Aquela criatura dividia o olhar entre todos ali; seu rosto coberto por feridas me causava náuseas.— Qual de vocês eu vou trazer para o meu lado? Hum?Enquanto caminhava, seu cheiro podre se espalhava mais.— Será que bruxas? Gatos? Águia? Lobisomens? Híbridas? Ou... mas o que diabos você é, garoto?Ele olha intrigado para Abner.— Uma rena, seu burro.— Eu acho que já escolhi. - ele solta uma gargalhada aterrorizante - Eu quero a rena insolente.A criatura se aproxima de Abner; quando ele mostra as garras, concentro todas as forças nas pernas e acerto em cheio seu rosto, fazendo-o cambalear para trás e cair sentado.— Híbrida m*****a.Ele se levanta rápido e desfere um tapa em meu rosto. Sinto o gosto de sangue na boca.— Criatura miserável! - Tia Jasmine grita.As correntes se afrouxam, e uma ideia passa pela minha cabeça."O feitiço está ligado a ele."— Vai chegar sua vez, tia, não se preocupe. - Ele diz com sarcasmo.Silêncio.— Vamos brincar - ele b**e palmas- vou escolher um de
___ Ao chegarmos no local do ataque, nos deparamos com aquela mulher envolta por criaturas. Oferecemos nossa ajuda para assegurar sua fuga. - Relatou Lucian.Contemplei a mulher, visivelmente assustada. Seus cabelos castanhos e ondulados estavam desalinhados, seu rosto sujo e seu corpo exibia ferimentos em processo de cicatrização.— Como se chama? - Me aproximei, mas ela recuou dois passos.— Não precisa ter receio, não vou lhe causar mal.— Eu sei que não vai me machucar. - Ela olhou para algo atrás de mim, e percebi que Lucian estava na minha cola, atento até na minha respiração.Voltei meu olhar para ele.— Meu amor...Ele compreendeu a mensagem e, relutante, se afastou um pouco.Retornei minha atenção para a mulher.— Então? - Sorri para transmitir confiança.— Me chamo Penélope. - Ela abaixou a cabeça; sua voz era quase inaudível.— Eu sou Aurora.— Eu sei, lembro que a senhora e o seu pai me salvaram uma vez, recorda-se?Ela falava com inocência, parecia um filhote, mas a verda
Descansar nos braços do meu companheiro foi como um renovo para meu corpo. Lucian resistia a levantar da cama, e tive um trabalhão para convencê-lo a sair de lá. Confesso que minha vontade também era permanecer naquele quarto com ele, mas, como não temos noção do tempo – já que aqui sempre está escuro – não tivemos outra alternativa senão sair. Juntamo-nos aos outros, que já estavam reunidos em uma mesa de madeira desgastada, comendo algo sem muita vontade.— Como vamos nos organizar para encontrar o diário? — perguntou Felipe, quebrando o silêncio.- Alguém pensou em alguma coisa?— Sim. — Respondi, sentando-me em um toco de árvore que servia como assento.— E o que pensou, Aurora? — Perguntou Romeu.— Como já foi dito antes, vamos nos dividir em grupos. Um deles ficará responsável por ir lá fora quando a sirene tocar...— Serei responsável por esse. — Disse Lucian, sentando-se ao meu lado depois de beijar o topo da minha cabeça.Sorri para ele.— Tudo bem. E os outros, vasculharão um
__ Essa é a última caixa. - Abner expressou, com a frustração estampada em seu rosto.Após longas horas no porão abrindo caixas, eu já estava exausta, e Abner parecia estar na mesma situação, se não pior.__ Você vem? - Ele pergunta, fazendo menção de sair dali.__ Agora não, ficarei por aqui mais um pouco.Ele confirma com a cabeça e se retira.__ Enfim, sozinha. - Sussurrei, abaixando a cabeça e apoiando minhas mãos sobre a pilha de caixas ali. Meu cabelo cobria todo o meu rosto, me impedindo de ver qualquer coisa, e era exatamente isso que eu queria naquele momento....Não sei quanto tempo passei assim, mas foi o suficiente para organizar meus pensamentos. O cheiro de poeira começava a me deixar tonta. Pensei em sair dali, mas fui surpreendida por um abraço caloroso de Lucian.Me virei para ele.__ Faz tempo que está aqui?__ Não, acabei de chegar. Você estava demorando, e resolvi vir atrás de você. - Ele beija meus lábios.