Aniele,
Estou confusa, primeiro o homem não queria que eu visse seu rosto, agora entra sem tampar minha face e com a dele exposta, não é sobre dinheiro e possuem algo para me mostrar, o que esse povo está querendo?— Não tente nenhuma gracinha, trouxe apenas um filme para que você possa se distrair um pouco! — Ele fala e meu corpo se arrepia, tenho pavor de imaginar o que possa estar planejando nesse momento.O moço bonito volta ao corredor e traz uma cadeira, me manda sentar e eu obedeço em silêncio, sinto que vem coisa ruim por aí, olho assustada para ambos que sorriem.— Calma, belezinha, o show ainda nem começou, eu também anseio pelo fim para que eu possa brincar com você. — O segundo fala me olhando com maldade, sinto uma pontada em minha mente e uma fraqueza no corpo.O tablet está ligado em minha frente, a primeira coisa que vejo é uma foto minha com todos os meus amigos, todos sorridentes e vivos, uma dor tremenda aperta meu peito e uma lágrima corta meu rosto.Uma sequência de fotos nossas são exibidas, momentos aleatórios de nossas vidas ao longo dos anos de amizade, a nostalgia e a tristeza de saber que não tenho mais eles ao meu lado me destrói.Quando morre alguém que amamos dói a alma e embora digam que passa eu duvido muito, ver as fotos e saber que os tiros que ouvi enquanto estava naquele porta-malas eram neles me faz querer desistir de tudo e me encontrar com eles do outro lado.As lágrimas tomam conta de mim e um choro infindável domina minhas emoções, sem forças para continuar assistindo viro a face para o outro lado, sinto uma mão me puxar os cabelos voltando minhas vistas para a tela e então o que já estava ruim fica ainda pior.Minhas vistas escureceram e eu não me lembro de mais nada, acordo com a cabeça dolorida, deitada no colchão, aos poucos as lembranças tomam conta da minha memória e um desperto invade meu corpo.Não sei quanto tempo estou aqui, não faço ideia de como vou conseguir sair e se vou conseguir, na verdade eu já nem sei mais se eu quero lutar contra tudo isso, estou sem forças e com medo.— Pai, me tira daqui, eu não aguento mais! — Sussurro baixinho.A porta está sendo destrancada e eu não faço ideia de quanto tempo fiquei apagada, espero que não seja outra sessão de terror, cruzo os dedos e torço mentalmente para que não seja.Pisco os olhos fazendo uma pausa e quando os abro a grávida está entrando novamente, ela traz duas sacolas, uma com roupa e outra com comida, dessa vez não falo nada apenas a observo em silêncio e ela me dá um sorriso gentil.— Anda logo Mabel, é só entregar e sair— O grosso fala e ela sai apressada, ao menos agora sei seu nome.A porta é trancada novamente e consigo ouvir vozes alteradas, levanto apressada para tentar entender as falas, mas é em vão. Desisto e volto correndo para minha marmita, a comida está com uma aparência maravilhosa, como desesperadamente sem me importar com talheres ou etiqueta a fome está me consumindo, não sei dizer a quanto tempo estou nesse jejum forçado.Provavelmente pelo tempo sem comer e pela pressa com que ingeri o alimento meu organismo não assimilou muito bem, sinto uma ânsia de vômito insuportável, pego a sacola que veio a marmita e uso-a para pôr para fora tudo que está me fazendo mal.Limpo minha boca com a mão e me encosto na parede esperando que a fraqueza alivie e eu consiga caminhar, noto que trocaram a água enquanto estava desacordada e para minha alegria essa garrafa está um pouco mais aceitável, bebo o líquido que desce refrescando meu organismos e hidratando minha sede.— Coloca sua roupa suja e todos os lixos nesse balde, em alguns minutos eu venho buscar se não tiver pronto eu vou deixá-la em meio aos lixos— Carrancudo fala com a voz irritada, como não sei seu nome o apelidei assim.Dentro desse quarto, sem ver horas, noites ou dias, não consigo precisar quanto tempo estou aqui, a rotina se repete em comida, água, higiene, sessão de torturas com fotos dos meus amigos e vez ou outra uns t***s que segundo carrancudo são para me deixar mais esperta.Mabel vem todos os dias, ou melhor eu conto o tempo pelas vindas dela e deduzo que cada uma seja um novo dia, totalizando assim dez dias nesse