Na noite de domingo para segunda feira quase não consigo pregar o olho. A ansiedade em finalmente saber o que está acontecendo entre mim e Ethan me mantém acordado e durmo menos de três horas.
Acordo bem cedo no dia seguinte, quando toda minha família ainda está dormindo. Me arrumo em silêncio, deixo um bilhete para os meus pais em cima da mesa da cozinha, dizendo que fui me encontrar com Jake, e saio de casa.
Estou tão agitado e concentrado nos meus próprios pensamentos enquanto sigo de ônibus até a loja que não consigo prestar atenção nos sentimentos das pessoas à minha volta. Mal posso acreditar que enfim vou entender toda essa situação em que me encontro.
Desço na minha parada e caminho apressado pela calçada, tremendo de nervoso. Quando chego à loja vejo que as luzes estão acesas, apesar de a placa na entrada estar virada para o lado que diz Fechado. Antes de entrar tento sentir a presença de E
Mesmo depois de a porta ter se fechado há vários minutos, continuo escondido. Então ouço a voz potente de Elijah vindo da frente da loja: — Ele já foi embora há um bom tempo, Ethan. Você não vai sair daí? Saio do quartinho nos fundos e me aproximo. — Obrigado por ter me emprestado isso. – digo, tirando o colar do meu pescoço e devolvendo a ele. – Tem certeza de que não pode tornar o efeito permanente? Não pode fazer com que o amuleto bloqueie a minha alma por tempo indeterminado e assim Anthony não possa mais me sentir? Elijah balança a cabeça, os dedos acariciando suavemente o pequeno cristal violeta pendurado no cordão. — Tenho. Depois de ativado, o poder da pedra dura no máximo duas horas. Sempre podemos reativa-lo, mas não seria nada prático ter que fazer todo o ritual de ativação, que é um tanto trabalhoso, em intervalos tão curtos de tempo. — Dro
Depois da conversa esclarecedora que tive com Elijah, sigo para casa e tento seguir os seus conselhos – relaxar e procurar não pensar muito no assunto, por mais difícil que seja. Aproveito para estudar um pouco o material que me deram na faculdade, que explica como as aulas vão funcionar na prática, para organizar e faxinar o meu quarto. Como estou me sentindo culpado por usar Jake como desculpa para sair de casa nos últimos dias, o chamo para almoçar fora e passar a tarde dando uma volta na cidade. Eu e Jake somos amigos desde criança. Ele é um cara tranquilo, com sentimentos simples e contidos, então é confortável para mim estar perto dele – acho que foi justamente por isso que eu me interessei em ser seu amigo, para ser bem sincero. Almoçamos em um restaurante árabe no centro, depois circulamos sem rumo pelas redondezas e terminamos nossa perambulação em um pequeno parque nas proximidades, cheio de pessoas deitadas em toalhas
Século XIX – Ano de 1888 Ethan está terminando de amarrar os cadarços dos seus sapatos, quando a porta se abre de supetão e Jason entra no quarto. — Ah, você já está quase pronto. – diz, parecendo agitado. – Vim avisar para se apressar, fomos chamados com urgência na residência dos Millers, para ver Anthony. Ethan levanta da poltrona em um pulo, alarmado. — O que há de errado com ele? — Parece que acordou muito febril. – responde o doutor Harris. Ele veste o casaco com pressa e apanha sua maleta de cima da cama. — Bem, então vamos sair logo daqui. Jason sai para o corredor e Ethan o segue com passos ap
Quando chegamos na loja, viro a placa com o lado que diz Aberto para fora e volto para trás do balcão. — Preciso continuar trabalhando, mas você pode ir para o quarto dos fundos e ficar à vontade. – afirmo. – Guarde suas coisas, veja televisão, faça o que quiser. Anthony balança a cabeça. — Na verdade eu preferia ficar aqui, se você não se incomodar. Só por ter passado aqueles trinta minutos dentro da casa dos meus pais e longe de você, já voltei a sentir tonturas e calafrios. Por isso quero me manter por perto. Reprimo um suspiro. — Tudo bem, você é quem sabe. Então não fiquei aí em pé, puxe aquela cadeira do canto e se sente. Ele faz o que eu pedi e se acomoda bem na frente de uma estante cheia de livros usados. — Algum desses exemplares fala sobre nós? – pergunta, correndo levemente as pontas dos dedos pelas lomba
