04

Camille,

Esperei por ele. Não sei por quanto tempo, mas esperei. Lorenzo saiu do café apressado, o semblante de repente tenso, como se algo importante tivesse ocorrido. Tentei não me sentir mal por isso. Afinal, eu não o conhecia bem. Era apenas um encontro casual, uma conversa leve que, para mim, significava muito mais do que gostaria de admitir. Mas a maneira como ele simplesmente se levantou e foi embora, sem dar nenhuma explicação, me deixou com uma sensação incômoda.

Fiquei ali, sentada, olhando para a xícara de café vazia e para o livro que eu havia deixado de lado. O que aconteceu com ele? Por que essa súbita necessidade de ir embora? Ele parecia tão intrigante, tão seguro de si.

Depois de alguns minutos de silêncio, decidi que era hora de voltar. A tarde estava avançando, e eu ainda tinha muito a fazer. Estava na Itália para organizar um casamento importante, e o trabalho não esperava. Estava hospedada em um apartamento que havia alugado por algumas semanas, um lugar pequeno, mas acolhedor, que servia como minha base enquanto organizava os detalhes para o grande evento.

Caminhei pelas ruas de Roma, sentindo a brisa suave do final da tarde, o som de vozes e risadas ao longe. Mas minha mente ainda estava em Lorenzo. A maneira como ele me olhou, como se estivesse lutando contra algo interno, algo que ele não queria compartilhar… Por um instante, pensei haver feito algo errado, que de alguma forma, minha presença o havia deixado desconfortável. Mas sabia que não era isso. Havia outra coisa que eu não sabia explicar.

Ao chegar no apartamento, joguei a bolsa no sofá e fui direto para o banheiro. A água quente corria sobre minha pele, lavando não só o cansaço do dia, mas também a frustração que eu sentia por Lorenzo ter ido embora tão abruptamente. Enquanto a água escorria pelo meu corpo, meus pensamentos flutuavam, voltando para o trabalho. Havia tantas coisas para fazer, tantas decisões para tomar. Esse casamento era um dos maiores projetos da minha carreira, e eu sabia que não podia falhar.

Saí do banho e comecei a me trocar, colocando uma roupa simples, mas elegante, para o encontro com minha cliente. O casamento que eu estava organizando era para uma família influente, e cada detalhe tinha que ser impecável. Tudo estava sob controle, como sempre.

Eu estava terminando de me vestir quando meu celular começou a vibrar no criado-mudo ao lado da cama. O nome que apareceu na tela fez meu estômago revirar: “Nico”. O simples pensamento de ouvir sua voz já me deixava em alerta, com o corpo tenso e o coração disparado.

Peguei o celular com mãos trêmulas. Não queria atender. Não queria ouvir sua voz. Mas, como sempre, a necessidade de confrontá-lo, de acabar com essa sombra que ele representava, me fez atender a ligação.

— O que você quer? — perguntei, tentando manter minha voz firme, mas já sentindo o familiar nó na garganta que sempre surgia quando falava com ele.

Do outro lado da linha, a voz de Nico Benedetti era baixa e controlada.

— Camille… minha querida filha — disse ele, com um tom que deveria soar carinhoso, mas que só me causava repulsa. — Onde você está? Trabalhando em organizar festinhas novamente? Que coisa mais ridícula!

— Isso não é da sua conta — respondi, tentando conter a raiva que subia dentro de mim. — Eu te disse que não obedeço mais você. Não sou sua filha, me deixa em paz.

Houve um silêncio por um momento, e então, a voz dele ficou mais dura, mais exigente.

— Você vai voltar para casa agora mesmo. É uma ordem. Já passou tempo demais brincando de fazer festinhas em cidades diferentes. Não está segura aí, e afinal, tenho planos para você. — Suas palavras vinham carregadas de raiva, mas a ameaça nelas era clara.

Senti meu coração acelerar, e o ódio que eu sentia por ele, algo que sempre esteve presente, mas que tentava reprimir, explodiu dentro de mim. Eu não era mais a menina assustada que ele controlava. Não depois do que ele fez.

— Eu não vou voltar, senhor Beneditte. Nunca mais. — Eu raramente o chamava pelo nome, mas naquele momento, não conseguia nem o chamar de “pai”. Ele não merecia esse título.

— Não fale assim comigo — ele respondeu, a voz ficando mais ameaçadora. — Você é minha filha. Faço o que quiser com você. E você fará o que eu mandar.

As palavras dele me fizeram tremer de ódio. Depois de tudo o que ele fez, como ele ainda tinha a audácia de tentar me controlar? O simples som da sua voz me fazia querer vomitar.

— Não depois do que você fez comigo — sussurrei, a voz carregada de desprezo. As memórias vieram à tona, invadindo minha mente como uma maré de escuridão. Ele, bêbado, entrando no meu quarto naquela noite. Eu ainda era jovem, inocente, confiava nele. Como eu podia saber que o homem que deveria me proteger se tornaria meu pior pesadelo?

Do outro lado da linha, ele ficou em silêncio por um momento, e eu podia ouvir sua respiração pesada.

— Isso já ficou no passado, Camille — ele finalmente disse, como se fosse algo insignificante, como se não tivesse sido o momento que mudou minha vida para sempre. — Você é minha filha. Esqueça isso. Volte para casa e tudo ficará bem.

A frieza nas palavras dele me fez querer gritar. Como ele podia falar assim? Como se o que ele fez pudesse ser simplesmente esquecido, como se eu fosse apenas uma peça no seu jogo sujo. Mas eu não era mais aquela garota ingênua.

— Eu nunca vou esquecer. E nunca vou perdoar você. — Minha voz saiu firme.

Antes que ele pudesse responder, desliguei o telefone com força, o corpo tremendo de raiva. O som da chamada terminando foi como uma liberação, mas ainda assim, o peso do passado continuava sobre meus ombros.

Olhei para o espelho do quarto, tentando me recompor. Mas a verdade era que não importava quanto tempo passasse, as cicatrizes que Nico Benedetti havia deixado em mim nunca desapareciam completamente. Eu podia lutar contra ele, podia tentar construir minha própria vida, mas ele sempre voltava, sempre me puxava de volta para aquela noite horrível, para aquele pesadelo do qual eu nunca poderia acordar completamente. Aquele momento em que ele apertava meu pescoço enquanto enfiava seu päu imundo em mim, levando a minha virgindade embora.

Suspirei, tentando acalmar meu coração acelerado. Eu tinha uma vida para viver, e isso não incluía mais ser controlada pelo homem que me destruiu. Peguei minha bolsa e fui ao encontro com os clientes.

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