03

Lorenzo Santini,

O som do celular vibrando no bolso do meu paletó quebrou o silêncio do café enquanto eu ainda conversava com Camille. Olhei para a tela e o nome de Vittorio apareceu. Por um instante, hesitei. Estava ainda envolvido no momento que acabara de viver com ela, mas a vibração constante do aparelho me trouxe de volta à realidade: minha outra vida. O lado da minha vida que Camille não conhecia, e que, se eu pudesse evitar, ela jamais conheceria.

— Com sua licença!

Levantei-me do café rapidamente e fui para fora, deixando a brisa suave do final da tarde me envolver. Atendi a chamada, minha voz baixa e controlada, como sempre.

— Vittorio, o que houve? — Perguntei sem rodeios. Vittorio não ligava sem um motivo sério. Ele sabia o que estava em jogo.

Do outro lado da linha, a voz de Vittorio era sombria, o tom de quem já viu o pior do mundo.

— Lorenzo, precisamos de você na sede. Temos um problema — disse ele, sem entrar em muitos detalhes. Mas eu conhecia Vittorio o suficiente para saber que, quando ele usava aquele tom, era algo sério. Muito sério.

Suspirei, passando a mão pelos cabelos. Sabia que não poderia fugir daquilo. A máfia não esperava por ninguém, e as responsabilidades como chefe eram um fardo que eu carregava com uma mistura de orgulho e cansaço.

— Estou indo — respondi, antes de desligar.

Olhei ao redor por um momento, o cenário tranquilo do lago e as poucas pessoas caminhando sem pressa. Esse era o mundo que eu sempre quis ter, um mundo onde o poder e a violência não me arrastassem para a escuridão. Mas a verdade é que minha realidade estava longe dessa tranquilidade. Meu caminho estava traçado há muito tempo, e eu sabia que não havia como fugir da responsabilidade que vinha com ele.

Entrei no carro e dirigi rapidamente até o nosso quartel, uma mansão antiga nas bordas da cidade, disfarçada de um negócio legítimo. Era uma construção imponente, com uma fachada discreta, mas quem entrava sabia o que realmente acontecia ali. Negócios sujos, acordos ilegais e, por trás de tudo, o controle da minha organização.

Ao chegar, estacionei e caminhei rapidamente em direção à entrada. Os homens que guardavam a porta me cumprimentaram com respeito, acenando com a cabeça, e me permitiram entrar sem questionar.

No momento em que atravessei a porta, a atmosfera mudou completamente. Lá dentro, não havia espaço para emoções ou distrações. Eu era Lorenzo, o chefe da organização. Qualquer sinal de fraqueza era uma sentença de morte. Era isso que aprendi desde cedo, e era assim que eu liderava.

Vittorio me esperava no saguão principal, com alguns dos meus homens de confiança. Seus rostos estavam carregados, sérios. Sabia que as coisas estavam prestes a ficarem complicadas.

— O que está acontecendo? — perguntei, com a voz firme.

Vittorio me entregou uma pasta. Dentro havia relatórios e fotos. Analisando rapidamente, vi que se tratava de um de nossos principais parceiros, um homem chamado Ricci, responsável pelo controle de um dos maiores distritos da cidade. Algo estava errado.

— Ricci está desviando dinheiro — disse Vittorio, resumindo o problema. — Ele tem movimentado grandes quantias sem nos informar. E mais do que isso, ele parece estar negociando com um grupo rival.

Meu sangue gelou. Traição era algo que não tolerávamos. Em nosso mundo, lealdade era tudo, e quando alguém quebrava esse código, as consequências eram inevitáveis.

— E por que não foi resolvido ainda, caramba? — perguntei, sabendo que Vittorio normalmente cuidava dessas questões sem me envolver diretamente.

— Precisamos que você tome a decisão — respondeu ele, direto. — Ricci é uma peça importante. Ele controla uma área grande e tem muitos homens sob seu comando. Se o eliminarmos, será um movimento arriscado. Mas se deixarmos isso passar, o grupo rival pode ganhar força. É uma linha tênue. Precisamos de uma decisão sua.

Fechei a pasta, refletindo por um momento. Não havia espaço para hesitação. A traição de Ricci não podia ser perdoada. Ele havia colocado em risco a segurança de todos nós. Mas eliminá-lo poderia desestabilizar nossa operação naquele distrito.

Andei de um lado para o outro, ponderando as opções. Eu sabia que Ricci estava acabando de assinar sua sentença de morte, mas era preciso fazer isso de maneira calculada. A decisão não podia ser impulsiva, e o que viria depois deveria ser bem orquestrado.

— Vittorio, marque um encontro com Ricci — ordenei, finalmente parando em frente a ele. — Vamos conversar com ele. Quero que ele pense que ainda tem uma chance de se redimir.

Mas já deixe tudo pronto. Se ele mostrar qualquer sinal de deslealdade, o fim será rápido.

Vittorio assentiu, compreendendo imediatamente o que eu queria. Ele já sabia que esse encontro não era uma tentativa de redenção. Era uma emboscada. Ricci havia cometido o erro fatal de quebrar a lealdade com a organização, e ninguém escapava desse tipo de erro.

— Certo, Lorenzo — disse Vittorio, já pegando o telefone para organizar o encontro. — Vou preparar tudo.

Fiquei observando por alguns momentos enquanto ele trabalhava, meus pensamentos ainda pesados. Essa era a minha vida. Eu era o chefe de uma organização que não perdoava falhas, onde qualquer sinal de fraqueza poderia levar à destruição. Às vezes, me perguntava se algum dia haveria uma saída para tudo isso. Mas toda vez que a dúvida surgia, eu a afogava nas responsabilidades.

Antes que eu pudesse sair do quartel, Vittorio voltou a me chamar.

— Ah, Lorenzo, tem mais uma coisa — ele disse, com um tom de cautela. — Recebemos uma informação de que Nico Benedetti está movimentando grandes somas de dinheiro através de alguns contatos na Europa. Pode ser que algo grande esteja vindo por aí.

Benedetti

O nome dele sempre me deixava em alerta. Havia algo em Benedetti que sempre me incomodava. Ele era discreto, inteligente, sempre operando nas sombras. Nós nunca tivemos um confronto direto, mas sabia que ele era perigoso. Ele está formando algo, é de se esperar.

— Fique de olho nele — respondi, já sentindo a tensão crescente. Qualquer movimentação de Benedetti tinha que ser monitorada de perto. — Em algum momento ele vai falhar, e eu vou pegar ele.

Saí da sede da máfia com a mente cheia. Havia muitos problemas à espreita, mas uma coisa era certa: no meu mundo, qualquer fraqueza era fatal.

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