Stella
Terminamos de arrumar minhas coisas, eu desço as escadas tentando segurar o choro, mas ao ver minha mãe ajoelhada no chão, recolhendo os vidros quebrados dos copos que meu pai atirou nas paredes, eu me abaixo e a ajudo-a, ela me abraça chorando.
— Não vá! — Ela diz.
— Preciso ir, preciso descobrir o que há lá fora, preciso sair do meu casulo protegido, no qual você e o papai fez para mim. Não sou mais sua menininha.
— Não importa sua idade, se está casada e com filhos, você sempre será nossa menininha, nossa princesinha. — Sorriso e dou-lhe um abraço.
— Não estarei muito longe, sempre nos vere... — Meu pai entra na sala de jantar, me interrompendo de terminar a frase. — Já deu seu tempo, saia da minha casa. — Senti como se cada palavra perfurasse meu coração, que sangrava de dor.
— Tchau mãe, eu te amo! — Dou um abraço nela, depois paro na frente do meu pai e digo: — Eu te perdoou, e prometo te dar muito orgulho.
Viro as costas e escuto um barulho alto de algo se quebrando, não olho para trás, continuo andando sem olhar, sem chorar. Visto uma máscara frio, sem sentimento. As pessoas passavam por mim, me cumprimentavam, mas eu não respondo, não tinha reação, estava me sentindo vazia, rejeitada, perdida, me perguntando sem parar: “Será que estou fazendo a coisa certa?”
Chego na casa de Emma, ela já esperava por mim, provavelmente minha mãe ou meu irmão ligou para ele.
— Minha casa, sempre será a sua casa! Sempre! — Então as comportas se abrem e um tsunami de lágrimas são descarregadas, eu me sentia fraca, frágil, inútil, confusa, triste, egoísta, segura, amada, orgulhosa, perdida e a pior filha do mundo.
Foi muito emocionante, quando Emma abriu os braços, me acolheu com todo carinho. Passamos boa parte da noite juntas, como uma boa amiga irmã, ela me consolou dizendo palavras de conforto e carinho, me assegurando que sua casa estaria sempre de portas abertas para mim.
Emma mora sozinha desde que sua mãe morreu, seu pai fugiu no mundo, quando ela nasceu, então tenho muito orgulho da mulher guerreira que minha amiga se tornou. E sou grata a Deus, por tê-la ao meu lado em momentos difíceis como esse.
Quase não durmo, fico boa parte dela conversando com Emma e refletindo sobre o que aconteceu.
Estou completamente arrasada, nunca imaginei que meu pai seria cruel, jamais pensei que ele agiria assim. Reconheço que minha decisão pode parecer egoísta, mas estou determinada a seguir meu sonho. Se eu conseguir realizá-lo, sei que poderei proporcionar uma vida melhor para meus pais, quem sabe até possibilitar que eles se aposentem mais cedo. Minha mãe trabalha como copeira no hotel da cidade, enquanto meu pai administra uma pequena oficina mecânica. Meu irmão, por sua vez, está fazendo faculdade de engenharia mecânica e se esforça ajudando meu pai na oficina e fazendo entregas de delivery. Sinto-me sufocada pelo papel de “princesinha” que me atribuíram. Eles não me permitem fazer nada, o máximo que consigo é ser babá dos vizinhos, alegando preocupação com minha saúde, mesmo que os médicos garantam que estou em perfeitas condições após o transplante. O médico até brincou dizendo que poderia correr uma maratona se quisesse.
…
As poucas horas que dormi foi turbulentas, marcada por pesadelos confusos e aterrorizantes, dos quais mal consigo recordar. A única certeza é que havia uma sensação avassaladora de dor e desespero.
Agora estou aqui no quarto da Emma, às quatro horas da manhã, sem ter ideia de para onde ir, não conheço Boston, rui lá pouquíssimas vezes, e em lugares específicos. Ligo o computador de segunda mão que ganhei no meu aniversário de vinte anos, apesar de ser bem velhinho, ainda me serve muito bem. Começo a pesquisar por pousadas e hotéis baratos em Boston.
— Meu Deus, é mais cara do que imaginei. — Digo para mim mesma.
Quando já é cinco horas da manhã, conforme combinado, meu irmão já estava me aguardando, com o carro do nosso pai e um envelope misterioso em mãos.
— O que é isso? — Pergunto curiosa.
— Um presente meu, da mãe e da Emma. — Abro o envelope com delicadeza, me surpreendo com o conteúdo, devolvendo-o.
— Não posso aceitar Leo, é muito dinheiro.
— Não só pode como deve, é presente, a mãe sempre diz que não pode…
— Recusar um presente. — Completo a frase, revirando os olhos, enquanto vejo Emma rindo da minha atitude. — Você está oficialmente na minha lista negra — Ela brinca, — Disse que não precisava. — Digo isso enquanto me aproximo dela, percebendo que ela já está com lágrimas nos olhos.
Nós duas somos inseparáveis desde a infância, e essa é a primeira vez que ficaremos tanto tempo separadas. O pensamento disso me enche de emoção e nostalgia, mas também de confiança de que nossa amizade resistirá a qualquer distância.
