capítulo 5

Abel Davison

As palavras escaparam dos meus lábios com um fervor incontrolável: “Malditos franceses.” A raiva queimava dentro de mim, uma chama que ameaçava consumir tudo à minha volta. Amândio, sempre otimista, contorcia-se desconfortavelmente, como se sentisse o calor da minha indignação.

"Chefe, deve haver algum motivo pelo qual eles adiaram. A Gasóleo é uma companhia de boa reputação; aliar-se a gigantes como nós é uma valia", disse Amândio, tentando acalmar os ânimos.

Eu não tolerava incertezas. Era tudo ou nada. "Investigue o que há por trás dessa demora. Tenho prazos a cumprir, e a cadeira da presidência não espera. Não podemos brincar com a sorte", ordenei, a impaciência fervendo em mim.

O controle era meu domínio, e quando ele escapava, eu me sentia à beira do abismo.

Amândio mexeu freneticamente no celular, pronto para se retirar. Mas eu o detive. "Espere, alguma notícia de Bongavielle?"

"Sim, o Sr. Harris resolveu o assunto com sucesso", ele respondeu.

Frustrado, atirei uma bola de baseball ao chão." Por que não me dissera antes?"

"Porque o senhor estava preocupado com a Gasóleo, que é mais prioritário do que aquele pequeno trabalho do Sr. Harris", justificou, visivelmente amedrontado.

" Amândio, nada é pequeno, escuta, África fora colonizada por homens muito bem estudados com posse de armas e poder. Os colonos nunca pensaram que perderiam suas colônias, porque os escravos não estavam no nível que eles estavam. começaram com pequenas rebeliões e depois foi crescendo cada vez mais, até ganharem as suas independências. Por isso não subestime qualquer que seja a coisa. Agora saia".

"Sim chefe". declarou e removou a sua significância da minha frente.

Ele se retirou, e eu fiquei ali, à beira do abismo, lutando contra as correntes que ameaçavam me arrastar para o desconhecido.

Sento-me novamente a minha cadeira, e vejo que .Meu celular vibra sobre a secretária de mogno, e o visor ilumina o nome " Mel" de Amélia.

Atendo a ligação, e sua voz soa impaciente do outro lado da linha:

"Amor onde estas? faltam 10 minutos para a consulta ficamos de saber juntos o resultado". Ela resmunga, e vem me a mente que tínhamos combinado ir à clínica juntos, enfrentar o veredicto lado a lado.As palavras dela ressoam em meus ouvidos, e a ansiedade se mistura com a culpa. Tínhamos combinado ir à clínica juntos, enfrentar o veredicto lado a lado.

"Eu já estou na via, há um trânsito caótico, chego ai em 5minutos". justifico, enquanto retiro o meu casaco do pendurador e tento vestir.

"Mentira, já tinhas te esquecido, não me dê desculpas apenas apareça". diz ela e desliga, e não me dá a oportunidade de me explicar. O celular escorrega de volta para a secretária, e eu me levanto, pegando as chaves no bolso.

Passo pela porta entreaberta de madeira, com sua maçaneta de latão, e sigo pelo corredor estreito, com quadros desbotados pendurados nas paredes. O ambiente tem um ar de nostalgia, como se cada quadro contasse uma história esquecida pelo tempo.

Vejo Lara que acabara de sair da sala de reuniões. Aceno para ela e sorrio. Ela é uma mulher muito bonita e inteligente, com um corpo elegante, mas não chega aos pés da minha Amélia. Lara tem uma presença marcante, mas é a doçura e a força de Amélia que realmente me cativam.

Harris, meu primo, é quem não entende nada sobre como tratar uma mulher. Até hoje, ele e Lara ainda estão na friendzone. Ele é um ótimo profissional, mas não sabe proteger o que é dele. Sempre focado no trabalho, ele deixa escapar as oportunidades de construir algo mais profundo e significativo.

A vida me ensinou que, não importa o quão qualificado sejas, se não souberes proteger o que é teu, serás sempre frustrado. Essa lição ecoava em minha mente enquanto eu entrava no elevador privado do prédio. O metal frio das portas se fechou atrás de mim, isolando-me do mundo exterior.

