Lorenzo - Entre o amor e a vingança
Lorenzo - Entre o amor e a vingança
Por: NairaSousa
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Lorenzo Santini,

Nunca imaginei que a minha vida pudesse se dividir em um antes e depois de um único momento. Mas aqui estou, preso em uma espera insuportável que parece durar uma eternidade. Tudo foi planejado para que este fosse o dia mais feliz da minha vida, o dia em que finalmente teria ao meu lado a única pessoa que me fazia acreditar que poderia existir algo mais além do sangue e do poder. Isabella. Ela deveria estar aqui, ao meu lado agora, sorrindo com aquele brilho nos olhos que sempre conseguia quebrar as minhas defesas.

Mas ela não está. E o relógio, cruel e impiedoso, não para de avançar.

O salão está impecável. As flores, o champanhe, os convidados — tudo está do jeito que Isabella sonhou. O som suave de uma orquestra toca ao fundo, enquanto amigos e familiares murmuram entre si, lançando olhares discretos na minha direção, esperando que a cerimônia comece. O casamento dos sonhos. O meu casamento. Mas a noiva, a única pessoa que realmente importa neste cenário todo, ainda não chegou.

Isabella havia me prometido que seria rápido. “Preciso resolver uma coisa antes de nos casarmos”, ela disse, com aquele sorriso despreocupado que aprendi a amar e a temer. Ela sabia que eu odiava a ideia de deixá-la viajar sozinha, especialmente no dia do nosso casamento, mas insistiu. “Confia em mim, tenho uma surpresa, ela sussurrou, e eu, contra meu instinto, deixei-a ir.

Agora, aqui estou eu, me sentindo cada vez mais inquieto. O avião de Isabella deveria ter pousado há mais de uma hora. Algo dentro de mim começa a se revirar, uma sensação de mal-estar que se intensifica a cada segundo. Tento manter a compostura, mas minha mente está um caos. Olho para o meu telefone, esperando que ele toque, que Isabella ligue e explique que houve um pequeno atraso, que ela está bem e a caminho.

Mas o telefone permanece mudo. E o peso da espera cresce.

Vittorio, meu braço direito e amigo de longa data, se aproxima com um sorriso descontraído, tentando aliviar a tensão. Ele sabe o quanto estou preocupado, mas tenta, como sempre, ser a voz da razão.

— Ela vai chegar, Lorenzo. Você sabe como essas coisas são, voos atrasam o tempo todo.

Eu apenas balanço a cabeça, sem dizer nada. Quero acreditar nele, mas algo está errado. Sinto isso no fundo do meu estômago. Não é só ansiedade de noivo. Conheço bem essa sensação, o tipo de sensação que me salvou inúmeras vezes de armadilhas e traições. E agora, ela me avisa que algo terrível está prestes a acontecer.

Cinco minutos. Dez minutos. Mais meia hora se passa, e Isabella ainda não chegou. Começo a caminhar de um lado para o outro, tentando organizar meus pensamentos, mas a tensão me sufoca. O salão está cheio, mas parece vazio para mim. Nada importa enquanto ela não estiver aqui.

Finalmente, o telefone vibra no meu bolso. Meu coração salta, e por um breve segundo, sinto um alívio. Pego o aparelho com pressa, esperando ouvir a voz suave de Isabella do outro lado, mas a voz que ouço não é dela. É fria. Profissional. Impessoal.

— Senhor Santini? — A pausa é longa demais. — Lamento informar, mas… houve um acidente com o avião da sua noiva.

O sangue congela nas minhas veias. Tudo ao meu redor para. A música, as vozes, os risos — tudo desaparece. Só resta o som surdo da minha respiração irregular e a batida frenética do meu coração.

— C-como assim… um acidente? — A minha voz sai tensa, mal reconheço o tom sombrio que escapa da minha garganta.

— Houve um acidente logo após a decolagem. O avião caiu… e... não houve sobreviventes. Sentimos muito!

Sinto o chão desaparecer sob meus pés. A realidade começa a desmoronar ao meu redor, como um pesadelo que se recusa a acabar. Não houve sobreviventes. Isabella está morta. As palavras ressoam na minha cabeça, repetidamente, como se fossem um eco interminável.

Não houve sobreviventes.

A dor que explode dentro de mim é diferente de qualquer coisa que já senti. Perdi muitos ao longo da vida. Vi amigos, aliados e inimigos caírem ao meu redor. Mas nada, nada me preparou para isso. Isabella… a mulher que eu amava, a única pessoa que me fazia querer ser um homem melhor, se foi. Assim, de repente, sem aviso. No dia em que deveríamos começar nossa vida juntos, ela simplesmente se foi.

Vittorio me olha, preocupado, ao ver a expressão no meu rosto. Ele sabe que algo terrível aconteceu, mas não ousa perguntar. Tento falar, tento explicar, mas as palavras não saem. Tudo o que posso fazer é entregar-lhe o telefone, deixando que ele ouça a notícia com os próprios ouvidos.

O rosto de Vittorio muda instantaneamente. Ele ouve o que ouvi. Vejo a dor em seus olhos, mas, ao contrário de mim, ele consegue manter a compostura. Como sempre, Vittorio assume o controle quando estou prestes a desmoronar.

— Lorenzo… — ele começa, mas eu o interrompo com um gesto. Não quero ouvir. Não quero pensar. Preciso sair daqui.

Sem dizer uma palavra, viro-me e caminho em direção à porta. O ar no salão parece me sufocar. Preciso de espaço, preciso de silêncio, preciso fugir dessa realidade que me esmaga. Saio para o jardim, onde o silêncio da noite me envolve como uma manta fria.

Tudo o que posso ouvir é o som da minha própria respiração. Fecho os olhos e vejo o rosto de Isabella. O sorriso que ela me deu na última vez que nos vimos. Ela estava tão confiante, tão cheia de vida. Como isso pode ter acabado tão rápido? Como algo que parecia tão certo pode ser arrancado de mim sem aviso?

A raiva começa a crescer dentro de mim, misturada com a dor. Não foi um simples acidente. Sei disso. No fundo, sinto que há mais por trás dessa tragédia. No meu mundo, nada acontece por acaso. Alguém está por trás disso. E vou descobrir quem.

Eu não pude salvar Isabella, mas garantirei que sua morte não seja em vão. Quem quer que tenha feito isso vai pagar. E, quando eu os encontrar, a única coisa que vou garantir é que eles sofram o mesmo destino.

O casamento que deveria ser o começo de uma nova vida se transformou no início de uma guerra. E, nesse momento, tudo o que resta em mim é a certeza de que a vingança será a única forma de honrar a memória daquela que seria minha esposa. Minha Isabella. E isso é uma promessa que não quebrarei.

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