Luke
Deus, eu não me sentia tão nervoso assim há muito tempo. Eu andava de um lado para o outro na sala, o celular na mão, me sentindo estranho por usar aquele terno.
— Cara, para de andar assim! Está me deixando tonto — Zach reclamou, tirando os olhos do celular e me encarando. — Que foi? Está com medo de Molly te dar um bolo?
Senti meus olhos arregalarem, mas neguei com a cabeça; a resposta não era para aquela pergunta, mas sim para a possibilidade de tais palavras se concretizarem.
Droga, eu devia estar parecendo um adolescente que nunca tinha saído com alguém antes. Nem parecia que eu já tivera relacionamentos antes de conhecer Molly. Já sabia como as coisas funcionavam muito bem.
Mas, então, por que eu me sentia como se aquela fosse a primeira vez em que convidava alguém para sair? Talvez fosse pela maneira que me sentia com ela a cada dia que passava ao seu lado, mesmo não sabendo se para Molly ocorria a mesma sensação.
— Estou brincando, Luke — Zach voltou a falar, se arrumando no sofá e me fazendo o observar. — Molly não vai desistir, fica tranquilo.
— Como você pode ter tanta certeza?
— Vocês dois estão saindo para tudo quanto é lugar tem mais de um mês, cara! Se fosse para ela desistir de sair com você, já teria feito, confia em mim — respondeu, arqueando os lábios em apoio, e eu apenas assenti.
Ele estava certo, não tinha motivo para Molly desistir agora. Dei um sorriso e senti meu celular vibrar: era uma mensagem do motorista que me levaria ao encontro de Molly na porta de sua casa. No texto surgiu o aviso que ele chegaria em cinco minutos.
Eu me olhei pela última vez no espelho, encarando meu reflexo bem arrumado: cabelos penteados para trás e roupas formais. Estava achando o terno um pouco exagerado e me perguntava se estava bom, quando Zach, como se pudesse ler minha mente, respondeu:
— Você está estranho com esse terno, Luke. Tenho certeza que Molly vai adorar, ela sempre adora.
Eu o encarei em dúvida, mas resolvi não dizer nada sobre sua frase esquisita. Em seguida, me despedi de Zach e segui em direção à portaria do prédio, já encontrando o carro à minha espera. Nossos únicos meios de transporte costumavam ser o metrô ou a pé, então resolvemos dividir um carro por aplicativo para parecermos mais “adultos” quando chegássemos ao restaurante.
Paramos em frente ao prédio de Molly e tivemos que esperar apenas dois minutos até que ela aparecesse e me fizesse esquecer completamente que eu havia planejado me levantar e abrir a porta. Respirando fundo, saí do carro e fiquei ainda mais desconcertado com sua beleza.
Como já nos aproximávamos do fim do outono, e o inverno dava as caras a cada dia, Molly usava um vestido azul, que parecia ser rodado, pela maneira como se mexia enquanto ela andava em direção ao carro. Meias-calças escuras e saltos altos complementavam o visual, além de um casaco preto aberto, uma bolsa a tiracolo e um sorriso gigantesco em seus lábios pintados em um vermelho escuro, que combinava com os olhos pintados em um tom que eu não saberia dizer qual era, mas que ficava muito com bem com sua pele negra e íris quase mel.
— Boa noite, Molly Parker. — Sorri, finalmente encontrando minha voz e a observando sorrir mais ainda.
— Boa noite, Luke Thomas — ela falou, parando na minha frente e arrumando as tranças para um único lado do rosto. — Escolheu um carro legal — completou, se aproximando mais um pouco para tocar no veículo, ficando muito próxima de mim.
E assim como na noite em que a convidei para sair, senti vontade de esquecer que tínhamos uma reserva em um ótimo restaurante e de beijá-la até que não me lembrasse mais meu nome.
— Eu disse que precisava ser tudo como você merece — soltei, a encarando sem sorrir e observando um brilho estranho em seus olhos. Talvez ela quisesse o mesmo que eu.
Molly ficou onde estava, o rosto quase na altura do meu, graças aos saltos. Ela olhava para os meus lábios e sorria, como se tentasse me comunicar algo. Provavelmente que sou muito lerdo e que demorei demais para entender que ela queria me beijar. Assim, acabei perdendo a oportunidade de fazer isso acontecer naquele momento, já que o motorista buzinou.
