capítulo 4

Cintia Sharapova

Minha avó sempre dizia que, quando não há mais nada a fazer, devemos ficar em silêncio. Ela acreditava profundamente que, em certos momentos, as situações escapam ao controle humano e que o silêncio é uma forma de reconhecer essa limitação. Para ela, calar-se era um ato de sabedoria e humildade, uma maneira de dar espaço para que forças supremas pudessem agir.

Ela costumava contar histórias de tempos difíceis, quando a família enfrentava desafios aparentemente insuperáveis. Nessas horas, ela nos ensinava a importância de não insistir em soluções que não estavam ao nosso alcance. "Há momentos", dizia ela, "em que precisamos aceitar que fizemos tudo o que podíamos e que agora é hora de confiar no que está além de nós."

O silêncio, segundo minha avó, não era um sinal de desistência, mas de respeito e fé. Era um convite para a reflexão e para a conexão com algo maior. Ela acreditava que, ao nos calarmos, permitíamos que a serenidade e a clareza nos envolvessem, abrindo caminho para novas possibilidades e soluções que talvez não conseguíssemos ver em meio ao ruído e à agitação.

Nos momentos de incerteza e impotência, calar-se pode ser a melhor maneira de honrar o que está além do nosso entendimento e de abrir espaço para que o extraordinário aconteça.

Não havia nada que eu pudesse fazer, se não me calar

Cada vez que eu resolvia uma situação, acreditando que finalmente teria um momento de paz, novos obstáculos surgiam no meu caminho. Era como se o universo estivesse testando minha resiliência e capacidade de adaptação. Esses momentos me faziam sentir como se estivesse em uma batalha constante, onde a vitória parecia sempre fora de alcance.

De tudo a presença da polícia é que mais me assusta, não posso ser presa, sera o meu fim, eles vão me entregar nas mãos dos meus perseguidores.

"Ela vem comigo" declara o príncipe Charme, o policia naquele momento largou minhas mãos.

Eu sigo o príncipe charme, não faço ideia para onde vamos.Enquanto caminhávamos pelo corredor, eu sentia o peso das decisões que me levaram até ali. O príncipe Charme, com sua aura enigmática, era meu guia nesse labirinto de incertezas. E eu, uma peça involuntária desse jogo, seguia adiante, sem saber se estava prestes a encontrar a salvação ou a minha própria perdição.

O príncipe permanecia em silêncio, os olhos azuis densos como ondas turbulentas. Eu não sabia para onde estávamos indo, mas todos os presentes no corredor testemunhavam minha obediência.

Entramos os dois no elevador privado, que era um pequeno cubículo de aço e vidro, com uma única luz no teto. O ar ali dentro parecia rarefeito, como se o oxigênio também estivesse sob o controle do príncipe. As paredes eram espelhadas, refletindo minha própria imagem, pálida e assustada. O chão, forrado com um carpete vermelho, abafava nossos passos enquanto subíamos.

As emoções se misturavam dentro de mim: medo, curiosidade, desespero. O príncipe não desviava o olhar, como se pudesse ler meus pensamentos. O que ele queria de mim? Por que eu era tão importante? E por que a polícia estava envolvida?

"Não entendo o que está acontecendo," murmurei, sem jeito, enquanto o príncipe me olhava profundamente. Seus olhos azuis pareciam densos como ondas turbulentas, e eu me sentia presa em sua intensidade.

"Te salvando de volta, agora você me deve um favor," ele declarou em tom de deboche. Sua voz ecoou no pequeno espaço do elevador, e eu me perguntei qual preço eu teria que pagar por essa salvação.

"Você só pode estar de brincadeira," retruquei, irritada."Esse era o meu emprego, assim como o de outras pessoas que têm família para cuidar." Minhas mãos tremiam, e eu observei quando ele colocou a mão no botão do elevador, travando-o. Agora estávamos presos ali, confinados em um cubículo de aço e vidro.

"Não é sobre você e outras pessoas," ele disse, sem nenhuma sensibilidade. "É sobre negócios. Eu tinha que paralisar esse cassino. Já estava interferindo nos negócios da Emperious. Em uma cidade, não existem dois governadores; somente um pode governar." Suas palavras eram frias, calculadas. Eu já tinha visto isso antes, como nas gangues de tráfico de drogas. Quando alguém aparece no mercado com um produto diferente e a um preço acessível, a solução é simples: ou paralisá-lo ou integrá-lo.