inferno, ela sempre me lança um sorriso acolhedor e eu sei que se eu quiser sair daqui certamente deve ser com a ajuda dela.Algo que me incomoda muito é o tempo que já se passou e nem eles pediram resgate a minha família e nem meu pai conseguiu me localizar, eu nunca esperei que ele pudesse ter tanta dificuldade para solucionar um sequestro, tampouco o meu sequestro.Muita coisa atordoa minha cabeça, muitos sentimentos confusos invadem meu peito, não sei o que pensar sobre tudo isso, às vezes penso até que seria melhor que tivesse me matado, em meio a esses devaneios um pensamento surge em minha mente.Meus olhos se enchem de lágrimas, olho para o balde onde coloco minhas roupas diariamente e então pego a calça que tirei, meço sua perna em meus pescoço e então corro um olhar sobre o espaço procurando um ponto, que Deus e meus pais sejam capazes de me perdoar, mas eu realmente não aguento mais.Ouço passos no corredor, olho para a porta e no mesmo instante a maçaneta mexe acompanhada do barulho de chaves, ando até o balde colocando a calça de volta onde estava, um perfume familiar toma conta do ambiente, respiro saudosa e então a porta é aberta, carrancudo e Miguel entram na frente e logo atrás dele eu vejo quem eu não imaginei em momento algum todos esses dias aqui. pisco meus olhos algumas vezes e forço minhas vistas para ter certeza.— Oi, Aniele!Aniele,Minha respiração está pesada, fixo meus olhos para ter certeza de que não é um delírio, como eu desejei que fosse, mas não é, bruscamente avanço com sede de sangue, porém sou segurada por esses dois armários em minha frente.— Calma princesa Aniele, não quero me arrepender de poupar sua vida, dentre todos do grupinho você é quem eu ainda tenho alguma afeição— Ouço cada palavra e em meu coração uma nova Aniele é forjada.— Você vai sim, se tem algo do qual vai se arrepender será de poupar minha vida, eu vou dedicar cada um dos meus dias a te caçar e te matar, eu nunca vou te perdoar por isso! Como você pode, Juli? Nós crescemos juntos! — Falo com a voz fraquejada.— Me poupe, se poupe, nos poupe! Todos me engoliram em nome da máfia… ops! — Ela grita e depois com cara de sonsa coloca a mão na boca— A princesa não sabe dos negócios obscuros da família— Ela dá mais alguns passos chegando perto de mim.— Do que você está falando? — Pergunto entredentes.— Tão inocente, doce e pura
Di Ferrari - Paraguai — Estás louca, Julia? — Pergunto olhando fixamente para minha princesa.— Não fiz nada além do que o senhor me ensinou, aliás todos os recursos foram providos pelos seus negócios, que mal há nisso, papai? — Ela fala com um sorriso meigo e um gênio forte, igualzinha a mãe.— Tinham que ser os filhos da máfia? Você tem ideia da linha de fogo que você me enfiou por um capricho adolescente? — Grito entre dentes tentando moldar meu timbre, se não é uma façanha da minha primogênita, certamente a punição seria fatal.Juli não só sequestrou a filha do governador e também chefe da máfia, como matou os filhos dos chefes de outros cartéis, filhos são dádivas que podem acabar nos matando.Abraço Juli que beija minha bochecha, nesse instante esqueço toda raiva que estava sentindo e começo a planejar como vou impedir que descubram quem está por trás disso tudo.Mesmo diante da guerra instaurada, meu ego paterno se infla ao perceber que minha menina não tem nada de frágil e t
PrólogoAniele, — Pessoal, hoje tem Show na boate, quem tá dentro? — Pergunto me sentando à mesa na cantina da universidade.— Eu tô dentro! — Beatriz fala toda animada, ela é brasileira, natural do Rio de Janeiro, os pais dela estiveram algumas vezes em minha casa, mas pouco sei sobre eles.— Não sei, eu e Carlito tínhamos combinado de ficar em casa… o que você acha meu bem? — Maitê o pergunta ao vê-lo se aproximar da mesa.— Boate hoje? Vamos! Faz dias que não saímos— Ele responde e senta ao lado dela dando-lhe um selinho.Combinamos certinho os horários do encontro, local, e o que fazer com os seguranças, eu tenho pavor de andar com eles atrás de mim, mas meu pai alega que é essencial uma vez que ele é o governador.Saio da aula, passo em um shopping para comprar uma roupa, escolhi um tubinho preto, quero arrasar na pista, hoje eu desencalho. Paro em uma cafeteria para comer minha torta favorita, na saída encontro com Juli Di Ferrari, ela me cumprimenta e eu respondo por educação,
