- Eu acho que não sei muitas coisas.
- Você tem dinheiro, Sabrina?
- Um pouco... Meu ex noivo me deu.
- O que pensa comprar?
- Algumas mudas de roupa... Roupas íntimas... Um tênis. Itens de higiene... Perfume, hidratante, uns óculos de sol... Meus olhos são muito sensíveis à luz solar.
- Ok, siga esta ordem de compra: produtos de higiene, que incluem escova dental, escova de cabelos, desodorante. Depois roupas. Procure comprar mais quantidade por um preço razoável e não se importe com marcas.
- Mas... Não posso pegar qualquer coisa. Porque roupas baratas não tem boa qualidade.
- Não precisamos de qualidade. Queremos que você tenha opções de roupas. Logo sua barriga vai começar a crescer.
Enruguei a testa, tentando entender:
- Vou... Ver como faz isso.
- Perfume, hidratante, óculos de so
Senti meu coração bater mais forte ao receber o aparelho celular nas minhas mãos e ouvir a voz de Min-Ji do outro lado: - Como está, querida? - Eu... Estou sobrevivendo. - Estou feliz em ouvi-la. - Como está minha mãe? - Ainda inconsolável. - Eu... Sinto muito por ela. Sabia que sofreria... Tanto quanto eu. - Ainda acho que seu pai vai mudar de ideia, especialmente quando ver a criança. - Acontece que “eu” não vou mudar de ideia, Min. Quando ele me mandou escolher, disse que dependendo da minha decisão, estaria morta para ele. Então... Eu morri. Não sou mais uma Rockfeller. - Deve estar sem dinheiro. Sua mãe quer ajudá-la. Senti uma ponta de esperança dentro de mim: - Como ela faria isso? - Eu intermediaria tudo. Ela lhe mandaria dinheiro, eu posso entregar... Ela quer conhecer a criança quando nascer. Fiquei um pouco confusa com tudo. Como assim ela queria conhecer o bebê? Eu não
A semana que se passou foi difícil. Lavar louça era bom, desde que não fosse todos os dias. Fiquei enjoada de esfregar pratos e ao final a brincadeira de serem pessoas na fila do banho já nem deu tão certo, porque elas já não queriam mais tomar banho; pelo contrário, fugiam. Tentei cozinhar, mas definitivamente não tinha habilidade. Optei por não estender a minha cama, pois não fazia sentido, visto que deitaria logo em seguida. Por que se dar ao trabalho de arrumar se logo desarrumaria?Aprendi a usar a máquina de lavar e precisava liga-la diariamente, já que não tinha muitas opções de roupas. A praça com playground no centro de Noriah virou um dos meus lugares favoritos. Passei a ler debaixo das árvores durante as tardes. Yuna tinha muitos livros que falavam sobre crianças, gestação e fases de desenvolvimento a parti
Os meses seguintes foram divididos entre lavagens de louça, passeios à praça com leitura de livros e faculdade. Passei a ocupar meu tempo e com isso, esquecer parte da dor e da saudade do meu passado.Minha ligação com Melody sempre foi intensa, desde que a vi pela primeira vez, pela tela do aparelho de ultrassom. Eu fui capaz de abrir mão de tudo por ela e agora sabia o que era amor materno. E cheguei a me pegar pensando em como reagiria no lugar de minha mãe, quando J.R mandou-me embora. Teria eu reagido da mesma forma? Sequer tinha minha filha fora do útero e já não imaginava deixá-la partir, sem dinheiro, sem seus pertences, praticamente jogada para fora de casa, grávida.Naqueles meses, não houve tentativa de aproximação por parte da minha família. Também não tive notícias de Charles. Ele simplesmente desapareceu, embora sua lembran&
