3. Aprovada

Stella

Hoje, sinto-me ansiosa, em minhas mãos está literalmente o meu futuro!

Há alguns meses estou fugindo durante o dia para fazer as provas e me classificar para ganhar uma bolsa de estudos em Boston, com o chef Matteo Bonavalle, ele é reconhecido mundialmente, uma lenda gastronomia.

Esse curso representa não somente uma realização profissional para mim, mas também a concretização de um sonho, que anseio há muito tempo. O processo seletivo foi desafiador, e as provas que se seguiram exigiram dedicação e esforço, há alguns dias realizei a última etapa, e hoje chegou à resposta, se estarei ou não, na nova turma de gastronomia do Chef Bonavalle.

Esse curso é muito concorrido, ele não costuma dar curso, geralmente é um a cada dois anos, e esse ano, tomei coragem para tentar. O curso intensivo dura um ano, e caso seja um aluno destaque, você é contratado para fazer um estágio de dois anos em um dos restaurantes do Chef Bonavalle.

— Abre logo amiga, quer me matar de curiosidade! — Emma diz roendo as unhas. Eu estava tremendo, com as mãos suadas.

— Estou com medo de abrir! Tem noção que meu futuro está nesse mero papel? — Digo olhando para o pequeno envelope branco em minhas mãos.

— Quem em mero século vinte e um, ainda usa correspondência, esse cara não conhece e-mail, SMS… — Emma diz tirando o envelope de minhas mãos. — Se está com medo eu abro.

— Não! — Pego o envelope novamente, sei que é ridículo, mas cruzo os dedos e começo a rasgar a lateral do envelope, Emma se pendura em cima de mim, eu abro com calma a carta respirando fundo.

“PARABÉNS!

Stella Melfi, você foi aceita no programa Chef do ano, do renomado Chef Matteo Bonavalle, com honras.

O comparecer no edifício The Ritz no dia primeiro de julho de dois mil e vinte e quatro, às dezenove horas, para retirar o kit master que você ganhou, e participar de um jantar feito especialmente pelo Chef.

Regras

Traje de gala e trazer um acompanhante.”

Precisei ler duas vezes para ter certeza se estava lendo certo.

Eu só não fui aceita para participar do curso, como ganhei o kit de honras que apenas uma pessoa ganha por curso.

— VOCÊ PASSOU! MINHA AMIGA SERÁ UMA GRANDE CHEF DE COZINHAAAA!!!! UHUUUUU!

Emma estava gritando e pulando de alegria, feliz pela minha conquista, eu só sabia chorar, me ajoelho ao chão e agradeço a Deus por essa conquista maravilhosa! Emma se junta a mim, me abraça apertado.

— Você merece isso e muito mais! Quero que você volte, conheça o mundo e brilhe! Estou tão orgulhosa de você! — me emociono com suas palavras, só ela sabe o quanto lutei para conquistar esse feito.

Agora será uma jornada de crescimento e aprendizado, uma oportunidade para aperfeiçoar as minhas habilidades culinárias e explorar novos horizontes gastronômicos. E me empenhar para ganhar o ápice desse curso, o estágio de dois anos no famoso restaurante da Itália do renomado Chef Bonavalle. A oportunidade de trabalhar ao lado de um mestre tão renomado é um privilégio incomparável e um sonho realizado para qualquer amante da cozinha.

A minha felicidade se apaga, ao lembrar que terei que falar com a minha família.

Com certeza devem estar se perguntando porque não estou feliz em contar! Por incrível que pareça, minha família é contra o curso.

Para fazer o teste, tive que contar uma pequena mentirinha, dizendo que eu estava na casa da Emma, minha melhor amiga. Meus pais são muitos protetores, e haviam deixado claro que não queriam que eu fizesse o teste, só que meu sonho estava tão perto, não resisti e fiz o teste escondido. Eu não tiro a razão deles.

Há dois anos e três meses, passei por um transplante de coração.

