Depois da conversa esclarecedora que tive com Elijah, sigo para casa e tento seguir os seus conselhos – relaxar e procurar não pensar muito no assunto, por mais difícil que seja.
Aproveito para estudar um pouco o material que me deram na faculdade, que explica como as aulas vão funcionar na prática, para organizar e faxinar o meu quarto. Como estou me sentindo culpado por usar Jake como desculpa para sair de casa nos últimos dias, o chamo para almoçar fora e passar a tarde dando uma volta na cidade. Eu e Jake somos amigos desde criança. Ele é um cara tranquilo, com sentimentos simples e contidos, então é confortável para mim estar perto dele – acho que foi justamente por isso que eu me interessei em ser seu amigo, para ser bem sincero.
Almoçamos em um restaurante árabe no centro, depois circulamos sem rumo pelas redondezas e terminamos nossa perambulação em um pequeno parque nas proximidades, cheio de pessoas deitadas em toalhas
Século XIX – Ano de 1888 Ethan está terminando de amarrar os cadarços dos seus sapatos, quando a porta se abre de supetão e Jason entra no quarto. — Ah, você já está quase pronto. – diz, parecendo agitado. – Vim avisar para se apressar, fomos chamados com urgência na residência dos Millers, para ver Anthony. Ethan levanta da poltrona em um pulo, alarmado. — O que há de errado com ele? — Parece que acordou muito febril. – responde o doutor Harris. Ele veste o casaco com pressa e apanha sua maleta de cima da cama. — Bem, então vamos sair logo daqui. Jason sai para o corredor e Ethan o segue com passos ap
Quando chegamos na loja, viro a placa com o lado que diz Aberto para fora e volto para trás do balcão. — Preciso continuar trabalhando, mas você pode ir para o quarto dos fundos e ficar à vontade. – afirmo. – Guarde suas coisas, veja televisão, faça o que quiser. Anthony balança a cabeça. — Na verdade eu preferia ficar aqui, se você não se incomodar. Só por ter passado aqueles trinta minutos dentro da casa dos meus pais e longe de você, já voltei a sentir tonturas e calafrios. Por isso quero me manter por perto. Reprimo um suspiro. — Tudo bem, você é quem sabe. Então não fiquei aí em pé, puxe aquela cadeira do canto e se sente. Ele faz o que eu pedi e se acomoda bem na frente de uma estante cheia de livros usados. — Algum desses exemplares fala sobre nós? – pergunta, correndo levemente as pontas dos dedos pelas lomba
Quando acordo na manhã seguinte Ethan ainda dorme profundamente. Sei que o pesadelo da noite anterior o deixou exausto – além de poder captar seu cansaço, o mesmo acontece comigo todas as vezes em que tenho esses sonhos –, portanto deixo que continue descansando. Me levanto o mais silenciosamente possível, tomando cuidado para não acordá-lo, e fico em pé ao lado da cama por alguns instantes, o observando. Ele permanece imóvel, um braço enfiado sob o travesseiro e o outro esticado à frente do corpo, ressonando. Desde a primeira vez em que o vi, senti um desejo estranho de protege-lo, sem saber ao certo do quê, e sou novamente atingido por esse sentimento. Sigo até o banheiro e lavo o rosto, depois vou para a cozinha, decidido a fazer um café fresco. Começo a abrir as portas dos armários, procurando pelo pó e os filtros, ainda tentando não fazer muito barulho. A cafeteira é igual à que temos em casa, então não tenho dificuldades para ma
Século XIX – Ano de 1888 Os dois estão andando lado a lado na floresta, em silêncio. Ethan já perdeu as contas de quantos passeios fizeram por ali até então, sempre terminados no lago. Agora eles trocam beijos e carinhos dentro da água, mas tudo de um modo muito inocente. Anthony é um rapaz de família, que não conhece nada do mundo da sedução, e ele procurar respeitar isso. Não é seu intuito corrompe-lo de forma alguma. Mas Ethan está incomodado com uma coisa – o segredo que esconde dele, sobre quem é de verdade, sobre a sua verdadeira natureza. A cada vez que Anthony brinca sobre as habilidades milagrosas do assistente de médico, sem fazer ideia do quanto está perto da verdade, ele sente uma pontada aguda no lado esquerdo do peito. Tudo q
