Esperei por ele. Não sei por quanto tempo, mas esperei. Lorenzo saiu do café apressado, o semblante de repente tenso, como se algo importante tivesse ocorrido. Tentei não me sentir mal por isso. Afinal, eu não o conhecia bem. Era apenas um encontro casual, uma conversa leve que, para mim, significava muito mais do que gostaria de admitir. Mas a maneira como ele simplesmente se levantou e foi embora, sem dar nenhuma explicação, me deixou com uma sensação incômoda.
Fiquei ali, sentada, olhando para a xícara de café vazia e para o livro que eu havia deixado de lado. O que aconteceu com ele? Por que essa súbita necessidade de ir embora? Ele parecia tão intrigante, tão seguro de si.
Depois de alguns minutos de silêncio, decidi que era hora de voltar. A tarde estava avançando, e eu ainda tinha muito a fazer. Estava na Itália para organizar um casamento importante, e o trabalho não esperava. Estava hospedada em um apartamento que havia alugado por algumas semanas, um lugar pequeno, mas acolhedor, que servia como minha base enquanto organizava os detalhes para o grande evento.
Caminhei pelas ruas de Roma, sentindo a brisa suave do final da tarde, o som de vozes e risadas ao longe. Mas minha mente ainda estava em Lorenzo. A maneira como ele me olhou, como se estivesse lutando contra algo interno, algo que ele não queria compartilhar… Por um instante, pensei haver feito algo errado, que de alguma forma, minha presença o havia deixado desconfortável. Mas sabia que não era isso. Havia outra coisa que eu não sabia explicar.
Ao chegar no apartamento, joguei a bolsa no sofá e fui direto para o banheiro. A água quente corria sobre minha pele, lavando não só o cansaço do dia, mas também a frustração que eu sentia por Lorenzo ter ido embora tão abruptamente. Enquanto a água escorria pelo meu corpo, meus pensamentos flutuavam, voltando para o trabalho. Havia tantas coisas para fazer, tantas decisões para tomar. Esse casamento era um dos maiores projetos da minha carreira, e eu sabia que não podia falhar.
Saí do banho e comecei a me trocar, colocando uma roupa simples, mas elegante, para o encontro com minha cliente. O casamento que eu estava organizando era para uma família influente, e cada detalhe tinha que ser impecável. Tudo estava sob controle, como sempre.
Eu estava terminando de me vestir quando meu celular começou a vibrar no criado-mudo ao lado da cama. O nome que apareceu na tela fez meu estômago revirar: “Nico”. O simples pensamento de ouvir sua voz já me deixava em alerta, com o corpo tenso e o coração disparado.
Peguei o celular com mãos trêmulas. Não queria atender. Não queria ouvir sua voz. Mas, como sempre, a necessidade de confrontá-lo, de acabar com essa sombra que ele representava, me fez atender a ligação.
— O que você quer? — perguntei, tentando manter minha voz firme, mas já sentindo o familiar nó na garganta que sempre surgia quando falava com ele.
Do outro lado da linha, a voz de Nico Benedetti era baixa e controlada.
— Camille… minha querida filha — disse ele, com um tom que deveria soar carinhoso, mas que só me causava repulsa. — Onde você está? Trabalhando em organizar festinhas novamente? Que coisa mais ridícula!
— Isso não é da sua conta — respondi, tentando conter a raiva que subia dentro de mim. — Eu te disse que não obedeço mais você. Não sou sua filha, me deixa em paz.
Houve um silêncio por um momento, e então, a voz dele ficou mais dura, mais exigente.
— Você vai voltar para casa agora mesmo. É uma ordem. Já passou tempo demais brincando de fazer festinhas em cidades diferentes. Não está segura aí, e afinal, tenho planos para você. — Suas palavras vinham carregadas de raiva, mas a ameaça nelas era clara.
Senti meu coração acelerar, e o ódio que eu sentia por ele, algo que sempre esteve presente, mas que tentava reprimir, explodiu dentro de mim. Eu não era mais a menina assustada que ele controlava. Não depois do que ele fez.
— Eu não vou voltar, senhor Beneditte. Nunca mais. — Eu raramente o chamava pelo nome, mas naquele momento, não conseguia nem o chamar de “pai”. Ele não merecia esse título.
— Não fale assim comigo — ele respondeu, a voz ficando mais ameaçadora. — Você é minha filha. Faço o que quiser com você. E você fará o que eu mandar.
As palavras dele me fizeram tremer de ódio. Depois de tudo o que ele fez, como ele ainda tinha a audácia de tentar me controlar? O simples som da sua voz me fazia querer vomitar.
— Não depois do que você fez comigo — sussurrei, a voz carregada de desprezo. As memórias vieram à tona, invadindo minha mente como uma maré de escuridão. Ele, bêbado, entrando no meu quarto naquela noite. Eu ainda era jovem, inocente, confiava nele. Como eu podia saber que o homem que deveria me proteger se tornaria meu pior pesadelo?
