A menina era filha dela. Era minha filha... “Nossa” filha. Eu não tive dúvidas. Eu senti quando pus meus olhos nela. Sabrina me escondeu a menina por... Quase seis anos. Como pôde?
- Está namorando o meu filho? – olhei para ela – Ele tem... Dezoito anos.
- Dezoito anos... – ela riu – Se importa com isso? Acha que ele é um “garotinho”?
Porra! Ela foi tão debochada quanto agressiva. E senti os olhos dela lacrimejarem e a voz sair trêmula, como os lábios.
Por mais que estivesse puto por ela estar com meu filho, tive vontade de pegá-la no colo e sair dali correndo, sem rumo, para nunca mais voltar.
Mas precisava ficar calmo. Estávamos juntos novamente num mesmo lugar, eu sabia quem ela era de fato agora e aquilo já se tornava um grande avanço.
Acontecesse o que fosse dali para frente, eu sabia a minha “gar
Saí, quase sendo empurrada de volta para dentro da casa com a ventania. Estava escuro, nuvens pretas encobriam o céu e trovões ecoavam para todos os lados, seguidos de relâmpagos. E embora eu não tivesse visto, sabia que minha pequena estava na rua, fugindo, de toda situação na qual a pus.Deus, em que direção ela teria ido?Retirei meu calçado, jogando longe e saí para o lado esquerdo, sem ter certeza se ela tinha tomado aquele caminho. Ouvi gritos chamando por mim e Medy, mas não voltei.Meus pés afundavam na areia e eu lutava contra a dificuldade que era correr naquele chão. Não tinha sinal de Melody em lugar algum.Eu queria que chovesse, pois desta forma a areia abaixaria e seria mais fácil para visualizá-la caso estivesse na beira da praia.As lágrimas tomaram conta dos meus olhos, misturando-se com a areia fina que castigava meu rosto. E se ela tivesse entrado no mar? Ela não conhecia a praia... Nunca tocou os pés no mar... Poderia ter se empolgado e... Não, eu não queria pensa
- Nós vamos dormir na floresta? – Melody perguntou, com um sorriso no rosto.- Se você quiser, podemos dormir na floresta. – Charles disse, sorrindo.- Eu quero, papai.- Quer? – O sorriso dele era radiante. E eu parecia uma boba, olhando os dois e querendo que aquele momento não acabasse nunca mais.- Quero muito... Só nós três. Medy não quer ninguém mais... Só o papai e a mamãe.- Seremos só nós três, eu prometo – ele me olhou – Para sempre... Posso prometer que será para sempre?- Pode. – Falei, sentindo-o me puxando para seu corpo, o braço me envolvendo pela cintura.Relaxei e pus meu braço em torno do corpo dele, sentindo seu calor sob a jaqueta fina num tecido levemente brilhoso, que imitava couro. A sola dos meus pés doía, mas eu pouco me importava. Poderia andar até sangrar ao lado dele.Não tenho certeza de quanto tempo andamos pela mata, nos escondendo de não sei o que ou quem. Talvez do mundo... Ou do destino... Acho que Charles também tinha medo da falta de sorte nos encon
- Jura?- Eu... Não tenho certeza absoluta. Mas acho que sim.- Ela... Já sabe?- Não... – Olhei para Melody, que nos olhava, sem entender.- Então espere... Vamos contar quando tivermos certeza. Juntos.Assenti, enquanto ele alisava o rosto de Melody. Depois, começou a passar o dedo indicador ao redor dos olhinhos, do nariz, da boquinha, contornando-os enquanto ela sorria.- Charles, você não tem dúvida de que... Seja seu? – Arqueei a sobrancelha, tocando meu ventre, quase certa de que um novo bebê estava dentro de mim.Ele me olhou, o dedo ainda no rostinho de Melody:- Não! E só pra constar, fiz tudo de caso pensado, para pelo menos participar da vida de um bebê desde o começo... Do zero. – Ele tocou minha barriga.- Mil anos podem passar, minha alma voltar por várias encarnações... Ainda assi
