As pálpebras de Aline tremeram ligeiramente enquanto ela rapidamente pegava o frasco de remédio de volta, guardando-o no bolso.- É só uma vitamina comum, não estou doente.Francisco não era tolo:- Aline, não me faça de bobo, eu sei como é uma vitamina.- Pense o que quiser.Aline, carregando a lenha, virou-se e voltou para o grande gramado. Ela não queria mais interações com as pessoas do círculo de Mateus.Ela não tomava esse medicamento há muito tempo, mas depois da ligação de Julieta na noite anterior, dizendo que se veriam no fim de semana, decidiu tomar um pouco para aliviar o humor. Ela não queria encontrar Julieta com um semblante triste. Queria deixar lembranças felizes para Julieta antes de morrer....No grande gramado, todos estavam desfrutando de um piquenique e churrasco. Francisco sentou-se não muito longe do departamento de vendas, olhando ocasionalmente para Aline, ainda preocupado. Ele pegou o celular e fez uma pesquisa. Cloridrato de mirtazapina era um medicame
- Tudo bem.Eles adicionaram um ao outro no WhatsApp.Francisco enviou a ela cinco mil reais.Ela ficou surpresa:- Sr. Francisco, minha saia não custa cinco mil, você enviou demais.- Não tem problema, considere como uma compensação. Vá aproveitar a comida.A funcionária foi embora contente. Gustavo, segurando uma lata de cerveja, tomou um gole e brincou:- Você é muito ingênuo, sabe? Poderia ter feito o pagamento diretamente, sem precisar adicionar como amigo.Francisco apenas sorriu levemente. As intenções da funcionária eram óbvias, e ele não era ingênuo a ponto de não percebê-las. No entanto, Francisco estava acostumado a ser amigável e aparentar ser inofensivo.- É só adicionar no WhatsApp. Se não quiser falar com ela, é só ignorar. Não tem problema.Mateus, que havia permanecido em silêncio, de repente falou com Francisco:- Você precisa controlar melhor o temperamento da Sara. Se ela não mudar, é melhor que ela deixe a empresa.Sua voz era leve, mas carregava a autoridade de
Na montanha, a noite cai mais rápido do que na cidade. Aline chegou ao templo no topo da Montanha da Tinta por volta das sete horas da noite. O céu no topo da montanha escurecia gradativamente. Aline ajoelhou-se em um tapete de oração diante de uma estátua de Buda, com as mãos juntas em prece, fazendo seus votos com devoção. Ela desejava que Julieta crescesse feliz e em segurança. Esperava que Mateus pudesse esquecer as mágoas do passado e recomeçar sua vida. Seu terceiro desejo era para que sua mãe desfrutasse de uma velhice saudável e confortável.Ela fez apenas três pedidos, pensando em Julieta, em Mateus e em Maria, mas esqueceu de si mesma. Ela permaneceu ajoelhada por muito tempo.O monge do templo, vestindo uma túnica, aproximou-se e disse:Menina, vejo que você está aqui há bastante tempo, deve ter muitas preocupações no coração. Hoje temos um encontro predestinado, por que não tenta tirar uma sorte?Aline, embora não fosse muito crente, pensou que, às vésperas da morte,
No meio da noite, a umidade da montanha se intensificava com uma leve garoa. Aline estava sentada à beira do Lago da Tinta, imersa em pensamentos por quase duas horas. Algo no lago parecia chamá-la. Levantou-se lentamente e caminhou em direção à água. À medida que avançava, a água rasa começava a cobrir suas canelas, subindo até os joelhos... Ela pensou ter visto Julieta no meio do lago, sorrindo e chamando-a de mãe. A saudade era tanta que ela queria atravessar o lago para abraçá-la. Aline avançou mais na água, que agora alcançava suas coxas... De repente, uma voz masculina familiar ecoou por trás dela:- Aline!Ela se virou de súbito, encontrando Mateus de pé, na neblina da noite chuvosa. Ele ofegava levemente, um lampejo de urgência em seus olhos escuros, embora Aline mal pudesse ver seu rosto claramente. A chuva tinha encharcado sua camisa preta, que se mesclava à escuridão ao redor. Paralisada, Aline ficou olhando para ele, até que Mateus se aproximou. Somente quando ele ch
Mateus segurou a chave do quarto e caminhou na frente. Aline o seguiu. Quando entraram no quarto, perceberam que era um quarto temático para sexo. Aline olhou para a cama d'água e disse: - Posso dormir no sofá. Pode ficar com a cama. Mateus não disse nada, apenas olhou para as roupas dela, que já estavam encharcadas: - Tome um banho quente primeiro. As instalações desta pensão eram muito precárias. Aline se sentiu tonta, tomou um banho rápido e, quando estava prestes a colocar suas roupas, sentiu uma dor surda no peito. Ela tossiu. Tosse um pouco de sangue. Ela olhou para o sangue vívido na água branca e seus olhos se contraíram. Quando ela se olhou no espelho, percebeu que sua pele estava pálida como papel. Parecia uma pessoa moribunda. Mateus ouviu a tosse forte vindo do banheiro e bateu na porta: - As toalhas descartáveis estão do lado de fora. - Entendi. Aline rapidamente abriu a torneira e lavou o sangue da banheira. Seu rosto estava queimando.
