Depois da aula que Anthony tem com Elijah, onde foi ensinado como controlar melhor o seu dom, passo alguns dias sem notícias dele, então suponho que os truques que aprendeu funcionaram e que ele não voltou a se sentir doente.
Meus sonhos estranhos também cessam e fico feliz por voltar a levar uma vida normal, trabalhando e cuidando dos meus afazeres sem maiores problemas, até mesmo me arriscando a ir ao cinema em uma tarde ensolarada e concluindo o passeio com uma volta no parque.
Porém, de repente as coisas mudam – estou na loja atendendo um rapaz quando, do nada, começo a me sentir mal, com tonturas e o corpo todo quente. Está fazendo muito calor e penso que esse é o motivo por trás do meu mal estar, por isso aumento a velocidade do ventilador de teto e vou até o quarto dos fundos para buscar uma garrafa de água na geladeira.
Atendo mais algumas pessoas, mas começo a me sentir cada vez pior e logo fica cla
Desço no ponto de ônibus próximo à loja e atravesso a rua, seguindo na direção da entrada. Por sorte meus pais foram passar o fim de semana na casa de um casal de amigos e levaram minha irmã junto, portanto pude sair de casa sem dar nenhuma explicação. De todo jeito, enfiei meu celular no bolso da calça, para o caso dos dois resolverem me ligar. Chegando lá, testo a maçaneta da porta e descubro que está destrancada, então entro na loja e a fecho atrás de mim. Elijah me explicou brevemente o que estava acontecendo, porque precisavam de mim, e disse que estariam me esperando no quarto dos fundos, por isso passo pela lateral do balcão e vou até lá. Ethan está deitado na cama, um pouco pálido, de olhos fechados. Elijah e um outro homem – que deve ser o amigo ao qual ele se referiu ao telefone, o responsável por administrar uma sessão de hipnose em Ethan – estão sentados à mesa da cozinha. — Anthony
A sessão de hipnose me deixa exausto e acabo pegando no sono logo depois que Elijah vai embora. Quando acordo, horas mais tarde, Anthony está sentado no chão ao lado da cama, com as pernas cruzadas, olhando para o nada e parecendo perdido nos próprios pensamentos. — Desculpe, eu acabei pegando no sono e te deixei aqui sozinho, sem nada para fazer. – digo, esfregando os olhos. – Você poderia ter pelo menos ligado a televisão. Ele balança a cabeça e se levanta, massageando as pernas. — Não precisa se preocupar com isso, dava para perceber que você precisava descansar um pouco depois de tudo que aconteceu. Conseguiu dormir bem? Assinto e forço um sorriso. — Consegui, sim. Obrigado por perguntar. – respondo. Olho para o relógio pendurado na parede em frente à cama e me espanto ao ver que já passa das seis. – E agora acordei morrendo de fome, por isso acho melhor começar
Século XIX – Ano de 1888 Ethan corre pela floresta, aos risos e tropeços. Ele tem consciência de que está agindo como uma criança boba, mas não se sente envergonhado porque é o seu Tony que está ali e Ethan sabe que jamais precisaria ter vergonha dele. Anthony finalmente consegue alcança-lo e os dedos dele agarram as costas do seu colete. Ele tenta se soltar, mas perde o equilíbrio e cai esticado sobre o chão coberto de folhas, levando o rapaz junto na queda. — Você se machucou? – pergunta Anthony, erguendo o corpo para lhe encarar, a voz cheia de preocupação. O alívio toma
Nos sentamos em um dos poucos bancos livres no parque e Anthony me passa meu fumegante copo de café. Tomo um belo gole – quase queimando a língua – e abro o saco pardo que estou segurando para apanhar um donut recheado com geleia de morango e coberto com açúcar de confeiteiro. Começo a comer e corro os olhos ao meu redor. É um dia realmente ensolarado e quente, mas sopra uma brisa agradável que ajuda a aplacar o calor e muitas pessoas aproveitaram para passar um tempo ao ar livre, lotando o parque. Crianças correm para lá e para cá; jovens descolados tomam Sol e batem papo esticados em toalhas sobre a grama; idosos caminham de braços dados pelo calçamento que circunda o parque, junto de homens e mulheres passeando com seus cachorros. É uma cena bem típica de uma manhã de verão. Olho para Anthony, que também está admirando a agitação do parque enquanto bebe pequenos goles do seu café. Me concentro em seu rosto, em seus o
Acabo de abrir a Harris e ainda estou organizando algumas coisas atrás do balcão, quando Elijah entra na loja. — Bom dia, Barus. – cumprimenta, se aproximando. – Está se sentindo melhor? Assinto, concentrado na tarefa de separar as notas no caixa de acordo com o valor. — Sim, muito melhor. Toda aquela tontura e aquele mal estar terrível já passaram completamente. Fade dá alguns tapinhas no meu ombro, depois se afasta, me olhando com curiosidade. — Você está parecendo diferente, muito mais relaxado do que de costume. – diz. – Até mesmo feliz, eu diria. — Eu achei que você não fosse capaz de sintonizar meus sentimentos. – retruco. — Continuo não sendo, mas lhe conheço de
Já de banho tomado e pronto para sair, apareço na cozinha e encontro meus pais andando para lá e para cá, preparando o jantar juntos. Para variar, minha irmã não está em casa – April disse que iria dormir na casa de uma amiga, mas desconfio que na verdade tenha ido à alguma boate onde a banda de Simon vá se apresentar. Minha mãe me olha da cabeça aos pés, observando minhas roupas. Como não sei aonde Ethan pretende me levar decidi me vestir de um jeito que não fosse descontraído demais, mas também não parecesse tão formal – calça social azul marinho, camisa branca e mocassins. — Nossa, você decidiu caprichar no visual para sair com o Jake hoje, hein? – elogia ela, com a voz cheia de admiração. — Obrigado. – agradeço, um pouco sem graça. Não gosto nem um pouco de ter contado a mesma mentira aos meus pais pela centésima vez e dito que iria sair com Jake, mas também não é como se eu tivesse
Século XIX – Ano de 1888 Ethan está esperando por Anthony na floresta, recostado no tronco de uma das árvores próximas à margem do lago. Ele tira o relógio do bolso para checar as horas mais uma vez, depois torce as mãos e estala os dedos, nervoso. Anthony já está meia hora atrasado para o encontro deles, uma coisa que nunca aconteceu antes. De repente Ethan escuta passos se aproximando e corre os olhos ao seu redor, ansioso. Quando vê Anthony abrindo caminho entre os arbustos, sente uma onda de alívio tão grande lhe atingindo que chega a ficar com as pernas bambas. — Graças a Deus você chegou, eu já estava morrendo de preocupação! – diz, sem conseguir esconder o pavor em sua voz. – Pensei que tivesse lh
Século XIX – Ano de 1888 Anthony caminha devagar pela calçada, de braços dados com a irmã e perdido nos próprios pensamentos. Já se passaram quinze dias desde a última vez em que esteve com Ethan na floresta. Desde então os dois se cruzaram uma única vez, na vila, quando Anthony voltava do correio ao mesmo tempo em que o doutor Fade e seu assistente saíam da casa dos Harpers, aonde foram chamados para socorrer a filha mais velha da família, que havia sofrido uma queda e batido a cabeça. Foi um encontro rápido, casual, e eles apenas trocaram um breve cumprimento antes que cada um seguisse o seu caminho. Anthony sente tanta falta de Ethan que seu peito chega a doer. Ele queria mais do que tudo poder toca-lo e beija-lo novamente, poder passe