Dentro do elevador, o silêncio era quase absoluto, interrompido Foi então que ouvi a voz de Cleiton, meu primo. Ele estava correndo pelo corredor, gritando para que eu esperasse. Eu hesitei por um momento, mas a porta se abriu e eu o deixei entrar.

"Eu estou com presa, o que quer que seja vai ter que esperar primo". Digo para ele, não sou chegado a ele porque ele gosta de pousar de Cristo, se dá bem com todos incluindo Harris, sempre a tentar inventar encontros de reconciliação.

"É sobre aquele negócio que te falei ontem no clube ". diz ele, parece aflito com essa história, será que voltou aos velhos hábitos.

"Me diz algo, voltou a jogar? pergunto e ele sorri como se eu tivesse dito uma piada.

"Não voltei a jogar, não precisava mexer na ferida era só dizer que não está interessado". Diz ele revoltado, Cleiton saiu do elevador antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

Cleiton já esteve muito mal, tanto que foi muito difícil para meu tio voltar a confiar nele. Mas ele provou que era capaz, não a mim, pois eu sempre acreditei que viciado uma vez, viciado sempre. No entanto, ele conseguiu reconquistar a confiança de meu tio, mostrando uma determinação que eu não esperava.

Ele tinha seus demônios, e eu não sabia se ele realmente estava livre deles. Havia momentos em que eu via a sombra do passado em seus olhos, uma luta interna que ele tentava esconder. Mas eu não podia julgar. Cada um de nós carregava suas próprias batalhas internas, e a dele era apenas mais visível.

Lembro-me de noites em que ele ficava acordado, sentado na varanda, olhando para o horizonte como se buscasse respostas nas estrelas. Era nesses momentos que eu via a verdadeira extensão de sua luta. Ele estava tentando, dia após dia, superar seus vícios e encontrar um caminho de redenção.

Apesar de minhas dúvidas, eu não podia ignorar o esforço que ele fazia. Cleiton estava determinado a mudar, a provar que era mais forte do que seus demônios. E, aos poucos, comecei a ver pequenas mudanças. Ele se tornava mais presente, mais envolvido com a família, e isso me dava uma ponta de esperança.

Eu sabia que o caminho para a recuperação era longo e cheio de obstáculos, mas Cleiton estava disposto a enfrentá-los. E, embora eu ainda tivesse minhas reservas, comecei a acreditar que talvez, só talvez, ele pudesse realmente vencer essa batalha.

Chego no átrio, e meu motorista já me espera no carro. Ele vem rapidamente abrir a porta, e eu lhe instigo a ser veloz, pois Amélia está à minha espera na clínica. O trânsito rugia lá fora, um emaranhado de carros impacientes e buzinas estridentes. Mas ele, o meu motorista, obedeceu às minhas ordens com maestria.

Desviou pelas ruas secundárias, escapando do tráfego como um habilidoso dançarino evitando obstáculos invisíveis. Cada curva que ele fazia, cada rua estreita que ele escolhia, mostrava sua habilidade e conhecimento das vias da cidade. Eu observava pela janela, vendo os prédios e as pessoas passarem rapidamente, enquanto minha mente estava focada em Amélia e no que nos aguardava na clínica.

O som das buzinas e o caos do trânsito pareciam distantes dentro do carro, que se movia com uma fluidez quase mágica. Meu motorista mantinha a calma, mesmo diante dos desafios do tráfego, e sua confiança me transmitia uma sensação de segurança. Sabia que ele faria o possível para chegarmos a tempo.

Enquanto avançávamos, minha mente vagava entre a preocupação e a esperança. Pensava em Amélia, em como ela estava se sentindo, e em como eu queria estar ao seu lado o mais rápido possível. Cada minuto parecia uma eternidade, mas o ritmo constante do carro me dava um pouco de conforto.

Finalmente, avistamos a clínica ao longe, o edifício cor de rosa que se erguia como um farol de esperança. Meu coração acelerou com a antecipação. O motorista fez a última curva com destreza e parou suavemente em frente à entrada. Ele saiu rapidamente para abrir a porta, e eu desci do carro com um misto de alívio e urgência.

Agradeci ao motorista pela sua habilidade e rapidez, e corri em direção à entrada da clínica, ansioso para encontrar Amélia e estar ao seu lado. Sabia que, independentemente do que acontecesse, estávamos juntos nessa jornada, prontos para enfrentar qualquer desafio que viesse.