"E agora, o que vai acontecer?" perguntei, curiosa, mas também temerosa.

"Samuel não tem outra saída se não aceitar fusão, e se ele aceitar que é o mais provável que aconteça, porque ninguém de consciência sã pari um filho para deixar na rua." Diz ele convicto nas suas palavras. Eu odeio o que o poder faz com as pessoas, dá a elas um instinto de Ditadura. E isso não tem haver com personalidade, é sobre o quão forte a pessoa é para lidar com o poder.

"E se não acontecer?"provoquei, testando seus limites.

"Vai acontecer," ele afirmou, olhando-me fixamente. "Há muito dinheiro envolvido. Fique tranquila. Se sua preocupação é o emprego, você terá seu lugar, mas com uma liderança diferente e mais justa. Ninguém perderá o emprego."

"Isso é o que você pensa,"retruquei, fervendo de raiva. "Todos testemunharam. Nós dois saindo juntos da ala VIP. Não importa até onde me proteja, eu serei aquela que entregou os colegas. A traidora." Com determinação, apertei o botão para abrir as portas do elevador. Deixei-o ali, parado, e cada passo que dei me afastava ainda mais da segurança que um dia conheci.

Agora eu estava na rua, mergulhada na quietude da noite. O movimento era escasso, como se a própria cidade estivesse prendendo a respiração. As luzes dos postes lançavam sombras longas e misteriosas, criando um cenário quase surreal. O silêncio era interrompido apenas pelo som distante de um carro passando ocasionalmente e pelo sussurro do vento nas árvores.

Olhei para trás, na esperança de ver algum sinal do meu príncipe encantado. Mas não havia nada. Nenhuma figura familiar, nenhum som de passos apressados vindo em minha direção. Eu estava sozinha. A esperança que ele viesse atrás de mim se desvanecia a cada segundo que passava. Senti-me uma idiota por ter acreditado, mesmo que por um momento, que ele viria.

Era como se eu nunca tivesse testemunhado o efeito do poder e o que ele faz aos homens. O poder tem uma maneira de transformar as pessoas, de revelar suas verdadeiras naturezas. E, no fundo, eu sabia que ele não era diferente.

Enquanto caminhava pelas ruas desertas, uma sensação de desilusão tomou conta de mim. Eu queria acreditar que ele era diferente, que ele se importava o suficiente para vir atrás de mim. Mas a realidade era outra. E ali, na quietude da noite, eu tive que aceitar que estava sozinha nessa jornada.

O prédio à minha frente erguia-se como um guardião silencioso. Suas paredes de tijolos desbotados pareciam conter segredos antigos, sussurrados pelas almas que ali habitaram. As janelas, agora escuras, escondiam histórias de amor e tragédia.

Adentrei o prédio, subindo as escadas lentamente. Cada degrau rangia sob meu peso, como se protestasse contra minha presença. A luz amarelada dos postes lá fora penetrava pelas frestas das janelas, criando padrões irregulares no chão de mármore.

Girei as chaves na fechadura da minha porta, adentrando o apartamento. O ambiente era modesto, mas era meu refúgio. Removi o casaco e o pendurei no gancho, sentindo o peso da jornada nas minhas costas.

Tiro a roupa do meu corpo e me jogo na cama. fecho os olhos, e o sono não vem nem parece que estou exausta. Não consigo parar de pensar o que será de mim sem emprego, numa cidade que não conheço a ninguém, e este apartamento não é mais seguro, imagino e se Samuel e seus homens decidem vir me atacar afinal eles ficaram com meus dados, já não bastasse os problemas que tenho fui recrutar outros, eu tenho que sair daqui até o final do dia de amanhã.

Esta vida me ensinou a ser zeladora, quem não se previne sera sempre vitima das circunstâncias, até o pontífice Papa Francisco que é um homem de Deus, tem seguranças.E eu, uma mera mortal, precisava encontrar meu próprio caminho de sobrevivência.

Finalmente, o cansaço venceu meus medos. Não acordei no meio da noite, como nas outras vezes, assustada e suando. O silêncio do apartamento envolveu-me, e o sono me abraçou com ternura.

