Alberto de Castro - Brasil
Já fazem três dias desde que enterrei a maior fortuna que eu poderia ter na terra, minha esposa está inconsolável e não é para menos, perdemos nossa querida filha para um inimigo que nem sequer conhecemos a face.Nunca fui um homem correto perante as leis, mas sempre andei mais na minha possível com minha família, Beatriz sempre foi meu sol, minha motivação, e eu vou vingar a morte dela, nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida.— Eu vou retornar ao Paraguai, o responsável certamente estará por lá. — Digo a Fabiana que se esforça para me olhar.— Eu quero ir! — Ela fala quase soprado.Beijo sua testa e faço-lhe um cafuné, eu não acho que seja propício que ela vá, contudo não estou em condições de impor absolutamente nada, ela é uma excelente esposa e uma mãe maravilhosa, está em um momento de dor extrema e a privar dessa viagem será uma tortura.— Claro meu amor, vou pedir que arrumem o jatinho— Falo e me levanto para fazer algumas ligações. Enquanto falo ao telefone observo minha esposa se levantar e caminhar até o closet para arrumar as malas, fujo da realidade e lembro dos bons tempos da infância de Beatriz, não consigo acreditar que perdi minha filha de uma forma tão brutal.— Sairemos em quatro horas, vou repassar algumas orientações e já volto para irmos— Aviso e saio de casa.Pelo retrovisor do carro vejo que minhas olheiras estão gritando, mas nenhuma expressão física será capaz de expor a dor que estou sentindo dentro de mim.Entro no barracão e todos baixam a cabeça em sinal de respeito ao momento que estou passando, aqui somos muito mais que bandidos, somos uma família, um pouco violenta e rígida, mas uma família.Repasso todas as orientações e informo meu gerente sobre minha ausência ao que ele se coloca inteiramente à disposição. Eu sei que posso contar com ele, mas é bom ter certeza disso.Chego em casa, minha esposa já está pronta me esperando. Tento ser forte para que ela não desmorone, contudo há momentos em que as coisas ficam tensas e eu deixo que as lágrimas rolem.— Não fica assim… ela não gostaria de nos ver assim— Fabiana fala e seca minhas bochechas com as mãos. — Eu jurei cuidar de vocês e falhei, nada é mais importante para mim que a minha família. — respondo resignado.Respiro fundo e decido que a partir de hoje nunca mais irei chorar, toda essa dor eu guardarei para quando eu pôr as mãos no desgraçado que fez isso.Certo que toda ajuda será bem vinda e além do pessoal que está designado nas buscas no Paraguai coloquei uma outra equipe para uma investigação independente.Para o azar do responsável ele mexeu com as piores famílias que ele poderia encontrar pelo caminho, conhecendo como os conheço a família está acima inclusive da máfia e não vão deixar barato.Para mim o mais difícil dessa união na busca pelo desgraçado é ter que aturar o Di Ferrari, em qualquer outra circunstância eu sairia da equipe, mas estamos falando da morte da minha princesa.Beatriz era alegre, inteligente, divertida, gostava de estudar e da convivência com jovens da idade dela, sempre soube do nosso envolvimento com a máfia e estava inclusive terminando para assumir seu posto depois da faculdade.No Paraguai, participou de diversas reuniões em meu nome e fechou grandes negócios, apesar da pouca idade conquistou respeito entre nossos aliados, tem gente que vive uma vida inteira nesse meio e não alcança o que ela alcançou.Eu e Fabiana embarcamos rumo ao Paraguai, González quer que a gente fique hospedado em sua casa, no entanto eu prezo por privacidade então vamos ficar na casa de Beatriz, inclusive será melhor para buscar linhas alternativas de investigação.— Em quinze minutos pousaremos— O piloto informa e eu já sinto meu peito aliviado.Estar acompanhando de perto toda busca me traz uma sensação de que estou fazendo a coisa certa. Tenho certeza que todos os pais estarão aqui no Paraguai, todos vão caçar o responsável como se procura uma agulha no palheiro.Assim que desembarco encontro Joaquim me esperando no Hangar, é uma surpresa pois está só ele, o cumprimento com um abraço afinal é uma pessoa por quem tenho muita estima.— Estava lhe aguardando! — Ele fala e eu arqueio a sobrancelha.— Cadê os demais? — Pergunto olhando em volta.