Nunca imaginei que a minha vida pudesse se dividir em um antes e depois de um único momento. Mas aqui estou, preso em uma espera insuportável que parece durar uma eternidade. Tudo foi planejado para que este fosse o dia mais feliz da minha vida, o dia em que finalmente teria ao meu lado a única pessoa que me fazia acreditar que poderia existir algo mais além do sangue e do poder. Isabella. Ela deveria estar aqui, ao meu lado agora, sorrindo com aquele brilho nos olhos que sempre conseguia quebrar as minhas defesas.
Mas ela não está. E o relógio, cruel e impiedoso, não para de avançar.
O salão está impecável. As flores, o champanhe, os convidados — tudo está do jeito que Isabella sonhou. O som suave de uma orquestra toca ao fundo, enquanto amigos e familiares murmuram entre si, lançando olhares discretos na minha direção, esperando que a cerimônia comece. O casamento dos sonhos. O meu casamento. Mas a noiva, a única pessoa que realmente importa neste cenário todo, ainda não chegou.
Isabella havia me prometido que seria rápido. “Preciso resolver uma coisa antes de nos casarmos”, ela disse, com aquele sorriso despreocupado que aprendi a amar e a temer. Ela sabia que eu odiava a ideia de deixá-la viajar sozinha, especialmente no dia do nosso casamento, mas insistiu. “Confia em mim, tenho uma surpresa, ela sussurrou, e eu, contra meu instinto, deixei-a ir.
Agora, aqui estou eu, me sentindo cada vez mais inquieto. O avião de Isabella deveria ter pousado há mais de uma hora. Algo dentro de mim começa a se revirar, uma sensação de mal-estar que se intensifica a cada segundo. Tento manter a compostura, mas minha mente está um caos. Olho para o meu telefone, esperando que ele toque, que Isabella ligue e explique que houve um pequeno atraso, que ela está bem e a caminho.
Mas o telefone permanece mudo. E o peso da espera cresce.
Vittorio, meu braço direito e amigo de longa data, se aproxima com um sorriso descontraído, tentando aliviar a tensão. Ele sabe o quanto estou preocupado, mas tenta, como sempre, ser a voz da razão.
— Ela vai chegar, Lorenzo. Você sabe como essas coisas são, voos atrasam o tempo todo.
Eu apenas balanço a cabeça, sem dizer nada. Quero acreditar nele, mas algo está errado. Sinto isso no fundo do meu estômago. Não é só ansiedade de noivo. Conheço bem essa sensação, o tipo de sensação que me salvou inúmeras vezes de armadilhas e traições. E agora, ela me avisa que algo terrível está prestes a acontecer.
Cinco minutos. Dez minutos. Mais meia hora se passa, e Isabella ainda não chegou. Começo a caminhar de um lado para o outro, tentando organizar meus pensamentos, mas a tensão me sufoca. O salão está cheio, mas parece vazio para mim. Nada importa enquanto ela não estiver aqui.
Finalmente, o telefone vibra no meu bolso. Meu coração salta, e por um breve segundo, sinto um alívio. Pego o aparelho com pressa, esperando ouvir a voz suave de Isabella do outro lado, mas a voz que ouço não é dela. É fria. Profissional. Impessoal.
— Senhor Santini? — A pausa é longa demais. — Lamento informar, mas… houve um acidente com o avião da sua noiva.
O sangue congela nas minhas veias. Tudo ao meu redor para. A música, as vozes, os risos — tudo desaparece. Só resta o som surdo da minha respiração irregular e a batida frenética do meu coração.
— C-como assim… um acidente? — A minha voz sai tensa, mal reconheço o tom sombrio que escapa da minha garganta.
— Houve um acidente logo após a decolagem. O avião caiu… e... não houve sobreviventes. Sentimos muito!
Sinto o chão desaparecer sob meus pés. A realidade começa a desmoronar ao meu redor, como um pesadelo que se recusa a acabar. Não houve sobreviventes. Isabella está morta. As palavras ressoam na minha cabeça, repetidamente, como se fossem um eco interminável.
Não houve sobreviventes.
A dor que explode dentro de mim é diferente de qualquer coisa que já senti. Perdi muitos ao longo da vida. Vi amigos, aliados e inimigos caírem ao meu redor. Mas nada, nada me preparou para isso. Isabella… a mulher que eu amava, a única pessoa que me fazia querer ser um homem melhor, se foi. Assim, de repente, sem aviso. No dia em que deveríamos começar nossa vida juntos, ela simplesmente se foi.
Vittorio me olha, preocupado, ao ver a expressão no meu rosto. Ele sabe que algo terrível aconteceu, mas não ousa perguntar. Tento falar, tento explicar, mas as palavras não saem. Tudo o que posso fazer é entregar-lhe o telefone, deixando que ele ouça a notícia com os próprios ouvidos.
