Semanas se passaram e Zaira ainda não contara ao marido que esperava um bebê.
Tentava fingir a maior parte do tempo que não estava grávida; jogava para o fundo da mente, não queria lidar com aquilo agora.
Não tinha tempo para pensar sobre isso e sabia que não teria como esconder por muito mais tempo; trabalhava o dia todo no hospital, do trabalho ia para o chá da tarde e só chegava em casa, bem tarde da noite. Estava evitando seu marido e ficava no quarto de Nani até que ele já estivesse dormindo e só então se deitava. Sabia que não podia continuar com isso, mas só de pensar em lhe contar, sabia que a opção de interromper a gravidez, seria anulada. Corny sonhava em ser pai, falavam disso muitas vezes e quando ele soubesse, ela não iria mais conseguir pensar em aborto.
Alguns dias atrás, Magna chamou a amiga e lhe
Rael começara a namorar Dija, uma garota que conhecera há pouco tempo, antes que as aulas tivessem sido encerradas e passaram a namorar assim que se encontraram para continuar os estudos em casa. Não queriam ficar parados, mesmo com as escolas de todo país fechadas. O jovem, agora com dezoito anos, muito parecido com seu pai na mansidão e tranquilidade, sonhava em se tornar médico. Nani continuava se apaixonando na velocidade com que trocava de roupas; em um dia jurava estar apaixonada por algum rapaz, para no dia seguinte estar apaixonada por outro e o de ontem, esquecido.Nani e Dija eram inseparáveis, a eterna namoradeira havia arrebanhado a cunhada para ser sua nova confidente agora que Magna e Zaira seriam mães e estavam cada uma em seus quartos, a garota tinha uma nova melhor amiga.Magna estava de cinco meses, sua barriga estava enorme e seu marido dizia que só podia ser gêmeos, p
Corny veio engatinhando até Zaira; ele falava algo, mas ela só via sua boca mexer, não o ouvia, conseguiu ler seus lábios, ele dizia vamos.Corny tinha um corte na fonte, ela não sabia se era da coronhada que levara ou se havia se ferido com os escombros.Ele a ajudou a se levantar. Viu que Tícia, toda suja também se levanta e estava apoiada em seu vizinho traidor. Ambos falavam algo, Tícia apontava o céu. Ao longe um avião, que não estava tão alto como talvez deveria estar, se distanciava.A rua estava lotada de pessoas que saíram de suas casas, assustados como eles, uns gritavam, suas bocas mexiam, mas nada se ouvia. A rua já não estava como a minutos atrás; casas destruídas, fumaça, poeira, caos.- Temos que sair daqui, Zai, agora!Ela já ouvia seu marido, aos poucos, ouvia gritaria.- Te
Ignorando as dores que pioravam cada vez mais em sua barriga, ela esperou.Ouviu um carro que se aproximava e levantava a poeira da rua. Corny estava desmaiado novamente.Ela correu de encontro ao carro como se sua vida dependesse disso.O carro parou há cinco metros, ela fazia sinais com as mãos, mal tinha voz para gritar e eles pararam.A alma saiu de seu corpo quando desceram. Eram os dois policiais que queriam prendê-los mais cedo. O destino não podia fazer aquilo com ela.- Há um ferido - Ela disse tão logo eles desceram, rezava para estar tão imunda como imaginava que estivesse, como se sentia e assim não a reconheceriam, talvez com tudo o que acontecera, eles os ajudariam.Ela mostrou onde Corny estava, mas ficou ao lado do carro. Não os acompanhou e quando um deles, o que havia desferido uma coronhada em seu marido olhou para trás, para ver por que ela
