Aniele
Sou arrastada do carro até um quarto minúsculo, ouço vozes e dentre elas a de Juli, será porque ela está aqui?— Senta aí vagabunda! — Ouço uma voz masculina falar e sua mão forte segurar em meu braço me guiando até um colchão no chão.— Me solta! Socorro! Alguém me ajuda, socorro! — Grito desesperada tentando me debater mesmo sem enxergar nada.— Pode gritar a vontade, aqui só eu vou te ouvir! — ele fala e me empurra— Leva essa para o outro cômodo.Outra? Como assim outra? Quem é a outra? Meu Deus! Aceito a condição de que no momento não há nada que eu possa fazer, fico sentada onde cai e começo a reviver os últimos momentos.O homem termina de desamarrar minhas mãos e eu as levo eufórica ao capuz, mas ele me detém.— Se tentar tirar antes de eu sair desse quarto eu juro que vou arrancá-las fora.— Ele fala e dá um leve tapa em cada uma das minhas mãos.Assim que ouço a porta ser batida tiro esse saco da minha cabeça e olho o ambiente fétido em que estou trancada. Um quarto minúsculo, com um colchão no chão e uma carrada plástica com água.Isso só pode ser uma cena de filme de terror, não é possível, nem é ano político e já estão cometendo atentados contra meu pai. Penso bem e não faz sentido, se fosse política, por que mataram meus amigos?As horas passam lentamente, o sol deve estar alto, afinal já estava quase amanhecendo quando esse pesadelo começou. Um surto toma conta de mim ao lembrar dos meus pais, eles devem estar desesperados.Levanto correndo até a porta, bato com força e grito por socorro. Ninguém responde absolutamente nada, tento mais um pouco e desisto, minhas mãos já não aguentam mais.Cada minuto aqui dentro é uma nova tortura psicológica, as vozes de Maitê e Beatriz ecoam em meu ouvido, minha cabeça dói e os pensamentos estão desorganizados.Meu corpo pede água, olho para a garrafa e não consigo beber, ela está suja e com um aspecto ruim, minha barriga indica que estou com fome, meu Deus tomara que o meu pai não demore a me encontrar.O silêncio se torna ensurdecedor, já contei cada risco que há nesse lugar, não tem nada para fazer e se eu desacelero um pouco minha mente projeta todo terror da noite.O cansaço e a dor estão mais fortes que a minha vontade de permanecer acordada, sem forças acabo me rendendo ao sono e no chão mesmo eu adormeço.Acordo atordoada, sons vindos do corredor chamam minha atenção, me sento rapidamente e fixo meus olhos na porta, o barulho da chave faz com que meu coração acelere.A porta é aberta e uma mulher passa por ela rapidamente, pelo tamanho da barriga ela deve estar grávida de oito para nove meses, ela me olha com resignação e me entrega uma sacola com roupas e uma vasilha com comida.Sem sair do lugar eu pego as coisas, ela vira o rosto para o outro lado evitando o contato visual, uma avalanche de emoções correm corpo e eu me levanto rapidamente.— Me ajuda! Por favor, me ajuda!— é só o que eu sei pedir.A porta é aberta rapidamente e um homem, que não é o da noite passada, entra me mandando ficar em silêncio, empurra a mulher para fora e me dá um tapa na face.Rapidamente levo uma mão em minha bochecha que está ardendo, com os olhos lacrimejando me sento abraçada com um braço a comida que me foi entregue.— E para aprender a ficar caladinha, não vai comer nada hoje não— Ele fala e toma a vasilha de mim.Sem reação, fico olhando ele sair puxando a grávida e esbravejando palavras de baixo calão, eu já estava morrendo de fome, parece que a proibição aumentou ainda mais o vazio em mim.Levanto devagarinho e caminho até a porta, presto atenção em cada som do lado de fora, algumas portas se abrem e fecham, mas pelo eco estão distantes, ouço passos e uma cadeira arrastar no chão, pelo visto o vigia está por aqui.— Liga para o meu pai, ele é o governador… vai pagar o resgate que vocês pedirem! — Arrisco falar.— Cala a boca garota, não enche a porra do saco… — Ele grita de lá.— Quanto mais vocês demorarem a pedir o resgate, mais chances de serem pegos vocês têm— Alerto.