Frizzat os chamou: Ranem, Lacantra, Aloy, Sote, Mury e mais uns quarentas que eram os melhores Cândalos guerreiros de Pief para uma reunião de emergência; o ataque já estava mais calmo. Uns haviam saído a pedido do líder antes que fossem atacados. Ele já previa que seria um banho de sangue e pediu ajuda a uns uns Sivaês de tribos vizinhas. Esperavam que chegassem a qualquer momento. Imaginava que até o clarear do dia, tudo teria finalizado.
Shetary e Sácia os esperava no Galpão e ao chegarem e iniciarem a reunião, ela disse:
- Temos um plano e queremos saber de vocês, principalmente você, Lacantra.
A jovem não conseguia prestar atenção em nada que falavam e isso preocupava Aloy. Parecia apenas uma lembrança do que era no dia anterior, parecia uma casca oca.
Sua expressão era de vazio, suas roupas
Cerca de duzentos Cândalos vinham para Pief. Várias tribos lhes enviaram seus lutadores.Cecat foi libertado e conseguiram parar as lutas. Os sem tribos que não foram mortos, os feridos, tantos os gravemente quanto os mais leves, estavam na entrada de Pief para partirem. E Lacantra estava entre eles.Cento e seis sem tribos, entre feridos e não feridos, rumariam para longe e não seriam impedidos.Pela primeira vez, Aloy se sentiu mal com a decisão dos Sivaês. Estava inconformado com a decisão de mandarem um dos seus; temia que Lacantra fosse morta, violentada e sofreria as mais bárbaras agressões enquanto não a resgatassem.O dia estava ensolarado quando ela partiu com os sem tribos. O sol, a claridade, os pássaros, não combinavam com o humor de Pief. Parecia que Rafo os esquecera.As ruas de Pief estavam banhadas em sangue. Choupanas
Paxa ficou pensativa, sentada ao lado da moça, ela não falava nada e olhava absorta para o nada, perdida em lembranças.Lacantra tentou forçar mais algo para dentro, precisava estar forte quanto seus amigos a viessem resgatar. Olhou para Paxa e imaginou o que a mulher pensava. Devia estar sofrendo também, perdera os dois jovens que amava como filhos, sua vida não deveria ter sido fácil, mas não podia se solidarizar com a mulher; ela escolhera essa vida. Nada lhe descia pela garganta trancada. Temia o combate que estava próximo, temia perder mais alguém, Lucca fora chamado, sua tribo havia sido contactada e sabia que podiam ter baixas, o bando de Rocco era grande e guerreiros. Um soluço involuntário lhe escapou, de medo, de perda, sua vida havia virado de cabeça para baixo há meses e quando por fim encontrara a felicidade com Aloy, tudo descarrilara novamente.<
Paxa foi interceptada por Ranem que era o responsável por resgatar a jovem caso Aloy não conseguisse.A espada lhe cortou a garganta e ela caiu já sem vida quando tocou o chão, assim que pôs os pés para fora da tenda.Como fizeram em Pief, foram também atacados com fogo. Não havia cabanas ou tendas montadas, exceto a de Rocco e Paxa, mas utilizando uma tocha e líquidos inflamados, atacavam a todos que vinham pela frente.Lacantra e Aloy saíram da tenda e ela gritou ao tropeçar no corpo da sem tribo, olhou-a por alguns segundos e teve pena pelo fim da mulher.Munida de sua espada e o Atirador, ela saiu golpeando quem se impusesse em sua frente.Gritos. Crianças corriam e eram pisoteadas, idosos e guerreiros, empunhavam espadas e pedaços de pau.Lacantra ouviu o grito de Rocco, devia ter encontrado a esposa morta, p