Ao abrir os olhos, o relógio no criado-mudo marcava 6h30. Despertei cedo, como se meu corpo já estivesse acostumado a essa rotina implacável de insônia ou madrugadas inquietas. A luz do amanhecer começava a filtrar pelas frestas das cortinas, pintando o quarto com tons suaves de dourado.

Levantei-me com determinação. O banheiro, com suas paredes de azulejos desgastados, parecia um refúgio seguro. A água quente do chuveiro aliviou a tensão dos músculos, e eu me permiti ficar ali por mais alguns minutos, deixando o vapor envolver-me como um abraço reconfortante. Cada gota de água que caía sobre minha pele parecia levar embora um pouco do peso que eu carregava nos ombros.

Enquanto a água escorria, meus pensamentos vagavam. Pensei nas batalhas que enfrentei e nas que ainda estavam por vir. Mas naquele momento, dentro daquele pequeno espaço, eu me sentia protegida, como se o mundo lá fora não pudesse me alcançar. O som constante da água era quase hipnótico, proporcionando uma sensação de paz que eu não sentia há muito tempo.

Depois de um tempo, desliguei o chuveiro e me envolvi em uma toalha macia. O espelho embaçado refletia uma versão de mim mesma que parecia mais tranquila, mais centrada. Respirei fundo, absorvendo a calma daquele instante, antes de me preparar para o que viria a seguir.

Vesti calças escuras e uma túnica floral, escolhendo cores que não chamariam atenção. Queria passar despercebida, misturar-me com a multidão sem atrair olhares curiosos. As calças eram confortáveis e práticas, enquanto a túnica, com suas flores delicadas, trazia um toque de suavidade ao meu visual. Era uma escolha consciente, um equilíbrio entre a necessidade de discrição e o desejo de manter um pouco de leveza em meio à seriedade da situação.

Coloco água para ferver para o meu chá, e começo a empacotar os poucos pertences que adquiri quando cheguei nesses últimos dias. Cada objeto que coloco na caixa carrega uma pequena história, um fragmento dos momentos que vivi aqui. A chaleira começa a chiar, sinalizando que a água está pronta. Desligo o fogo e despejo a água quente sobre as folhas de chá, observando enquanto a cor se transforma lentamente.

Enquanto espero o chá esfriar, continuo a empacotar. As roupas, os livros, os pequenos itens de decoração – tudo vai para a caixa. É um processo meticuloso, quase terapêutico, que me ajuda a organizar não apenas o espaço físico, mas também meus pensamentos. Cada item embalado é um passo mais perto de um novo começo.

Logo que termino, decido sair para procurar um outro apartamento e, se possível, um novo emprego. A ideia de recomeçar é ao mesmo tempo assustadora e emocionante. Há uma sensação de incerteza, mas também de esperança. Coloco a mochila nas costas, contendo o essencial, e saio pela porta.

O céu estava limpo, um azul profundo que contrastava com o brilho do sol. Não era o calor sufocante que os jornais previam; pelo contrário, uma brisa suave vinda do oceano acariciava meu rosto. A cidade, agitada e vibrante, parecia distante enquanto eu seguia em busca de um lugar para chamar de lar.

Os apartamentos no centro da cidade eram encantadores, mas seus preços eram proibitivos. No entanto, ao adentrar o interior, deparei-me com um apartamento próximo à praia. Seu exterior modesto escondia um interior acolhedor, com janelas que deixavam a luz do sol dançar pelas paredes. Negociei com o proprietário e, finalmente, consegui um acordo acessível.

A sorte sorriu para mim quando ele mencionou um hotel que precisava de ajudante de mesa. A entrevista estava marcada para depois de amanhã.

A fome apertava, mas eu havia caminhado tanto que só encontrara lanchinhos de rua para saciar meu apetite. Prometi ao dono da casa que me mudaria ainda hoje, mesmo que fosse sob o manto da madrugada.

Ao chegar ao apartamento, algo me fez parar. A porta estava entreaberta, e meu coração acelerou. Eu tinha certeza de tê-la trancado. Uma sensação de inquietação tomou conta de mim, e por um momento, fiquei paralisada, tentando processar o que aquilo significava.

Pensamentos tumultuaram minha mente: seriam os homens de Samuel, ou algo mais sinistro? Desarmada e vulnerável, eu me via diante de uma escolha crucial. O que fazer agora?

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