Juan Gonzalez - Assunção/Paraguai, A cidade acorda com notícias de tirar o fôlego, uma noite marcada por violência e sangue, um verdadeiro cenário de guerra.Curiosos se aproximam do local enquanto a polícia faz o isolamento da área, região nobre da cidade, casas de alto padrão e carros de luxo, esse é o cenário do triplo homicídio ocorrido na madrugada deste domingo.— Governador, já temos a identificação das vítimas — Diz o delegado.— Quem são? — Pergunto preocupado com a repercussão que essa situação está tomando.— Maitê Sanches, boliviana, seu namorado Carlito Perez, também boliviano, Beatriz Castro, brasileira. Os três eram estudantes de medicina da universidade local — Ele vai falando os nomes e eu já estou discando o número da Margareth.— Tem indícios de que havia outra pessoa com eles? — pergunto enquanto o telefone chama— Margareth, Aniele chegou em casa? — ignoro a resposta do delegado e volto minha atenção à chamada.— Não, ela está com os amigos, conforme nos avisou,
Joaquim Sanches - ParaguaiDesembarco em Assunção acompanhado de Álvaro, esse dia mais parece um pesadelo, como pode a minha menina perder a vida tão jovem… eu vou vingar o desgraçado que fez isso com ela.— Ainda não acredito que nossas crianças se foram, meu Carlito! — Álvaro desabafa enquanto caminhamos até o carro.— Quem fez isso vai se arrepender por cada gota de sangue derramada, pode acreditar — Falo, mas em meu coração isso é uma promessa.Cuido de todos os trâmites legais para o cortejo da minha Maitê e do Carlito, um pedaço de mim está sendo levado para sempre, não há palavras que mensure o tamanho da minha dor.Entro na mansão da família Gonzalez, somos aliados de longa data, nossas filhas eram amigas íntimas, certamente Aniele deve saber de algo.Chego pensando que a reunião seria entre eu, Juan Gonzalez e Alberto de Castro, no entanto, me surpreendo ao encontrar também com Vicenzo Di Ferrari.A relação entre Alberto e Vicenzo é um pouco alterada, não cehgam a ser inimigo
Alberto de Castro - Brasil Já fazem três dias desde que enterrei a maior fortuna que eu poderia ter na terra, minha esposa está inconsolável e não é para menos, perdemos nossa querida filha para um inimigo que nem sequer conhecemos a face.Nunca fui um homem correto perante as leis, mas sempre andei mais na minha possível com minha família, Beatriz sempre foi meu sol, minha motivação, e eu vou vingar a morte dela, nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida.— Eu vou retornar ao Paraguai, o responsável certamente estará por lá. — Digo a Fabiana que se esforça para me olhar.— Eu quero ir! — Ela fala quase soprado.Beijo sua testa e faço-lhe um cafuné, eu não acho que seja propício que ela vá, contudo não estou em condições de impor absolutamente nada, ela é uma excelente esposa e uma mãe maravilhosa, está em um momento de dor extrema e a privar dessa viagem será uma tortura.— Claro meu amor, vou pedir que arrumem o jatinho— Falo e me levanto para fazer algumas ligações. E
AnieleSou arrastada do carro até um quarto minúsculo, ouço vozes e dentre elas a de Juli, será porque ela está aqui? — Senta aí vagabunda! — Ouço uma voz masculina falar e sua mão forte segurar em meu braço me guiando até um colchão no chão.— Me solta! Socorro! Alguém me ajuda, socorro! — Grito desesperada tentando me debater mesmo sem enxergar nada.— Pode gritar a vontade, aqui só eu vou te ouvir! — ele fala e me empurra— Leva essa para o outro cômodo. Outra? Como assim outra? Quem é a outra? Meu Deus! Aceito a condição de que no momento não há nada que eu possa fazer, fico sentada onde cai e começo a reviver os últimos momentos.O homem termina de desamarrar minhas mãos e eu as levo eufórica ao capuz, mas ele me detém.— Se tentar tirar antes de eu sair desse quarto eu juro que vou arrancá-las fora.— Ele fala e dá um leve tapa em cada uma das minhas mãos.Assim que ouço a porta ser batida tiro esse saco da minha cabeça e olho o ambiente fétido em que estou trancada. Um quarto m