda realçava a cor dos meus olhos e se ajustava perfeitamente ao meu corpo, destacando as curvas sutilmente. As alças finas d
Lorenzo,O salão estava cheio de vozes abafadas, o som de risadas ecoando pelas paredes decoradas luxuosamente. Casamentos como esse eram sempre grandiosos, especialmente quando envolviam figuras como Giovane e Claudia. O casal, ambos pertencentes a famílias importantes dentro do nosso círculo, estava cercado por amigos e aliados da máfia. Uma ocasião perfeita para celebrar e reforçar alianças, e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para manter os negócios em ordem.Eu estava no meio de uma conversa com alguns amigos da máfia, todos homens de confiança, aqueles que eu podia contar para manter a ordem nas regiões que controlávamos. Salvatore e Alessandro estavam ao meu lado, rindo e comentando sobre o evento. Eles eram como irmãos para mim, homens com quem eu compartilhava muito mais do que apenas negócios. Sabiam dos sacrifícios que fizemos para manter nossas famílias no poder.— Então, Lorenzo — disse Alessandro, com um sorriso maroto. — Eu ouvi que aquele problema com Ricci foi resolvi
Lorenzo,O som abafado da festa continuava ao nosso redor, mas a atenção que eu dava a tudo aquilo estava diminuindo. Camille estava à minha frente, com os olhos brilhando sob a luz suave do salão. Ela continuava tirando algumas fotos dos noivos, enquanto eles dançavam.Depois de alguns minutos de conversa mais leve, eu percebi que o ambiente do salão não era o mais adequado para continuar aquela conversa que parecia ganhar mais intensidade a cada minuto. Havia algo mais no ar entre nós, algo que eu sentia que precisava ser explorado longe dos olhares curiosos dos outros convidados, para evitar especulações. E além de tudo, um calor me percorreu naquele momento, então, seria viável se eu saísse para fora um pouco.— O jardim parece um bom lugar para conversarmos mais tranquilamente — sugeri, mantendo o olhar fixo nos olhos dela. — Está calor aqui.Camille hesitou por um instante, mas logo assentiu com um leve sorriso.— Provavelmente — respondeu ela.Nós nos dirigimos calmamente para
Lorenzo,O beijo que compartilhei com Camille momentos atrás incendiou algo em mim que eu mal conseguia controlar. Ela me consumia de uma maneira que nenhuma outra mulher jamais conseguiu. Eu me arriscaria a dizer que nem mesmo Isabella havia conseguido isso.— Lorenzo… — a voz dela soava entrecortada, o rosto ainda corado pela intensidade do que acabamos de viver.Eu mal podia responder. Minha mente girava, o gosto dos lábios dela ainda fresco em minha boca, enquanto meu corpo clamava por mais. Passei a língua pelos lábios, tentando prolongar aquele gosto que não queria perder.— Camille… — sussurrei, incapaz de disfarçar o desejo que me consumia.Ela me olhou por um momento, e eu vi a mesma fome nos olhos dela. Nenhum de nós estava pronto para parar. Então, sem hesitar, ela correu para os meus braços, e eu a puxei para perto, meus lábios encontrando os dela com uma urgência que não conseguia mais esconder.Ela saltou, enroscando as pernas ao redor da minha cintura, e eu a segurei fi
Camille,Deixamos a festa para trás, e a tensão entre nós parecia cada vez mais impossível de controlar.Eu olhava para Lorenzo enquanto ele dirigia, sentindo meu coração bater mais rápido a cada quilômetro que nos distanciava do mundo lá fora. Eu sabia que, naquele momento, não havia mais volta. O que começou como uma atração irresistível havia se transformado em algo muito mais profundo. Algo que eu não queria mais lutar contra.Quando chegamos à casa dele, o lugar era imponente, mas, ao mesmo tempo, discreto. Uma das casas que ele mantinha, longe de tudo e de todos, onde poderíamos estar a sós. Meu corpo inteiro estava em alerta, como se soubesse exatamente o que estava para acontecer.Saímos do carro e Lorenzo, sem dizer uma palavra, pegou minha mão e me guiou para dentro. Havia uma urgência no toque dele, mas, ao mesmo tempo, algo suave, como se quisesse prolongar aquele momento. O som dos nossos passos ecoava pela casa silenciosa enquanto subíamos a escada, e meu coração batia t