Faltava quinze minutos para às 22 horas quando eu e Melody chegamos à porta de entrada no Ginásio de Esportes.
Entreguei os ingressos à pessoa responsável, que disse:
- Sinto muito, senhora. A menina não pode entrar.
Fiquei olhando para a mulher, confusa. Como assim ela não podia entrar? Melody era filha de Charles.
- Ela... É minha filha. – Comecei a retirar nossos documentos da bolsa e tentei lhe entregar.
Ela se recusou a pegar:
- Não. A menina não entra.
- Sou a responsável por ela. Como lhe disse, é minha filha e autorizo a entrada dela.
- Só pode entrar a partir de dezoito anos.
- Mas ele canta a porra de uma música sobre a Garota Riquinha que a minha filha escuta o tempo todo.
- Mamãe, você falou palavrão. – Melody puxou minha mão, lembrando-me do “porra”.
Olhei no relógio. Pensei em ligar para Yuna ou Do-Yoon, mas era muito tarde. Eles dormiam cedo. Como eu gostaria de compartilhar com eles o que tinha acontecido naquela noite.Peguei meu notebook e digitei o nome dele. Num caderno comecei a anotar tudo que era importante. Ao final, ficou claro que ele havia começado há menos de seis meses sua carreira oficialmente. Antes deste período, ele era só um borrão na minha lembrança, como se nunca tivesse existido. Charlie B. parecia não ter nenhuma ligação com Charles. Aliás, Charles era um fantasma nas redes, tendo tudo que um dia existiu sobre ele simplesmente apagado.Era agenciado pela J.R Recording, mas todos os dados do contrato eram sigilosos. Ele não tinha rede social própria e dava para ver que tudo que era postado sobre ele era feito por uma assessoria. Estritamente profissional.Muitas fotos de fãs que o marcava
Se Yuna disse que não poderia contar, Melody realmente não contaria, pois levava muito a sério o que a “tia emprestada” falava.- Eu... Vou indo. – Gui tentou me entregá-la, sem sucesso.Melody grudou-se nele, as pernas enroladas em seu corpo:- Gui, vamos tomar chocolate quente todos juntos? Eu, você e minha mamãe. – Ela pegou a minha mão, fazendo-me aproximar-se deles.A respiração de Guilherme ainda estava ofegante. Eu tentava me recompor e pôr os pensamentos em ordem.- Filha, é tarde, muito tarde. Gui tem aula amanhã e precisa dormir e descansar.- Mas amanhã é sábado. – Ela lembrou.Revirei os olhos e sentei no sofá. Guilherme sentou ao nosso lado, com ela ainda no colo.- Mamãe, eu quero um copo bem cheio de chocolate quente.Peguei a térmica que el
- Por sorte fomos interrompidos. Porque isso é uma loucura.- Não, não é.- Você... Quer café? – Ofereci.Ele pegou um biscoito e analisou, sorrindo:- Tem formato de elefante... E confeitos.- Medy adora animais.- Você é uma mãe maravilhosa, Sabrina. Melody tem sorte.Servi-me de café e leite e bebi, enquanto o questionava:- E a sua mãe?- Por aí... Aparece vez ou outra. Minha avó é a referência que tenho de família, mãe e pai.- Eu... Sinto muito.- Eu não. – Ele disse, mordendo o biscoito, enquanto o analisava.- Mas... Eu soube que você chegou a morar com a sua mãe.- Sim, quando ela temeu que meu pai conseguisse a guarda. Só fingiu que era uma boa mãe e se preocupava comigo.- Melody é tudo que eu tenho, Gui. Por
Deus! Me perdoe, pois eu matei mais um animalzinho da minha filha. Que tipo de pessoa eu sou? Horrível, a pior de mãe de todas.Subi correndo as escadas e a vi no topo, com o animalzinho sem vida em suas mãos.- Docinho, me perdoa!- Você disse que o meu hamster era prioridade. – Ela lamentou.- Culpada, culpada, mil vezes culpada. Me dê um castigo, por favor.- Ok, você nunca mais vai cuidar dos meus animais de estimação.Peguei o corpo do hamster das mãozinhas pequenas dela e propus:- Vamos enterrá-lo?- Gui vai ficar muito triste... Porque o hamster que ele me deu morreu.- Talvez ele seja compreensivo com a mamãe.- Assim como eu?- Assim como você... – Assenti, pegando-a pela mão.Enquanto eu cavava o buraco, ela preveniu:- Cuida a Tuga, mamãe.- Vou cuidar... Prometo.Assim que o buraco foi cavado, pusemos o hamster dentro e cobrimos com terra. Assim que acabamos, ela disse, sentando-se no chão, sobre a grama:- Mãe, você acha que estamos fazendo um cemitério de animais no nos