O rosto de Vittorio muda instantaneamente. Ele ouve o que ouvi. Vejo a dor em seus olhos, mas, ao contrário de mim, ele consegue manter a compostura. Como sempre, Vittorio assume o controle quando estou prestes a desmoronar.
— Lorenzo… — ele começa, mas eu o interrompo com um gesto. Não quero ouvir. Não quero pensar. Preciso sair daqui.
Sem dizer uma palavra, viro-me e caminho em direção à porta. O ar no salão parece me sufocar. Preciso de espaço, preciso de silêncio, preciso fugir dessa realidade que me esmaga. Saio para o jardim, onde o silêncio da noite me envolve como uma manta fria.
Tudo o que posso ouvir é o som da minha própria respiração. Fecho os olhos e vejo o rosto de Isabella. O sorriso que ela me deu na última vez que nos vimos. Ela estava tão confiante, tão cheia de vida. Como isso pode ter acabado tão rápido? Como algo que parecia tão certo pode ser arrancado de mim sem aviso?
A raiva começa a crescer dentro de mim, misturada com a dor. Não foi um simples acidente. Sei disso. No fundo, sinto que há mais por trás dessa tragédia. No meu mundo, nada acontece por acaso. Alguém está por trás disso. E vou descobrir quem.
Eu não pude salvar Isabella, mas garantirei que sua morte não seja em vão. Quem quer que tenha feito isso vai pagar. E, quando eu os encontrar, a única coisa que vou garantir é que eles sofram o mesmo destino.
O casamento que deveria ser o começo de uma nova vida se transformou no início de uma guerra. E, nesse momento, tudo o que resta em mim é a certeza de que a vingança será a única forma de honrar a memória daquela que seria minha esposa. Minha Isabella. E isso é uma promessa que não quebrarei.
Lorenzo Santini,Cinco anos depois….Cinco anos haviam se passado desde o dia que mudou minha vida para sempre.Eu nunca acreditei em coincidências. Na verdade, sempre desprezei a ideia de que a vida se desenrolava por mero acaso, como se não houvesse propósito ou controle sobre os acontecimentos que nos cercam. Mas, naquele dia, algo inesperado aconteceu, algo que me fez questionar minha própria convicção.Era uma tarde de primavera, o tipo de dia que normalmente passaria despercebido em meio ao caos da minha vida. O ar estava fresco, com uma leve brisa que trazia o cheiro das flores recém-abertas do parque ao redor do lago. Aquele café à beira d’água era meu refúgio, um lugar onde eu costumava ir para tentar encontrar algum resquício de paz, ainda que fosse apenas por algumas horas.Eu me sentava sempre na mesma mesa, no canto, com uma vista perfeita para o lago calmo. O som da água, com o murmúrio das conversas ao redor, costumava me ajudar a organizar os pensamentos, a planejar os
Lorenzo Santini,O som do celular vibrando no bolso do meu paletó quebrou o silêncio do café enquanto eu ainda conversava com Camille. Olhei para a tela e o nome de Vittorio apareceu. Por um instante, hesitei. Estava ainda envolvido no momento que acabara de viver com ela, mas a vibração constante do aparelho me trouxe de volta à realidade: minha outra vida. O lado da minha vida que Camille não conhecia, e que, se eu pudesse evitar, ela jamais conheceria.— Com sua licença!Levantei-me do café rapidamente e fui para fora, deixando a brisa suave do final da tarde me envolver. Atendi a chamada, minha voz baixa e controlada, como sempre.— Vittorio, o que houve? — Perguntei sem rodeios. Vittorio não ligava sem um motivo sério. Ele sabia o que estava em jogo.Do outro lado da linha, a voz de Vittorio era sombria, o tom de quem já viu o pior do mundo.— Lorenzo, precisamos de você na sede. Temos um problema — disse ele, sem entrar em muitos detalhes. Mas eu conhecia Vittorio o suficiente p
Camille,Esperei por ele. Não sei por quanto tempo, mas esperei. Lorenzo saiu do café apressado, o semblante de repente tenso, como se algo importante tivesse ocorrido. Tentei não me sentir mal por isso. Afinal, eu não o conhecia bem. Era apenas um encontro casual, uma conversa leve que, para mim, significava muito mais do que gostaria de admitir. Mas a maneira como ele simplesmente se levantou e foi embora, sem dar nenhuma explicação, me deixou com uma sensação incômoda.Fiquei ali, sentada, olhando para a xícara de café vazia e para o livro que eu havia deixado de lado. O que aconteceu com ele? Por que essa súbita necessidade de ir embora? Ele parecia tão intrigante, tão seguro de si.Depois de alguns minutos de silêncio, decidi que era hora de voltar. A tarde estava avançando, e eu ainda tinha muito a fazer. Estava na Itália para organizar um casamento importante, e o trabalho não esperava. Estava hospedada em um apartamento que havia alugado por algumas semanas, um lugar pequeno,