Ele não quer mais se afundar no lodo da traição. Qualquer um pode traí-lo, exceto... Aline. Porque, Aline uma vez atravessou a muralha que ele construiu tão alto em torno de seu coração, ela foi totalmente bem-vinda ao seu mundo. Foi ela quem trancou essa porta com suas próprias mãos. Mateus não quer abrir aquela porta para mais ninguém. - Aline, solte. Suas palavras frias não a afastaram. Aline circulou na frente dele, olhou para cima e selou seus lábios, com as pontas dos olhos avermelhadas. - Você prometeu me levar para ver o Mar Sereno, não fizemos isso. Você disse que sempre cumpre sua palavra. Mateus, não deveria compensar o que não fez? A proeminente maçã de Adão do homem rolou nervosamente. - Aline, pare de me forçar. Ela observou a protuberância em seu pescoço. Sempre soube que era a reação dele à tentação. Ela sorriu ironicamente: - Como posso estar te forçando, Sr. Mateus? Não sentiu nada também? Ele franziu o cenho, prestes a contradizê-la. E
Fora da pequena pensão no sopé da Montanha da Tinta, a chuva e o vento sopravam. Gotas de chuva batiam nas janelas, formando uma fina camada de névoa dentro delas. O quarto estava úmido e sombrio. A estreita cama tremia levemente. A mão esbelta do Mateus, com veias salientes e ossos do pulso bem definidos, pressionava os delicados e brancos dedos dela na cama. Entre seus dedos entrelaçados, uma sensação de calor começava a surgir. Os olhos de Aline estavam vermelhos de tanto chorar. Ela estava de costas para ele, incapaz de ver a expressão em seu rosto. Mas o ataque por trás estava ficando cada vez mais feroz... Ao fim, já era de madrugada. O céu lá fora estava começando a clarear um pouco. A chuva havia parado.Aline deitou ao lado dele, uma noite sem dormir. Ela se levantou com o corpo cansado e dolorido, vestiu as roupas semiúmidas ao lado da cama com cuidado. Mateus estava sem camisa, com o cobertor apenas na cintura. Ela notou imediatamente a cicatriz e
A pessoa que foi deixada para trás na verdade não foi a Aline. Seis anos atrás, foi a Aline quem o traiu primeiro, e foi ela quem o deixou. E agora, está acontecendo de novo. Felizmente, ele não acreditou nas mentiras dela ontem à noite...No sábado à tarde, depois de voltar da Montanha da Tinta, Aline foi para o sanatório rural. Assim que Maria viu Aline, ela acariciou seu rosto e perguntou: - Aline, por que você emagreceu tanto ultimamente? Sua aparência não está boa. Está trabalhando demais?Aline sorriu e balançou a cabeça: - Não, mãe, estou apenas tentando perder peso.- Você já está tão magra, precisa mesmo perder mais peso? Se continuar assim, vai acabar desnutrida. Você precisa comer mais. Não faça dietas malucas, não é bom para o corpo.- Mãe, eu entendo, vou me alimentar melhor.Ela olhou para o clima lá fora, o céu estava nublado.- Está fresquinho lá fora, mãe, que tal darmos um passeio?- Bom, você não tem vindo me visitar ultimamente, tenho sentido sua falta. Hoje, fiqu