No meio da noite, a umidade da montanha se intensificava com uma leve garoa. Aline estava sentada à beira do Lago da Tinta, imersa em pensamentos por quase duas horas. Algo no lago parecia chamá-la. Levantou-se lentamente e caminhou em direção à água. À medida que avançava, a água rasa começava a cobrir suas canelas, subindo até os joelhos... Ela pensou ter visto Julieta no meio do lago, sorrindo e chamando-a de mãe. A saudade era tanta que ela queria atravessar o lago para abraçá-la. Aline avançou mais na água, que agora alcançava suas coxas... De repente, uma voz masculina familiar ecoou por trás dela:- Aline!Ela se virou de súbito, encontrando Mateus de pé, na neblina da noite chuvosa. Ele ofegava levemente, um lampejo de urgência em seus olhos escuros, embora Aline mal pudesse ver seu rosto claramente. A chuva tinha encharcado sua camisa preta, que se mesclava à escuridão ao redor. Paralisada, Aline ficou olhando para ele, até que Mateus se aproximou. Somente quando ele ch
Mateus segurou a chave do quarto e caminhou na frente. Aline o seguiu. Quando entraram no quarto, perceberam que era um quarto temático para sexo. Aline olhou para a cama d'água e disse: - Posso dormir no sofá. Pode ficar com a cama. Mateus não disse nada, apenas olhou para as roupas dela, que já estavam encharcadas: - Tome um banho quente primeiro. As instalações desta pensão eram muito precárias. Aline se sentiu tonta, tomou um banho rápido e, quando estava prestes a colocar suas roupas, sentiu uma dor surda no peito. Ela tossiu. Tosse um pouco de sangue. Ela olhou para o sangue vívido na água branca e seus olhos se contraíram. Quando ela se olhou no espelho, percebeu que sua pele estava pálida como papel. Parecia uma pessoa moribunda. Mateus ouviu a tosse forte vindo do banheiro e bateu na porta: - As toalhas descartáveis estão do lado de fora. - Entendi. Aline rapidamente abriu a torneira e lavou o sangue da banheira. Seu rosto estava queimando.
Ele não quer mais se afundar no lodo da traição. Qualquer um pode traí-lo, exceto... Aline. Porque, Aline uma vez atravessou a muralha que ele construiu tão alto em torno de seu coração, ela foi totalmente bem-vinda ao seu mundo. Foi ela quem trancou essa porta com suas próprias mãos. Mateus não quer abrir aquela porta para mais ninguém. - Aline, solte. Suas palavras frias não a afastaram. Aline circulou na frente dele, olhou para cima e selou seus lábios, com as pontas dos olhos avermelhadas. - Você prometeu me levar para ver o Mar Sereno, não fizemos isso. Você disse que sempre cumpre sua palavra. Mateus, não deveria compensar o que não fez? A proeminente maçã de Adão do homem rolou nervosamente. - Aline, pare de me forçar. Ela observou a protuberância em seu pescoço. Sempre soube que era a reação dele à tentação. Ela sorriu ironicamente: - Como posso estar te forçando, Sr. Mateus? Não sentiu nada também? Ele franziu o cenho, prestes a contradizê-la. E
Fora da pequena pensão no sopé da Montanha da Tinta, a chuva e o vento sopravam. Gotas de chuva batiam nas janelas, formando uma fina camada de névoa dentro delas. O quarto estava úmido e sombrio. A estreita cama tremia levemente. A mão esbelta do Mateus, com veias salientes e ossos do pulso bem definidos, pressionava os delicados e brancos dedos dela na cama. Entre seus dedos entrelaçados, uma sensação de calor começava a surgir. Os olhos de Aline estavam vermelhos de tanto chorar. Ela estava de costas para ele, incapaz de ver a expressão em seu rosto. Mas o ataque por trás estava ficando cada vez mais feroz... Ao fim, já era de madrugada. O céu lá fora estava começando a clarear um pouco. A chuva havia parado.Aline deitou ao lado dele, uma noite sem dormir. Ela se levantou com o corpo cansado e dolorido, vestiu as roupas semiúmidas ao lado da cama com cuidado. Mateus estava sem camisa, com o cobertor apenas na cintura. Ela notou imediatamente a cicatriz e