Sorri observando os olhos verdes e grandes dela fixos nos meus:- Amo você, minha melodia preferida. – Dei-lhe outro beijo.Sai antes que desistisse de ficar longe da minha filha por um longo período de tempo. Aquele era o sacrifício do emprego: afastar-me dela.Fui bem recebida pelas vendedoras da loja. As roupas, embora tivessem grande quantidade, eram todas emboladas em cabides e prateleiras, várias peças iguais, do mesmo tamanho, cor ou estampa, eram de péssima qualidade. Tentei me convencer de que precisava vender aquele produto, mesmo achando ruim.Apesar de ter comprado poucas roupas novas para mim, ainda priorizava a que havia trazido no corpo quando fui embora da mansão Rockfeller. Era um pedaço do que eu fui: alguém que teve tudo e precisou abrir mão, em nome de um amor maior.A primeira cliente que chegou, as colegas deixaram para eu atender. Era uma senhora apare
Também não dei certo como atendente de lanchonete, nem caixa de supermercado. Yuna voltou para o turno do dia, enquanto eu me lamentava por não ser capaz de fazer nada que pudesse me render dinheiro a fim de sustentar minha filha.- Eu sou um fracasso. – Falei para Do-Yoon, enquanto me jogava no sofá, triste.- Não, não é. Vai encontrar algo que consiga fazer.Yuna estava brava comigo nos últimos dias, certamente achando que eu estava fazendo de propósito, como se não quisesse me firmar num emprego.Arrumei Melody e disse, enquanto a colocava no carrinho:- Eu vou dar uma volta com ela na praça.- Sim, é bom descansar a cabeça um pouco. Você está se cobrando demais, Sabrina.- Do-Yoon, você não existe! – Abracei-o carinhosamente.Quando o soltei, percebi que ele estava ruborizado.- Me desculpe
- Não mesmo. É uma menina que se acha dona de tudo e todos. E usa do poder da família para conseguir o que quer.- E o garoto? É namorado dela?- Vivem uma relação conturbada, mesmo tão jovens. Idas e vindas, relacionamento tóxico. Guilherme Bailey é o tipo de aluno que faz questão de ser reconhecido por seu péssimo comportamento. No entanto, as notas são boas.- Guilherme Bailey... Eu já corrigi provas dele também. Escreve bons textos... Parece maduro para a idade. Quando eu leio as escritas dele, não parece que o jovem tem 14 anos.- Ele tem 15. Ficou um ano longe da escola, pois morou com a mãe em outro país. Ela não o matriculou no exterior e o garoto perdeu um ano.- Que mãe irresponsável.- Sim... Mas Gui segue tirando notas boas... E tentando fingir que é um péssimo menino.-
Mil quatrocentos e sessenta e seis dias depois, eu pus a chave na fechadura da minha casa própria.Antes que eu entrasse, Melody passou por entre minhas pernas, correndo pelo espaço vazio do cômodo da sala e cozinha, que eram conjugados.- E então? – Perguntei-lhe.- Eu amei... – ela sorriu, os dentes branquinhos brilhando e parte da gengiva aparecendo, de tanto que abriu os lábios – Amei! – Gritou.- Não grite, Medy.- Mas faz eco, mamãe... Tente também.- Não.- Ah, mamãe...Deu um grito estridente, que ecoou pelo vazio da casa. Começamos a rir. Peguei-a por trás e comecei a fazer-lhe cócegas, enquanto ela tentava se desvencilhar, embora estivesse gostando.Ela jogou-se no chão e eu ajoelhei-me sobre ela, seguindo com as cócegas e depois a enchendo de beijos na bochecha e pescoço.<
- Feliz em se livrar da gente? – Yuna reclamou.- Um pouquinho. – Brinquei.- Achei que você não fosse comprar a casa... – Do-Yoon observou.- Foi quase um ano para aceitar parcelar. – Yuna riu.- Esta parte ainda me perturba. Tenho medo de deixar a dívida para minha filha.- Não exagere. – Yuna subiu a escada estreita, que levava para o segundo andar.- Eu... Estou pensando em comprar um imóvel para mim também. – Do-Yoon falou baixo.- Eu... Não sei se o parabenizo ou dou os pêsames. – Fui sincera.- Por quê?- Primeiro, porque a dívida será eterna. Segundo, porque Yuna vai matar você.- Acho que ela vai permitir.- Permitir?- Ela é a mais velha. – Ele sorriu de forma tímida.- Que se foda essa parte da tradição, Do-Yoon. Vocês mora