A cirurgia foi um susto, pois eu não sentia nenhum sintoma, a não ser cansaço, eu perdia o fôlego muito rápido, não era nada alarmante. Tudo mudou do nada. Ao voltar do mercado com minha mãe, lembro que choveu forte, obrigando-nos a apertar os passos. De repente, meu coração começou a bater forte, acompanhado por uma dor de cabeça intensa. Além disso, eu senti falta de ar, o que me deixava apavorada. Tentava respirar fundo, mas meus pulmões não respondiam. Percebi que meu coração estava ficando mais lento e, em um sussurro, chamei por minha mãe.

— Mã, mãe, não consigo respirar! — Sinto minhas forças irem embora, as sacolas que carregava caiam sobre o asfalto molhado, assim como o meu corpo, minha vista foi escurecendo, sinto o impacto no chão molhado, escuros os gritos desesperados da minha pedindo socorro, mas não consigo falar, não consigo respirar, eu não sentia mais nada, o vazio do escuro me dominou.

Acordo já no hospital, meu irmão está só meu lado, com seus olhos vermelhos de tanto chorar.

— Graças a Deus você acordou! Vou chamar o médico, ele vai saber explicar melhor. — Faço um movimento com a cabeça, mas ela ainda dói, ainda me sinto sonolenta.

— Que bom que acordou, meu nome é Zack, sou o médico plantonista, mas minha especialista em cardiologia, fiz alguns exames enquanto estava desmaiada, e você tem um defeito congênito do coração.

— O que é isso, doutor, eu posso morrer?

— Em resumo, é uma válvula aórtica bicúspide1. — Olho para meu irmão, procurando uma forma de entender o que o doutor explicava, vendo minha cara de “não estou entendendo nada” ele sorri e continua a explicar: — A válvula aórtica desempenha um papel crucial, abrindo-se a cada batimento cardíaco para permitir que o sangue flua do coração para o corpo. Normalmente, essa válvula possui três cúspides ou folhetos, mas você tem apenas duas. Esse problema muitas vezes passa despercebido em bebês e crianças, sendo diagnosticado apenas quando a pessoa atinge a fase adulta, como aconteceu com você.

— Posso morrer, doutor? — Pergunto, com medo de escutar a resposta.

— Infelizmente, você corre risco de vida, digamos que o estrago causado pela condição exigi uma ação rápida, você precisa de um coração urgente.

— Quanto tempo até que consiga o coração, seja sincero doutor.

— Quarenta e oito horas. — Começo a chorar com meião meu lado, ele tentava ser forte por mim, mas eu sabia que poderia ser meu fim, mas não deixei de acreditar nenhum minuto, eu sabia que Deus tinha coisas maravilhosas para mim.

Algumas horas depois minha mãe, entra chorando no quarto, eu tento consolá-la, mas ela dizia:

— Um milagre, minha menina, um milagre! Conseguimos um coração para você!

Olho sem entender, coloco a mão em meu peito, meu coração batia fraco. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, eu fiz uma prece agradecendo a Deus, por mais uma oportunidade, e sentido pela pessoa que morreu.

Por mais que essa oportunidade tenha sido um presente inestimável, é inevitável não sentir uma mistura de emoções. A gratidão por receber uma segunda chance de vida, se mistura à tristeza pela perda de outra vida, que precisou morrer para que eu vivesse. É um paradoxo doloroso, mas também uma lembrança constante da generosidade da família que, em meio à sua própria dor, tomou a decisão incrivelmente nobre de doar o órgão do seu ente querido para salvar a vida de outra pessoa, na qual nunca teve contato.

Eu gostaria muito de saber quem é a família para agradecer pessoalmente, mas como em muitos casos, a doação foi anônima, me impossibilitando de fazer o agradecimento pessoalmente.

...

 Fontes e links:

        1: Defeito congênito do coração:

https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/defeitos-cong%C3%AAnitos-do-cora%C3%A7%C3%A3o/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-defeitos-card%C3%ADacos

        4:Porque os gêmeos não serem idênticos: 

https://brasilescola.uol.com.br/biologia/gemeos.htm#:~:text=Os%20g%C3%AAmeos%20dizig%C3%B3ticos%20ou%20bivitelinos,que%20ocorre%20entre%20outros%20irm%C3%A3os.

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