Misericordiosamente, o bairro em que moravam não foi atingido pelas bombas. Zaira chegou a sua casa após andar sozinha, dispersa de pensamentos. Ignorara pessoas pela qual passara, não respondia quem a chamava. Perdera os sapatos pelo caminho e seus pés estavam feridos das pedras soltas pelas ruas.Andara em meio ao caos, vazia e sem se importar com nada e nem ninguém.Magna e Frane tinham a expressão de assombro quando ela chegara. estavam no portão, junto a muitos vizinhos e foi Nani quem a viu virando a esquina.Rael, sua irmã, Magna e Frane, a bombardeavam de perguntas:- Como está?- E esse sangue?- Tem algo quebrado?Ela os olhava, mas não conseguia se importar, era uma casca vazia, só quando perguntaram de Corny, ela saiu de seu torpor:- Ele está morto. Busque-o, doutor Frane!Ela pediu e entrou para casa.Ma
Abrir os olhos lhe custava muito. Lhe doía toda a cabeça e Lacantra resolveu não os abrir.Sentia o suor a lhe escorrer pelas costas e se grudar em suas vestes.Sentia o cheiro da fumaça do cigarro de Shetary, já tão conhecido por sua memória olfativa.Sabia que o dia estava claro, pelas pálpebras cerradas, ela sabia que era dia.Só forçou suas vistas a se abrirem ao ouvir a doce voz sussurrada de Aloy. Seu Aloy. Mas seus olhos não abriam, por mais que ela quisesse e tentasse.- Já se passaram quase uma lua, mãe. O inchaço em sua cabeça diminuiu, o corte já está cicatrizando, por que não acorda, por Rafo, por que não acorda?- Calma, rapaz - A voz de mãe Shetary também era baixa, mas firme - Temos que agradecer à Rafo por ela estar viva e respirando. Foi uma pancada muito forte.- Ma
- Mãe, não seja exagerada, por Rafo - Dizia Cárita, filha de Lacantra. - Essa sua invenção nunca deixará de ser útil. Mas vou me embora, volto em uma lua, prometo - Cárita lhe beijou a testa vincada de rugas e se foi.Ela tinha muito orgulho de sua filha, Cárita era muito parecida ao pai, até no amor por Rollis. Onde ia, levava sempre seu companheiro.Lucca, seu filho mais velho também gostava de Rollis e tinha um criadouro com uma meia dúzia.Lacantra adorava sua morada. Construiu-a com seu companheiro quando fizeram o enlace há tantos anos atrás. Foi uma morada movimentada; tudo acontecia ali, os Cândalos a procuravam sempre e mantinham sempre a porta aberta, pois não tinham horas para chegar. Centenas de invenções, ela trouxera para as tribos, incontáveis. Tudo mudara desde que ela se mudara de vez para Pief,
- O que é isso que desenhou aí, Lacantra?- Eu não sei o nome, mamãe, mas sei que seria muito bom para falar com papai quando ele estiver longe nas batalhas ou caça.- Essa foi minha primeira lembrança, creio que eu deveria ser muito pequena, mas me lembro que havia sonhado com isso, sabe. Corri para fora e risquei em frente à nossa porta com um graveto qualquer. Minha mãe até chamou avó Dabi para ver, ela achou muito interessante o desenho e por mais que eu tenha tentado explicar seu funcionamento, eu não conseguia, era muito novinha ainda.“É o mesmo desenho que já fiz tantas vezes nos anos que se passaram, sabe aquele desenho quadrado que já fiz para você, já até me acostumei a desenhá-lo. Ainda tenho visões com ele quando durmo, ele e mais tantas outras que não sei explicar,
- Eu estava com Japur no rio Tisda. - Pipa contava-lhes seu sonho - Ele caía na água mas não se molhava. Eu o olhava e não entendia como ele podia não se molhar. Pulei junto com ele, mas a água espadanava toda e eu fiquei encharcada. Fiquei enraivecida por ele rir alto de mim por ter me molhado e ele não.Pipa contava enquanto retirava as bagas e as colocava em uma tigela. Lacantra e a mãe ficaram vidradas na história do sonho da jovem que desde muito nova, era apaixonada por Japur.- Que estranho. - Disse a mãe quando a filha terminou sua narração. - Vocês tem visagens estranhas, eu me deito e apago até o dia seguinte, talvez até tenha alguma, mas basta eu colocar os pés no chão ao me levantar de manhã, para se esfumaçarem.Pipa nunca teve dúvidas de que se casaria um dia com o jovem que retribuía seu amor. Ela tinha