— Quer desistir desse jantar? Eu nem estou com tanta fome assim para algo além de uma pizza. — Molly perguntou, as mãos em meus ombros e um sorriso animado nos lábios. — E tenho certeza que esse terno, apesar de ficar muito bem em você, deve ser muito desconfortável.
— Você tem razão. Ele é um pouquinho desconfortável. — Suspirei, fazendo com que ela desse uma risada contagiante.
Com pouco mais de dois minutos, conseguimos cancelar a viagem, pagando a pequena taxa, e nossa reserva e seguimos para o apartamento que Molly dividia com a tal Isla — que não estava lá, para nossa sorte.
— Então, qual pizza vamos pedir? — perguntei da sala, esperando que ela voltasse para que pudéssemos escolher algo para ver.
— Pode ser quatro queijos? — gritou de volta.
— Claro — respondi, observando Molly voltar do quarto sem os sapatos, usando um moletom que parecia extremamente confortável e que a deixava tão linda quanto estava antes. — Ei, isso é um absurdo!
— Que foi? — Ela parecia genuinamente confusa, até que eu fiz sinal de minha roupa para a dela, a fazendo cair na risada. — Ah, querido, sinto muito, mas não possuo roupas confortáveis que sirvam em você. Posso te oferecer um cobertor, o que acha? — Eu apenas assenti.
Molly correu até o quarto e voltou depois de alguns segundos com um cobertor gigantesco, que nos abrigou pelas horas seguintes em que fizemos uma maratona com os primeiros episódios de várias séries. Não chegamos a prestar muita atenção no que acontecia, já que conversávamos o tempo todo, um rindo de algo que o outro dizia enquanto tentávamos não engasgar com a pizza.
Quando estávamos provavelmente no terceiro episódio seguido da única série que realmente estávamos assistindo, Molly se aproximou um pouco mais de mim, colocando a cabeça em meu ombro e suspirando longamente.
Com o coração acelerado e me sentindo um pouco mais à vontade, passei os braços em volta de sua cintura, puxando seu corpo para mais perto ainda e fazendo com que Molly me encarasse. Nesse momento surgiu um sorriso nos lábios, que observei diminuir. Ela aproximou seu o rosto do meu lentamente, os olhos ainda bem abertos e grudados aos meus.
Desci meus olhos para seus lábios, que ficavam cada vez mais próximos dos meus, e Molly, claramente com a mesma intenção, sussurrou:
— Me beija logo, Luke.
Sentindo o perfume incrível de Molly e rindo um pouco de seu tom urgente, eu o fiz. Passei uma das mãos em volta de seu pescoço e puxei seu rosto, selando nossos lábios em um beijo inicialmente lento, que conforme os minutos passavam, foi ficando cada vez mais desesperado.
Molly reclamou, contra meus lábios, que estava muito desconfortável daquela maneira, então logo passou para meu colo, me fazendo respirar com mais força, a escutando rir por notar que aquilo mexeu comigo.
Sorri, puxando seu rosto de volta para o meu com menos delicadeza que desejava, mas ela não pareceu se incomodar, soltando um leve gemido contra meus lábios e voltando a me beijar com vontade; as mãos presas em meus cabelos, os bagunçando um pouco.
Minhas mãos foram diretamente para sua cintura, por baixo do moletom, subindo lentamente por suas costas, fazendo com que ela soltasse meus lábios e levantasse os braços, me dando permissão para que o tirasse. Porém, quando comecei a fazer isso, alguém mexeu na porta, nos assustando.
Molly pulou do meu colo, sentando no sofá e nos cobrindo com o cobertor novamente, enquanto duas garotas entravam no apartamento sem dizer nada sobre a cena. Parecia que elas faziam de tudo para ignorar nossa presença ali, já que foram até a cozinha, conversando alto, pegaram algo na geladeira e seguiram para o quarto no fim do corredor.
— Sua colega de quarto é agradável, hein? — soltei, com a respiração ainda acelerada e um sarcasmo não muito natural para mim, fazendo Molly rir e beijar minha bochecha.
— Pois é, mas não vamos falar sobre ela, ok? — pediu, também um pouco ofegante, e eu apenas assenti. — Você ficou bonito com o cabelo todo penteado, mas confesso que prefiro mil vezes ele todo bagunçado. — Molly mudou de assunto, se levantando para mexer em meus cabelos, mas acabando em meu colo novamente, me beijando com carinho. Todavia logo escutamos a risada das garotas, nos assustando novamente. — Isla estragou a noite, né? — soltou, frustrada, se sentando ao meu lado.
