Mr. and Ms. Schultz

Miguel não conseguia tirar Helena da cabeça. A inteligência afiada daquela aluna, sua audácia e maneira destemida de encará-lo o deixavam intrigado. Ele já havia encontrado alunos brilhantes ao longo dos anos, mas Helena era diferente. Havia nela algo que desafiava seu autocontrole, que o fazia se perguntar até onde aquilo poderia levá-lo.

Naquela noite, ao chegar em casa, Miguel encontrou Sarah de pé na cozinha, os braços cruzados e o olhar carregado de impaciência. Ele percebeu de imediato que uma discussão se aproximava. Nos últimos meses, os dois não conseguiam trocar mais do que algumas palavras sem que algo se tornasse motivo para brigas.

- Você chegou tarde de novo — disse Sarah, sem rodeios.

- Tive muito trabalho na universidade — respondeu ele, cansado. Ele não queria brigar, mas sabia que, como sempre, Sarah insistiria.

-Sempre tem muito trabalho na universidade, Miguel! Mas nunca parece cansado demais para se perder nos seus pensamentos. O que é? Alguma nova distração?

Ele franziu a testa, irritado pela insinuação.

- Você sabe que meu trabalho exige muito de mim. Eu dou aulas, oriento alunos, faço pesquisas…

- E eu sou apenas um peso na sua vida agora? — Sarah interrompeu, sua voz carregada de ressentimento. - Porque é isso que parece. Você mal me olha, mal fala comigo. Quando foi a última vez que jantamos juntos sem que você estivesse distante?

Miguel esfregou o rosto, exausto. A verdade é que não sabia como responder. Porque, no fundo, Sarah tinha razão. Ele se afastara, mas não por maldade. Algo dentro dele havia mudado.

- Sarah, eu não quero brigar. Estou cansado. Podemos conversar amanhã?

- Não, Miguel! — ela explodiu. — Você sempre diz isso. E amanhã nunca chega!

- O que você quer que eu diga? Que minha vida gira ao seu redor? Eu tenho responsabilidades, Sarah! Trabalho, alunos, prazos! — Ele ergueu a voz, sentindo sua paciência se esgotar.

- E eu sou o quê, então? Um móvel nessa casa? Você mal me toca, mal olha para mim! Eu vejo o jeito como você anda distraído, Miguel. Você pensa que eu não percebo? — Ela estreitou os olhos, estudando-o. - Tem outra pessoa, não tem?

Miguel sentiu um nó apertar seu estômago. Ele não podia admitir algo que ainda não acontecera de fato, mas que já estava consumindo sua mente.

- Isso é ridículo, Sarah. Você está criando coisas na sua cabeça.

- Então olhe nos meus olhos e me diga que não tem ninguém! — Sarah desafiou, os olhos marejados, a voz trêmula entre a raiva e a dor.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Miguel abriu a boca para responder, mas nada saiu. Ele queria dizer que ela estava errada, queria negar veementemente, mas as palavras lhe faltavam porque, no fundo, havia uma verdade incômoda ali.

Sarah soltou uma risada amarga, desviando o olhar.

- Foi o que pensei. — Pegou sua bolsa e saiu da cozinha, batendo a porta atrás de si.

Miguel ficou ali, parado, com a sensação de que algo irreversível acabava de acontecer. O peso daquela conversa o esmagava, mas, mesmo assim, sua mente não deixava de retornar para Helena. Para a jovem que despertava nele algo que ele já não sentia há muito tempo. Para o desejo que crescia a cada olhar trocado.

E, pela primeira vez, ele se perguntou se ainda tinha forças para resistir.

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