Do outro lado da linha, ele ficou em silêncio por um momento, e eu podia ouvir sua respiração pesada.
— Isso já ficou no passado, Camille — ele finalmente disse, como se fosse algo insignificante, como se não tivesse sido o momento que mudou minha vida para sempre. — Você é minha filha. Esqueça isso. Volte para casa e tudo ficará bem.
A frieza nas palavras dele me fez querer gritar. Como ele podia falar assim? Como se o que ele fez pudesse ser simplesmente esquecido, como se eu fosse apenas uma peça no seu jogo sujo. Mas eu não era mais aquela garota ingênua.
— Eu nunca vou esquecer. E nunca vou perdoar você. — Minha voz saiu firme.
Antes que ele pudesse responder, desliguei o telefone com força, o corpo tremendo de raiva. O som da chamada terminando foi como uma liberação, mas ainda assim, o peso do passado continuava sobre meus ombros.
Olhei para o espelho do quarto, tentando me recompor. Mas a verdade era que não importava quanto tempo passasse, as cicatrizes que Nico Benedetti havia deixado em mim nunca desapareciam completamente. Eu podia lutar contra ele, podia tentar construir minha própria vida, mas ele sempre voltava, sempre me puxava de volta para aquela noite horrível, para aquele pesadelo do qual eu nunca poderia acordar completamente. Aquele momento em que ele apertava meu pescoço enquanto enfiava seu päu imundo em mim, levando a minha virgindade embora.
Suspirei, tentando acalmar meu coração acelerado. Eu tinha uma vida para viver, e isso não incluía mais ser controlada pelo homem que me destruiu. Peguei minha bolsa e fui ao encontro com os clientes.
Camille,A manhã estava ensolarada, o céu azul e sem nuvens, um cenário perfeito para o casamento que eu estava organizando. Passei as últimas semanas me dedicando a cada detalhe desse evento, garantindo que nada desse errado. Esse era o meu maior projeto na Itália até agora, e eu sabia que tudo tinha que ser impecável. O casal que estava se casando era influente, e seu casamento seria o evento do ano. Cada flor, cada peça de decoração, e cada segundo da cerimônia precisava ser perfeito.Enquanto eu percorria o local do casamento, um belo jardim histórico no coração de Roma, conferindo as disposições finais, não conseguia deixar de pensar em Lorenzo. Eu ainda estava perplexa com nosso encontro no café naquele dia. A maneira como ele havia saído tão abruptamente, sem explicação, me deixava inquieta. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não poderia me distrair com esses pensamentos. Havia muito o que fazer.A cliente, Cláudia — a noiva — estava ansiosa. Ela caminhava de um lado para o outr
Lorenzo,Eu sabia que o assunto com Ricci precisava ser resolvido rapidamente. Traição não era algo que eu podia ignorar, especialmente quando vinha de alguém em uma posição tão importante na organização. Se eu deixasse isso passar, estaria enviando a mensagem de que a lealdade não era mais uma prioridade, e que cada um podia fazer o que bem entendesse. No nosso mundo, lealdade é tudo, e a falta dela se paga com sangue.Cheguei ao local onde o encontro havia sido marcado. Um pequeno armazém afastado, nas bordas da cidade. O tipo de lugar onde discussões como essa aconteciam longe dos olhos curiosos. Ricci estava esperando, com alguns dos meus homens já posicionados ao redor, prontos para agir se as coisas desandassem.Assim que entrei, Vittorio me cumprimentou com um leve aceno. Ele sempre sabia como conduzir essas situações com discrição e controle, e era por isso que eu confiava tanto nele. Vittorio era meu braço direito, sempre mantendo as coisas em ordem enquanto eu cuidava de out
Camille,Eu me olhava no espelho, ajustando os últimos detalhes do meu cabelo. Era a noite do casamento de Cláudia e Giovane, e eu precisava estar à altura da importância do evento. Estar impecável faz parte do trabalho, especialmente quando se tratava de uma cerimônia tão grandiosa quanto essa.Penteei meu cabelo uma última vez, deixando os fios soltos em ondas suaves que caíam sobre meus ombros. O brilho sutil que eu havia aplicado dava ao meu cabelo um toque de elegância sem exagero. Para a maquiagem, optei por algo mais clássico. Sombras em tons de marrom realçavam meus olhos, enquanto o delineado preto criava uma moldura delicada e precisa. O batom vermelho matte dava um toque de sofisticação, combinando perfeitamente com o vestido que escolhi para a ocasião.O vestido era um modelo longo e de seda, com um corte elegante e minimalista. O tom de verde-esmeralda realçava a cor dos meus olhos e se ajustava perfeitamente ao meu corpo, destacando as curvas sutilmente. As alças finas d