Chegamos à clínica com cinco minutos de sobra, e eu senti um alívio momentâneo. O edifício cor de rosa se erguia diante de mim, uma visão reconfortante em meio à agitação do dia. Era uma clínica obstétrica materna, onde a esperança e a ansiedade se entrelaçavam em cada canto.

Ao entrar, fomos recebidos por um ambiente acolhedor. As paredes eram decoradas com murais de paisagens serenas e quadros de bebês sorridentes, criando uma atmosfera de tranquilidade. O cheiro suave de lavanda no ar ajudava a acalmar os nervos, enquanto o som distante de risadas infantis trazia um toque de alegria.

No corredor, cruzei com outras mulheres grávidas, seus ventres arredondados testemunhando a vida que crescia dentro delas.

A ansiedade começou a tomar conta de mim também, apertando meu peito como um nó apertado.

Estamos casado faz 5 anos, e nesses anos enfrentamos dificuldades para gerar um herdeiro, e agora graças aos avanços tecnológicos decidimos frequentar a esse ensaio recém desenvolvido.

chego a sala de espera, e vejo minha Amélia em pé impaciente a minha espera, ela vestia um fato branco, não a nada que não ficava bem naquele lindo corpo.

"Vamos a médica está a espera ". diz ela, e eu dou lhe um beijo na testa para lhe amolecer, eu sei que ela esta irritada porque me esqueci da consulta mas aqui estou. Segurei a mão dela, e entramos juntos na sala da médica, Os instrumentos médicos me arrepiavam, mas o consultório era convidativo, com uma decoração impecável. A esperança e o medo se misturavam ali, enquanto aguardávamos notícias que poderiam mudar nossas vidas para sempre.

A doutora segurava o envelope com mãos cuidadosas, como se contivesse um segredo precioso. Eu ainda segurava a mão de Amélia, nossos dedos entrelaçados, uma âncora contra a ansiedade que nos envolvia.

"Os resultados já saíram", disse ela, sua voz calma, mas seus olhos revelando a gravidade do momento.

"Vou abri-los."Eu odiava suspense. Queria arrancar o envelope das mãos dela e ler os resultados por mim mesmo. Mas me contive, esperando que a doutora fizesse o que precisava fazer. Finalmente, ela retirou o papel do envelope e encarou-nos.

"Este processo foi longo e exaustivo", continuou ela.

"Mas a boa notícia é que vocês serão pais de gêmeos."

A notícia atingiu-me como um raio de sol após uma tempestade. Ri alto, uma risada que escapou de mim sem controle. Amélia me cutucou, mas eu não conseguia parar. Dois bebês! Depois de tantos fracassos, tantas lágrimas, finalmente tínhamos sucesso.

"Eu pago o que for preciso para dar atenção à minha esposa", declarei, olhando para Amélia. Nada poderia falhar agora.

A doutora sorriu. "Estou convencida de que nada vai falhar."

Saímos do consultório, euforia nos envolvendo. A ansiedade ainda estava lá, mas agora era temperada com esperança. Gêmeos. Nossos filhos estavam a caminho, e o futuro parecia mais brilhante do que nunca.

Foram anos difíceis, nosso casamento testado por tempestades e incertezas. Amélia, com sua força e determinação, soube proteger nosso lar, mantendo-nos unidos mesmo quando tudo parecia desmoronar.

A notícia dos gêmeos trouxe uma alegria que transbordava. Eu queria celebrar, compartilhar essa bênção com todos.

"Temos que fazer um chá de bebê à altura", disse eu para Amélia. "Vamos convidar todos."

Ela concordou, os olhos brilhando de entusiasmo.

"Eu darei uma entrevista para a revista da Regina", anunciou. Sua animação era contagiante.

"Meu tio ficará orgulhoso", acrescentei.

"Não há dúvidas de que a presidência estará em nossas mãos." Afinal, nossa família sempre foi influente, e agora, com os gêmeos a caminho, nosso futuro parecia ainda mais promissor.

Não perdi tempo. Chamei o motorista e pedi que nos levasse à casa do tio. Hoje, ele almoçaria lá, e eu acreditava que chegaríamos a tempo para dar a ele a notícia em primeira mão. As emoções se misturavam: esperança, alegria e a certeza de que, juntos, enfrentaríamos qualquer desafio que viesse pela frente.

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