Joaquim Sanches - Paraguai
Desembarco em Assunção acompanhado de Álvaro, esse dia mais parece um pesadelo, como pode a minha menina perder a vida tão jovem… eu vou vingar o desgraçado que fez isso com ela.— Ainda não acredito que nossas crianças se foram, meu Carlito! — Álvaro desabafa enquanto caminhamos até o carro.— Quem fez isso vai se arrepender por cada gota de sangue derramada, pode acreditar — Falo, mas em meu coração isso é uma promessa.Cuido de todos os trâmites legais para o cortejo da minha Maitê e do Carlito, um pedaço de mim está sendo levado para sempre, não há palavras que mensure o tamanho da minha dor.Entro na mansão da família Gonzalez, somos aliados de longa data, nossas filhas eram amigas íntimas, certamente Aniele deve saber de algo.Chego pensando que a reunião seria entre eu, Juan Gonzalez e Alberto de Castro, no entanto, me surpreendo ao encontrar também com Vicenzo Di Ferrari.A relação entre Alberto e Vicenzo é um pouco alterada, não cehgam a ser inimigos, mas não são aliados e vê-los pacificamente no mesmo espaço ainda que na atual circunstância me causa estranheza.— Boa tarde cavalheiros! — Cumprimento a todos com um aperto de mão e recebo um abraço de consideração.Enquanto me acomodo em meu lugar, uma funcionária da casa me traz uma água e Juan me serve uma bebida, bebo enquanto ninguém pronuncia uma palavra sequer.— Senhores, acredito que nem todos estejam cientes de toda reviravolta que envolve essa tragédia em nossas famílias, o fato é que nesse momento precisamos esquecer todas as nossas diferenças e unir forças para encontrar quem está nos fazendo mal... levaram nossos bens mais preciosos, nossas crianças. — Alberto inicia a pauta, quebrando o silêncio ensurdecedor que havia na sala.— O que nós não estamos sabendo? seu discurso não condiz com o que sei sobre essa madrugada... — Falo levemente alterado, preciso voltar para enterrar Maitê, esse lenga lenga não está adiantando nada.— Calma senhor Sanches, eu sei que é difícil, mas temos de ser fortes! — Gonzalez interrompe — Você não está a par de tudo pois não recebeu os emails que foram enviados, porém vou explicar. Aniele e Julia estão sequestradas, essa é a nossa linha de investigação, quem levou as duas foi a mesma pessoa que matou os demais.— ele explica e eu fico perplexo.A reunião não foi muito longa dada as circunstâncias, traçamos algumas buscas e cada um disponibilizou uma equipe para essa missão. Nos despedimos e deixamos marcado um novo encontro para o mais breve possível.Nem nos meus piores pesadelos eu imaginei um dia vir aqui para buscar o corpo da minha filha, não consigo imaginar as razões para tamanha crueldade, estamos em tempos de paz, ou melhor, estávamos.Desembarcamos em Sinaloa, Mari nos recebe aos gritos, uma histeria só. Tento segura-la mas sou acometido por murros de desespero, é necessário que dois dos meus homens a contenha.— Isso é culpa sua! Mataram minha menina, mataram a minha menina... — Ela grita e se entrega ao choro.— Eu vou encontrar quem fez isso e vou acabar com a raça do desgraçado! — Falo me aproximando dela e abraçando — Venha, precisamos ser fortes.— Se você não tivesse permitido que ela entrasse na máfia hoje nossa menina estaria viva... — Ela insiste em me acusar, eu respiro fundo para não debater, eu sei que é a dor de uma mãe que está enterrando a filha cedo de mais.Os dois caixões são colocados juntos, Maitê e Carlitos, partiram juntos para a eternidade. O cortejo é muito bonito e foi aberto apenas as duas famílias, Mari ainda tentou se jogar no caixão no momento do enterro deixando tudo mais pesado e doloroso.Ainda que extremamente cansado, já estou sem dormir há dois dias, não sei dizer quantas vezes já revi essas fitas de segurança, quem está por traz disso é muito bom, cuidou de cada detalhe.— Álvaro, não sei se você consegue, mas se conseguir, assista essas fitas e veja se encontra algo. Deve ter algum detalhe! — Peço entregando o HD.— Para achar o assassino eu assisto quantas vezes forem necessárias. — Ele fala aceitando o HD e saindo em seguida.Esse sequestro está estranho, essas mortes não tem fundamento, dois dias que tudo aconteceu e nenhum contato foi feito, tem chumbo grosso nisso, e vai ter muito sangue derramado aindaTodos estamos empenhados na solução desse problema, os melhores homens do mundo estão fazendo essa busca, sei que não será fácil, contudo não é impossível.