— Oh vadia, isso nunca foi sobre dinheiro, agora cala a boca e fica quieta na sua antes que eu entre aí e te mostre como é que as coisas funcionam. — O homem grita impaciente.Uma onda de medo percorreu por todo o meu corpo, eu preciso sair daqui, se isso não é sobre dinheiro significa que não sairei viva, vão acabar comigo igual fizeram com meus amigos.Juli também está aqui, deve estar sequestrada… meu Deus! Como será que Juli está? Patricinha como ela é deve estar sofrendo muito mais do que eu.Eu nunca fui amiga dela, nossa relação é estritamente diplomática, contudo essa é uma situação que eu não desejo a ninguém.Papai deve estar se sentindo culpado, coitado… ele nunca me deixa sair sem segurança, justo quando dispensa o Ramon me acontece uma dessas.Se eu conseguir sair daqui viva, jamais vou contra as medidas de segurança impostas por papai, ele sempre disse que temia um sequestro ou algo pior eu teimei e olha onde eu vim parar.Encosto na porta e me abaixo, lembro da roupa que a grávida me entregou, me arrasto até a sacola e vejo o que há dentro. Felizmente uma roupa confortável e está com um cheirinho maravilhoso.Sem pensar duas vezes, tiro essa roupa e visto a calça moletom de cor preta e a camiseta baby look cinza, calço os chinelinhos de dedo que trouxeram, faço uma higiene básica com a água da garrafa e arrumo meu cabelo.Assim que termino ouço a porta sendo destrancada e me viro rapidamente, entram dois homens, o de mais cedo e um outro muito bonito, assim que ele me chama pelo nome sei que é o mesmo da madrugada que me empurrou.— Quero te mostrar algumas coisas! — Ele fala e pega um iPad com alguém do lado de fora.Aniele,Estou confusa, primeiro o homem não queria que eu visse seu rosto, agora entra sem tampar minha face e com a dele exposta, não é sobre dinheiro e possuem algo para me mostrar, o que esse povo está querendo? — Não tente nenhuma gracinha, trouxe apenas um filme para que você possa se distrair um pouco! — Ele fala e meu corpo se arrepia, tenho pavor de imaginar o que possa estar planejando nesse momento.O moço bonito volta ao corredor e traz uma cadeira, me manda sentar e eu obedeço em silêncio, sinto que vem coisa ruim por aí, olho assustada para ambos que sorriem.— Calma, belezinha, o show ainda nem começou, eu também anseio pelo fim para que eu possa brincar com você. — O segundo fala me olhando com maldade, sinto uma pontada em minha mente e uma fraqueza no corpo.O tablet está ligado em minha frente, a primeira coisa que vejo é uma foto minha com todos os meus amigos, todos sorridentes e vivos, uma dor tremenda aperta meu peito e uma lágrima corta meu rosto.Uma sequência
Aniele,Minha respiração está pesada, fixo meus olhos para ter certeza de que não é um delírio, como eu desejei que fosse, mas não é, bruscamente avanço com sede de sangue, porém sou segurada por esses dois armários em minha frente.— Calma princesa Aniele, não quero me arrepender de poupar sua vida, dentre todos do grupinho você é quem eu ainda tenho alguma afeição— Ouço cada palavra e em meu coração uma nova Aniele é forjada.— Você vai sim, se tem algo do qual vai se arrepender será de poupar minha vida, eu vou dedicar cada um dos meus dias a te caçar e te matar, eu nunca vou te perdoar por isso! Como você pode, Juli? Nós crescemos juntos! — Falo com a voz fraquejada.— Me poupe, se poupe, nos poupe! Todos me engoliram em nome da máfia… ops! — Ela grita e depois com cara de sonsa coloca a mão na boca— A princesa não sabe dos negócios obscuros da família— Ela dá mais alguns passos chegando perto de mim.— Do que você está falando? — Pergunto entredentes.— Tão inocente, doce e pura
Di Ferrari - Paraguai — Estás louca, Julia? — Pergunto olhando fixamente para minha princesa.— Não fiz nada além do que o senhor me ensinou, aliás todos os recursos foram providos pelos seus negócios, que mal há nisso, papai? — Ela fala com um sorriso meigo e um gênio forte, igualzinha a mãe.— Tinham que ser os filhos da máfia? Você tem ideia da linha de fogo que você me enfiou por um capricho adolescente? — Grito entre dentes tentando moldar meu timbre, se não é uma façanha da minha primogênita, certamente a punição seria fatal.Juli não só sequestrou a filha do governador e também chefe da máfia, como matou os filhos dos chefes de outros cartéis, filhos são dádivas que podem acabar nos matando.Abraço Juli que beija minha bochecha, nesse instante esqueço toda raiva que estava sentindo e começo a planejar como vou impedir que descubram quem está por trás disso tudo.Mesmo diante da guerra instaurada, meu ego paterno se infla ao perceber que minha menina não tem nada de frágil e t