- E eu vou te dar um conselho como... Bem, acho que como ex namorada ciumenta e vingativa: deixe Gui em paz ou vou postar o vídeo na internet.- Você não pode fazer isso. Eu a processaria.- Eu sou de menor.- Seus pais pagariam por seus atos.- Eles têm dinheiro.- Eu acabaria com você e o nome da sua família para sempre.- Tem noção que se eu abrir a minha boca, você vai ser demitida e nunca mais conseguirá um emprego na sua vida? Você é uma professora vagabunda que deu para seu aluno gostoso.Não, aquilo não estava acontecendo. Como me deixei ser filmada? Como fui tão idiota e ingênua? Eu demorei anos para me reerguer e agora via tudo ruir novamente, por conta de alguns minutos de inconsequência, que pensei com a boceta e não com o cérebro.- O que você quer?- Diga para Gui que não o quer mais. O deixe em paz.- Eu já fiz isso.- Saia da escola.- Eu... Não posso sair. É o meu emprego. Corri atrás disso a vida inteira.- Eu não tenho nada a ver com isso.- Rachel, você quer Gui. E
- Você não viu a entrevista dele na TV? Não negou quando o repórter perguntou. – Ela me olhou.Fiquei um pouco apreensiva e senti um frio na barriga. Sim, havia me passado pela cabeça que ele não estaria sozinho, como eu, esperando pelo nosso reencontro. Mas também não achei que aquilo pudesse doer tanto em mim, mil vezes mais do que quando Mariane me confessou que dormiu com Colin.O fato de “não negar” não significava sim. De tudo que li sobre ele, nada mencionava alguma mulher na sua vida.Assim que passei pelo portão de entrada da área desportiva, me senti ainda mais nervosa.As palmas das minhas mãos suavam e meu estômago doía.O espaço era enorme, e não tinha teto, aberto na parte superior. O tamanho era de um campo de futebol e havia arquibancadas, para onde também foram vendidos ingressos. Embora as c
- Não! – Gritei, pegando-a nos meus braços, sentindo seu corpo junto do meu, o perfume que eu nem reconhecia mais.Nada mais importava. Que o mundo explodisse... Eu só queria ela... Nada mais.Enquanto saia do palco com Sabrina, os braços dela passando pelo meu pescoço, as lágrimas a molhar minha roupa, vi tantas pessoas ao meu redor que quase não conseguia andar.Todos falavam ao mesmo tempo. E eu não ouvia nada... Só queria ela. A prenderia numa corrente e não a deixaria escapar jamais.Ouvi alguém gritando no microfone que eu faria uma pausa de alguns minutos. Não... Eu não voltaria para o palco. Talvez nunca mais... Porque eu já havia encontrado o que procurei incansavelmente, acho que por toda a minha vida.Tranquei a porta do camarim e a larguei, observando-a. Temi que minha voz tremesse a ponto de eu não conseguir me expressar.
- Você precisa entrar de volta no palco. – Disse meu assistente, furioso.Aquele garoto era os olhos e ouvidos da minha empresária, que não conseguiu vir naquele show, devido a outro compromisso. E eu pouco me importava do que ele diria para ela.- Não! – Falei, parecendo um garoto mimado.- O que você está pensando? Estas pessoas pagaram para vê-lo cantar e não para que arrancasse uma fã do palco e a fodesse no camarim, seu imbecil. Pode muito bem fazer isso depois que acabar o show. – Agora era Otávio quem falava, furioso.Ele era o homem que organizava os shows na prática e estava comigo em todos os lugares que eu ia. Era sério e dedicado e graças a ele eu tinha evoluído muito enquanto artista. Antes eu só era um cantor.Olhei para Sabrina e depois para ele:- Ela não é uma simples fã...- N&a