— Vai descansar, você ainda não dormiu! — Mari me fala encostada na porta do escritório.— Não posso dormir agora, não posso descansar enquanto esse desgraçado respira por aí... — Ela coloca o dedo nos meus lábios me impedindo de continuar falando.— Beba esse comprimido, vai te desacelerar! — eu abro a boca e ela põe entre os meus lábios e me entregando um copo com água.— Achei que você já tivesse ido embora, não precisa ficar por minha causa... sei que você não gosta daqui. — Falo sincero.— E te deixar aqui nesse estado? De jeito nenhum! Você vai subir, descansar e quando você estiver melhor eu vou embora, agora você está derrotado. — Mari fala me guiando pelo braço.Agradeço pelo cuidado e peço desculpas pelo trabalho, afinal eu é quem deveria estar cuidando dela, eu quem falhei na proteção da nossa filha, eu quem permiti que essa família fosse devastada de tal forma.— Me perdoa Mari, me perdoa ! — Peço em um súbito desespero.— Depois conversamos, agora você descansa. — Ela fala me deitando na cama e tirando meus calçados.Mari e eu nos apaixonamos ainda na adolescência, namoramos escondidos, noivamos tempos depois e por fim nos casamos e tivemos nossa Maitê.Uma família de comercial de margarida, felizes e completos, o único problema é que Mari nunca aceitou a máfia, não é por menos que ela sempre exigiu que Maitê escolhesse uma faculdade e fazia questão de acompanhar a evolução da nossa filha.Maitê sempre puxou para o meu sangue e desde criança sempre planejou administrar meus negócios, respeitando os limites da sua capacidade e sua idade gradativamente fui inteirando -a de como tudo funcionava, seria uma ótima sucessora.Acordo atordoado, não sei quanto tempo eu dormi, tomo um banho e desço para o escritório, peço que a dona Clara me leve uma sopa, estou faminto.— Eu acho que encontrei algo, veja! — Fala Álvaro entrando as pressas no escritório sem ao menos bater.Alberto de Castro - Brasil Já fazem três dias desde que enterrei a maior fortuna que eu poderia ter na terra, minha esposa está inconsolável e não é para menos, perdemos nossa querida filha para um inimigo que nem sequer conhecemos a face.Nunca fui um homem correto perante as leis, mas sempre andei mais na minha possível com minha família, Beatriz sempre foi meu sol, minha motivação, e eu vou vingar a morte dela, nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida.— Eu vou retornar ao Paraguai, o responsável certamente estará por lá. — Digo a Fabiana que se esforça para me olhar.— Eu quero ir! — Ela fala quase soprado.Beijo sua testa e faço-lhe um cafuné, eu não acho que seja propício que ela vá, contudo não estou em condições de impor absolutamente nada, ela é uma excelente esposa e uma mãe maravilhosa, está em um momento de dor extrema e a privar dessa viagem será uma tortura.— Claro meu amor, vou pedir que arrumem o jatinho— Falo e me levanto para fazer algumas ligações. E
AnieleSou arrastada do carro até um quarto minúsculo, ouço vozes e dentre elas a de Juli, será porque ela está aqui? — Senta aí vagabunda! — Ouço uma voz masculina falar e sua mão forte segurar em meu braço me guiando até um colchão no chão.— Me solta! Socorro! Alguém me ajuda, socorro! — Grito desesperada tentando me debater mesmo sem enxergar nada.— Pode gritar a vontade, aqui só eu vou te ouvir! — ele fala e me empurra— Leva essa para o outro cômodo. Outra? Como assim outra? Quem é a outra? Meu Deus! Aceito a condição de que no momento não há nada que eu possa fazer, fico sentada onde cai e começo a reviver os últimos momentos.O homem termina de desamarrar minhas mãos e eu as levo eufórica ao capuz, mas ele me detém.— Se tentar tirar antes de eu sair desse quarto eu juro que vou arrancá-las fora.— Ele fala e dá um leve tapa em cada uma das minhas mãos.Assim que ouço a porta ser batida tiro esse saco da minha cabeça e olho o ambiente fétido em que estou trancada. Um quarto m
Aniele,Estou confusa, primeiro o homem não queria que eu visse seu rosto, agora entra sem tampar minha face e com a dele exposta, não é sobre dinheiro e possuem algo para me mostrar, o que esse povo está querendo? — Não tente nenhuma gracinha, trouxe apenas um filme para que você possa se distrair um pouco! — Ele fala e meu corpo se arrepia, tenho pavor de imaginar o que possa estar planejando nesse momento.O moço bonito volta ao corredor e traz uma cadeira, me manda sentar e eu obedeço em silêncio, sinto que vem coisa ruim por aí, olho assustada para ambos que sorriem.— Calma, belezinha, o show ainda nem começou, eu também anseio pelo fim para que eu possa brincar com você. — O segundo fala me olhando com maldade, sinto uma pontada em minha mente e uma fraqueza no corpo.O tablet está ligado em minha frente, a primeira coisa que vejo é uma foto minha com todos os meus amigos, todos sorridentes e vivos, uma dor tremenda aperta meu peito e uma lágrima corta meu rosto.Uma sequência