- Você?- Não eu... Mas... Meu pai. – Olhei nos olhos dele, que limpou minhas lágrimas com o polegar.Charles respirou fundo e vi os olhos dele marejarem e uma lágrima solitária rolar por sua face:- Eu... Cheguei a pensar que fosse por você... Minha “garota riquinha”. E foi isso que fez eu suportar por quatro anos a prisão.Beijei sua lágrima e o abracei com força, junto de nossa filha:- Me perdoe, meu amor...- Não! Você não é culpada, Sabrina. Pelo contrário... Foi seu rosto, na minha lembrança, que me fez aguentar tudo. Não somos culpados pelas coisas que os outros fazem e você sabe disso. Quando a conheci, eu sabia que envolver-me com você era um perigo. Mas eu não me importei. Arquei com as consequências.- O Cálice Efervescente fechado... – Me ouvi dizendo, confusa
Os olhos verdes dele encontraram os meus, confusos, desesperados. Os lábios chegaram a tremer.- Charles, nós precisamos ter calma. Não vamos dizer a ninguém sobre nós... Ou pelo menos que nos encontramos, finalmente, e estamos juntos. Precisamos saber quem está por trás da sua prisão. E punir os culpados.- Não vou aguentar ficar longe de você, “garotinha”. Não agora que a encontrei... E tem nossa filha...Olhamos para Melody deitada próximo da árvore, num sono tranquilo e eu poderia apostar que feliz. Ajoelhei-me de frente para ele:- Acha que eu consigo ficar longe de você, depois de tanto tempo?- Eu espero que não... Não posso ficar sem tocá-la... De forma alguma... – Os dedos dele alisaram meu rosto.- Vamos fingir que não estamos juntos. E ganhar tempo.- Mas Mariane sabe... Se você
- E tudo que pedi, por todos os dias, foi você... E agora... – ele abaixou a cabeça e beijou minha barriga – Você está aqui.- Fomos muito injustiçados, “el cantante”.- Eu sei. – Ele ficou sério.- O culpado vai pagar... Na cadeia.- Sabrina, por que você foi parar em Noriah Sul?Respirei fundo e comecei a contar a minha parte da história:- Inicialmente meu pai achou que o bebê era de Colin... Quando soube que não era, exigiu que eu abortasse...Ele ficou imóvel e percebi a respiração acelerada.- Eu... Não aceitei. Então ele me mandou escolher: nossa filha ou minha vida naquela casa.- Você... Escolheu... Ela... – Vi os olhos dele marejarem.- Eu nunca tive dúvidas... Assim que soube que ela estava comigo, não me senti mais só. Eu consegui tudo gra&c
- Charles, nós precisamos ir. – Falei, levantando.- Não dá para ficarmos só mais um pouquinho? – Ele me olhou, ainda no chão com nossa filha.- Não queremos levantar suspeitas, não é mesmo?- Não? Eu já nem sei... Só de pensar que tenho que fingir que vocês duas não são tudo para mim, já fico puto.- Charles, por Deus! – Quase gritei.Ele pôs imediatamente a mão na boca e olhou para Melody:- Puto quer dizer... Alérgico a água do mar?Ela começou a rir, balançando a cabeça divertidamente:- Não quer dizer isso não...- Caramba, minha filha, o que quer dizer então?- Eu acho que você deve pesquisar no Google.- Ei, vocês dois? – ambos me olharam – Não é hora de discutir isso.
- Você está bem, Sabrina? – Calissa perguntou.- Sim. – Confirmei, olhando para trás, sem parar de caminhar.- Está suja... A roupa por inteiro.- Eu deitei no chão com Melody. – Expliquei.De cada dez palavras que eles trocavam com Melody, cinco era perguntando se ela não tinha se machucado. Ah, eles podiam me odiar. Mas se gostavam dela, eu sinceramente pouco me importava. E não que eu quisesse que minha filha fosse aceita pelos Rockfeller. Mas eu não gostava quando qualquer pessoa, independente de quem fosse, a tratasse de qualquer forma que não fosse gentil ou carinhosa. Simplesmente porque Melody era um encanto, o amor em pessoa.Não lembrava de o caminho ser tão longo. Mas foi o que pareceu. Quando chegamos perto da casa, vi Guilherme sentado na escadaria. Assim que me viu, veio correndo na nossa direção.Ele me abraçou e