— Não, essa noite está incrível com ou sem sua colega de quarto aqui, pode ter certeza — respondi, a puxando para mais perto novamente e beijando sua testa. — Quer terminar de ver a série?
— Claro — respondeu, se aconchegando mais ao meu lado.
Assistimos a mais dois episódios, mas acabamos dormindo no sofá, mesmo com Isla e sua amiga tentando nos atrapalhar.
Quer encontro melhor do que esse?
Molly Ah, se quando cheguei aqui soubesse que viver em Londres seria tão incrível, talvez não tivesse me deixado abalar pelo fato de que minha colega de quarto me odiava. Pensando bem, se eu não tivesse deixado que ela conseguisse me magoar, não teria conhecido Luke há dois meses. Eu deveria agradecê-la por isso? Melhor nem tentar. Isla além de me ignorar — algo que eu não reclamaria nunca —, vivia tentando atrapalhar os poucos momentos em que eu e Luke estávamos juntos no apartamento. Mesmo assim, eu não ligava. Estava feliz demais para deixar que ela me fizesse desmoronar. Após nosso encontro, que acabou se resumindo mais a uma maratona de séries e um incrível beijo, Luke e eu já não estávamos mais tentando disfarçar o que sentíamos. Aquele primeiro beijo se multiplicou rapidamente. Primeiro vieram os beijos disfarçados, trocados na estação de metrô, após mais um de nossos passeios pela cidade; depois surgiram os entre risadas no meio de cafés, na London Eye, mas apareciam prin
Molly Coordenar uma festa surpresa estava sendo até fácil, o mais difícil era tentar esconder de Luke o que estávamos fazendo, ainda mais quando ele passava metade do tempo em que estávamos juntos me perguntando o que eu não estava dizendo. Graças à ajuda de Zach, que sempre arranjava uma maneira de distrair o amigo, eu consegui enviar as coisas relacionadas à festa para Erin no tempo correto. Mas, sinceramente, eu tinha certeza de que ele já sabia, nada passava despercebido por ele. Agora estávamos todos à espera de Luke no café de Erin, totalmente decorado com balões coloridos e faixas de feliz aniversário. Luke era trazido até o café por sua irmã Jessica e Zach, e confesso que eu estava um pouco nervosa. O motivo? Bom, eu ia conhecer a irmã dele, poxa! Tudo bem, Luke já tinha me dito que Jessica era totalmente o oposto de sua mãe, mas mesmo assim eu não conseguia deixar de sentir as mãos geladas sempre que pensava em como seria esse encontro. E se ela não gostasse de mim? E se
Luke — Vamos, Luke. Não seja assim, me ajuda, vai! — Molly reclamou pela segunda vez, sentada em meu colo e me beijando de maneira carinhosa, numa clara tentativa de me convencer em ajudá-la a ensaiar alguns passos para uma de suas aulas. — Molly, você já me viu dançar? Parece que eu estou tentando fugir de alguém com uma máquina de choque! Não é nada bonito — falei, provocando uma risada gostosa em minha namorada, que se levantou e seguiu para a cozinha. Sorri com tal pensamento; se um dia eu havia acreditado que estar em um relacionamento não era para mim, eu e Molly estávamos muito bem. Minhas férias tinham finalmente chegado, e estávamos aproveitando cada segundo do inverno juntos, já que o ritmo das aulas dela diminuíram. Além disso, as festas de fim de ano se aproximavam mais e mais. Falando nelas, eu estava com um convite para fazer a Molly, mas não conseguia: passar o natal comigo e com minha família na casa da minha mãe, daqui a duas semanas. Mamãe havia me pedido descul
Molly Estiquei minha blusa pela terceira vez, ainda parada em frente ao espelho, tentando controlar minha respiração. Eu não sou de ligar muito para o que visto, afinal roupas não eram importantes, mas não conseguia afastar o medo de estar malvestida ou cometer alguma gafe. Fazer o quê? Eu estava apavorada por conhecer Abigail. Luke também não parecia muito tranquilo em reencontrar a mãe, mas não pelo mesmo motivo que eu. Aliás, o dele era um pouco mais complicado, ainda mais se tratando de como ela reagia a certas coisas. — E aí, meninas? — perguntei, girando e voltando a encarar a tela do computador, onde minha amiga e minha irmã me analisavam com expressões dignas de pessoas que entendiam de moda. — Como estou? Eu me aproveitei que nossas famílias estavam juntas para o natal, já que eram bons amigos e estavam dividindo uma casa belíssima na Itália, para obter ajuda das duas ao mesmo tempo. — Pelo amor de Deus, Molly Parker, você tem coragem de sair de casa usando isso? — minh