Quando acordo na manhã seguinte Ethan ainda dorme profundamente. Sei que o pesadelo da noite anterior o deixou exausto – além de poder captar seu cansaço, o mesmo acontece comigo todas as vezes em que tenho esses sonhos –, portanto deixo que continue descansando. Me levanto o mais silenciosamente possível, tomando cuidado para não acordá-lo, e fico em pé ao lado da cama por alguns instantes, o observando. Ele permanece imóvel, um braço enfiado sob o travesseiro e o outro esticado à frente do corpo, ressonando. Desde a primeira vez em que o vi, senti um desejo estranho de protege-lo, sem saber ao certo do quê, e sou novamente atingido por esse sentimento. Sigo até o banheiro e lavo o rosto, depois vou para a cozinha, decidido a fazer um café fresco. Começo a abrir as portas dos armários, procurando pelo pó e os filtros, ainda tentando não fazer muito barulho. A cafeteira é igual à que temos em casa, então não tenho dificuldades para ma
Século XIX – Ano de 1888 Os dois estão andando lado a lado na floresta, em silêncio. Ethan já perdeu as contas de quantos passeios fizeram por ali até então, sempre terminados no lago. Agora eles trocam beijos e carinhos dentro da água, mas tudo de um modo muito inocente. Anthony é um rapaz de família, que não conhece nada do mundo da sedução, e ele procurar respeitar isso. Não é seu intuito corrompe-lo de forma alguma. Mas Ethan está incomodado com uma coisa – o segredo que esconde dele, sobre quem é de verdade, sobre a sua verdadeira natureza. A cada vez que Anthony brinca sobre as habilidades milagrosas do assistente de médico, sem fazer ideia do quanto está perto da verdade, ele sente uma pontada aguda no lado esquerdo do peito. Tudo q
Quando saio do quarto dos fundos e entro na loja encontro Elijah sentado no canto, lendo um livro distraidamente. Limpo a garganta para chamar sua atenção e então anunciou: — Estou pronto para a nossa primeira aula. Ele ergue os olhos para mim e sorri, depois coloca o livro novamente na prateleira e se levanta. — Bem, então vamos lá. – diz, caminhando até a porta. Franzo o rosto, confuso. — Espera aí, eu pensei que a gente fosse ficar aqui na loja mesmo. Elijah balança a cabeça. — Não, precisamos estar ao ar livre e em meio a outras pessoas, só assim você vai conseguir aprender a lidar com os sentimentos alheios. – explica. Sei que ele tem muita experiência no assunto e decido confiar nas suas palavras. Nós dois saímos da loja e começamos a caminhar lado a lado pela calçada. Apesar do dia nublado, muita g
Depois da aula que Anthony tem com Elijah, onde foi ensinado como controlar melhor o seu dom, passo alguns dias sem notícias dele, então suponho que os truques que aprendeu funcionaram e que ele não voltou a se sentir doente. Meus sonhos estranhos também cessam e fico feliz por voltar a levar uma vida normal, trabalhando e cuidando dos meus afazeres sem maiores problemas, até mesmo me arriscando a ir ao cinema em uma tarde ensolarada e concluindo o passeio com uma volta no parque. Porém, de repente as coisas mudam – estou na loja atendendo um rapaz quando, do nada, começo a me sentir mal, com tonturas e o corpo todo quente. Está fazendo muito calor e penso que esse é o motivo por trás do meu mal estar, por isso aumento a velocidade do ventilador de teto e vou até o quarto dos fundos para buscar uma garrafa de água na geladeira. Atendo mais algumas pessoas, mas começo a me sentir cada vez pior e logo fica cla