PrólogoAniele, — Pessoal, hoje tem Show na boate, quem tá dentro? — Pergunto me sentando à mesa na cantina da universidade.— Eu tô dentro! — Beatriz fala toda animada, ela é brasileira, natural do Rio de Janeiro, os pais dela estiveram algumas vezes em minha casa, mas pouco sei sobre eles.— Não sei, eu e Carlito tínhamos combinado de ficar em casa… o que você acha meu bem? — Maitê o pergunta ao vê-lo se aproximar da mesa.— Boate hoje? Vamos! Faz dias que não saímos— Ele responde e senta ao lado dela dando-lhe um selinho.Combinamos certinho os horários do encontro, local, e o que fazer com os seguranças, eu tenho pavor de andar com eles atrás de mim, mas meu pai alega que é essencial uma vez que ele é o governador.Saio da aula, passo em um shopping para comprar uma roupa, escolhi um tubinho preto, quero arrasar na pista, hoje eu desencalho. Paro em uma cafeteria para comer minha torta favorita, na saída encontro com Juli Di Ferrari, ela me cumprimenta e eu respondo por educação,
Juan Gonzalez - Assunção/Paraguai, A cidade acorda com notícias de tirar o fôlego, uma noite marcada por violência e sangue, um verdadeiro cenário de guerra.Curiosos se aproximam do local enquanto a polícia faz o isolamento da área, região nobre da cidade, casas de alto padrão e carros de luxo, esse é o cenário do triplo homicídio ocorrido na madrugada deste domingo.— Governador, já temos a identificação das vítimas — Diz o delegado.— Quem são? — Pergunto preocupado com a repercussão que essa situação está tomando.— Maitê Sanches, boliviana, seu namorado Carlito Perez, também boliviano, Beatriz Castro, brasileira. Os três eram estudantes de medicina da universidade local — Ele vai falando os nomes e eu já estou discando o número da Margareth.— Tem indícios de que havia outra pessoa com eles? — pergunto enquanto o telefone chama— Margareth, Aniele chegou em casa? — ignoro a resposta do delegado e volto minha atenção à chamada.— Não, ela está com os amigos, conforme nos avisou,
Joaquim Sanches - ParaguaiDesembarco em Assunção acompanhado de Álvaro, esse dia mais parece um pesadelo, como pode a minha menina perder a vida tão jovem… eu vou vingar o desgraçado que fez isso com ela.— Ainda não acredito que nossas crianças se foram, meu Carlito! — Álvaro desabafa enquanto caminhamos até o carro.— Quem fez isso vai se arrepender por cada gota de sangue derramada, pode acreditar — Falo, mas em meu coração isso é uma promessa.Cuido de todos os trâmites legais para o cortejo da minha Maitê e do Carlito, um pedaço de mim está sendo levado para sempre, não há palavras que mensure o tamanho da minha dor.Entro na mansão da família Gonzalez, somos aliados de longa data, nossas filhas eram amigas íntimas, certamente Aniele deve saber de algo.Chego pensando que a reunião seria entre eu, Juan Gonzalez e Alberto de Castro, no entanto, me surpreendo ao encontrar também com Vicenzo Di Ferrari.A relação entre Alberto e Vicenzo é um pouco alterada, não cehgam a ser inimigo
Alberto de Castro - Brasil Já fazem três dias desde que enterrei a maior fortuna que eu poderia ter na terra, minha esposa está inconsolável e não é para menos, perdemos nossa querida filha para um inimigo que nem sequer conhecemos a face.Nunca fui um homem correto perante as leis, mas sempre andei mais na minha possível com minha família, Beatriz sempre foi meu sol, minha motivação, e eu vou vingar a morte dela, nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida.— Eu vou retornar ao Paraguai, o responsável certamente estará por lá. — Digo a Fabiana que se esforça para me olhar.— Eu quero ir! — Ela fala quase soprado.Beijo sua testa e faço-lhe um cafuné, eu não acho que seja propício que ela vá, contudo não estou em condições de impor absolutamente nada, ela é uma excelente esposa e uma mãe maravilhosa, está em um momento de dor extrema e a privar dessa viagem será uma tortura.— Claro meu amor, vou pedir que arrumem o jatinho— Falo e me levanto para fazer algumas ligações. E