— Não é hora para os demais, não ainda… encontrei algumas pistas que fogem completamente à linha de buscas principal— Ele fala quase sussurrando.— É muito bom ser recebidos por amigos, vamos almoçar conosco na casa de Beatriz, lá poderemos conversar mais à vontade— Fabiana intervém, o que não é um hábito comum, olho ao redor e não vejo nada.— Ótima idéia, vou resolver algumas coisas enquanto vocês terminam de chegar e mais tarde eu vou até lá— Joaquim se despede e sai.— O carro está pronto, senhor! — Nosso motorista informa.Eu e Fabiana entramos em silêncio e assim permanecemos até chegar em casa, não por minha vontade, mas por ela que me impediu de falar todas as vezes que eu tentei.Nos acomodamos, Fabiana dispensa todos os funcionários da casa que se manteve ativa e ela mesma decide fazer a comida.Joaquim chega acompanhado de Álvaro, que é pai do Carlito, noivo da Maitê. Ambos entram e fazemos nossa refeição, enquanto lamentamos nossa perda.Quatro corações partidos, que transformou a dor e o amor no mais puro ódio, o qual só será curado quando a vingança estiver feita.— O que você tem para nos mostrar?— Pergunto assim que terminamos a refeição.— Eu e Álvaro analisamos minuciosamente todas as imagens de segurança daquela noite, não encontramos absolutamente nada, porém encontramos algumas imagens de dias anteriores que não fazem muito sentido— Joaquim explica enquanto Álvaro liga um notebook sobre a mesa.Álvaro começa a rodar as imagens e meus olhos não conseguem crer no que está vendo, apesar de já ter uma teoria em minha mente, precisamos comprovar.AnieleSou arrastada do carro até um quarto minúsculo, ouço vozes e dentre elas a de Juli, será porque ela está aqui? — Senta aí vagabunda! — Ouço uma voz masculina falar e sua mão forte segurar em meu braço me guiando até um colchão no chão.— Me solta! Socorro! Alguém me ajuda, socorro! — Grito desesperada tentando me debater mesmo sem enxergar nada.— Pode gritar a vontade, aqui só eu vou te ouvir! — ele fala e me empurra— Leva essa para o outro cômodo. Outra? Como assim outra? Quem é a outra? Meu Deus! Aceito a condição de que no momento não há nada que eu possa fazer, fico sentada onde cai e começo a reviver os últimos momentos.O homem termina de desamarrar minhas mãos e eu as levo eufórica ao capuz, mas ele me detém.— Se tentar tirar antes de eu sair desse quarto eu juro que vou arrancá-las fora.— Ele fala e dá um leve tapa em cada uma das minhas mãos.Assim que ouço a porta ser batida tiro esse saco da minha cabeça e olho o ambiente fétido em que estou trancada. Um quarto m
Aniele,Estou confusa, primeiro o homem não queria que eu visse seu rosto, agora entra sem tampar minha face e com a dele exposta, não é sobre dinheiro e possuem algo para me mostrar, o que esse povo está querendo? — Não tente nenhuma gracinha, trouxe apenas um filme para que você possa se distrair um pouco! — Ele fala e meu corpo se arrepia, tenho pavor de imaginar o que possa estar planejando nesse momento.O moço bonito volta ao corredor e traz uma cadeira, me manda sentar e eu obedeço em silêncio, sinto que vem coisa ruim por aí, olho assustada para ambos que sorriem.— Calma, belezinha, o show ainda nem começou, eu também anseio pelo fim para que eu possa brincar com você. — O segundo fala me olhando com maldade, sinto uma pontada em minha mente e uma fraqueza no corpo.O tablet está ligado em minha frente, a primeira coisa que vejo é uma foto minha com todos os meus amigos, todos sorridentes e vivos, uma dor tremenda aperta meu peito e uma lágrima corta meu rosto.Uma sequência
Aniele,Minha respiração está pesada, fixo meus olhos para ter certeza de que não é um delírio, como eu desejei que fosse, mas não é, bruscamente avanço com sede de sangue, porém sou segurada por esses dois armários em minha frente.— Calma princesa Aniele, não quero me arrepender de poupar sua vida, dentre todos do grupinho você é quem eu ainda tenho alguma afeição— Ouço cada palavra e em meu coração uma nova Aniele é forjada.— Você vai sim, se tem algo do qual vai se arrepender será de poupar minha vida, eu vou dedicar cada um dos meus dias a te caçar e te matar, eu nunca vou te perdoar por isso! Como você pode, Juli? Nós crescemos juntos! — Falo com a voz fraquejada.— Me poupe, se poupe, nos poupe! Todos me engoliram em nome da máfia… ops! — Ela grita e depois com cara de sonsa coloca a mão na boca— A princesa não sabe dos negócios obscuros da família— Ela dá mais alguns passos chegando perto de mim.— Do que você está falando? — Pergunto entredentes.— Tão inocente, doce e pura
