Aline observava Julieta correndo alegremente para longe. Ela havia fantasiado essa cena várias vezes em sua mente e construído inúmeras defesas psicológicas. Mas, quando realmente aconteceu, a dor no peito era insuportável, quase sufocante. Seu coração parecia estar envolto em um saco plástico grosso e hermético, abafado, à beira da vertigem. Quando finalmente conseguiu um sopro de ar, era como se milhares de agulhas finas perfurassem o saco plástico, trazendo dor e desamparo.De repente, uma pequena figura bateu contra as pernas de Mateus. Julieta olhou para cima e perguntou: - Pai! Você veio me salvar? Ela envolveu suas pernas com as pequeninas mãos.Mateus então voltou a si. Olhou para baixo, para aquele rostinho adorável, incrédulo. Ele e Aline tinham mesmo uma filha. Julieta, percebendo o olhar complexo de Mateus, questionou, confusa:- Pai, por que você não fala? Ficou tão surpreso assim em me ver?Era isso, surpresa e alegria... Emoções reviradas.Ele observava cuidadosa
Antônia arrumou o cabelo perto da orelha:- Bonita? Sempre soube que sou bonita.Vendo seu ar de autoadmiração, Gustavo riu.- Você está rindo de quê?- Melhor não atrapalharmos mais essa família.Então, Gustavo a levou embora....Todos os espectadores foram embora.Só restaram Aline e Mateus, frente a frente.- Você deve saber que não tem o direito de usar a criança para obter vantagens.Aline forçou um sorriso:- Então, Sr. Mateus quer separar mãe e filha? Ou o Sr. Mateus simplesmente não se importa com Julieta? Se o Sr. Mateus não se importa, eu vou levar Julieta para casa, como era antes...Ela tentou levar Julieta embora.Ela se arrependeu.Descobriu que não conseguia se separar de Julieta.Mateus segurou seu pulso de repente, olhando-a friamente:- O que você pode oferecer para Julieta? Por que hoje a Sara conseguiu levá-la?A acusação dele foi direta ao ponto.Aline empalideceu instantaneamente.- Quando vi Julieta pela primeira vez, foi no hospital. Ela disse que a mãe estava
Dentro do carro.Julieta chorava tanto que ficou sem fôlego, pálida.De repente, Mateus percebeu que algo estava errado e imediatamente pegou a criança nos braços: - Julieta, o que aconteceu?- Papai... eu...A pequena pressionava o peito, abrindo a boca em busca de ar, como se tivesse dificuldade para respirar.- Volte para o hospital!...Aquele Maybach preto de placa HKN-9999 ia se distanciando.As lágrimas embaçavam a visão de Aline.Quando ela estava prestes a desistir, aquele Maybach preto reapareceu, indo em direção ao hospital.Será que algo aconteceu com Julieta?Aline imediatamente seguiu para o hospital....No hospital, Julieta foi levada às pressas para a sala de emergência.Quando Aline chegou, ela rapidamente informou ao médico: - Doutor, Julieta sempre teve um problema de ducto arterial patente.- Ela já está tão grande, se sabia do problema, por que não fez a cirurgia antes?- Eu...Enquanto Aline hesitava,Mateus falou calmamente: - Então faça a cirurgia agora.- H
Ele estava muito sério e distante.Até o ar ao redor parecia congelar.Após alguns segundos de impasse, Mateus finalmente cedeu: - Antes de Julieta receber alta, eu quero que você explique a ela sobre nosso relacionamento, para que ela possa aceitar essa realidade.- Claro. Ela concordou.- Tem mais alguma coisa que você quer? - Ele perguntou com uma expressão fria, mas ainda assim deu um passo para trás.Aline pensou por um momento e disse: - Julieta é muito alegre, mas mudar de ambiente de repente pode deixá-la insegura. Espero que o Sr. Mateus possa dedicar mais tempo para ficar com ela, contar histórias antes de dormir. O Sr. Mateus deve perceber que Julieta gosta muito de você. Ela sempre quis que o pai participasse das reuniões escolares, então, espero que o Sr. Mateus tente não faltar a esses eventos. E...Ela hesitou, respirou fundo e continuou: - E... Eu sei que o Sr. Mateus não quer me ver, mas ainda assim gostaria de pedir permissão para ver Julieta uma vez por semana. E