MollyA casa em que Luke havia crescido era simplesmente linda, principalmente com toda aquela decoração de natal, que dava ainda mais destaque para a fachada branca.Quanto mais nos aproximávamos da entrada, mais eu sentia as mãos geladas. Entretanto eu tentava não demonstrar. Luke precisava de todo o meu apoio no momento em que fosse dizer para sua mãe o que tinha na cabeça.— Pronta para conhecer Abigail Thomas? — perguntou, com a voz tremendo um pouco, o que me fez o encarar.— Eu estou, mas e quanto a você? — indaguei, o observando fazer uma careta. — Tem certeza que quer contar isso para ela hoje?— Tenho, Molly. Se não contar agora, ela vai descobrir sozinha, e vai ser pior ainda — respondeu, e eu apenas assenti, enquanto ele respirava fundo. — Vamos entrar.Entrelacei minha mão livre na sua, e seguimos assim até a porta, que não demorou a ser aberta por uma animada e festiva Jessica. Antes que eu pudesse desejar feliz natal, ela me apertou em um abraço. Cumprimentei Archie e a
Luke Não havia sido uma semana muito fácil para mim. Depois do que houve no natal, eu coloquei a maioria dos sentimentos desagradáveis para fora, no papel. As horas que não estava com Molly ou Jessica, eu e Zach passávamos escrevendo as letras para nosso primeiro EP, que seria nossa introdução ao meio, segundo Noah. Minha irmã e minha namorada estavam sendo meus pontos de apoio nesse momento, já que estavam sempre ao meu lado, mesmo tendo passado apenas três dias desde o ocorrido. Elas nunca me deixavam esquecer que aquilo era o que eu queria fazer e ninguém poderia me odiar, por amar ser músico. Acho que não recebia tanto carinho e apoio de alguém dessa maneira desde quando meu pai ainda era vivo, e a cada momento em que minha irmã ou Molly me viam cabisbaixo por lembrar das duras palavras de minha mãe, vinham me dar apoio. Eu sentia necessidade de agradecer aos céus por ainda ter essas duas mulheres incríveis em minha vida. Talvez sem elas, eu tivesse desistido da música naquela
AshleyChequei meu celular pela quinta vez, ansiosa para que a última hora de voo passasse logo e eu finalmente pudesse reencontrar minha amiga que eu não via há longos oito meses. Também estava louca para finalmente visitar Londres depois de tantos anos escutando Molly falando sobre a cidade sem parar.Também desejava descansar um pouco, já que manter as melhores notas da sala não era uma tarefa fácil: precisava dedicar horas a fio de meu dia aos estudos e abrir mão de fazer muitas coisas que amo; mas valia a pena.A cada dia que passava, eu me sentia mais certa de que tinha feito a escolha certa, todavia sentia falta de poder sair com mais frequência, como ocorria antes. Deus, eu era a rainha das baladas no ensino médio, era praticamente parte da mobília de uma delas; acabei virando sócia aos dezoito anos, um dos melhores presentes de aniversário que meu irmão me deu.Mas quando comecei meu primeiro curso — já que para entrar na escola de direito, eu precisaria ser bacharel em algo,
Molly Março finalmente estava terminando e levando o frio com ele. O início do novo ano estava sendo tranquilo, cada dia que passava eu me integrava mais às aulas, fazendo novas amizades. Minha caça a um trabalho havia finalmente acabado. Com a saída de Luke do café, Erin ficou com uma vaga para garçonete e, sabendo de minha constante busca por um trabalho, resolveu me dar uma chance. Eu estava mais do que agradecida por ter conseguido, já que finalmente estava dando um pouco de folga para o bolso de meus pais, depois de quase vinte e três anos de gastos. Falando em Luke, ele e Zach estavam enfiados em estúdio, trabalhando no primeiro álbum e tentando lidar com o número de fãs que cresceu de maneira maravilhosa desde o lançamento do primeiro single. Eu não poderia estar mais orgulhosa dos dois como estava naquele momento. Para mim, era incrível ver como as coisas finalmente estavam dando certo para eles... E como pareciam estar dando certo para Ashley e Zach também. Confesso que