Lorenzo,O salão estava cheio de vozes abafadas, o som de risadas ecoando pelas paredes decoradas luxuosamente. Casamentos como esse eram sempre grandiosos, especialmente quando envolviam figuras como Giovane e Claudia. O casal, ambos pertencentes a famílias importantes dentro do nosso círculo, estava cercado por amigos e aliados da máfia. Uma ocasião perfeita para celebrar e reforçar alianças, e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para manter os negócios em ordem.Eu estava no meio de uma conversa com alguns amigos da máfia, todos homens de confiança, aqueles que eu podia contar para manter a ordem nas regiões que controlávamos. Salvatore e Alessandro estavam ao meu lado, rindo e comentando sobre o evento. Eles eram como irmãos para mim, homens com quem eu compartilhava muito mais do que apenas negócios. Sabiam dos sacrifícios que fizemos para manter nossas famílias no poder.— Então, Lorenzo — disse Alessandro, com um sorriso maroto. — Eu ouvi que aquele problema com Ricci foi resolvi
Lorenzo,O som abafado da festa continuava ao nosso redor, mas a atenção que eu dava a tudo aquilo estava diminuindo. Camille estava à minha frente, com os olhos brilhando sob a luz suave do salão. Ela continuava tirando algumas fotos dos noivos, enquanto eles dançavam.Depois de alguns minutos de conversa mais leve, eu percebi que o ambiente do salão não era o mais adequado para continuar aquela conversa que parecia ganhar mais intensidade a cada minuto. Havia algo mais no ar entre nós, algo que eu sentia que precisava ser explorado longe dos olhares curiosos dos outros convidados, para evitar especulações. E além de tudo, um calor me percorreu naquele momento, então, seria viável se eu saísse para fora um pouco.— O jardim parece um bom lugar para conversarmos mais tranquilamente — sugeri, mantendo o olhar fixo nos olhos dela. — Está calor aqui.Camille hesitou por um instante, mas logo assentiu com um leve sorriso.— Provavelmente — respondeu ela.Nós nos dirigimos calmamente para
Lorenzo,O beijo que compartilhei com Camille momentos atrás incendiou algo em mim que eu mal conseguia controlar. Ela me consumia de uma maneira que nenhuma outra mulher jamais conseguiu. Eu me arriscaria a dizer que nem mesmo Isabella havia conseguido isso.— Lorenzo… — a voz dela soava entrecortada, o rosto ainda corado pela intensidade do que acabamos de viver.Eu mal podia responder. Minha mente girava, o gosto dos lábios dela ainda fresco em minha boca, enquanto meu corpo clamava por mais. Passei a língua pelos lábios, tentando prolongar aquele gosto que não queria perder.— Camille… — sussurrei, incapaz de disfarçar o desejo que me consumia.Ela me olhou por um momento, e eu vi a mesma fome nos olhos dela. Nenhum de nós estava pronto para parar. Então, sem hesitar, ela correu para os meus braços, e eu a puxei para perto, meus lábios encontrando os dela com uma urgência que não conseguia mais esconder.Ela saltou, enroscando as pernas ao redor da minha cintura, e eu a segurei fi
Camille,Deixamos a festa para trás, e a tensão entre nós parecia cada vez mais impossível de controlar.Eu olhava para Lorenzo enquanto ele dirigia, sentindo meu coração bater mais rápido a cada quilômetro que nos distanciava do mundo lá fora. Eu sabia que, naquele momento, não havia mais volta. O que começou como uma atração irresistível havia se transformado em algo muito mais profundo. Algo que eu não queria mais lutar contra.Quando chegamos à casa dele, o lugar era imponente, mas, ao mesmo tempo, discreto. Uma das casas que ele mantinha, longe de tudo e de todos, onde poderíamos estar a sós. Meu corpo inteiro estava em alerta, como se soubesse exatamente o que estava para acontecer.Saímos do carro e Lorenzo, sem dizer uma palavra, pegou minha mão e me guiou para dentro. Havia uma urgência no toque dele, mas, ao mesmo tempo, algo suave, como se quisesse prolongar aquele momento. O som dos nossos passos ecoava pela casa silenciosa enquanto subíamos a escada, e meu coração batia t
Camille,Acordei com a luz suave do sol entrando pelas cortinas, iluminando o quarto de forma calma e serena. Os braços de Lorenzo ainda me envolviam, e eu me aconcheguei por um momento, sentindo o calor do corpo dele contra o meu. Sua respiração era lenta e tranquila, ele parecia completamente relaxado. Aquele homem que sempre parecia tão controlado e no comando, agora estava aqui, ao meu lado, tão vulnerável quanto eu.Peguei o celular na mesinha de cabeceira e vi várias notificações. Mensagens de Claudia e, principalmente, do meu pai. Suspirei, sabendo que precisava lidar com aquilo, mas hoje não. Não agora. Resolvi ignorar todas as mensagens por enquanto, desliguei o celular e coloquei de volta na mesa. Hoje era um dia só para nós, sem interrupções, sem responsabilidades.Com cuidado, desvencilhei-me dos braços de Lorenzo, tentando não o acordar. Ele dormia serenamente, e eu o observei por alguns segundos, admirando o quanto ele parecia em paz. Era raro vê-lo assim, completamente