__ Estava refletindo um pouco. Sabe se encontraram alguma
— Vocês já começaram a ler o diário?Ao chegarmos na biblioteca, fomos surpreendidos com a notícia de que o diário já havia sido encontrado. Uma sensação de alívio invadiu meu ser, mas a expressão neutra de Romeu, Felipe e Abner desviou totalmente meu foco.— Já sim. - Disse Lídia.— E por que não me avisaram mais cedo? - Indaguei, sem compreender.Ela olhou para mim, tentando segurar o riso.— Romeu, Felipe e Abner até foram, mas...— Não precisa continuar. - A interrompi, já entendendo o motivo das reações.Lucian sorriu.— O que descobriram? - Perguntei, tentando mudar de assunto. Sentia minhas bochechas queimarem.— O feitiço está bem escrito, com todos os detalhes. - Tia Jasmine virou para mim um pequeno livro com as folhas rasuradas e amareladas. As letras eram quase ilegíveis, mas ainda dava para aproveitar.— E o que diz aí? - Questionou Lucian, apoiando suas duas mãos sobre a mesa. Seus cabelos estavam um pouco desalinhados, mas isso só realçava sua beleza.— Para fazer o feit
Horas se arrastavam desde que entramos na floresta. Eu já não sabia o que era pior: o estranho silêncio, o mau cheiro ou ter que passar entre inúmeros esqueletos presos nos galhos secos das árvores como se fossem enfeites.— Vejam! Tem alguma coisa ali. — Disse Felipe.Corremos até pararmos ao alto de um morro. Ao olharmos para baixo, deparamo-nos com as ruas do reino, abandonadas, escuras e cobertas por uma fumaça esbranquiçada.— Vamos ter que descer. — disse Lucian. — Tomem cuidado onde pisam.Não demorou muito para o grande lobo tomar a frente na descida do morro com pedras soltas. Uma queda desse lugar causaria um grande estrago, mas para quem caiu de um abismo que parecia não ter fim, isso aqui é quase nada.Ouvia as pedras do morro rolarem até se chocarem com o chão das ruas. Lucian permanecia descendo na frente, enquanto os outros nos seguia um pouco mais atrás. Natália voava pelos ares e levava Gael em seus braços....Caminhávamos pelas ruas úmidas, o cheiro de carne e sangue
Estava prestes a colocar em prática meu plano quando fui surpreendida por Lucian entrando no trem.— Lucian? - Olhei surpresa.Ele não disse nada e me beijou com necessidade; lá fora, as criaturas balançavam o trem sem parar.— Se a morte nos rondar, que ela nos envolva juntos, ou que apenas eu encerre minha jornada. Sem você, a vida perde todo o sentido para mim.Meus olhos se encheram de lágrimas com suas palavras.— Ah, meu lobo. - Abraçei-o.Mais uma vez fui surpreendida, dessa vez por Abner e Penélope.— O que estão fazendo aqui? - Perguntei.— A senhora salvou minha vida uma vez, e eu estou fazendo o mesmo, nem que eu tenha que morrer lutando. - Ela me abraçou.— Você me salvou quando aquela criatura tentou me atacar e me mostrou o verdadeiro significado de família. - disse Abner. - Eu estou aqui por todos vocês.Ele se juntou ao abraço.— Obrigada por estarem aqui, mas agora temos que seguir adiante com o plano. - Disse eu quando senti que o trem começava a se aproximar do abism
__ O que encontraram? - Perguntei ao retornarmos.__ Há uma imponente barreira de magia, obstruindo nossa passagem, ali à frente. - informou Natália, indicando com o dedo.__ Ótimo, vamos até...Fui interrompida pelas risadas de Lianca, e só então percebi que ela nos observava, enquanto se escorava em uma árvore morta.__ Qual a graça, Lianca? - Indagou Lídia, arqueando uma sobrancelha.__ Qual é, pessoal, não alimentem expectativas. Já estamos com os minutos contados. O que mais falta aparecer? Um macaco gigante? Uma serpente que cospe fogo? - ela começou a chorar - já chega, acabou, este é o fim, aceitem.__ Entendo que esteja desesperada, mas agora não é hora de retroceder. Ainda estamos respirando, então as chances não acabaram. - Falei.Ela revira os olhos e vira de costas, cruzando os braços.__ O que tem em mente, Aurora? - Indagou tia Jasmine.Suspirei e concentrei minha atenção nela.__ Vamos unir nossas magias para quebrar a parede.__ Mas não é arriscado? - Questionou Romeu.