Me despeço dela chorando também, como disse anteriormente, tenho-a como irmã.
— Sabe que se precisar, pode me ligar e atravessar a rua para falar com meus pais, não sabe? Eles a têm como uma filha — Digo a Emma, com um sorriso reconfortante.
— Eu sei, amiga, não se preocupe. Vai com Deus e arrasa! — Ela responde sorrindo com lágrimas nos olhos.
Entendo perfeitamente. Estou vivenciando um turbilhão de sentimentos. Uma mistura avassaladora de medo, realização e saudade me invade. A ideia de estar indo para Boston, ainda que não tão longe fisicamente, é como deixar um pedaço do meu coração para trás. Nunca imaginei que estaria tão distante da minha família. Mas sei, que Deus está ao meu lado. É Ele quem me dá forças para enfrentar esse desafio e acreditar nos meus sonhos. Com fé e determinação, sei que posso superar qualquer obstáculo que surja no caminho. Meu maior desejo é tornar-me uma renomada chef de cozinha, e estou disposta a dar tudo de mim para alcançar esse objetivo. Mesmo com a distância.
Estou pronta para essa jornada, e sei que não estou sozinha. Posso contar com o apoio do Leo e da Emma, meus pilares de força. Respiro fundo, sentindo a firmeza da mão do meu irmão segurando a minha. Juntos, seguimos em direção ao meu novo mundo, mesmo que seja apenas pelos próximos anos.
Eduardo— Já estou exausto. Entrevistei oito mulheres, e das oito, sete se insinuaram para mim. E a que não se insinuou mal consegue andar devido seus problemas de artrite, ela não conseguiria acompanhar o pique da Bella. — Desabafo ao telefone, sentindo a frustração da busca por uma babá confiável.— Amanhã serão mais algumas horas de tortura. — Michael ri do outro lado da linha. — Mas conta aí. Elas eram gatas, pelo menos? — Reviro os olhos, para o comentário do meu amigo. Ignoro sua pergunta dizendo:— Deus, como é difícil contratar uma babá. — Falo sentindo o peso da responsabilidade sobre meus ombros.— Senhor, tem mais uma candidata — Anuncia Abigail ao entrar no meu escritório com uma xícara de café em mãos. Confio nela para gerir minha casa há anos. Olho para o relógio e percebo que a tal candidata está atrasada, despertando minha irritação.— Não vou atender mais ninguém hoje. Ela não chegou no horário, então que volte amanhã. — Decreto, mostrando minha determinação em não ad
StellaNa entrevista, o Sr. Hoork demonstrou-se irritado com meu atraso, mas consegui explicar a situação e percebi que ele teve uma certa compreensão. Ele parece ser uma pessoa perspicaz, talvez um pouco arrogante, meio grosso, mas sem dúvida muito lindo.Quando bati os olhos nele, eu paralisei, sua beleza era incomum, ele estava magnífico vestindo um terno negro de corte perfeito, seus cabelos castanho-claro e olhos cor de mel se destacavam na negritude de seu traje.Durante nossa conversa, o Sr. Hoork demonstrou interesse em minha formação, o que me deu a oportunidade de compartilhar minha experiência como babá na minha cidade. Percebi que ele apreciou o fato de eu já ter experiência. Embora ele não tenha solicitado, planejo pedir aos meus antigos empregadores que me enviem uma carta de recomendação. Acredito que isso possa reforçar minhas habilidades e demonstrar meu comprometimento.Também contei sobre a bolsa e outros detalhes relevantes. Foi gratificante ver sua expressão de su
StellaLembro-me do dia que o conheci pessoalmente. Foi no jantar da entrega do meu kit, Léo me acompanhou e ficou fofo com o smoking que alugamos para ele. Aquela noite foi inesquecível.Fui com um vestido longo preto, o mesmo que usei na minha formatura, o Chef estava vestindo seu dólmã, que não apagou em nada a sua beleza.O Chef é o típico italiano, branco, dos olhos verdes, sorriso safado, que deixa as mulheres loucas. Ele é alto, e mesmo com traje um pouco folgado, seus músculos ficam amostra.Aquela noite foi mágica, eu nunca havia entrado em um lugar tão chique, me senti um peixe fora d’água, mas o Chef tentou me deixar o mais à vontade possível, dizendo que esse seria meu ambiente agora, que eu voaria longe!Eu me sentia realizada e muito feliz, compartilhar esse momento com meu irmão foi gratificante, ele quem amarrou meu avental personalizado com minhas iniciais, eu chorei de emoção e felicidades. Me emociono toda vez que lembro o que ele me disse enquanto amarrava o avent