Camille,A manhã estava ensolarada, o céu azul e sem nuvens, um cenário perfeito para o casamento que eu estava organizando. Passei as últimas semanas me dedicando a cada detalhe desse evento, garantindo que nada desse errado. Esse era o meu maior projeto na Itália até agora, e eu sabia que tudo tinha que ser impecável. O casal que estava se casando era influente, e seu casamento seria o evento do ano. Cada flor, cada peça de decoração, e cada segundo da cerimônia precisava ser perfeito.Enquanto eu percorria o local do casamento, um belo jardim histórico no coração de Roma, conferindo as disposições finais, não conseguia deixar de pensar em Lorenzo. Eu ainda estava perplexa com nosso encontro no café naquele dia. A maneira como ele havia saído tão abruptamente, sem explicação, me deixava inquieta. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não poderia me distrair com esses pensamentos. Havia muito o que fazer.A cliente, Cláudia — a noiva — estava ansiosa. Ela caminhava de um lado para o outr
Lorenzo,Eu sabia que o assunto com Ricci precisava ser resolvido rapidamente. Traição não era algo que eu podia ignorar, especialmente quando vinha de alguém em uma posição tão importante na organização. Se eu deixasse isso passar, estaria enviando a mensagem de que a lealdade não era mais uma prioridade, e que cada um podia fazer o que bem entendesse. No nosso mundo, lealdade é tudo, e a falta dela se paga com sangue.Cheguei ao local onde o encontro havia sido marcado. Um pequeno armazém afastado, nas bordas da cidade. O tipo de lugar onde discussões como essa aconteciam longe dos olhos curiosos. Ricci estava esperando, com alguns dos meus homens já posicionados ao redor, prontos para agir se as coisas desandassem.Assim que entrei, Vittorio me cumprimentou com um leve aceno. Ele sempre sabia como conduzir essas situações com discrição e controle, e era por isso que eu confiava tanto nele. Vittorio era meu braço direito, sempre mantendo as coisas em ordem enquanto eu cuidava de out
Camille,Eu me olhava no espelho, ajustando os últimos detalhes do meu cabelo. Era a noite do casamento de Cláudia e Giovane, e eu precisava estar à altura da importância do evento. Estar impecável faz parte do trabalho, especialmente quando se tratava de uma cerimônia tão grandiosa quanto essa.Penteei meu cabelo uma última vez, deixando os fios soltos em ondas suaves que caíam sobre meus ombros. O brilho sutil que eu havia aplicado dava ao meu cabelo um toque de elegância sem exagero. Para a maquiagem, optei por algo mais clássico. Sombras em tons de marrom realçavam meus olhos, enquanto o delineado preto criava uma moldura delicada e precisa. O batom vermelho matte dava um toque de sofisticação, combinando perfeitamente com o vestido que escolhi para a ocasião.O vestido era um modelo longo e de seda, com um corte elegante e minimalista. O tom de verde-esmeralda realçava a cor dos meus olhos e se ajustava perfeitamente ao meu corpo, destacando as curvas sutilmente. As alças finas d
Lorenzo,O salão estava cheio de vozes abafadas, o som de risadas ecoando pelas paredes decoradas luxuosamente. Casamentos como esse eram sempre grandiosos, especialmente quando envolviam figuras como Giovane e Claudia. O casal, ambos pertencentes a famílias importantes dentro do nosso círculo, estava cercado por amigos e aliados da máfia. Uma ocasião perfeita para celebrar e reforçar alianças, e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para manter os negócios em ordem.Eu estava no meio de uma conversa com alguns amigos da máfia, todos homens de confiança, aqueles que eu podia contar para manter a ordem nas regiões que controlávamos. Salvatore e Alessandro estavam ao meu lado, rindo e comentando sobre o evento. Eles eram como irmãos para mim, homens com quem eu compartilhava muito mais do que apenas negócios. Sabiam dos sacrifícios que fizemos para manter nossas famílias no poder.— Então, Lorenzo — disse Alessandro, com um sorriso maroto. — Eu ouvi que aquele problema com Ricci foi resolvi
Lorenzo,O som abafado da festa continuava ao nosso redor, mas a atenção que eu dava a tudo aquilo estava diminuindo. Camille estava à minha frente, com os olhos brilhando sob a luz suave do salão. Ela continuava tirando algumas fotos dos noivos, enquanto eles dançavam.Depois de alguns minutos de conversa mais leve, eu percebi que o ambiente do salão não era o mais adequado para continuar aquela conversa que parecia ganhar mais intensidade a cada minuto. Havia algo mais no ar entre nós, algo que eu sentia que precisava ser explorado longe dos olhares curiosos dos outros convidados, para evitar especulações. E além de tudo, um calor me percorreu naquele momento, então, seria viável se eu saísse para fora um pouco.— O jardim parece um bom lugar para conversarmos mais tranquilamente — sugeri, mantendo o olhar fixo nos olhos dela. — Está calor aqui.Camille hesitou por um instante, mas logo assentiu com um leve sorriso.— Provavelmente — respondeu ela.Nós nos dirigimos calmamente para