Quando saio do quarto dos fundos e entro na loja encontro Elijah sentado no canto, lendo um livro distraidamente. Limpo a garganta para chamar sua atenção e então anunciou: — Estou pronto para a nossa primeira aula. Ele ergue os olhos para mim e sorri, depois coloca o livro novamente na prateleira e se levanta. — Bem, então vamos lá. – diz, caminhando até a porta. Franzo o rosto, confuso. — Espera aí, eu pensei que a gente fosse ficar aqui na loja mesmo. Elijah balança a cabeça. — Não, precisamos estar ao ar livre e em meio a outras pessoas, só assim você vai conseguir aprender a lidar com os sentimentos alheios. – explica. Sei que ele tem muita experiência no assunto e decido confiar nas suas palavras. Nós dois saímos da loja e começamos a caminhar lado a lado pela calçada. Apesar do dia nublado, muita g
Depois da aula que Anthony tem com Elijah, onde foi ensinado como controlar melhor o seu dom, passo alguns dias sem notícias dele, então suponho que os truques que aprendeu funcionaram e que ele não voltou a se sentir doente. Meus sonhos estranhos também cessam e fico feliz por voltar a levar uma vida normal, trabalhando e cuidando dos meus afazeres sem maiores problemas, até mesmo me arriscando a ir ao cinema em uma tarde ensolarada e concluindo o passeio com uma volta no parque. Porém, de repente as coisas mudam – estou na loja atendendo um rapaz quando, do nada, começo a me sentir mal, com tonturas e o corpo todo quente. Está fazendo muito calor e penso que esse é o motivo por trás do meu mal estar, por isso aumento a velocidade do ventilador de teto e vou até o quarto dos fundos para buscar uma garrafa de água na geladeira. Atendo mais algumas pessoas, mas começo a me sentir cada vez pior e logo fica cla
Desço no ponto de ônibus próximo à loja e atravesso a rua, seguindo na direção da entrada. Por sorte meus pais foram passar o fim de semana na casa de um casal de amigos e levaram minha irmã junto, portanto pude sair de casa sem dar nenhuma explicação. De todo jeito, enfiei meu celular no bolso da calça, para o caso dos dois resolverem me ligar. Chegando lá, testo a maçaneta da porta e descubro que está destrancada, então entro na loja e a fecho atrás de mim. Elijah me explicou brevemente o que estava acontecendo, porque precisavam de mim, e disse que estariam me esperando no quarto dos fundos, por isso passo pela lateral do balcão e vou até lá. Ethan está deitado na cama, um pouco pálido, de olhos fechados. Elijah e um outro homem – que deve ser o amigo ao qual ele se referiu ao telefone, o responsável por administrar uma sessão de hipnose em Ethan – estão sentados à mesa da cozinha. — Anthony
A sessão de hipnose me deixa exausto e acabo pegando no sono logo depois que Elijah vai embora. Quando acordo, horas mais tarde, Anthony está sentado no chão ao lado da cama, com as pernas cruzadas, olhando para o nada e parecendo perdido nos próprios pensamentos. — Desculpe, eu acabei pegando no sono e te deixei aqui sozinho, sem nada para fazer. – digo, esfregando os olhos. – Você poderia ter pelo menos ligado a televisão. Ele balança a cabeça e se levanta, massageando as pernas. — Não precisa se preocupar com isso, dava para perceber que você precisava descansar um pouco depois de tudo que aconteceu. Conseguiu dormir bem? Assinto e forço um sorriso. — Consegui, sim. Obrigado por perguntar. – respondo. Olho para o relógio pendurado na parede em frente à cama e me espanto ao ver que já passa das seis. – E agora acordei morrendo de fome, por isso acho melhor começar