StellaDeixo minhas coisas no quarto e desço atrás da Abigail, ela é a governanta, quem manda na ausência do senhor Hoork. Para a minha sorte, ela é uma senhora muito simpática, gostei dela logo que a vi, acho que vamos nos dar bem. Ela vai me passar toda a agenda e cuidados com a Bella, para que eu possa me organizar. Como amo cozinhar, aproveito e pergunto qual será as refeições da pequena, ela me responde tudo sem questionar, mas confesso que torço o nariz, para a resposta.— Posso ver o prato dela antes da refeição?— Por quê? — Abigail pergunta intrigada.— Não sei se o senhor Hoork te falou, mas sou aluna em um curso de culinária, e aprendi alguns truques que tenho certeza de que ajudará ela a comer tudo sem reclamar.— Se está dizendo. Ela continua dormindo, mas precisa acordá-la, para que ela não perca nenhum horário.— Certo, esse é o café dela?— Sim. — Ela responde, eu não resisto e faço alguns cortes nos pães e frutas, deixando-os em forma de animais, Abigail me olha surpr
StellaEu estava arrasada. Nunca fui fã de cabelos curtos, mas não teve jeito; acabei optando por um corte no estilo Chanel, com a frente mais comprida. Existe um nome específico para esse corte, mas sempre esqueço. Resumindo, ficou mais curto atrás e mais longo na frente, mas nada exagerado. Chorei durante todo o processo, deixando o pobre cabeleireiro sem saber se deveria me consolar ou rir da situação.Ao chegar na mansão, fui direto para o quarto. Com Bella na escola, não havia motivo para ficar perambulando pela casa. Ao encarar-me no espelho, não pude deixar de admitir que o corte ficou bom. No entanto, sinceramente, parecia que eu era outra pessoa, não me reconheci perante o espelho.Pego meu celular e faço uma chamada de vídeo para Emma. Ao atender, ela faz cara de surpresa, ficando de olhos arregalados e muda, por alguns segundos. Ela sabia que eu amava meu cabelo cumprido e às vezes para me irritar, me chamava de Rapunzel pelo meu cabelo ser na cintura.— O que aconteceu? Vo
StellaEstou aguardando a professora confirmar minha identidade para liberar a Bella, quando de repente uma antiga colega de escola me reconhece.— Stelinha, quanto tempo! — Ela me abraça apertado, e sorrio com o seu jeito espontâneo. — Ashley! Quanto tempo! — Digo surpresa.— Está trabalhando aqui também? Menina, o que fez com seu cabelo? — Sorrio e respondo:— Não, só vim buscar uma aluna. E meu cabelo, decidi mudar um pouco. — Minto descaradamente, pois ela sabe que eu amava meu cabelo.— Entendi, ficou ótimo, apesar de que você é linda de qualquer jeito. Pega meu número de telefone, e marcaremos de nos ver.— Vamos marca sim, só não posso durante a semana, pois estou trabalhando e estudando. — Falo enquanto anoto o seu número no meu celular.— Ah, que legal! — Nos despedimos com outro abraço e a professora vem me devolver meu documento. Assim que Bella me vê, seus olhinhos se arregalam.— E aí? Ficou bom meu novo visual? — Pergunto com um sorriso, e uma piscada. Ela não diz nada
StellaAlgumas semanas se passaram, e a pequena diabinha continuava a aprontar.Mas sei que ela está começando a gostar de mim, ela tenta não mostrar interesse, mas acaba rindo das minhas brincadeiras.Hoje ela foi cedo para a escola, então estou preparando uma brincadeira diferente para ela, faremos um bolo.Próximo do horário eu já desço e encontro com o Ernandes me esperando.— Já está pronta Stella? — Ele diz ao me ver.— Sim, se quiser já podemos ir.No caminho fomos escutando uma música tranquila, e tendo uma conversa amena sobre o dia a dia.Ao chegar, Ashley está me aguardando, no portão.— Amiga, tenho uma novidade, na sexta-feira vai ter uma mega balada e eu ganhei dois convites. Você vai comigo, não vai?— Aí, Ash! Dia de sexta fico exausta, porque é o dia mais puxado da Bella e do curso.— Por favorzinho, vamos! — Ela diz juntando as mãos. — Você dorme lá em casa.— Está bom, mas só porque fez essa carinha do gato do Shrek. — Ela solta uma gargalhada, e me abraça.— Certo
Eduardo — Dado, preciso que termine de revisar o contrato dos Matarazzo, a filha dele quer inaugurar a loja no mês que vem. —Michael diz ao entrar na minha sala.— Eles pensam que aqui é fast food, pediu está na mão?— O que está te irritando tanto? É a babá gostosa? — Meu sangue ferve quando ele diz isso.— Cala a boca, nem sabe se ela é bonita! — Digo desconversando.— Algo me diz que ela! — Ele diz sorrindo — Então fica esperto meu amigo, se bobear passam a perna em você. E como não quer me apresentar, acho que vou jantar no restaurante do Bonavalle hoje. Quer me acompanhar?— Você não tem serviço não? Porque eu tenho. Preciso terminar esse contrato para pegar o do Matarazzo. — Ele ri e diz:— Vou pedir para a Chloe revisar e trazer para você.— Some Michael.Estou concentrado em um novo contrato, quando escuto batidas na porta, eu permito a entrada, e minha secretária entra com suas roupas extravagantes de sempre. Confesso que é sexy, mas nunca tive interesse.— Senhor, chegou es