A pessoa que foi deixada para trás na verdade não foi a Aline. Seis anos atrás, foi a Aline quem o traiu primeiro, e foi ela quem o deixou. E agora, está acontecendo de novo. Felizmente, ele não acreditou nas mentiras dela ontem à noite...No sábado à tarde, depois de voltar da Montanha da Tinta, Aline foi para o sanatório rural. Assim que Maria viu Aline, ela acariciou seu rosto e perguntou: - Aline, por que você emagreceu tanto ultimamente? Sua aparência não está boa. Está trabalhando demais?Aline sorriu e balançou a cabeça: - Não, mãe, estou apenas tentando perder peso.- Você já está tão magra, precisa mesmo perder mais peso? Se continuar assim, vai acabar desnutrida. Você precisa comer mais. Não faça dietas malucas, não é bom para o corpo.- Mãe, eu entendo, vou me alimentar melhor.Ela olhou para o clima lá fora, o céu estava nublado.- Está fresquinho lá fora, mãe, que tal darmos um passeio?- Bom, você não tem vindo me visitar ultimamente, tenho sentido sua falta. Hoje, fiqu
- Gabriel, você realmente diria qualquer coisa para manter sua posição como governador.- Eu não estou mentindo! Mateus nunca te amou! Ele sempre esteve te enganando! Ele pensa que você é a filha do homem que matou o pai dele, você acha que ele poderia te amar?Aline olhou para ele com desconfiança.- Seu pai, Afonso, começou um negócio comigo anos atrás. Mas depois ele teve um fim infeliz. A família Fernandes sempre suspeitou de mim como o assassino. Aline, mesmo que eu fosse o pior, eu mataria um bom amigo?Aline olhou para ele sem expressão:- Como eu saberia? Você parece exatamente o tipo de pessoa que faria isso.- Você... essa idiota! Venha para casa comigo, pare com isso, esse Mateus é nosso inimigo. Fique longe dele! Se quiser, traga Julieta de volta para Viso, vocês duas sofreram muito lá fora, voltando para a casa dos Ribeiro, as coisas podem ser mais fáceis para vocês.Gabriel tentou tentá-la com apelos emocionais.Mas Aline já estava imune a esse tipo de manipulação de Gabr
Às oito da noite, Mateus ainda estava em seu escritório, sem previsão de ir para casa. O telefone tocou, era uma ligação da residência Vila Panorama Real, feita por Julieta.- Papai, você está trabalhando até tarde? Por que ainda não voltou para casa?Mateus olhou para o pequeno livro de desenhos, e sua expressão séria suavizou um pouco:- Sim, talvez eu volte um pouco mais tarde hoje. Jante sem mim.- Eu já jantei! O chef fez um monte de pratos que eu gosto! Ele até fez churros para mim!- Julieta, - sua voz de repente fez uma pausa.- Papai, o que foi?- Você disse que seu nome é Julieta porque sua mãe sentia muito a minha falta?- Sim! Mamãe me disse que ela o ama muito! Nos anos em que o papai não estava, ela sentia mais sua falta do que eu!Mateus ficou em silêncio por vários segundos antes de finalmente responder:- Entendi.Depois de desligar o telefone de Julieta, ele ligou para outra pessoa. Do outro lado da linha, Gustavo atendeu e sem surpresa, comentou:- Não me diga que vo
- Ah, sim, se Aline não vai ser detida nem presa, Mateus, você...Mateus deu uma tosse leve, mantendo-se impassível:- Julieta de repente começou a chorar, dizendo que queria ver Aline esta noite, que não dormiria sem vê-la. Não tive escolha.Gustavo não pôde evitar rir:- A pessoa que não dormiria sem vê-la é Julieta ou você?Mateus franziu ligeiramente a testa:- ...Dirija, sem mais conversas.Antônia, encostada no banco traseiro, observava Mateus. Parecia que ele não era tão frio quanto ela imaginava, pelo menos no que diz respeito a Aline.Gustavo continuou:- Mas... falando sério, Aline realmente se arriscou desta vez. Ela não tem medo do que Gabriel pode fazer? Gabriel tem dominado Viso há anos, com conexões profundas. Mesmo que ele esteja suspenso e sob investigação agora, não significa que ele não possa voltar ao poder. Até agora, é apenas uma investigação. Não acho que Gabriel será derrubado tão facilmente.- Se Gabriel não cair, então Aline estará em perigo no futuro? Aquele