- Eu e a Clara não temos nada, ela também não é minha noiva. - Por alguma razão, Mateus se deu ao trabalho de explicar, algo raro da parte dele. Na verdade, ele não tinha nenhuma obrigação de explicar nada para ela.Aline assentiu:- Então, isso significa que não há problemas de favoritismo. Eu acredito que o Sr. Mateus será um bom pai.Eles ficaram sem mais palavras entre si.A cirurgia em questão não era complicada, mas também não era breve.A ferida no peito esquerdo de Aline, que nunca havia cicatrizado completamente, e o esforço físico feito ao correr havia feito com que a ferida se abrisse novamente.Ela sentia uma dor penetrante.Pedro, percebendo que ela não estava bem, perguntou com preocupação:- Srta. Aline, é a ferida que está doendo?- Talvez tenha sido o esforço ao correr, estiquei um pouco, mas está tudo bem. - Ela tentou minimizar.Aline pressionou a mão contra a ferida, tentando aliviar a dor.De repente, Mateus, que estava sentado ao lado, levantou-se.- Vamos ver iss
- Obrigada, doutor. Aline agradeceu ao médico.Julieta foi levada para o quarto do hospital.Aline ficou ao seu lado.Mateus permaneceu ali, parecendo completamente fora de lugar.- Sr. Mateus, eu estou aqui, se você tiver coisas para fazer, pode ir. Qualquer coisa, eu ligo para o Pedro. Aline esperava que ele saísse sem hesitar.Contudo, Mateus simplesmente sentou-se em um sofá ao lado, sem mostrar nenhuma intenção de ir embora.- Julieta é minha filha, eu não vou abandoná-la aqui sem responsabilidade. Sua declaração soou como uma crítica a Aline.Ela mordeu o lábio, sentindo que precisava explicar: - Naquela época, Sr. Mateus, você arruinou meu trabalho, nenhuma empresa queria me contratar, então eu tive que fazer bicos à noite... Se não fosse por necessidade, eu jamais teria deixado Julieta sozinha no hospital.- Você está me culpando?- Não, eu só estou explicando a situação. - Aline respondeu, sem querer parecer defensiva.Agora, parecia que a culpa era dele.Os dois adultos p
- Sua mão, foi queimada enquanto fumava? - Aline perguntou, observando as marcas profundas de queimadura nos dedos indicador e polegar de Mateus, que pareciam ser uma combinação de novas e antigas lesões. Anteriormente, ela havia notado, mas devido à tensão do reencontro, não se atreveu a perguntar. Embora a relação entre eles ainda fosse complicada, pelo menos agora podiam conversar calmamente.- Não. - Mateus respondeu secamente, recolhendo a mão.Aline percebeu que ele não estava disposto a falar sobre isso e decidiu não insistir. Saber quando parar era a melhor habilidade que Aline estava aplicando agora.À noite, quando Mateus voltou com comida, Aline lhe entregou um tubo de pomada para queimaduras: - Peguei isso para você com o médico. Use se quiser, ou jogue fora se não quiser.- Comida. Ele respondeu, querendo cortar a conversa o mais breve possível.Aline estava prestes a colocar a pomada de volta na mesa para pegar a comida das mãos de Mateus, quando ele subitamente pego
Julieta ficava cada vez mais agitada enquanto falava, até que engasgou e começou a tossir sem parar. Aline rapidamente a acalmou, falando com uma voz suave: - Eu nunca vou te deixar, eu te amo tanto, como eu poderia te abandonar? Julieta, foi minha culpa, eu não deveria ter dito aquelas coisas, está bem?Mateus entrou no quarto: - Sua mãe e eu, vamos sempre estar com você.A voz calma e firme do homem agiu como um tranquilizante. Ouvindo o pai falar assim, Julieta parou de chorar imediatamente. Ela assoprou o nariz, formando uma bolha: - Papai, é sério?- Sério. - Mateus confirmou.Julieta acenou: - Papai, vem aqui!Mateus aproximou-se da cama. A pequena pegou as mãos de Aline e Mateus e as uniu. Com uma seriedade de adulto, ela os repreendeu: - Então, façam as pazes, sem mais brigas, tá?- Julieta... - Aline hesitou, sem saber o que dizer.Mateus segurou a mão de Aline e disse à filha: - Estamos bem agora, e você não pode chorar mais.Julieta assoprou a bolha de nariz e parou