Di Ferrari - Paraguai — Estás louca, Julia? — Pergunto olhando fixamente para minha princesa.— Não fiz nada além do que o senhor me ensinou, aliás todos os recursos foram providos pelos seus negócios, que mal há nisso, papai? — Ela fala com um sorriso meigo e um gênio forte, igualzinha a mãe.— Tinham que ser os filhos da máfia? Você tem ideia da linha de fogo que você me enfiou por um capricho adolescente? — Grito entre dentes tentando moldar meu timbre, se não é uma façanha da minha primogênita, certamente a punição seria fatal.Juli não só sequestrou a filha do governador e também chefe da máfia, como matou os filhos dos chefes de outros cartéis, filhos são dádivas que podem acabar nos matando.Abraço Juli que beija minha bochecha, nesse instante esqueço toda raiva que estava sentindo e começo a planejar como vou impedir que descubram quem está por trás disso tudo.Mesmo diante da guerra instaurada, meu ego paterno se infla ao perceber que minha menina não tem nada de frágil e t
PrólogoAniele, — Pessoal, hoje tem Show na boate, quem tá dentro? — Pergunto me sentando à mesa na cantina da universidade.— Eu tô dentro! — Beatriz fala toda animada, ela é brasileira, natural do Rio de Janeiro, os pais dela estiveram algumas vezes em minha casa, mas pouco sei sobre eles.— Não sei, eu e Carlito tínhamos combinado de ficar em casa… o que você acha meu bem? — Maitê o pergunta ao vê-lo se aproximar da mesa.— Boate hoje? Vamos! Faz dias que não saímos— Ele responde e senta ao lado dela dando-lhe um selinho.Combinamos certinho os horários do encontro, local, e o que fazer com os seguranças, eu tenho pavor de andar com eles atrás de mim, mas meu pai alega que é essencial uma vez que ele é o governador.Saio da aula, passo em um shopping para comprar uma roupa, escolhi um tubinho preto, quero arrasar na pista, hoje eu desencalho. Paro em uma cafeteria para comer minha torta favorita, na saída encontro com Juli Di Ferrari, ela me cumprimenta e eu respondo por educação,
Juan Gonzalez - Assunção/Paraguai, A cidade acorda com notícias de tirar o fôlego, uma noite marcada por violência e sangue, um verdadeiro cenário de guerra.Curiosos se aproximam do local enquanto a polícia faz o isolamento da área, região nobre da cidade, casas de alto padrão e carros de luxo, esse é o cenário do triplo homicídio ocorrido na madrugada deste domingo.— Governador, já temos a identificação das vítimas — Diz o delegado.— Quem são? — Pergunto preocupado com a repercussão que essa situação está tomando.— Maitê Sanches, boliviana, seu namorado Carlito Perez, também boliviano, Beatriz Castro, brasileira. Os três eram estudantes de medicina da universidade local — Ele vai falando os nomes e eu já estou discando o número da Margareth.— Tem indícios de que havia outra pessoa com eles? — pergunto enquanto o telefone chama— Margareth, Aniele chegou em casa? — ignoro a resposta do delegado e volto minha atenção à chamada.— Não, ela está com os amigos, conforme nos avisou,
Joaquim Sanches - ParaguaiDesembarco em Assunção acompanhado de Álvaro, esse dia mais parece um pesadelo, como pode a minha menina perder a vida tão jovem… eu vou vingar o desgraçado que fez isso com ela.— Ainda não acredito que nossas crianças se foram, meu Carlito! — Álvaro desabafa enquanto caminhamos até o carro.— Quem fez isso vai se arrepender por cada gota de sangue derramada, pode acreditar — Falo, mas em meu coração isso é uma promessa.Cuido de todos os trâmites legais para o cortejo da minha Maitê e do Carlito, um pedaço de mim está sendo levado para sempre, não há palavras que mensure o tamanho da minha dor.Entro na mansão da família Gonzalez, somos aliados de longa data, nossas filhas eram amigas íntimas, certamente Aniele deve saber de algo.Chego pensando que a reunião seria entre eu, Juan Gonzalez e Alberto de Castro, no entanto, me surpreendo ao encontrar também com Vicenzo Di Ferrari.A relação entre Alberto e Vicenzo é um pouco alterada, não cehgam a ser inimigo