Lembrando-se da batalha ela se esforçou, com o coração acelerado, cada retumbada, lhe doía o peito. Ela abriu os olhos e foi como se tivesse levado uma pancada forte, a luz do sol. Levantar seria impossível e enquanto ficava ali, deitada no que lhe parecia ser o chão, olhava para um céu azul cortado por uma faixa colorida.Inspirando e respirando, tentando se acalmar, acalmar a respiração e as batidas frenéticas de seu coração, ela viu no céu uma revoada de Biús.Dezenas deles bem no alto, voavam sobre as cores lindas do céu, depois eram centenas, milhares. Muitas aves rodavam em sincronia lá no alto.Bem acima de onde ela estava.O céu escureceu; não via mais as cores hipnóticas, apenas Biús e pareciam ser do mesmo tamanho. Forçando a vista, ela viu que alguns saíram da sincronia e lhe par
Ela era uma cigana. Zaira tinha dezessete anos.Agora ela se lembrava; outro mundo, outra vida. Ela era uma cigana, ou Romi; Tinha sido uma criança feliz, pais maravilhosos, uma infância e adolescência comum e alegre.Viviam como nômades, de cidade em cidade, sua mãe a ensinara a ler e escrever, era filha única, mas seus amigos, seu bando, nunca permitiu que se sentisse solitária.O preconceito contra seu povo, era grande e isso a entristecia. Entrar em uma escola, a deixaria à mercê dos preconceitos e crueldade. Outras crianças a faziam se sentir uma aberração; os próprios educadores, por não conhecer o que eram os ciganos, partilhavam do preconceito, às vezes travestido de pena ou punição gratuita e desmedida, fazendo com que seu pai achasse melhor que ela fosse educada por ele e sua esposa.A vida entre seu
Ter a amizade de Maryah deu forças as garotas de continuarem a ir ao colégio.Eram a novidade do momento, porém os agressivos, ao verem que a diretora as protegia, mantinham certa distância.Ambas estavam adorando a escola e o aprendizado. Todos os dias tinham novidades para contar quando chegavam na comunidade. Quando estavam há uma semana na escola, seus pais foram conversar com a diretora e tal qual as filhas, a adoraram.- Ela nos disse que vocês são especiais - era Ziri quem falava, com o orgulho estampado no rosto. Dezenas de amigos estavam fora da barraca, o calor estava insuportável, mesmo sendo o começo da noite, bebiam e fumavam sentados cada um em um lugar, uns pelo chão, outros em caixotes e em um rádio de pilhas, ouviam músicas.- Ela nos disse que podemos ser o que quisermos - Falou Magna.- Idiota - Lama retrucou - Se os Cajons nem sempre
LEITURA DE MÃO CONFUSACorny, Maryah e até Rânio, que agora era visitado por Magna toda hora livre no colégio e que a denominaram sua auxiliar de enfermagem, ficaram devastados com a iminente partida das garotas.- Alguém em sua comunidade faz leitura de mão? - Perguntou Rânio a Magna que passava muito tempo o auxiliando na enfermaria do colégio.- Sim, somos em dezoito famílias e muitas mulheres lêem as mãos, minha mãe é uma delas e a senhora Lama é a que mais lê; mesmo estando já bem velha, ela ainda sai todos os dias nas praças para ler mãos - Respondeu a garota, enquanto separava bolas de algodões e as dispunham em vidros tampados.- Eu gostaria, digo, de ter uma leitura de mãos, nunca tive uma leitura - Disse Rânio, separando gazes. Eram muitos os ralados dos alunos na desabalada cor
A graça para brincarem passou, Corny ficou balançado com a leitura de Lama. Mesmo tendo brincado bastante com suas amigas e os irmãos de Magna. Não dormiu aquela noite e o pouco que cochilou, foi assombrado por pesadelos onde Lama aparecia e lhe repetia as mesmas palavras; no pesadelo, ela ficava encoberta pela fumaça espessa, mas a voz dela era indescritível e o assombrou mesmo acordado na noite interminável.Magna ao ir a escola no dia seguinte, mal assistiu às aulas, ficou o tempo todo na diretoria falando com Maryah e na enfermaria conversando com Rânio. O dia de sua partida da cidade estava chegando e a tristeza de deixar seus novos amigos, a deixava deprimida.Pela primeira vez, ela desejou não ser uma cigana. Não ter que andar pelo mundo, se fixar, poder estudar e se tornar uma enfermeira. Estava obcecada com essa idéia e não queria ir embora.