Aniele,Minha respiração está pesada, fixo meus olhos para ter certeza de que não é um delírio, como eu desejei que fosse, mas não é, bruscamente avanço com sede de sangue, porém sou segurada por esses dois armários em minha frente.— Calma princesa Aniele, não quero me arrepender de poupar sua vida, dentre todos do grupinho você é quem eu ainda tenho alguma afeição— Ouço cada palavra e em meu coração uma nova Aniele é forjada.— Você vai sim, se tem algo do qual vai se arrepender será de poupar minha vida, eu vou dedicar cada um dos meus dias a te caçar e te matar, eu nunca vou te perdoar por isso! Como você pode, Juli? Nós crescemos juntos! — Falo com a voz fraquejada.— Me poupe, se poupe, nos poupe! Todos me engoliram em nome da máfia… ops! — Ela grita e depois com cara de sonsa coloca a mão na boca— A princesa não sabe dos negócios obscuros da família— Ela dá mais alguns passos chegando perto de mim.— Do que você está falando? — Pergunto entredentes.— Tão inocente, doce e pura
Di Ferrari - Paraguai — Estás louca, Julia? — Pergunto olhando fixamente para minha princesa.— Não fiz nada além do que o senhor me ensinou, aliás todos os recursos foram providos pelos seus negócios, que mal há nisso, papai? — Ela fala com um sorriso meigo e um gênio forte, igualzinha a mãe.— Tinham que ser os filhos da máfia? Você tem ideia da linha de fogo que você me enfiou por um capricho adolescente? — Grito entre dentes tentando moldar meu timbre, se não é uma façanha da minha primogênita, certamente a punição seria fatal.Juli não só sequestrou a filha do governador e também chefe da máfia, como matou os filhos dos chefes de outros cartéis, filhos são dádivas que podem acabar nos matando.Abraço Juli que beija minha bochecha, nesse instante esqueço toda raiva que estava sentindo e começo a planejar como vou impedir que descubram quem está por trás disso tudo.Mesmo diante da guerra instaurada, meu ego paterno se infla ao perceber que minha menina não tem nada de frágil e t
PrólogoAniele, — Pessoal, hoje tem Show na boate, quem tá dentro? — Pergunto me sentando à mesa na cantina da universidade.— Eu tô dentro! — Beatriz fala toda animada, ela é brasileira, natural do Rio de Janeiro, os pais dela estiveram algumas vezes em minha casa, mas pouco sei sobre eles.— Não sei, eu e Carlito tínhamos combinado de ficar em casa… o que você acha meu bem? — Maitê o pergunta ao vê-lo se aproximar da mesa.— Boate hoje? Vamos! Faz dias que não saímos— Ele responde e senta ao lado dela dando-lhe um selinho.Combinamos certinho os horários do encontro, local, e o que fazer com os seguranças, eu tenho pavor de andar com eles atrás de mim, mas meu pai alega que é essencial uma vez que ele é o governador.Saio da aula, passo em um shopping para comprar uma roupa, escolhi um tubinho preto, quero arrasar na pista, hoje eu desencalho. Paro em uma cafeteria para comer minha torta favorita, na saída encontro com Juli Di Ferrari, ela me cumprimenta e eu respondo por educação,
Juan Gonzalez - Assunção/Paraguai, A cidade acorda com notícias de tirar o fôlego, uma noite marcada por violência e sangue, um verdadeiro cenário de guerra.Curiosos se aproximam do local enquanto a polícia faz o isolamento da área, região nobre da cidade, casas de alto padrão e carros de luxo, esse é o cenário do triplo homicídio ocorrido na madrugada deste domingo.— Governador, já temos a identificação das vítimas — Diz o delegado.— Quem são? — Pergunto preocupado com a repercussão que essa situação está tomando.— Maitê Sanches, boliviana, seu namorado Carlito Perez, também boliviano, Beatriz Castro, brasileira. Os três eram estudantes de medicina da universidade local — Ele vai falando os nomes e eu já estou discando o número da Margareth.— Tem indícios de que havia outra pessoa com eles? — pergunto enquanto o telefone chama— Margareth, Aniele chegou em casa? — ignoro a resposta do delegado e volto minha atenção à chamada.— Não, ela está com os amigos, conforme nos avisou,